sábado, 15 de setembro de 2012

ISABEL - 56 -

 
- Camila Pitanga -
- 56 -
PRÊMIO
Os dias, semanas e meses passaram. Houve quem perguntasse pelo resultado do certame para a escolha do nome do bar de Isabel. A resposta chegava com certeza para já. A comissão do apurado já estava há bastante tempo com os envelopes lacrados. E nada de ser dada a resposta. Ninguém sabia por certo quem eram os membros das duas comissões: uma para apurar o nome do vencedor. Outra, para dar o resultado. E o vexame ocorria até se chegar a conclusão. Em uma sexta feira, Gonzaga fez ver ter chegado a decisão feita pela comissão de jurados. E seria dado o nome do vencedor. A comissão de três nomes era mesmo dos frequentadores do bar. E então, à noite, veio o resultado. O bar estava repleto de entusiastas concorrentes e de não concorrentes. Cada qual que torcesse as mãos à procura de saber e ouvir o tal resultado. Havia gente de perto e da distancia. Alguns desconhecidos da velha turma de habitués vindos da época do bar quando era simplesmente bar. Nesse dado instante três personalidades, muito embora fossem habitués contumazes, assumiram suas posições em uma banca. E daí, então começou o alvoroço apenas apagado pela voz austera de Gonzaga:
Gonzaga:
--- Silencio, por favor! Agora teremos a leitura do vencedor! – fez ver o homem a sacudir as suas mãos e a sorrir complacente.
E houve vagaroso silencio no recinto. Apenas alguns se perguntavam para que tanta quietude naquele local. Outros advertiam para o moço calar. Uns ébrios acenavam com o copo na mão.
Bêbados:
--- Viva a democracia! – diziam os embriagados ao se levantar de suas mesas.
Outros argumentavam com certa ojeriza:
Outros:
--- Esse está bêbado por certo! – e olhava o bêbado e se voltava para a mesa do júri.
Após esse breve intervalo, o presidente da Comissão, com certo receio, pegou um mapa e, antes de ler, fez uma pausa e olhou para a seleta plateia. Nada mais a se registrar, o homem declarou tudo o que havia de ser dito. E, por fim, veio a decisão:
Júri:
--- Entre tantas contribuições recebidas, o Júri colheu entre todas, duas, as que foram as mais votadas. E nessas duas, há um empate: Alguém advoga ser dado o nome de Taverna. Outro alega ser Taverna de Isabel. Estas se encontram empatadas em seus respectivos números. Cabe aos que se encontram aqui, agora decidir o nome que fica. Ou puramente Taverna ou se põe o nome de Taverna de Isabel. – relatou o presidente do Júri. E passou a ouvir a resposta.
Foi de puro silêncio o que houve. Ninguém sabia como decidir qual seria o nome verdadeiro. Por fim, a quebrar o silêncio, alguém se levantou de sua mesa e disse contundente.
Alguém:
--- Eu sou de acordo ser posto o nome de Taverna de Isabel! – relatou o cliente do bar.
Silêncio total. Por fim, com a decisão tomada, o Júri decidiu:
Júri:
--- Que seja feito o nome de Taverna de Isabel. Tenho dito. – falou sério o presidente.
E desse momento em diante houve regozijo total dos eternos beberrões. O prêmio ficou para o autor do nome e ele ganharia o seu conjunto de vídeo e áudio. Ninguém esperou por isso. Todos queriam mesmo era beber. Quem tirou a sorte grande do certame depois haveria de procurar receber. E a festa rolou a noite e madrugada do dia seguinte quando já estava o sol a nascer.
Racilva e Suzana tiveram a possibilidade de continuar seus estudos interrompidos. A mãe de Suzana, dona Maria Clementina, viveu dias maravilhosos ao lado de Valdivino. Toré, sua mulher Otília, sua filha Sílvia, a irmã Luiza e seu marido fizeram viagem de turismo a bordo de um transatlântico. Apenas a mãe de Toré ficou sozinha na sua casa em frente aos trilhos do trem. O homem, Gonzaga, sua mulher, Isabel cuidaram de abrir um albergue para pessoas idosas. Paulo, filho de Maria José, e seu amigo Francisco, filho de Isabel, continuaram os seus estudos. Maria              José, apenas reclamava com a vida:
Maria:
--- Haja luta. – falava a moça quando cuidava de dona Salete, mãe de Isabel.
Quando passava um avião mesmo por longe da casa, Maria José ainda olhava com temor para a aeronave. E no próprio meio dos frequentadores do Bar havia o murmúrio de alguém a dizer ter Gonzaga construído o remodelado uma casa para dar abrigo aos mais carentes, oferecendo café da manhã, almoço ao meio dia, lanches e janta ao inicio da noite. Na parte religiosa, havia uma Igreja onde todo dia havia a Santa Missa. Um retrato da mãe de Gonzaga foi edificado em um pilar ao centro do albergue e com o seu respectivo nome: Maria Francisca de Algarve. Era uma foto bela de quando a mulher ainda era muito jovem. Alguém disse certa vez:
Alguém:
--- Ele vai ser governador desse Estado. – relatou um homem meio desconfiado.
Outro:
--- Governador eu não digo. Talvez um deputado. – disse o outro.
Terceiro:
--- Talvez Prefeito! – disse um terceiro a sorrir.
Mas, Gonzaga estava alheio a tudo isso. Ele apenas queria trabalhar com Isabel para os mais necessitados. E com o albergue, onde Gonzaga pôs o nome de sua mãe, Maria Francisca de Algarve ou simplesmente Albergue Maria Francisca, ele trabalhava para o sustento dos mais carecidos aproveitando a produção de legumes, frutas, leite e verduras da fazenda onde ele buscava tudo o precisado. Certa vez, ao perambular ao devaneio, ele descobriu uma gruta em uma rocha. E por lá ele entrou. No seu entrar ele notou ser a gruta algo misterioso, pois estava ali uma mina de ouro. Na verdade, ele teve dúvida no que vira. E trouxe uma amostra de pedra para um ourives da Capital e solicitou ao mesmo examinar se a amostra era de algum metal. O Ourives pesquisou e não foi sem assombro ao dizer:
Ourives:
--- Onde encontrou isso? – perguntou o ourives meio tonto ao ver tanto ouro em uma pedra
Gonzaga:
--- Em uma pedra da minha fazenda. – relatou o homem abismado com o ourives.
O homem buscou mostruário em revistas e em outras pedras pequenas para fazer a comparação. Então, assombrado, o homem declarou sem meias palavras.
Ourives:
--- Isso é ouro. Do mais puro ouro. E o senhor tem outas amostras? – indagou o ourives ainda a examinar a pedras..
Gonzaga:
--- Tenho outras a escorar a porta. Mas é ouro mesmo? – indagou desconfiado o homem.
O ourives ficou perplexo e então falou meio suado.
Ourives:
--- Faça o seguinte: procure um advogado e entre com um requerimento no Departamento Nacional de Produção Mineral. O Governo vai pagar ao senhor por achar ouro em sua propriedade. Mas faça isso agora. Não pense duas vezes. Vá embora, meu senhor! – relatou o ourives ao homem.
Gonzaga:
--- Está bem. Eu vou. Não se perturbe. – declarou Gonzaga ao ourives, um velho magro e corcunda a vestir roupas comuns.
Dai por diante Gonzaga cuidou de fazer o que era certo e requereu ao Departamento Nacional de Produção Mineral a concessão da mina de ouro no seu quintal. O assunto tomou espaço em todos os jornais do País e do Mundo. Gonzaga nem sabia o ter descoberto a mina de ouro. E perguntou a Isabel meio descrédito.
Gonzaga:
--- Querida? Isso é verdade? – indagou o homem a sua mulher.
Isabel:
--- Se é ou não eu não sei. Eu quero tirar minha carta de motorista. Eu vou guiar aquele carro pela primeira vez na vida! – sorriu a mulher ao tomar conta de suas tarefas na Taverna.
 
FIM
 
 
 
 
 

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