quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

ACASO - 29 -

- Ursula Thiess -
- 29 -
A QUESTÃO
A professora estava entretida na leitura do livro e mal escutou o que informou Joel o qual permaneceu calado por alguns segundos. Ele estava a ouvir as recomendações de Isabel para deixar a professora entretida até a mulher recuperar a sua memoria em direção ao que acabara de dizer o aluno. Isabel estava viva, mas para o outro lado:
A professora:
--- O que você disse? – indagou a professora Maria Eugenia se desocupando do livro.
Joel:
--- Nada. – respondeu o garoto sem maior pretensão.
Isaura:
--- Você não falou em uma moça? – perguntou a mãe de Joel.
Joel:
--- Foi. – ajeitando os pes a parar de balança e começou a coçar um no outro.
Eugenia:
--- O que tem a moça? – indagou sem muito prestar atenção a resposta do garoto.
Joel;
--- Isabel não morreu. – disse outra vez o garoto.
Eugenia:
--- Ah sim. Eu me lembro. Como não morreu? Aquela menina? – perguntou assustada Maria Eugenia ao garoto Joel Calassa.
Joel:
--- O povo diz isso. Mas ela não morreu. – replicou Joel a Maria Eugenia.
Eugenia:
--- E quem morreu afinal? Pelo jeito uma menina se enforcou depois de se confessar. – falou repentinamente a professora Maria Eugenia.
Joel:
--- É. Mas ela não morreu. Ela está viva. A gente já passeia por ai. – respondeu Joel coçando um dos pés.
Eugenia:
--- Ah sim. Eu pensava que ela tinha morrido. Como não morreu? Ela morreu sim! Mortinha da silva! – respondeu a professora Eugenia totalmente desnorteada.
Um silêncio pairou no espaço e no tempo. Nesse momento, dona Isaura Calassa, mãe de Joel, teve que se ausentar por uns poucos instantes para cuidar do café para a visita. O menino Joel olhava para o chão e de outras vezes fitava a professora. Uma nuvem caiu sobre a memoria da professora Maria Eugenia. E ela não ouvia mais o menino Joel. Quem estava a falar nesse instante era a jovem menina Isabel. E somente a professora Eugenia tinha a condição de ouvir a menina moça. Nem mesmo Joel sabia o que Isabel falava através dele. Era um mundo no qual apenas as duas pessoas, Eugenia e Isabel, poderiam dialogar com certeza. E foi assim que a historia teve início:
Isabel:
--- Eu sou Isabel, minha senhora professora. – falou Isabel a mestra com muita calma.
A mestra Eugenia, pois apenas a falecida garota tinha o habito de falar como falou: senhora professora. Da sua vez, a professora indagou o que estava alí a fazer a enigmática donzela.
Mestra:
--- Que estás a fazer, virgem donzela? – indagou a professora Eugenia quase assustada.
A garota sorriu muito levemente. E então, falou:
Isabel:
--- Eu estou aqui, minha querida senhora professora, por um motivo muito simples. E o que eu desejo falar, a senhora, professora, não devereis se recordar, pois estivemos nós a viver como gente, em uma época distante. Era o ano de 1174 quando eu nasci pela enésima vez. E na mesma data nascia Edwiges, na Alemanha, filha de Bertoldo IV da Morávia e de sua esposa Inês de Rochlitz. A menina Edwiges, conhecida apenas por Jadwiga Slaska, viveu num ambiente de luxo e riqueza, o que não impedia de ser simples. Eu era a filha de uma governanta. E crescemos juntas. Ao sabor do tempo, minha amada e senhora Eugenia, eu e Edwiges, éramos crianças de uma mesma idade. E assim crescemos, até a idade de termos nos separados. Edwiges casou aos doze anos com Henrique I, príncipe da Silésia, na Polônia, tendo sido mãe por seis vezes. Ela era uma pessoa culta. E eu, uma simples filha de uma governanta, senhora professora. O que eu estou a dizer apenas a senhora, minha amada Eugenia eu sei que quando acordares desse transe jamais se lembrará de coisa alguma. A senhora apenas irás rever a nossa historia quando passares para esse lado da vida. – relatou com suave enlevo a moça Isabel alí ao lado do menino Joel.
E de repente a professora Eugenia acordou daquele sonho misterioso, sombrio e enlevado. À sala surgia a senhora Isaura Calassa, mãe de Joel, com uma chávena posta em uma bandeja, onde se podia notar a presença de xicaras, açucares e biscoitos doces e açucarados. Isaura serviu a professora uma xicara de café, pois na bandeja estava o café e o chá. A moça preferiu café e em seguida agradeceu:
Mestra:
--- Obrigada. Não precisava de tamanha feitura. – disse Maria Eugenia a sua por menos alegre mulher, dona Isaura.
Isaura:
--- Não custa nada. – respondeu a mulher com um leve sorriso.
Eugenia:
--- Não me faça fazer viciada. Pois eu adoro tomar uma xicara de café. – disse Eugenia a Isaura.
E a conversa girou em torno de café, chá e vícios de se ter a tal chamada merenda ou o Chá das Cinco. Com isso as senhoras soltaram breves gargalhadas quando teciam tais efemérides passageiras. O garoto olhou para os pés:
Joel:
--- Mãe! Vou lavar os pés. - e olhou com gesto desconfiado para a mestra ao lado.
Isaura:
--- Tome banho! E tire o seró das orelhas. – fez ver a sua mãe.
Eugenia:
--- Menino travesso! – sorriu a professora do garoto.
Era uma tarde amena aquela da sexta-feira. Não tardaria em chegar a sua residência o chefe geral, Jaime Calassa. Com certeza ele já estava próximo a conversar coisas triviais com os amigos da vizinhança. Eugenia já se postava a porta para sair. O menino, após o banho, vinha todo molhado a enxugara sua cabeça com a toalha felpuda. E nesse ponto o garoto perguntou a Maria Eugenia.
Joel:
--- Já vai professora? – indagou o menino meio assanhado da cabeça.
Eugenia:
--- É preciso. Já empreguei muito trabalho à tua mãe. – respondeu Maria Eugenia.
Isaura:
--- Ora! Fica mais! Não deu trabalho algum. – sorriu sem querer a mulher Isaura Calassa.
Joel:
--- Eu tinha até que fazer perguntas a senhora. Mas deixa para segunda feira. – sorriu o menino
A tarde começou a cair e o sol brilhante já deixara o seu rubor para dormir sonolento após as cinco horas. Pássaros canoros volteavam em bandos em busca do seu agasalho. O homem do pão voltava como sempre sem nada mais a oferecer.

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