sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

ACASO - 38 -

- Emma Stone -
- 38 -
A OUTRA

Foi assim que definiu o jovem moço Joel Calassa quando entrou na classe a professora Noêmia Melo, substituta eventual de Maria Eugenia. Todo porque a professora original teve que se ausentar por motivos desconhecidos dos alunos. A nova professora em idade muito mais adiantada que a original Eugenia era de um tipo carrancudo, não sorria, era baixa e gorda mais parecia um balão, diziam os alunos.
Alunos:
--- Ela é gorda como um balão. – fuxicou em murmúrio com outro aluno um dos quais estava na derradeira carteira da classe.
Pelo visto, a professora Noêmia era de pouca conversa. Ela entrou na classe depois dos alunos quando seu Josino de posse da sineta disse apenas:
Josino:
--- Eu estou saindo professora! – e logo saiu da classe pegando rumo desconhecido.
Quem estava em classe teve a dúvida de perguntar a Joel.
Aluno:
--- Quem é ela? – murmurou o colega de Joel.
Joel deu de ombros como quem dizia:
Joel:
--- Não sei. A outra. – finalmente falou por baixo o garoto Joel.
Aluno:
--- E dona Eugenia? – indagou de novo o aluno pesquisador.
E Joel deu de ombro ao dizer:
Joel:
--- Não sei. – fez ver Joel ao aluno vizinho.
Aluno:
--- Esse trambolho foi tirado de algum mausoléu. – relatou o aluno pesquisador.
E a aula teve inicio. A professora Noêmia Melo cumprimentou a todos mesmo estando com a sua pequenez e o corpo avantajado e alertando a quem quisesse ouvir ter ela a virtude de não dar licença a nenhum aluno no meio da aula. E somente dava a resposta ao assunto em questão. Os alunos ouviram e calaram. Joel ficou como estava: escorado na carteira e com os pés esticados para fora do banco, o que era normal. A professora ao notar tal comportamento do menino Joel veio logo em cima do fato:
--- Sente-se!. Eu não admito desobediência em classe! – disse a professora Noêmia sem mais nem menos.
Os seus óculos de grau numa armação de couro de tartaruga evidenciavam ser a professora bastante malcriada a qualquer desaforo.
Professora:
--- O aluno que não obedecer eu ponho pra fora! – falou exaltada e sem graça nenhuma com a sua régua na mão a atrevida professora.
A turma toda calou. Joel não mais desobedeceu às normas da nova mestra. A mocinha ao seu lado, Elizabete, ficou temerosa e olhou bem forte para o seu amado com o dedo posto na sua boca. A professora Noêmia Melo então começou a aula ditando questões de História onde buscava antever a questão dos Cristãos Novos:
Noêmia:
--- Anotem! Vale nota! Quem sabe o que são os cristãos novos? – relatou a mestra a olhar toda a classe.
Silêncio! Não houve resposta. Nem mesmo por parte do garoto Joel Calassa. Esse estava apoiado da carteira anotando tudo o que a mestra falava e nem se importava a responder. A mocinha olhou para Joel porem nada indagou. Era o silencio total na classe. E a professora então falou:
Noêmia:
--- Bem. Ninguém sabe! Pois bem! Eram os Judeus! Quem sabe o que é Judeu? – indagou a professora. Mas ninguém quis responder.
Um grupo de meninas conversava baixinho no final da sala e uma dizia:
Aluna:
--- Eu acho que é uma velha aleijada que mora perto da minha casa! Todo mundo diz que ela ficou assim porque era Judéia! – relatou muito baixo a mocinha.
As demais sorriram tapando a boca e encolhendo os ombros. E nesse instante ouviu-se a professora chegar bem próxima das meninas. Com a régua na sua mão bateu para chamar atenção do grupinho rebelde.
Noêmia:
--- O que é que há? Tem bicho aqui? – indagou a mestra com voz bastante áspera ao grupo de alunas.
Aluna:
--- Tem não senhora! A colega estava explicando o que era a mulher Judéia. – explicou outra aluna sobre o zum-zum-zum que elas estavam a conversar.
Noêmia:
--- Não é Judéia. E sim judia! Ouviram bem? E quem disse que sabia? – perguntou a professora ao grupo de meninas já assustadas.
Aluna Um
--- Foi minha cara mestra! Eu disse que perto da minha casa tem uma velhinha aleijada. E a vizinhança diz que ela era Judéia. – respondeu com bastante temor a mocinha.
Noêmia:
--- Eu já disse ser judia. E não tem nada a ver com esse caso! – falou de modo grosseiro a pequena mestra.
E a classe calou. Apenas Joel escrevia sem sossego tudo o que a mestra recitava e algo mais por saber. O lápis do garoto não parava e ele escrevia com toda a pressa o que era ou não dito durante a aula de História. Foi tanto rascunho ter o garoto escrito que a certa altura a mestra veio até a sua carteira olhar com atenção tudo do garoto. Indiferente a presença da mestra ele continuava a escrever. A mestra estranhou todo aquele material e foi a perguntar:
Noêmia:
--- O que é isso? Pode me dizer? – indagou com voz ativa a professora.
O garoto não respondeu e continuo a escrever com toda a pressa. Era uma escrita extenuante como se fosse o garoto feito uma máquina de teletipo. A mestra se assombrou com tanta pressa de Joel e nessa altura mandou o menino parar. Mas o garoto tinha pressa e não ouviu o falar de sua mestra. Ao final de tudo o garoto, extenuado, acabou a redação. E desse modo enfiou a testa da mesa da carteira.
Noêmia:
--- Menino você está louco? O que está escrito nesse caderno? – perguntou a mestra de olhos tão perplexos e assustados.
Após alguns segundos o menino acordou do transe e mostrou a mestra:
Joel:
--- Está ai mestra o que a senhora pedirá explicação. É tudo! – falou quase a desmaiar o garoto Joel Calassa.
Ali estava escrito toda a história dos judeus e dos novos cristãos que foram mandados para o Brasil desde a sua descoberta. Dizia a escrita ter sido Portugal o primeiro país a reconhecer os direitos dos judeus. Em outra parte o menino destacou o reconhecimento do Tribunal do Santo Oficio e o destino de Fernão de Noronha em conquistar o arquipélago que levou o seu nome. E Portugal mandou para a terra brasileira os primeiros homens, mulheres e crianças feitos escravos. Os judeus tinham dever de ter um nome de real de seu batismo desde que o identificassem como cristãos ou cristãos novos. Silva, propriamente dito, não é um nome. E sim um apelido de família. O mais importante é ter Silva no príncipe dos Godos, Dom Alderedo cujo filho era Dom Guterre da Silva.
A professora se tomou de espanto com tudo ter sido escrito a um só tempo por garoto. E então ela achou de magna surpresa como teria um menino de tal idade ter tanto saber. E diante da sua perplexidade de sua total ignorância Noêmia perguntou:
Noêmia:
--- Quem te ensinou tudo isso? – indagou perturbada a mestra.
Joel:
--- A vida, professora! A vida! – dizendo isso Joel desmaiou.
A classe toda entrou em polvorosa. E os mais próximos gritaram:
Aluno de perto:
--- Desmaiou? – a dizer com os olhos tensos e a boca aberta.
Aluno outro:
--- Chega gente. Joel desmaiou! – gritava uma estudante.
A aluna Elizabete não teve jeito: E desmaiou também. A professora saiu na carreira a procurar auxilio de alguém. Estava próximo o homem da sineta, senhor Josino. Esse veio com toda a pressa segurar o garoto. Um grupo de estudantes – femininas – segurou a mocinha Elizabete e tentou reanima-la com tapinhas no rosto. A Diretora Maria da Penha, diante de tantos gritos entrou na sala com mais duas mulheres da cozinha para pegar a menina quase moça. E um grupo de duas salas no fim da escola veio ver o que se passava. As professoras também estavam ali com os seus alunos. E umas com a mão na boca a dizer:
Professora:
--- Ave Maria! – falou a sustada uma das professoras.
Outra:
--- Seguram-nos! Seguram! -  dizia outra professora.
Duas mesas foram improvisadas como camas. E Josino colocou o garoto em uma delas enquanto as cozinheiras colocaram a mocinha Elizabete na outra mesa.
Uma cozinheira:
--- Álcool! Álcool! Passa nas mãos! – era o que dizia a cozinheira atormentada com os desmaios



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