sábado, 11 de dezembro de 2010

AMANTES - 21 -

- Fernanda Machado -
- 21 -

À noite da segunda-feira o casal Vera e Silas estavam logo cedo da noite na companhia do velho Molambo na sessão espírita do Centro para assistir a preleção o tomar passes para o chamado tal descarrego. Vera era sensível a incorporar, porém não sabia de tal possibilidade até aquele ponto. Aliás, todos são passiveis de ter algo de espiritismo. Contudo, nem todos são capazes de ver ou mesmo ouvir mensagens ou vultos de seres de outras vidas. As sessões espíritas podem ser feitas nas partes diurnas ou noturnas. Mesmo assim, as sessões na parte noturna são mais eficazes. Depende apenas de mesa, uma sala escurecida, iluminada apenas por uma vela acesa ou por uma pequena lâmpada colocada no centro a mesa e um livro “Evangelho Segundo o Espiritismo”. É recomendada que a mesa não deva ter qualquer objeto de vidro ou minerais, pois materiais podem constituir um obstáculo à recepção de certos tipos de espíritos. Igualmente se recomenda que se liguem aparelhos de televisão, telefones ou rádios ou qualquer tipo de aparelho eletrônico. Tais equipamentos podem constituir motivos de interrupção ou desconcentração da sessão espírita. A sessão deve ser conduzida por um “médium” e ter capacidade de comunicação direta com o mundo dos espíritos.
Às sete horas da noite já havia muita gente do salão quando foi aberta a sessão. No meio da mesa estava em pé o homem “Paredão” e ao seu lado, Racilva Pontes, vidente por excelência, moça que já freqüentara as sessões por vários anos. Do lado esquerdo de “Paredão” estava o “Pescador” e em torno da mesa havia varias pessoas, inclusive Vera Muniz, Silas, o seu marido e uma jovem que dera entrada a Vera que se chamava Cilene.  Ela era bem jovem, por assim dizer. Diomedes, o velho, estava sentado logo abaixo na primeira fila de cadeiras a ouvir a preleção de “Paredão” contado fatos muito bem curiosos de acontecimento após a morte ou a passagem de um determinado espírito para o outro lado da vida. Um caso em particular que foi abordado por Allan Kardec em o “Livro dos Espíritos” a consultar um espírito foi a interferência de um espírito ignorante influenciar seres humanos encarnados. O espírito consultado disse que isso acontece normalmente entre todos os seres humanos, inclusive nas relações sexual. O caso enfocado despertou tamanha comoção entre os que estavam no local a participar da reunião. E “Paredão” discorreu que estes casos estão relatados na pergunta de numero 1118 feita por Allan Kardec aos espíritos de luz.
--- Peço a todos os presentes que façam oração pelos vivos para evitar algo desse tipo. – relatou “Paredão”, agradecendo em seqüência.
Na hora do passe um homem chamado. Era ele o velho Molambo. Esse foi pego de surpresa. Mesmo assim, não teve maior importância no seu pensar. Molambo foi até a cabine de passe e tomou seus passes com uma reserva feita pelo médium. Esse disse a Molambo, sem ao menos lhe conhecer que estava ao seu lado uma moça de seus vinte anos. Essa moça tinha sido filha de Molambo em outra encarnação. O médium disse o que ele estava a ouvir, com certeza. E mais: naquela ocasião a moça tinha vendo de seu lugar para agradecer ao seu pai, de nome Euclides, por ter deixado seguir em paz a sua noiva que então na sua vida presente ele “aprisionou” por longos anos. A moça, filha de Euclides desse que após desencarnar para passar para outra vida, o seu pai veio como sendo Diomedes. E a noiva que ele teve como Diomedes era a senhorita Otacília que, na vida anterior tinha sido sua outra filha. Então, com a libertação de Otacília, estava tudo em paz. Ela, a filha também de Diomedes que não era Diomedes e sim Euclides, agora tinha que agradecer ao seu pai por estar consciente outra vez. O médium disse isso porque estava a ouvir de outro espírito. O nome do espírito era Cecília. Ela estava vivendo em outro caminho a espera da irmã que se chama Otacília e na verdade o seu nome real era Noêmia. Ou seja: Noêmia=Otacília; Cecília ainda era Cecília, pois ainda não tinha encarnado novamente; o pai era; Euclides=Diomedes. Assim, Cecília vivia em sua anterior existência a espera de ter nova oportunidade de reencarnar. Após todo esse delírio eterno, o velho Molambo não suportando mais, desmaiou.
Então ele foi levado para a enfermaria onde um médium clamou pelo Doutor Evaristo, médico desencarnado que estava a prestar socorro aos enfermos da carne e diagnosticou que o velho estava bem. Apenas sofrera um choque momentâneo por saber que tinha filhas e uma delas estava no Centro Espírita naquele instante. Com o decorrer dos minutos, Molambo recobrou o sentido. E ainda sonolento perguntou:
--- Onde estou? – falou Molambo ao médium que já estava cercado por outros competentes médiuns inclusive a vidente Racilva Pontes.
--- Você está em paz. E vivo, podemos dizer. – sorriu “Paredão”.
Esse foi um caso surpreendente de transmigração de um ser para outra vida. E ficou nos anais da história do Centro.
O burburinho se formou do lado de fora do Centro, cada um procurando saber o que acontecera com o homem. E Vera veio correndo para perto de Racilva. Essa lhe pediu com reservas um tempo pôs teria que prestar socorro ao senhor Diomedes.
--- Ele morreu, morreu? – indagou Vera com os olhos arregalados e falando baixo.
--- Não. Não. Tenha calma. Ele está bem. O médico já o recuperou. – sorriu Racilva tentando dispensar a senhora Vera Muniz.
Após a sessão, Vera e Silas vieram, a saber, que o velho Molambo teve um desmaio por então conhecer que estava com ele uma filha que nunca ele foi o pai. Mas era uma filha de outra geração. Essa moça veio agradecer a “liberdade” que ele deu a sua noiva – que também era a sua filha, irmã dessa primeira filha de outra geração -. Ele ficou, a saber, o seu nome da outra encarnação. Era o seu nome Euclides. Depois que desencarnou voltou a esta encarnação como Diomedes. Para o homem, tudo isso foi um tremendo choque. E então Molambo desmaiou.
--- Como é cheia de atropelos nossa existência! – comentou Silas a “Paredão”.
O homem, suado, tremendo por ter conseguido levantar um “morto”, a limpar a testa, disse a Silas o que podia dizer:
--- Essa foi demais! Eu tenho falado sempre das angustias das pessoas. E a cada passo deparo com fatos inexplicáveis para nós. – relatou “Paredão”.
--- Eu estou surpreso com o que aconteceu. (e soltou um assobio) – falou Silas temeroso. 
--- Que coisa mais estranha. – falou Vera tendo um arrepio.
No dia seguinte, Vera Muniz chamou ao seu gabinete o rapaz de recados para saber o que ele tinha feito com relação aos documentos civis de Molambo. O rapaz disse-lhe apenas que a documentação levaria algum tempo para ser feita e que era preciso Molambo apresentar fotos para alguns documentos como a carteira de identidade e a carteira do Ministério do Trabalho. A mulher se deu por satisfeita e que providenciaria tais fotos. Nesse momento, Molambo estava no escritório de Silas manuseando as revistas que estavam expostas. Apesar de saber ler bem pouco, ele se admirava com as ilustrações mostradas nos magazines com imagens de outras partes do mundo. Ele ficava calado ao tempo em que memorizava as imagens estando Silas apenas a escrever em seu birô assuntos que só a Silas cabia entender. Por alguns momentos o telefone tocou insistente até que Silas atendeu. Era assunto que só lhe dizia respeito, pois Silas não falou com Molambo. A seguir, um rapaz bateu a porta e entrou. Era o rapaz de recados. Ele já trazia consigo uma maquina fotográfica para fazer as fotos de velho Molambo. Ao pedir que Molambo se posicionasse mais circunspecto esse mostrou estranheza.
--- São as fotos para o seu documento. Eu tenho que levar. E o senhor necessita ir para assinar. – falou o rapaz.
O velho ficou surpreso e olhou para Silas.
--- É isso mesmo. Pode tirar as fotos. – respondeu Silas tranqüilizando Molambo.
Após passar o susto o velho se postou de forma que o rapaz pudesse tirar as fotos. Foi tudo muito rápido e o rapaz disse que, quando fosse ao Ministério, voltaria para chamá-lo. O velho se tranqüilizou e olhou novamente para Silas. Este respondeu:
--- Saíram ótimas as fotos. – respondeu Silas sorrindo.
O velho se tranqüilizou e de repente veio à lembrança de que já fizera aquelas fotos para tirar documentos que perdera. Identidade, Trabalho, mas não se lembrava de ter tirado fotos para carteira de motoristas. E perguntou a Silas esse aspecto.
--- Motorista precisa? – indagou o velho Molambo.
--- Não precisa. O senhor deve levar consigo a Identidade. – sorriu Silas ao responder.
O rapaz da foto foi embora para o salão de revelação e Molambo se aquietou, olhando novo. Ele balançou a cabeça como que achasse o fato muito estranho. Afinal era de se pensar para que tanto documento Molambo precisasse! E conversou com Silas desta forma:
--- Certa vez, faz tempo, não sei quanto, eu tive um sonho que se repetiu por várias vezes. Eu sonhava que era um comandante ou um chefe de uns arqueiros. Gente que atirava flecha. E, no sonho eu tinha duas filas. Não sei se eram gêmeas. Mas eu tinha que ir para uma batalha. E então me despedi das minhas duas filhas. Isso é o que lembro. – falou Molambo entristecido.
--- Incrível!! Um arqueiro talvez fosse de um Rei. – discorreu Silas de boca aberta.
--- Talvez. Talvez. Eu vestia uma roupa branca com uma cruz no peito. – acrescentou o velho.
--- Um cavaleiro, com certeza. – prognosticou o rapaz.


Nenhum comentário:

Postar um comentário