quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

AMANTES - 40 -

- Monica Bellucci -
-  40 -

Manhã do dia seguinte Racilva caminhava logo cedo pela Rua do Comércio onde imperava as lojas comerciais da capital. Tinha de tudo naquela rua. E também gente muita. Um indo. Outro voltando. Um ruge-ruge tremendo em plena manhã de sol de inicio ou meio de semana. Tinha também os cabeceiros para fazer a entrega de mercadorias compradas. Em uma calçada, um homem a tocar o seu violino. Racilva olhou o homem em trajes de mendigo, e nada falou. Uma procissão caminhava pela rua a uns cem metros de distancia. Eram os padres conduzindo o Santíssimo Sacramento, seguidos por uma banda de música. Vindo logo depois a imagem de um Santo sendo conduzidos pelos devotos Irmãos dos Passos trajando roxo e de um lado outros Irmãos trajando vermelho em sintonia com os que trajavam roxo. Após esses Irmãos vinha o séquito de pessoas. Mulheres, em sua maioria, com uma tira no pescoço identificado a cor roxa. Os menos e alguns homens, esses não trajavam nada. Os homens e as mulheres, todos vestiam negro. No meio da multidão, três cinegrafistas. Um se movimentava rápido para a frente onde fazia tomadas da Imagem do Santo e mais para a frente, fazia tomadas da banda de musica e dos padres que conduziam o Santíssimo.. Um rapaz que vinha com pressa, ao passar por Racilva, apenas disse:
--- É uma filmagem da procissão. – e sorriu caminhando para se perder entre os prédios existentes na Rua do Comércio.
A procissão ainda vinha longe. Racilva olhava as vitrines das lojas abertas naquele dia. Em uma vitrine, ela notou com verdadeiro espanto, uma boneca de porcelana toda vestida de noiva, mostrada em exposição ao lado de outros brinquedos e bibelôs espalhados pelo chão da vitrine onde havia também relógios de algibeira e de pulso parecendo sorrir para os que os admiravam. Canetas de várias marcas, outras bonecas e um sem numero de negócios a mostrar. Racilva ficou a olhar a boneca de porcelana e, depois de certo tempo, entrou e perguntou a balconista se aquela boneca estava à venda. A balconista disse que sim e lhe deu o preço. Racilva concordou e a balconista pediu a um moço que a trouxesse da prateleira a esmerada boneca em trajes de noiva. Com um pouco de tempo, o moço tirou a boneca da exposição e a trouxe para a vendedora. Racilva contemplou a boneca e sorriu, devolvendo a balconista pedindo que fizesse um embrulho para presente.
--- Só isso senhora? – indagou a balconista a sorrir de leve.
--- Só. – respondeu Racilva com um sorriso.
A procissão que seguia pela Rua do Comércio àquela hora já estava a passar em frente da loja de brinquedos. O toque ensurdecedor da corneta perturbou um pouco Racilva. Em seguida, após pagar pela boneca, a moça saiu ligeiro da loja ouvindo da vendedora a promessa:
--- Volte sempre. Temos novos artigos. – sorriu a balconista.
Na rua ainda havia o tumulo de gente que seguida a procissão. Nessa ocasião um jovem se aproximou de Racilva para lhe dizer apenas:
--- Deixei com seu secretario a partitura. – falou o rapaz.
Racilva agradeceu e caminhou leve para seu escritório vendo ainda o mendigo a tocar seu modesto violino. Ela se aproximou do violinista mendigo e lhe deu uma cédula em dinheiro. Ao chegar ao seu escritório ouviu do seu secretario que estava com um envelope que um cidadão havia deixado.  Ela agradeceu e tomou o envelope segurando com a sua pouchet e o pacote que continha a boneca de louça. E vez de entrar, Racilva notou que ela estava com muito embrulho na mão. Desfez-se do pacote da boneca e abriu a porta de entrada do seu escritório. Nesse ponto o secretario já estava ao lado para segurar algum pacote. Ela sorriu para o rapaz e se desculpou por não ser aquilo um grande trabalho. O rapaz sorriu de volta dizendo:
--- Não é nada. Eu vi que a senhora precisava de mais uma mão. – sorriu o rapaz.
Finalmente Racilva entrou em seu escritório e desembrulhou o envelope que continha a partitura musical que ela nem chegara a solicitar, pois isso era assunto de Vera Muniz. De um modo ou de ou de outro, Racilva verificou as partes ilustradas. Após algum tempo, a moça se levantou da cadeira almofadada e foi até a janela do prédio e ficou a olhar do alto para os prédios vizinhos e para os carros estacionados em baixo. Ela olhava todo aquele negocio como forma indiferente. Notadamente, viu três rapazes procurando roubar um veículo estacionado ao lado esquerdo da rua. Eles enfiavam um arame para abrir a porta. E após alguns minutos, com toda a pressa por fim a turma conseguiu abrir a porta do auto. O alarme disparou. Os rapazes fincaram pé e procuraram sair vexados do local com o carro. Eles enfim conseguiram furtar o veículo. Um homem saiu de uma agencia bancária, desesperado, gesticulando a todo instante. Por fim o homem ligou o celular para alguém. E assim, o homem afirmava ter sido roubado. Era isso o que deixava entender pelos gestos que fazia o homem baixo e gordo com o paletó desabotoado. Racilva viu a cena por completo. Mesmo assim, a moça nada fazia do alto do prédio. E nem tecia argumento. Ela somente olhava a cena. No outro lado da rua, um rapaz vendia cachorro-quente aos consumidores. Ela também observou a cena do auto do edifício.
Em instantes, quando Racilva estava parada ainda olhando para o movimento da rua, alguém bateu em sua porta cumprimentando seguida. Ela se voltou e viu ali a amiga Vera Munis, bem alegre a sorrir.
--- Você aqui? – perguntou Racilva a Vera.
--- Fui ao médico. Faltam apenas trinta dias. – sorriu Vera ao beijar a moça com agrado.
--- E o marido? – indagou sem surpresa a jovem Racilva.
--- Ah. Esta no seu escritório. – sorriu Vera e procurando se sentar em uma cadeira também almofadada que havia no escritório de Racilva.
Ambas se sentaram e Racilva olhava atenta apenas a mulher. Em certa ocasião, foi até a garrafa de café posta em uma banca ao lado do seu birô e ofereceu a Vera um pouco de café. Esta recebeu ao contento. Vera havia saído do seu apartamento em companhia do marido, sem beber café ou fazer qualquer refeição. Ela estava em jejum até àquela hora.
--- O médico exigiu para que eu fosse de jejum. – sorriu Vera ao contemplar Racilva.
Racilva sentou novamente em sua poltrona e, com as mãos nos queixos em forma de amparo, olhando para Vera apenas disse isso:
--- Parto! Tem cada coisa! – e sorriu sem sentir a jovem moça.
E ambas conversaram sobre partos, médico, mulheres, ter filhos. Era tudo o que estava na cabeça de Vera naquele instante. Com certo tempo, entrou no escritório de Racilva o marido de Vera. Foi entrando e dizendo:
--- Vocês estão confabulando? – o sorriu Silas para as duas amigas.
--- Ora! Não. Eu estava dizendo a Racilva que nós fomos ao médico. – sorriu Vera naquela ocasião.
--- Ah bom. Melhor. -  aquietou-se Silas sobre mal presságio.
--- Aqui tem um envelope para você. – respondeu Racilva entregando um envelope a Silas.
E o homem disse que depois abriria o envelope. E perguntou a sua mulher se não desejava ir para o apartamento dos dois. Ela não resistiu e logo eles saíram do escritório de Racilva. Quando estavam os dois a sair do escritório de Racilva um rapaz trouxe umas frutas que entregou a Vera. A mulher agradeceu ao rapaz.
--- Maçãs? Adoro maçãs! – foi o que disse Vera ao rapaz, agradecendo por fim. E ofereceu umas maçãs a Racilva, o que esta agradeceu e disse para Vera.
--- Maçãs! São suas! – respondeu Racilva sorrindo.
Racilva se lembrou do presente que tinha comprado e entregou a boneca enrolada em papel de presente a sua amiga. Era a boneca de porcelana vestida de noiva. Vera sorriu e agradeceu. O marido a tomou para si, pois Vera Muniz já estava com bastante coisa para levar para o seu apartamento. Alguns livros que Silas levava na mão, ele achou por bem deixá-los com Racilva, pois apanharia logo mais à tarde.
Racilva ficou a meditar em Silas e em Vera. Amantes eram assim. Passara-se o tempo e os dois se casaram. Como eles fizeram para se juntar depois de tantos anos, ela não imaginava saber. Apenas o amor dos dois poderia explicar como eles estariam assim a viver ternamente unido como alucinados amantes. Coisas e casos da sua própria vida. No mesmo instante, Racilva se lembrou do fim de tarde do dia que passou, pois na verdade, lhe deu receio ao ver a amiga de sempre, Vera Muniz, entrar em seu escritório aquela manhã. Era verdadeiro o sentimento que Racilva sentia por Silas Albuquerque, desde adolescente, apesar de que nunca lhe fizera nenhuma menção nesse sentido. De início, Racilva supunha ser apenas um amor terno, leve e passageiro. O tempo passou para muitos anos, estimado em quinze anos. Ela, durante esse tempo não se lembrou de procurar Silas. Também não teve novo romance desde que foi aluna do Grupo Escolar com algum jovem ou rapaz. Ao atingir vinte e dois anos de idade, Racilva era funcionária da Agencia Pomar. E desde algum tempo ela sempre foi entendida como boa companheira por todos os demais servidores da casa. Quando Silas chegou a agencia, então, Racilva novamente ficou inquieta, pois ali estava o seu verdadeiro amor.


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