sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

AMANTES - 34 -

-  Deborah Kerr -
- 34 -

O quarto onde Vera Muniz estava era iluminada a meia luz. As luminárias eram programadas para tal fim. Contudo, podiam-se ler as mais tenras letras de um receituário de medicamento se alguém tivesse tal curiosidade. Havia soro com algum medicamento posto em um escalpo bem ao alto da cabeça de Vera. A auxiliar de enfermagem verificou o conteúdo da bolsa do soro e depois saiu do local sem dizer uma palavra. Apenas Racilva perguntou baixinho se era possível acordar a paciente e a auxiliar respondeu:
--- Ela está acordada. – e sorriu saindo em seguida.
O marido de Vera se encostou a cama um pouco elevada, e sorriu par a mulher temendo até lhe dar um beijo, pois o homem estava totalmente sujo por ter passado quase o dia todo no salão do hospital. Racilva, de braços colados um no outro, como se fosse uma noviça e uma freira, se juntou do outro lado da cama a olhar Vera evitando tocá-la. O motorista do carro, o velho Diomedes, ficou um pouco mais distante da cama apenas a olhar a jovem parturiente. A porta se fechara ao sair do quarto a auxiliar de enfermagem. Barulho de qualquer espécie não chegava até ao quarto 213. Tudo era silencio. O ar condicionado nem fazia zoada costumeira. Com pouco tempo a mulher abriu os olhos e notou à presença de seu marido. Sorriu para ele. E lhe apertou a mão levemente. Para o outro lado estava Racilva, a jovem. Vera olhou devagar e sorriu leve para a sua amiga. E sorriu também para o motorista do seu marido, o velho Diomedes que estava mais ao largo. Após todos esses sorrisos, Vera indagou quando era que tinha que sair do hospital.
--- Breve. Amanhã. Hoje ainda você passa a noite sob os cuidados do Doutor Lemos. – explicou o marido em voz suave.
--- Amanhã? – perguntou a mulher meio chorosa.
--- É. Assim diz o médico. – explicou Silas de vagar e com muito afeto.
--- Você tem urinado? – indagou Racilva a mulher.
--- Acho que sim Não sei. Estou meio sonolenta. – respondeu Vera com voz de choro.
E a conversa continuou nesse termo e Silas indagou da esposa se podia fica para dormir no seu quarto. Ela respondeu não saber. Porém, parece que ele podia ficar. Mas ao mesmo tempo a mulher recusou a oferta, pois sabia que o marido tinha que comer algo.
--- Eu já comi. Racilva trouxe uma pizza. – sorriu Silas ao lembrar-se dos muxicões que a moça havia prometido se ele não comesse.
--- Que foi? – indagou Vera de forma sonolenta. –
--- Nada. Foi isso mesmo. – respondeu o marido.
--- Foi isso Racilva? – indagou a mulher à sua companheira de forma bem lenta.
--- Foi. Silas comeu uma pizza. – respondeu Racilva de forma acolhedora.
--- Mas não é isso que Silas disse. Ele sorriu. – falou a mulher de forma lenta.
--- Sorriu por que ver você boa, pronta pra outra. – sorriu leve Racilva.
--- É isso mesmo Diomedes? – indagou a mulher ao velho que estava somente a olhar de longe os três amigos.
--- É verdade, senhora. – respondeu o velho Diomedes sem saber nem o que.
Por fim, Silas Albuquerque disse que ele ficaria no quarto e que Racilva e Diomedes poderiam sair a qualquer hora e somente voltar no outro dia pela manhã. Houve acordo entre os funcionários da Agência Pomar. Eles voltariam no dia seguinte quando Vera retornaria para o seu apartamento. A noite era tranqüila e nada se ouvia de fora. Apenas a reclamação de Vera.
--- Quanto trabalho eu dou para vocês. – falou a mulher com voz embargada.
--- Isso é normal. Foi um acidente de percurso. – respondeu Racilva calmamente.
Silas estava a chorar por tanta aflição por que passara a mulher naquelas horas.
A enfermeira e outra bela mulher, a nutricionista, entraram no quarto de Vera. A segunda pessoa, a nutricionista, fez apenas algumas perguntas de praxe: como a paciente estava se sentindo, o que desejava comer na manhã seguinte, se havia se alimentado normal durante o dia no Hospital e outras coisas a mais. Disse ainda à moça que uma auxiliar lhe traria em breve uma sopa para que Vera se nutrisse.
--- Sopa? – indagou Vera repugnando a sopa.
--- São cuidados especiais para com a senhora. – sorriu a nutricionista que estava a oferecer a sopa.
--- Se eu não como meu marido pode comer? – indagou Vera a enfermeira.
A moça sorriu e respondeu que o acompanhante teria uma refeição apropriada para ele. Que a paciente não se preocupasse com isso. E Silas indagou a enfermeira, de pronto:
--- Tem banheiro aqui? – perguntou Silas a enfermeira.
--- Tem. Pois não. Naquela local ao seu lado. – sorriu a enfermeira e passou para indicar o local.
E a jovem enfermeira passou para mostrar o banheiro e aparelho existentes.
--- Agora, a sua esposa deve urinar apenas no aparador. Queremos ver se não há mais presença de elementos estranhos. – sorriu a enfermeira um pouco baixa e um tanto gorda.
--- E fezes? – indagou o marido ao saltar de preocupação.
--- Fezes ela não tem. O hospital já fez uma lavagem evitando a presença de elementos estranhos como fezes. – sorriu a enfermeira.
--- Então ela só deve urinar? – indagou Silas alarmado com a notícia.
--- É sim. Só isso. - sorriu a enfermeira baixa e gorducha.
Depois que as profissionais saíram do apartamento hospitalar, os três visitantes e mais a paciente trocaram algumas palavras. Vera apenas chorava e reclamava da cama em que estava que era desconfortável. Racilva juntou o travesseiro na cabeça de Vera e, assim, colocou um pouco mais elevado para que a paciente se acomodasse de forma mais confortável. E após o serviço perguntou a mulher:
--- Assim está bom? – indagou Racilva de voz suave.
--- Melhor. – respondeu Vera de voz lastimosa.
A conversa prosseguiu com Silas Albuquerque discorrendo que ficaria àquela noite no Hospital e se possível, Racilva viesse na manhã do dia seguinte. O velho Diomedes também poderia ir descansar no apartamento e apenas voltar pela manhã. Após certo tempo, a moça Racilva se despediu de Vera e de Silas e, aproveitando a presença do velho Diomedes pediu para que ele a conduzisse até o escritório da Agencia Pomar vez que deixara no local o seu automóvel.
Manhã do dia seguinte. Cinco e meia. Enfermeira entra no apartamento de Vera Muniz de forma tão sutil que nem os seus passos se podiam ouvir. Silas dormia em uma poltrona com a cabeça pendida para um lado. A enfermeira trazia um frasco de injeção em uma das mãos para fazer a injeção na veia de Vera. Essa estava dormindo a sono solto e acordou com o sacolejo da aparelhagem. Abriu os olhos e atendeu a solicitação da enfermeira. Vera perguntou se ela sairia naquela manhã. A enfermeira disse não saber. A mulher olhou para a poltrona onde estava a dormir o seu esposo.
--- Ele dorme. – disse a enfermeira de forma baixa e fez a injeção na veia de Vera.
--- Tanto medicamento. Vou sair como um hipopótamo. – relatou Vera de forma lenta.
A enfermeira sorriu e não disse nada. Apenas Vera perguntou:
--- Que horas o médico vem? – indagou muito calma a paciente.
--- Dez horas. – respondeu enfermeira.
---- Dez horas! Para mim é uma eternidade. – comentou Vera lacrimosa..
--- Sua urina não apresenta nada. Vou levar agora. – comentou a enfermeira a sorrir e tirou o aparador de baixo da cama.
Vera ainda teve a intenção de olhar para a urina, porém não teve como. A enfermeira colocou a urina em um saco plástico e deixou o aparador para ser mudado por uma das auxiliares de enfermagem. Depois de tudo feito, a enfermeira deixou o apartamento de Vera do mesmo modo como entrou: sem fazer o mínimo ruído.  A mulher olhou para a poltrona onde estava recostado o seu marido e esse continuava a dormir. O silêncio imperava em toda a extensão do Hospital, onde não se ouvia nem o passar de uma formiga. Pouco depois das dez horas o médico esteve com Vera em seu apartamento e lhe deu alta recomendando repouso absoluto até o nascimento do seu filho.


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