segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 17 -

- Jannifer Morrison -
- 17 -
O BANHO
Após se desvencilhar dos espinhos da capoeira onde a todo instante Vanesca reclama, enfim ambos chegaram a cabana feita de palha de coqueiro e de barro nas paredes da frente e parte do lado. Logo Otto bateu palmas na esperança de encontrar alguém em casa. Não era muito grande a choupana. Uma sala – se é que pudesse se chamar – chão batido – só tinha barro – paredes velhas, um quarto de dormir todo feito de barro, outra sala – a de jantar – e fim. Nada mais havia a oferecer. Na sala de entrada havia três tamboretes de três pernas, uma cadeira feita com uma colcha por cima, uma quatro de Jesus e Maria e alguns retratos já bastante envelhecidos. Era tudo e nada mais. Apesar de bater forte e esperar resposta, nada Otto ouviu de alguém de dentro. De qualquer modo ele se aprumou e apesar da roupa suja e rota, Otto dava a aparência de gente fina. Sem mais conversa Otto puxou a sua noiva e resolveu entrar de qualquer forma. Seus pés não faziam zoada  e como se quisesse ou não o homem penetro no casebre indo devagar junto com a sua noiva até a entrada do arremedo de quarto. Ele olhou e nada viu, a não ser um catre vazio. Coberta não tinha. Apenas um colchão feito de palha  com uma coberta feita com rede de dormir. A rede era velha e já não tinha punhos e nem franjas. Otto olhou bem a cama e sorriu para a sua noiva como quem diz e não diz coisa alguma. A moça fez o mesmo. Dali em diante os dois caminharam até a sala de jantar onde nem o fogão estava aceso. Uma jarra grande, um pote, panelas de barro, pratos postos de qualquer forma na mesa, três cadeiras velhas, uma foice e algo mais a encostar-se à parede de barro. O fogão também era feito de barro com duas bocas e madeira cortada para pôr para tocar fogo a qualquer hora. Um gato a dormir solitário era o mais visível de tudo. Na parte de trás da cabana um alpendre se bem que fosse e um machado. Otto impaciente voltou a chamar por alguém e não ouviu nenhuma resposta. Sua noiva olhando a esmo notou a existência de um cacimbão. Com isso, Vanesca se alegrou e soltou da mão do noivo gritando:
Vanesca:
--- Um cacimbão! – gritou a moça correndo para ver o interior do buraco cavado na terra.
Otto:
--- Cuidado! – disse o rapaz temendo existir por alí alguma serpente.
E de imediato caminhou atrás da noiva. A moça já estava na ponta da borda do cacimbão a puxar a corda com uma lata cheia de água. Vanesca nada temia muito menos de serpentes. Estava naquele lugar para tomar banho com uma lata d’água e nada mais. O sol que despontara ainda estava encoberto por uma camada expeça de nuvens de poeira. A mata era tudo o haver de muito novo naquele espinhoso caminho de areia e mato. Ela não fez por menos e emborcou a água sobre o seu corpo com a roupa suja de fuligem e resto do mato  da cerra caso que há tanto tempo não estava para ver. O rapaz se aproximou e foi logo a perguntar da condição da água. A moça nem respondia. Queria era tomar banho por conta da sujeira da sua roupa. De imediato ela notou a presença de Otto e, de uma só vez, sacudiu a lata com água em cima do rapaz. De repente, todo molhado da cabeça aos pés, Otto se espantou com o fato. De braços abertos ele olhava as suas vestes e reclamava:
Otto:
--- Hei! O que é isso! – reclamou assustado o noivo.
Não foi por menos. Vanesca se enroscou numa tremenda gargalhada e, também, já inteira molhava com as suas vestes um tanto enegrecida pela fuligem do tempo, respondeu:
Vanesca:
--- Banho! – fez ver a moça a gargalhar.
Otto, meio abismado com a ação da noiva apenas sacudiu as mãos para ver se tiravam a sujeira do corpo até então longe do banho. Quando Otto estava no Hospital só fazia dormir. E quando acordou já foi para fugir do local em debandada para seguir por novos caminhos. Caminhos esses a percorrer a mata cerrada entre mosquitos e onças. Foi uma tremenda fugida por causa do abalo sísmico a sacudir a capital e mais além, provavelmente. Na corrida ele se lembrava de alguém a  gritar ser aquele “o fim do mundo”. Ele não pensava muito bem ser algo como o derradeiro dia da Terra. O certo era ele não pensava em nada a não ser a fuga. E naquele momento, atordoado pela fuligem vinda do espaço, sua roupa suja e a falta de comida e, por fim o banho a encharcar a sua roupa suja e rasgada. E desprovido de alguma vantagem Otto olhou para Vanesca e sorriu:
Otto:
--- Se é assim, então vamos nos molhar de cabo a rabo! – disse o homem a sua noiva.
Vanesca já havia posto a lata para trazer mais água e assim, molhada, a roupa ligada ao seu corpo, ele não pensava em outra coisa a não ser tomar banho de “bica” para não falar em “lata”.   Do jeito que estavam os dois se refrescaram em plena manhã bem cedo, mesmo assim sem sol. Foi uma fuzarca desastrada a dos noivos. Vanesca jogando água em cima de Otto e esse, já não a temer mais se molhar, pois molhado já estava, corria para tentar encontrar outra lata por certo perdia em algum canto do alpendre da choupana. E assim se fez a vontade do casal de jovem a se encharcar a roupa até a pele e olhando por cima nem ter o sujo caído o tico de coisa alguma. Eles sorriam a bel prazer, ambos molhados e ainda cheios de sujeira. Ao passo de alguns minutos os dois se retiraram do local com a moça a indagar;
Vanesca:
--- E agora? – sorriu a moça tremendo de frio, toda encolhida como um gato molhado.
Otto;
--- É esperar enxugar. E tive outra ideia. No mato têm fruteiras. E vou buscar uns cajus. – sorriu o homem.
E Vanesca respondeu.
Vanesca;
--- Vai lá que eu vou aqui ao mato ver se tem ovos de galinha. – disse a moça a sorrir também.
Otto
--- Galinhas? – indagou de sobressalto o rapaz.
E então ele ouviu o canto de um galo perdido na capoeira. Otto nem adivinhava onde. Mesmo assim, o galo cantava mais de uma vez como se quisesse alertar às galinhas ter gente de fora no terreiro ou coisa que o valha. Por isso mesmo o rapaz sorriu e comentou:
Otto:
--- Nem os tremores de terra assusta o galo! – sorriu o rapaz sem maiores preocupações.
E Vanesca procurou descobrir onde as galinhas estavam pondo para ver se achava algum ovo para fazer a sua refeição e a de Otto. Depois de muito escacavar pelo vasto terreno ao sopé da serra, passando por meios de carrapichos e beldroegas, às vezes entre espinhos, a moça se topou com um cerco onde estava a chocar uma velha ou nova galinha. Ela não soube precisar a data de vida da galinha. Mesmo assim teve um assombro ao ouvir o chiado da ave acolhida em seu chocadoro em baixo de umas matas por ali existentes o qual logo causou tremendo susto. A galinha não contava conversa e ficava com o seu chiado demostrado ter perto uma senhora galinha a esquentar seus ovos.
Galinha:
--- Chiac, chiac, chiac, chiac. Tho, tho, tho. – fez a ave toda inquieta postando as asas por todo o cerco.
Com seu tremendo susto a moça pulou fora para não espantar nem mais a galinha. E disse então:
Vanesca:
--- Ai que susto! Sai pra lá ave doida! – relatou a moça levando a mão ao coração.
E por o meio das beldroegas Vanesca passou a examinar os locais prováveis de onde estivesse alguma ave a por os seus ovos. Foi então que de repente, Vanesca se assustou outra vez quando uma ave iguala outra saltou para cima da moça num tremendo barulho cacarejando a todo custo numa altura de dar assombro em qualquer um vivente. A moça procurou por todos os meios de livrar do salto da ave em cima de sua cara e a ave continuou a gritar de raiva ou de temor pela presença de Vanesca em seu ninho de postura. E gritou Vanesca atabalhoada:
Vanesca:
--- Sai pra lá bicho infeliz. – se enroscando com a mão no rosto a procura de se desvencilhar da ave.
E a galinha não teve escolha! De um modo ou de outro a ave saiu terrivelmente a cacarejar por todo o seu caminho assustada pela presença de Vanesca em seu ninho de postura. Otto, ao longe só ouviu o gritar de Vanesca por entre os alarmes da ave. E então quis saber:
Otto:
--- Que houve?! – indagou o rapaz a sorrir.
A moça tirando as penas da ave postas em seu rosto teve tempo apenas de falar.
Vanesca:
--- Galinhas! – disse a moça a e limpar das penas da ave..
E Otto gargalhou como quis.

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