- Sasha Grey -
- 21 -
CAMINHO
Otto procurou levar o seu pai até
a carroça e em seguida caminhou para o riacho atravessando a água pelo meio da
canela e, assim, espantando as garças e os patos. Essas aves costumavam
frequentar as águas da ribeira onde saciavam a sua fome a catar peixes miúdos
por ali existentes. Do outro lado do riacho ele procurou divisar a casinha
pequenina, distante por sinal, talvez a um quilômetro de percurso, ou mais ou
menos. Entre a casinha havia uma capoeira e, ao largo, mata virgem a subir a
serra, por assim dizer. Na casinha deviam morar os últimos dos escravos ou
lance parecido do dono da terra por onde Otto trafegava. O rapaz divisou muito
bem a casa da família e correu para o pequeno lago a chamar com insistência por
sua mãe e as duas jovens moças a acompanhá-lo até o casebre de duas águas
avistado ao longo do caminho. As jovens moças se atrapalharam por completo,
pois estavam a lavar a roupa e assim foram pegas de surpresa sem nem poder se
encobrir. Na ocasião, Vanesca gritou para o noivo:
Vanesca:
--- Não está vendo que estamos
apenas sem roupa? – falou gritando a moça.
Otto então observou a situação
das duas moças e em seguida foi dizendo:
Otto:
--- Ora que merda! Eu estou
acostumado a ver você de modo sumário! – alardeou com raiva o rapaz.
Vanesca se protegeu mergulhando
na água morna do lago. Eleanor também fez o mesmo. Apenas a mãe de Otto foi
quem perguntou.
Luiza:
--- Aonde, filho! – indagou
perplexa a mulher.
Otto se voltou para a sua mãe e
nem reparou na desnudez da mulher e respondeu.
Otto:
--- Bem à frente. Se dermos
marcha chegaremos a pouco tempo. – falou exaltado o rapaz
E não foi necessário o rapaz
afirmar tudo o que sabia ou não. A caravana partiu ribanceira acima, arriscando
tudo e a todos e caminho sem demora. Na metade do caminho Otto aproveitou para
apanhar pinhas, graviolas, umbu e jaca quase madura. Ele, Vanesca e sua irmã
Eleanor tiveram o trabalho de colocar tudo da carroça. O sol era de quatro
horas e não fazia mais o nevoeiro da cidade e arredores. O rapaz puxou a égua
para dar mais força ao trabalho de reboque até alcançar o casebre de taipa. A
porta de frente estava meio aberta, pois naquele local se serrava a porta pela metade
deixada à parte de baixo fechada. Com precaução, Otto bateu palmas. De um lado
da cerca surgiu uma mulher e seus três filhos, sendo uma mocinha de pouco mais
de onze anos. Os dois meninos eram uma verdadeira escada. A mulher se postou
encostada a parede de taipa do casebre e logo respondeu:
Mulher:
--- Pois não moço! – falou
desconfiada a mulher.
Otto teve um susto, porém a sua
irmã cutucou as costelas do rapaz como querendo informar ter ele um pouco mais
de modo. Eleanor sorriu para a mulher e falou.
Eleanor:
--- Nós estamos a procura do
sitio Cajupiranga, do coronel Araújo. – falou tranquila a jovem.
A mulher olhou cruzado para a
senhorita e o rapaz antes de responder. E foi com gesto modesto que a mulher
perguntou:
Mulher:
--- De onde são vocês? – indagou com
paciência a mulher.
Otto então se prontificou em
responder com franqueza.
Otto:
--- Da capital. É porque nós nos
atrapalhamos e perdemos a estrada. – sorriu sem querer o rapaz.
A mulher, um tanto desconfiada
atentou em responder.
Mulher:
--- Pra mim vocês estão bem
distantes de Cajupiranga. Talvez dois dias ou mais. – falou a mulher com
tranquilidade.
Otto postou a mão na cabeça e
relatou alarmado com o anuncio dado pela mulher de saco (uma forma de se chamar
o local distante de qualquer outro).
Otto:
--- NOSSA! Mas fica longe assim?
Essa moça é filha do Coronel. – disse Otto para a mulher (do saco).
Vanesca:
--- Mais três dias? Isso é
impossível? – fez ver a moça alarmada com a história contada pela mulher.
Mulher:
--- É o que sei. Vocês andando
com muita pressa chegam à fazenda em dois dias. Mas do jeito que estão no
mínimo três dias. Eu digo por que já trabalhei na fazenda. – relatou a mulher
agarrada ao seu filho menor.
Vanesca:
--- Nossa Senhora! E como eu
chego lá com uma hora de viagem? – perguntou a moça com a mão no rosto.
Mulher:
--- A pé? – indagou a mulher com
altivez.
Vanesca:
--- Não! De carro! – respondeu
com certo medo a moça.
Mulher:
--- Ah bom. Assim, até eu chego.
Mas vá andar? Vá? – resmungou a mulher com breve sorriso.
Otto sorriu e logo após continuou
com a sua conversa. Ele olhava o sol e perguntou a mulher se era possível
acampar por aquela noite no terreiro da casa. A mulher deu resposta positiva.
Mulher:
--- Até por que eu estou só e não
sei quando Chagas volta. Ele deve estar cuidando de animais. Pode levar um dia
ou dois. Quanto a vocês podem se abancar. Não faço questão. As mulheres podem
dormir na casa. Apesar de pequena, cabe muito bem. – contou a mulher de uma só
vez.
Eleanor:
--- A gente fica no terreiro.
Porque o meu pai é enfermo e não pode ficar pra cima e pra baixo. Vamos ficar
no oitão da casa. – falou sem descuido a irmã de Otto.
Mulher:
--- Por isso não. Ele pode
entrar. É gente pobre como eu. – respondeu a mulher sem sorrir.
Otto;
--- Assim está bom. Eu fico
cuidando da égua. Vocês podem entrar. – respondeu o rapaz.
Mulher:
--- Quanto aos bichos, tem canto
pra deixar. Lá atrás. – respondeu a mulher sem forçar a nada.
Otto:
--- Assim é melhor. Nós ficamos
felizes com o que a senhora prometeu. – disse o rapaz.
A mulher tocou a conversar com
dona Luiza e disse ser da cidade. Há um bom tempo se juntou ao homem (Chagas) e
veio morar no pé da serra. Com isso, a conversa prosseguiu por um bom tempo. O
velho Homero foi posto numa cadeira preguiçosa em um lado da sala e a mocinha
fez companhia a Vanesca a cuidar do café com broa, pois era tudo o estava a
ver. Otto arrastou os animais até o curral e logo depois se acercou de sua mãe
ouvindo a conversa da mulher. A certo tempo Otto indagou:
Otto:
--- O seu nome como é? – indagou
o rapaz.
Mulher.
--- Nina seu moço. Eu me chamo
Nina. – respondeu a mulher.
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