- Mayana Moura -
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O VELHO
Passaram-se
os dias, semanas, meses e anos e Isabel e Otilia levando a mesma tranquilidade
de sempre. No bar, era os fregueses indo o vindo. Ou indo de uma vez por todas.
Alguns migravam para outros Estados ou mesmo morrendo para o sentimento de
alguns. Na linha de ferro, Toré já ocupara nova residência, bem mais ampla e
moderna com árvores velhas e novas. Na antiga casa ficou guardada e habitada
por sua mãe. Vez por outra estava Otilia e a sua filha Sílvia a frequentar a
casa da avó. Dulce Pontes sempre a costurar como era hábito. Nos dias de festas
tradicionais sempre Otilia e Isabel estavam juntas com os seus maridos no bar,
na casa antiga e reformada de Gonzaga ou mesmo na Fazenda do Guzerá lá para o
fim do mundo. Quando chovia não se saia de casa por causa do frio. Nas
tradicionais festas do natal então estavam todos reunidos. Uma vez na Fazenda,
outra no Bar ou na velha casa nova de Gonzaga e Isabel. Se houvesse espetáculo de
pompa no Teatro, quase todos estavam presentes ao evento. E no aniversario de
primeiro ano do casal de crianças, Silvia, de Toré e Otília, e Francisco, de
Gonzaga e Isabel, foi uma grande festa em um salão de eventos nessa recordação
sem par. E desse modo correram os anos. Certa vez, em um dia de domingo, a
cinco anos estavam os garotos a brincar na Fazenda. O menino com um trem. A
menina com as suas bonecas. E foi então quando a menina falou:
Sílvia:
--- Eu vi
um velho. – disse a garota brincando com as suas bonecas.
Francisco:
--- Onde?
– indagou o garoto.
Sílvia:
Alí. –
disse a menina a apontar um canto da sala da Fazenda.
Francisco:
---
Quando? – indagou o menino a brincar com o seu trem.
Sílvia:
---
Agora. – respondeu a menina a brincar.
Francisco:
--- O que
ele está fazendo? – perguntou o menino.
Silvia:
---
Olhando pra mim. – respondeu a menina a continuar com suas bonecas.
Francisco
se virou e nada viu. Para ele a menina estava brincando. E Sílvia olhou os
retratos na parede da sala e respondeu ao seu amiguinho.
Silvia:
--- Ele é
aquele? – apontou a menina para o quadro maior.
O menino
se entreteu com a brincadeira e nada respondeu. Nesse momento Isabel e Otilia
chagavam a sala a trocarem conversa. Os maridos tinham saído para pescar no
lago. Elas conversavam sobre negócios a fazer no Bar. E nesse ponto, a menina olhou para a sua mãe e
respondeu.
Silvia:
--- O
homem quer comer? – disse Silvia.
A sua
mãe, de imediato indagou:
Otília:
--- Que
homem menina? – indagou a mulher meio assustada.
Sílvia:
---
Aquele. – e apontou para o retrato da sala.
Otília:
---
Aquilo é um retrato. Comer que nada! – reclamou a mulher das espertezas da
garota.
Sílvia:
--- Quer!
Ele está com fome! – fez ver a garota.
Otilia:
--- Está
bem. Ele vai comer. – resolveu Otilia.
E em um
momento se virou para a sua amiga Isabel a dizer ter a menina vista o retrato e
dessa vez começou a dizer ter o homem pedido comida.
Isabel:
--- Que
coisa! Ela fala com o retrato? – perguntou Isabel um tanto desconfiada.
Otilia;
---
Coisas de menina. – sorriu a mãe de Silvia.
Silvia:
--- Coisa
não. Ele está ali na sala. – e apontou a parede do canto da sala.
Otilia:
--- Mas
basta. Agora está vendo a parede da sala. – sorriu a mãe da garota.
Silvia:
--- Não é
a parede não, mãesinha! É o velho! Ele está alí! – reclamou a menina com suas
inseparáveis bonecas.
Otilia:
--- Não
disse? Lá em casa é a mesma coisa! Um velho! – sorriu a mãe da garota.
Isabel:
--- Em
lembro de uma garota inda pequena. Eu morava no interior. A menina sempre dizia
ter alguém no seu quarto. – sorriu Isabel.
Otilia:
--- É
isso. As crianças sonham demais. – disse por fim a mulher.
Ao
entardecer, chegaram os homens vindos da pescaria na lagoa. Cada qual com uma
porção de peixes. A mulher Maria da Penha apanhou os peixes para tratar e os deixou
quietos os dois homens já exaustos e mortos de cansados. A mulher cuidou dos
peixes e os pais pegaram os seus filhos para brincar com eles. Nesse ponto
Otilia chegou a dizer ter a filha avistada na sala o homem do retrato. O pai
sorriu e agradou a menina a dizer:
Toré:
--- Minha
mãe tem dessas coisas. E me chama para eu poder ver. Eu não vejo nada. – sorriu
o rapaz.
Gonzaga:
--- As
mulheres são mais sensíveis. Elas observam coisas. Os homens são mais
trancados. Deixa pra lá. – respondeu o homem
Toré:
--- Agora
me lembro. Perto da casa da minha mãe, na linha (do trem) tem um Centro
Espirita. Certa vez eu passei por lá e vi um homem todo torto. Era um
“encosto”. – sorriu o rapaz.
Gonzaga:
--- A
mulher, principalmente meninas, se dá mais para se vê essas coisas. Não sei por quê? – respondeu o homem meio
cético.
Toré:
----
É assombração! – destacou o rapaz
fazendo caretas.
Gonzaga:
--- Pode
até ser. Mas.... – falou o homem a terminar a conversa.
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