- Zooey Deschanel -
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ACERTOS
Ao
chegar à casa da mãe de Isabel, a sua amiga de longas datas foi logo a saltar
do carro carregando o menino do colo e puxando com a outra mão o pacote de
roupas e acorrer ao encontro da amiga como quase em prantos por não tê-la visto
desde a mais de cinco anos ou coisa assim. As duas se abraçaram ofegante, cada
qual como a dizer algo indecifrável onde apenas dois corações amigos e infantis
poderiam ter aquele afago. Isabel sacudia para cima a amiga e esta, por sua
vez, fazia o mesmo, a chorar lacrimoso como se tudo começara naquele instante e
de momento para não mais acabar. Dois assistentes da cena, Gonzaga e Ambrósio
ficaram encostados ao carro olhando e sorrindo pela felicidade das duas amigas.
Atrás, a porta, com os braços encruzados sobre os seis, estava Ludmila a ficar
surpresa com tanta emotividade. Os meninos apenas brincavam como dois
conhecidos. Francisco e Paulo sorriam para um e outro. E após um breve encontro
as duas amigas se refizeram da distancia havia entre as duas mulheres. Após
esse enlace, Isabel indagou sobre a moça. Ela não avistava a tal jovem moça
aguardada desde a manhã. E Maria José disse ter a moça sido feita obrigada a
desistir de viajar naquele momento.
Isabel:
---
Mas por quê? – estranhou a moça.
Maria:
---
Negócio de família. O pai empatou a moça. Ela então desistiu de seguir viagem.
– reportou a moça em resposta.
Isabel:
---
Mas menina! Que coisa horrível! – refletiu Isabel em resposta.
Maria:
---
É. Mas não há de ser nada. Eu estou aqui para o que der e vier. Já tomei conta
de doentes até a morte. Serviço não me mete medo. Espero corresponder as suas
expectativas. Eu estava a trabalha no Grupo (Escolar) e o prefeito não paga há
três meses. Por cima, o pessoal entrou em greve. E eu não fui nem contratada.
Fico assim feito merda n’água. – respondeu Maria José meio contrafeita.
Isabel:
---
Mas é claro que você vai. Eu nem esperava uma coisa dessas. Mas, afinal, caiu o
melhor. Se não vai interromper seus negócios, então você venha amiga. – sorriu a
mulher ainda abraçada e a entrar em casa.
E
a conversa se prolongou por mais algum tempo, Maria José falando dos seus maus momentos;
do homem arranjado certa vez; da criança nascida; do bêbado inveterado e era o
seu homem; da mulher conhecida por seu pai: uma mendiga. Das fases negativas da
vida; de seu trabalho sem receber o pagamento.
Maria:
---
Uma porqueira de nada! – falou irritada a mulher com raiva terrível.
Isabel
ouvindo o que dizia a mulher com a sua mão na face e tudo aquilo se passou em
um período tão curto, pois Isabel tivera tão pouco tempo para se ligar com a
amiga e os parentes, coisa de seis anos e nada mais. Uma comoção dominou de
imediato a mulher e ela então chorou sem ao menos querer por ver ou sentir no
retrato da amiga na angustia lacrimal da jovem moça. Nos albores preliminares
da sua existência, Isabel pensava com os seus remorsos vividos. E Maria José
falava sem nem sequer sabendo se era ouvida em sua total desilusão da sua
mocidade maltratada. O vento soprava forte
naquele quase final de tarde. As arvores balançavam os seus galhos por causa da
ventania tão forte. Pássaros a voar de canto em canto e um galo a cantar como
se desse aviso para a ventania a soprar. Animais a mugir, relinchar, escapar de
toda aquela ventania. Apenas um cão danado não sabia ao certo o que fazer e se
pôs de imediato a se enroscar em um canto de parede da sala de janta onde estavam
as moças a recitar o passado.
Gonzaga:
---
Que ventania! – disse o homem e procurando encobrir os braços.
Ambrósio:
---
É isso. É o vento de verão. – respondeu o outro homem.
Gonzaga:
---
Aqui é diferente! – soletrou Gonzaga olhando o céu soturno.
Nesse
momento Ludmila se acercou de Isabel e a chamou par ter ao quarto olhar a sua
mãe de como estava a chamar por alguém.
E Isabel, de imediato, foi ver o sucedido. Por vez em sua companhia estava também Maria José assomada
de susto. Os meninos brincavam na sala de entrada e não deram a menor importância
ao chamado de Ludmila às duas mulheres. Eles apenas brincavam com carros de
boi, uns ossos do abatido gado. Salete estava sentada na cama a conversar com
alguém. Era esse todo o suceder da mulher:
Salete:
---
Que estás procurando? Não estão aí, homem? Ninguém buliu! – dizia a mulher a
alguém.
E
Ludmila saltou depressa para trás e a observar o recitar de Salete, apenas
ressaltou.
Ludmila;
---
É assim que ela vive. Parece que conversa com o cabo (Pestana). – decifrou a
moça.
As
duas amigas olharam com lastimosa preocupação o passado da mulher, Salete, mãe
de Isabel. E então Isabel se voltou e foi até bem perto de sua mãe e lhe
perguntou:
Isabel:
---
Quem está aqui, minha mãe? – indagou a mulher.
Salete:
---
Quem é vosmicê? – indagou aborrecida a mulher.
Isabel:
---
Sua filha. Isabel. Não me reconhece? – perguntou bem mansa Isabel ajoelhada aos
pés de sua mãe.
A
mulher olhou bem séria para Isabel, e disse em seguida.
Salete:
---
Eu não tenho filha. A que tive morreu. Sai prá lá intrusa! – respondeu a mulher
cheia de ira.
Isabel
ficou em seu canto onde estava e apertou a mão de sua genitora. Em momentos
chorou enternecida pela situação da mulher. Isabel não saberia dizer o porquê
de tanto remorso. Ela olhou para um lado observando o cismar de Salete e nada
pode observar. E se voltou para próximo a sua mãe. Acariciava os cabelos da cabeça não evitando cair uma
lágrima sorrateira no rosto amargo da mulher solitária. E Salete voltava a
dizer:
Salete:
---
Sai daí! Sai daí! Intrusa! – reclamava a mulher.
E
Isabel não se conteve. Voltou a dizer a Salete ser ela a única filha que sua
mãe tivera.
Isabel:
---
Eu sou sua filha! Pode ver os meus sinais. Venha! Chegue! – respondia a moça
com voz afável.
Dona
Salete olhou apenas para o canto de parede e disse depois:
Salete:
---
As perneiras estão no mesmo lugar de sempre. Eu vou me deitar. – reclamou
Salete e se deitou na cama.
A
mulher voltou a dormir e Isabel ficou tensa e chorando com tudo o que ouvira a
mulher dizer de não ser ela a filha amada.
Ludmila:
---
É assim. Todo dia. Ela conversa com a pessoa. Parece ser o Cabo Pestana. –
advertiu a moça.
Isabel:
---
Está vendo Maria. É isso que você vai cuidar. Suporta? – indagou a mulher.
Maria:
---
Coisa pior eu já tive. Vamos ver. Vamos ver. – respondeu a jovem mulher a
meditar com um dedo pregado na boca.
O
vento forte a acoitar todo o arvoredo não parecia mais acabar, portanto.
Mulheres passavam da bodega, moquecadas com embrulhos de pão em suas mãos.
Quase a correr as mulheres temiam escapar as suas mercadorias. Crianças miúdas
a caminhar juntas, não se lamentavam tanto. Apenas corriam, corriam. Um jugue
se espantou com um monte de capim seco de, alarmado, rinchou. Em seguida largou
tudo e foi embora para longe. O homem, desesperado, gritava pelo jumento e
corria atrás.
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