- Isabella Rossellini -
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MÃO BRANCA
No
decorrer das horas a família estava a sentar em sofás de rara beleza no quarto
de primeira reservado ao moço Toré, tão logo ele voltasse da cirurgia a ser
submetido. Entre os demais estava a sua irmã Luiza a se deitar em um acolchoado
de lã e a pesar no ferimento do irmão. A mãe do rapaz estava de cabeça baixa e
a mulher ainda não tinha se recomposto do temor da morte. Por isso mesmo,
sempre Otilia chorava acariciado a sua filha ao lado. Luiza se recompôs e se
levantou do acolchoado e foi até a janela do quarto para ver ninguém. Nesse
meio tempo, Luiza pegou em um jornal do dia e começou a folhear sem nenhuma
pretensão. E foi assim ter ela abordado uma página onde estava impressa a
notícia corriqueira daquela época. Era a fértil história de MÃO BRANCA, temível
desordeiro. O facínora da Polícia havia matado tanto homens quanto a gripe
espanhola na sua época. A moça, sem querer, leu a matéria do novo crime de Mão
Branca na cidade. Para Luiza era uma nova morte e não tinha a ideia de saber ou
não. Apenas a moça leu a matéria. Contavam-se as arruaças do forasteiro e Luiza
não se interessava mais nem um pouco sobre os acontecidos. Por isso, com a mão no queijo, sentada à
margem da cama, Luiza passou a vista na matéria sem grandes preocupações. Era
contato ter o bandido feito uma nova vítima, talvez outro delinquente contumaz. Ela olhava a matéria como se observava ovos
na prateleira. Nada demais importava a Luiza. Foi lendo aquilo sem ao menos
interrogar as circunstancias. Porém, foi em um ponto de maior tensão ter a
mulher sentir em maior contemplação. O facínora dos morros e arrabaldes havia
matado um negociante de verduras. Aquela tragédia foi um equivoco do
famigerado bandido Mão Branca. O
negociante caminhava tarde da noite para a sua casa quando um disparo a queima
roupa lhe tirou a vida. Três disparos feitos para ter Mão Branca acertado no
homem. Ainda olhou para ter certeza da morte do homem e então fugiu em
caminhonete com destino incerto. O crime
foi visto por outro vendedor ambulante. Esse se encostou a uma porta para ter a
certeza de não ser visto. O crime foi praticado por engano, pois o negociante
não teve inimigo nem discutia com ninguém. O assassino apenas o confundiu com
outro comerciante. O crime seguia o mesmo principio de outros em Estados
diferentes. Tal famigerado Mão Branca era um reles matador e ganhou celebridade
por sua ação. Com os seus feitos divulgados pela impressa, então o matador
ganhou fama de um grande assassino a qualquer preço. A mulher observou a
matéria e se lembrou do caso com o seu irmão, Toré.
Luiza:
---
Nossa! Esse criminoso pode ter sido o mesmo desta manhã. – comentou a mulher.
Silva:
---
Por que dizes isso? – perguntou o investigador.
Luiza:
---
O matador não tinha certeza de quem matava. – disse meio alucinada a mulher.
O
investigador não disse coisa alguma, pois bem seria aquele o facínora de outros
crimes havidos na cidade nos últimos tempos. E mesmo sendo identificado como o
homem do relógio, o algoz poderia também sacrificar vítimas a bel prazer. A
Polícia andava na captura do baixo elemento apesar de haver conversas do celerado
está sob a guarda de políticos influentes na capital e interior. Não havia
sinal algum de quais políticos a eles servia o crápula. Porém, a polícia
política do estado tinha suas informações sigilosas e esperava topar com o
marginal a qualquer instante do dia ou da noite. Os investigadores já estavam
orientados para o que desse e viesse ao se dopar com o quadrilheiro.
E
após alguns minutos, ainda no quarto de Toré, o investigador Silva foi chamado
por sua atenção ao notar a conversa entre dois serviçais do Hospital quando
eles passavam apressados e um deles dizia:
Serviçal
1
---
Tu sabes quem foi morto? – perguntou um deles meio apressado.
Serviçal
2.
---
Não. Quem? – indagou o outro com as mãos com bandeja servida.
Serviçal
1
---
Mão Branca. Eu ouvi um rapaz falando. – disse o primeiro.
Serviçal
2
---
Foi nada! Quando? – perguntou o segundo.
Serviçal
1
---
Inda agora. A polícia encontrou o bandido. – responde o primeiro.
Serviçal
2
---
Foi nada! Onde? – indagou o segundo com atenção.
Serviçal
1
---
Na Rua do Comércio. Ele tentava matar um homem e a polícia chegou na hora.
Foram dois balaços e o jagunço morreu. – relatou contente o primeiro serviçal.
Serviçal
2
---
Ah, É por isso que, quando eu vinha para o trabalho vi um monte de gente na
Rua. O ônibus partiu e alguém disse: “Mataram um”. Foi. Eu vi. Coisa danada. Eu
vi com meus próprios olhos a multidão. Eu não sabia que era o morto. Agora tu
me contas. Eu vi! Menino, eu vi! – respondeu com alegria p segundo serviçal.
Serviçal
1
---
Pois foi. Deu no Rádio inda agora: Bandido Mão Branca foi Morto. Foi à
reportagem do homem que fez lá de onde estava o corpo do morto. - destacou o primeiro serviçal.
Serviçal
2.
---
Vou já escutar a notícia! – e saiu correndo para fora o segundo serviçal.
Silva
estava a ouvir a conversa dos dois serviçais e, de imediato, passou um rádio –
de dois metros – para o distrito policial. Ele teria de verificar a verdade da
informação colhida. Após uma breve conversa com a delegacia, Silva voltou e
falou com a senhora Luiza prestando a informação por ela apontada.
Silva:
---
O rapaz não demora mais. Ele já foi cirurgiado. E a propósito: o morto já foi
identificado pela polícia. Era mesmo o Mão Branca. Agora sossegue. – falou
Silva e saiu do local.
Otília
estava a pensar no marido e, diante de novas informações, de supetão se voltou
da cadeira onde estava. Com os olhos perguntadores, alarmou:
Otilia:
---
Quem? – indagou com pressa a mulher.
Luiza:
---
Nada não. Toré chega com um pouco de tempo. – declarou a irmã do rapaz.
Otília:
---
Não foi isso que eu ouvi. Foi do morto. Quem era? – indagou alarmada a mulher.
Silva:
---
Tenha calma. Foi isso mesmo o que a senhora Luiza declarou. – falou de forma
mansa o investigador.
Otília:
---
Ah. Não foi! Eu quero saber a verdade. Quem atirou em Toré? – indagou exaltada
a mulher.
Silva:
---
Tenha calma. Foi uma pessoa. A Polícia vai descobrir o nome. – relatou com
mansidão o investigador.
Otilia:
---
Não foi isso o que eu ouvi. Mão Branca? O que tem Mão Branca? – indagou mais
que exasperada a mulher feita uma fera.
Luiza:
---
O bandido foi morto. Foi isso. Tenha calma. – falou séria a irmã de Toré.
Dulce:
---
Mão Branca? O que tem Mão Branca? – perguntou por sua vez a mãe de Toré ao se
voltar da poltrona.
Silvia:
---
Quem é Mão Branca, mainha? – indagou por seu lado a garota.
Luiza:
---
Ô meu Deus! Tá vendo no que deu. Agora todos querem saber dessa peste. Ele
morreu! Pronto! É isso que querem saber?
Morreu! Deu no rádio! Ora essa! Ninguém pode nem sequer falar? Mão
Branca morreu! – falou exasperada a irmã de Toré.
Otilia:
---
Quem matou? Falou aos berros a esposa de Toré.
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