segunda-feira, 27 de agosto de 2012

ISABEL - 38 -

- Isabella Rossellini -
- 38 -
MÃO BRANCA
No decorrer das horas a família estava a sentar em sofás de rara beleza no quarto de primeira reservado ao moço Toré, tão logo ele voltasse da cirurgia a ser submetido. Entre os demais estava a sua irmã Luiza a se deitar em um acolchoado de lã e a pesar no ferimento do irmão. A mãe do rapaz estava de cabeça baixa e a mulher ainda não tinha se recomposto do temor da morte. Por isso mesmo, sempre Otilia chorava acariciado a sua filha ao lado. Luiza se recompôs e se levantou do acolchoado e foi até a janela do quarto para ver ninguém. Nesse meio tempo, Luiza pegou em um jornal do dia e começou a folhear sem nenhuma pretensão. E foi assim ter ela abordado uma página onde estava impressa a notícia corriqueira daquela época. Era a fértil história de MÃO BRANCA, temível desordeiro. O facínora da Polícia havia matado tanto homens quanto a gripe espanhola na sua época. A moça, sem querer, leu a matéria do novo crime de Mão Branca na cidade. Para Luiza era uma nova morte e não tinha a ideia de saber ou não. Apenas a moça leu a matéria. Contavam-se as arruaças do forasteiro e Luiza não se interessava mais nem um pouco sobre os acontecidos.  Por isso, com a mão no queijo, sentada à margem da cama, Luiza passou a vista na matéria sem grandes preocupações. Era contato ter o bandido feito uma nova vítima, talvez outro delinquente contumaz.  Ela olhava a matéria como se observava ovos na prateleira. Nada demais importava a Luiza. Foi lendo aquilo sem ao menos interrogar as circunstancias. Porém, foi em um ponto de maior tensão ter a mulher sentir em maior contemplação. O facínora dos morros e arrabaldes havia matado um negociante de verduras. Aquela tragédia foi um equivoco do famigerado  bandido Mão Branca. O negociante caminhava tarde da noite para a sua casa quando um disparo a queima roupa lhe tirou a vida. Três disparos feitos para ter Mão Branca acertado no homem. Ainda olhou para ter certeza da morte do homem e então fugiu em caminhonete com destino incerto. O  crime foi visto por outro vendedor ambulante. Esse se encostou a uma porta para ter a certeza de não ser visto. O crime foi praticado por engano, pois o negociante não teve inimigo nem discutia com ninguém. O assassino apenas o confundiu com outro comerciante. O crime seguia o mesmo principio de outros em Estados diferentes. Tal famigerado Mão Branca era um reles matador e ganhou celebridade por sua ação. Com os seus feitos divulgados pela impressa, então o matador ganhou fama de um grande assassino a qualquer preço. A mulher observou a matéria e se lembrou do caso com o seu irmão, Toré.
Luiza:
--- Nossa! Esse criminoso pode ter sido o mesmo desta manhã. – comentou a mulher.
Silva:
--- Por que dizes isso? – perguntou o investigador.
Luiza:
--- O matador não tinha certeza de quem matava. – disse meio alucinada a mulher.
O investigador não disse coisa alguma, pois bem seria aquele o facínora de outros crimes havidos na cidade nos últimos tempos. E mesmo sendo identificado como o homem do relógio, o algoz poderia também sacrificar vítimas a bel prazer. A Polícia andava na captura do baixo elemento apesar de haver conversas do celerado está sob a guarda de políticos influentes na capital e interior. Não havia sinal algum de quais políticos a eles servia o crápula. Porém, a polícia política do estado tinha suas informações sigilosas e esperava topar com o marginal a qualquer instante do dia ou da noite. Os investigadores já estavam orientados para o que desse e viesse ao se dopar com o quadrilheiro.
E após alguns minutos, ainda no quarto de Toré, o investigador Silva foi chamado por sua atenção ao notar a conversa entre dois serviçais do Hospital quando eles passavam apressados e um deles dizia:
Serviçal 1
--- Tu sabes quem foi morto? – perguntou um deles meio apressado.
Serviçal 2.
--- Não. Quem? – indagou o outro com as mãos com bandeja servida.
Serviçal 1
--- Mão Branca. Eu ouvi um rapaz falando. – disse o primeiro.
Serviçal 2
--- Foi nada! Quando? – perguntou o segundo.
Serviçal 1
--- Inda agora. A polícia encontrou o bandido. – responde o primeiro.
Serviçal 2
--- Foi nada! Onde? – indagou o segundo com atenção.
Serviçal 1
--- Na Rua do Comércio. Ele tentava matar um homem e a polícia chegou na hora. Foram dois balaços e o jagunço morreu. – relatou contente o primeiro serviçal.
Serviçal 2
--- Ah, É por isso que, quando eu vinha para o trabalho vi um monte de gente na Rua. O ônibus partiu e alguém disse: “Mataram um”. Foi. Eu vi. Coisa danada. Eu vi com meus próprios olhos a multidão. Eu não sabia que era o morto. Agora tu me contas. Eu vi! Menino, eu vi! – respondeu com alegria p segundo serviçal.
Serviçal 1
--- Pois foi. Deu no Rádio inda agora: Bandido Mão Branca foi Morto. Foi à reportagem do homem que fez lá de onde estava o corpo do morto. -  destacou o primeiro serviçal.
Serviçal 2.
--- Vou já escutar a notícia! – e saiu correndo para fora o segundo serviçal.
Silva estava a ouvir a conversa dos dois serviçais e, de imediato, passou um rádio – de dois metros – para o distrito policial. Ele teria de verificar a verdade da informação colhida. Após uma breve conversa com a delegacia, Silva voltou e falou com a senhora Luiza prestando a informação por ela apontada.
Silva:
--- O rapaz não demora mais. Ele já foi cirurgiado. E a propósito: o morto já foi identificado pela polícia. Era mesmo o Mão Branca. Agora sossegue. – falou Silva e saiu do local.
Otília estava a pensar no marido e, diante de novas informações, de supetão se voltou da cadeira onde estava. Com os olhos perguntadores, alarmou:
Otilia:
--- Quem? – indagou com pressa a mulher.
Luiza:
--- Nada não. Toré chega com um pouco de tempo. – declarou a irmã do rapaz.
Otília:
--- Não foi isso que eu ouvi. Foi do morto. Quem era? – indagou alarmada a mulher.
Silva:
--- Tenha calma. Foi isso mesmo o que a senhora Luiza declarou. – falou de forma mansa o investigador.
Otília:
--- Ah. Não foi! Eu quero saber a verdade. Quem atirou em Toré? – indagou exaltada a mulher.
Silva:
--- Tenha calma. Foi uma pessoa. A Polícia vai descobrir o nome. – relatou com mansidão o investigador.
Otilia:
--- Não foi isso o que eu ouvi. Mão Branca? O que tem Mão Branca? – indagou mais que exasperada a mulher feita uma fera.
Luiza:
--- O bandido foi morto. Foi isso. Tenha calma. – falou séria a irmã de Toré.
Dulce:
--- Mão Branca? O que tem Mão Branca? – perguntou por sua vez a mãe de Toré ao se voltar da poltrona.
Silvia:
--- Quem é Mão Branca, mainha? – indagou por seu lado a garota.
Luiza:
--- Ô meu Deus! Tá vendo no que deu. Agora todos querem saber dessa peste. Ele morreu! Pronto! É isso que querem saber?  Morreu! Deu no rádio! Ora essa! Ninguém pode nem sequer falar? Mão Branca morreu! – falou exasperada a irmã de Toré.
Otilia:
--- Quem matou? Falou aos berros a esposa de Toré.

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