- Jessica Alba -
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CONVERSAS
Ludmila
calou ante a observação da tia. Ela sentiu vontade em dizer não ter dinheiro
para comprar outra lâmpada. O dinheiro recebido por dona Salete não dava nem
para as compras de maior necessidade. Não raro a mulher – Salete – ficava
devendo na bodega. E essa era uma conta de se não pagar jamais por menos que
fizesse o dono da venda. Dona Salete não tinha mando no seu dinheiro, pecúlio
do marido Cabo Pestana morto em ação contra os cangaceiros há alguns anos
passados. E Isabel não teve outro meio. Não sabendo da dificuldade da família
mandou comprar uma lâmpada para por na sala. Ela notou a cara de desconversar
da sobrinha e logo mandou comprar outra lâmpada.
Isabel:
---
Pegue! Compre outra lâmpada! – falou a senhora.
Por
seu lado, Gonzaga conversava com Ambrósio sobre assuntos diversos. A sala se
encheu de gente a procura de saber maiores informações de Isabel. A mulher
caminhou até o quarto onde estava sentada na cama a sua mãe, Salete. Arrastando
o seu filho chegou bem perto da mulher e lhe pediu a benção. O menino
Francisco, embora envergonhado, também estirou a mão a pedir a sua benção. Dona
Salete, mulher de corpo franzino ao contrario do que fora no passado: mulher
bastante forte. E assim dona Salete perguntou à senhora.
Salete:
---
Quem é você? – indagou a mulher, a saber, quem devia abençoar.
Isabel
ficou desnorteada. Apenas cinco ou seis anos não era motivo para alguém se
esquecer de outro. E respondeu;
Isabel:
---
Sua filha, minha mãe. E esse é o seu neto. – falou devagar a mulher e buscando
reavivar a memoria da sua mãe.
Salete
ficou na igual situação de antes e respondeu:
Salete:
---
Filha? E eu tenho filha? Eu nunca tive filha! – respondeu Salete ainda sentada
na cama com sua voz melancólica.
Gonzaga
chegou mais perto de Salete e levou conversa com a mulher. Ele fez algumas
perguntas sobre a vida passada.
Gonzaga:
---
A senhora se lembra do Cabo Pestana? – indagou o homem querendo reavivar a
memora da mulher.
Salete
olhou bem forte para o homem e perguntou:
Salete:
---
Quem é o senhor? – perguntou a mulher sem saber de nada.
Gonzaga
não sorriu. Apenas veio mais perto da mulher e lhe disse:
Gonzaga:
---
Eu sou o marido da sua filha. – relatou o homem de modo suave.
A
mulher se voltou e respondeu:
Salete:
---
Filha? Que filha? Eu nunca tive filha! – decifrou a mulher.
Gonzaga
refletiu um pouco e voltou a indagar.
Gonzaga:
---
Mas a senhora se lembra do Cabo Pestana? – indagou mais uma vez o cidadão.
A
mulher, sentada na cama respondeu:
Salete:
---
Não. Ele está ai? – indagou Salete ao homem.
Gonzaga:
---
Não. Ele não está aqui. Apenas eu pergunto por ele. – respondeu Gonzaga
querendo se por de pé, pois estava
cansado da viagem.
Ludmila
chegou mais próxima e disse.
Ludmila:
---
Ela é dessa forma. Um dia não se lembra de ninguém. No outro fala do Cabo
Pestana. Diz que ele está aqui a calçar as suas botinas. A vestir a farda. O
medico a examinou e disse ser caduquice. – falou a moça.
Então
Isabel e Gonzaga começaram a conversar de um modo baixo para não se fazer ouvir
pelos circunstantes. Era uma conversa só a terminar na sala de janta, muito
pequena, como Isabel um dia deixou de mão. Ela ainda olhou para as partes da
cozinha e notou o pote de água, um candeeiro todo cheio de fuligem, o armário
de guardar louça mais estragada ainda, uma jarra de por água, o banheiro com
uma porta sempre aberta, o sanitário de barro, um prego na parede onde se punha
papel para o uso de quem fosse ao sanitário, uma vassoura – era a coisa mais
moderna. Ainda olhou para a cerca onde ela escapou das mãos do seu padrasto.
Tudo isso lhe deixou remorsos temerosos.
De um lado da parede que dava para o lado esquerdo da casa velha havia
duas janelas onde uma estava aberta. Do lado direito, mais duas janelas quase
sempre fechadas. Na frente da casa uma porta rolada ao meio e uma janela cuja
pintura podia ter sido azul, pois já estava carcomida. Do lado de trás apenas a
porta de saída por onde Isabel escapou. Um tremor sacudiu a moça de momento.
Coisa de lembranças tardias. No quintal os pés de frutas ainda estavam no mesmo
lugar. Galinhas e um galo eram uma novidade, pois os do seu tempo morreram e
mataram. Um cão ladrou para Isabel. E depois veio devagar cheirar os pés da
moça tendo reconhecido de pronto. Ela fez agrado ao cão e esse se deu por
satisfeito passando a examinar o homem e a criança para então conhecer de fato.
O gato Bujago pulou em cima da mesa apenas a miar e esfregar o pescoço nos
braços da mulher.
Isabel:
---
Bujago. Meu velho amigo! – pegou Isabel o gato e encostou-se à sua face.
Francisco
apenas olhava a ação de sua mãe sem nada reclamar. Ludmila foi quem falou algo
sobre o gato.
Ludmila:
---
Ele quase morre. Um carro passou por cima. Sei não. – falou displicente a moça
Isso
deu mais afago a Isabel. O gato era de pelo amarelo. Às vezes passava o dia a
dormir. À noite se mandava para a rua em busca de alguma gata. Era o costume de
todos os gatos. Comer quando tinha um pouco. Dormir para satisfazer a pança. Ludmila
era filha de Maria Clementina irmã mais velha de Salete. Com alguns instantes a
mulher entra na casa. Ela estava para ver a sobrinha. Seus outros filhos
estavam na carvoaria do sertão. Quando voltavam apenas chegavam para as suas
casas. Clementina, com o filho de um dos seus filhos no braço, cumprimentou
Isabel, pois não a avistara há mais de cinco anos. Foi um abraço tardio e sem
muito apreço. Isabel retribuiu o abraço e mostrou seu marido a Clementina. Essa
olhou o homem e disse:
Clementina:
---
Satisfação. – respondeu a mulher.
A
todo instante acalentava o garoto. Esse fazia força para descer do colo. A
mulher não largava o menino. Em seguida, chegou outra visita. Era dona Cícera,
a mulher que deu fuga a Isabel. Ela veio toda alegre a pedir desculpas, pois estava batendo roupa até aquela tarde.
Foi uma festa. Isabel não chorava. Porém dizia da falta sentida por todos
aqueles anos. E as duas começaram uma conversa sem fim enquanto Gonzaga
percorreu de ponta a ponta o quintal da casa acompanhado do amigo “Ambrósio”.
Ele olhava as fruteiras enquanto conversava como o seu amigo sobre a situação
da mulher, dona Salete.
Gonzaga:
---
Eu chego a pensar em levar a mulher para a capital. – disse o homem.
Ambrósio:
---
Bem pensado. Pela Capital é muito melhor. Aqui só tem médico uma vez por mês. E
quando vem. Tem gente a espera de um (médico) há ter ou quatro meses. –
respondeu Ambrósio.
Gonzaga:
---
Eu vou levar a mulher. E pronto. – disse Gonzaga terminando a questão.
A
noite veio de repente e Isabel procurou dormir com seu filho em uma cama
abandonada e Gonzaga teve de se arranjar de qualquer modo no chão de barro, uma
vez ser o único local disponível para se dormir se não precisasse ir dormir ao
relento, em baixo de uma mangueira, no quintal da casa. As telhas do casebre
mostravam quase todo o céu. Nessa ocasião Gonzaga olhou as estrelas a pesquisar
cada qual sem saber de seus nomes. Todas eram apenas estrelas e nada mais.
Nesse ponto, o homem adormeceu. O vento frio lá fora destinava o saber de cada
um. Silêncio era total. Apenas os grilos faziam a festa na alegria da noite.
Nada mais havia para se contar. Um
barulho de um carro distante se fez ouvir. A zoada dos gatos no telhado era o
mais comum de se ouvir.
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