domingo, 16 de janeiro de 2011

AMANTES - 55 -

- Sally Field -
- 55 -
Por volta das oito horas da manhã de um dia qualquer de uma semana do mês de dezembro Silas Albuquerque caminhava pela calçada da Catedral Metropolitana, caminho por onde o distinto homem perambulava para chegar ao edifício onde estava instalada a Agencia Pomar. Esse era o caminho de quase todos os dias por onde ele passava. De alguns tempos depois do desaparecimento da moça Racilva, o homem procurava um pouco rezar no Templo religioso sem ter nem mesmo devoção a qualquer santo. Na Catedral havia o Santuário onde todos os dias havia a celebração da Santa Missa. Quando Silas entrou na Igreja, a missa já havia sido rezada e no interior da majestosa Catedral havia três ou quatro fieis, com certeza, a prestar suas orações ao Senhor. E foi desse modo onde entrou o ainda moço Silas Albuquerque sem pretensões de encontrar alguma pessoa querida e muito menos Racilva. Era uma fase da vida que todos sentem de fazer orações ao Senhor Deus. Do mesmo modo que os outros cristãos costumavam fazer suas breves orações, Silas Albuquerque tem sentia a mesma vocação. E foi por somente essa virtude que o jovem entrou no aconchegante templo onde havia a ternura onde ninguém podia ser perdido em seu modo de pensar.
Então, por alguns momentos o jovem homem ficou a contemplar o Santo Sacrário, o altar onde estava a Sagrada Escritura, o ambiente secular onde todos os católicos veneravam as relíquias dos Santos Mártires, os altares próximos e distantes do altar mor, os Santos que ornavam aquele ambiente, a luz difusa e acanhada penetrando por entre os vitrais das amplas e majestosas vidraças, o ambiente calmo sem nada a perturbar aqueles devotos de Deus. Tudo enfim era a paz. A paz do Senhor. De repente, a noviça de sempre saiu de troas do altar mor, persignou-se ao passar pelo altar, abriu  portinhola separando o altar do restante do magnífico Templo e vinha ligeira como sempre sem ao menos fazer barulho nos seus sapatos de sola de borracha. Silas Albuquerque estava só, em uma esquina do banco de madeira e viu a jovem noviça quando se aproximava. Ao sentir a sua presença, Silas, de imediato fez um sorriso para a encantadora moça. De volta, ela também cumprimentou Silas e logo foi lhe dizendo:
--- Assistiu a Santa Missa? – indagou a noviça sorrindo.
O homem ficou pasmado pela beleza da cândida e inquieta jovem e não soube responder tão de imediato a pergunta a qual lhe fora dirigida. Porém, como ao despertar de um mágico sonho, o homem apenas falou todo sem modos:
--- Bom dia. Não assisti. Eu cheguei logo agora. – repensou o cavalheiro.
--- Pena. Amanhã assista. Sem falta. – sorriu a noviça advertindo o jovem homem.
--- Verei se chego mais cedo. Eu trabalho aqui perto. Deixei o carro para fazer limpeza. E, então vim por aqui. É bem mais perto. – refletiu o jovem homem ao falar para a noviça.
A candura da noviça era algo de mágico e inquietante para Silas. Ele a contemplava como se admirava uma Imagem de uma Santa. Toda vestida de branco, desde a cabeça aos pés, nem se percebendo o busto, a noviça era algo de perfeito admirar. As ninfas dos sátiros e das oliveiras quase nem percebiam o seu deslumbramento ante a plena natureza. Enfim, por querer ou não, ali estava uma perfeita deusa do amor a guardar quimeras ilusões.
A noviça então indagou do jovem homem se ele era o dono de alguma empresa. Ao responder, como a acordar de um sono profundo, Silas Albuquerque lhe falou de forma devagar.
--- Presidente da Agencia Pomar. Uma organização que luta pelo meio ambiente;  propaganda e até filmes é o que se faz. – disse o homem boquiaberto para com a noviça.
--- A bom. Na verdade é uma organização singular. – refletiu a noviça com seu modo altivo.
--- Temos agencias espalhadas por todo o mundo. Aqui, no Brasil, somos a sua matriz. Filmes, outdoor em locais bastantes visíveis do público. Estes são alguns aspectos do que fazemos. – sorriu Silas Albuquerque de um modo interessante.
--- Eu algum dia vou ter com o senhor. Talvez bem mais próximo do que se pensa. É porque vou deixar o noviciado e temo ficar sem trabalho. Já fiz o aspirantado e o postulado. Porém, ontem eu fiz a minha opção e entreguei a Madre documento pedindo o meu desligamento da Ordem da Congregação. Ser freira é ter vocação mesmo. Eu preferi refletir um pouco e vi não ser a minha vocação de plena verdade. Hoje, o senhor está me vendo pela última vez nesse Convento.  Amanhã já não estarei mais. – concluiu a jovem noviça.
--- Mas a senhora vai deixar a vida religiosa? – indagou Silas a noviça.
--- Sim. É isso! – sorriu como sempre fazia a animada noviça.
--- Você tem parentes na capital? – perguntou Silas pensando em ajudar aquela noviça.
--- Não. Tenho pessoas conhecidas. Eu vou morar em uma república. Até lá, verei se encontro outra ocupação – sorriu a noviça balançando a cabeça como um sim.
--- Bem. Eu acho precipitado isso. Mas, de qualquer modo, eu peço que a senhora chegue até o meu escritório. Creio que eu já tenho o seu emprego. – disse Silas entusiasmado com a notícia dada pela noviça. 
--- Meu nome é Lígia. Um empreguinho qualquer e está bom. – sorriu a noviça.
--- Vamos ver. E se quiser ou puder vamos até o meu escritório. E pode ser agora. – declarou o homem a enigmática noviça.
--- Agora? Com a roupa que estou? – perguntou a noviça com os olhos a brilhar de entusiasmo.
--- Pode ser. Afinal a senhora vai aprender o caminho. - sorriu Silas a nova secretária. Isso era o que ela seria para o homem.
Nesse mesmo dia a noviça Ligia Duarte era funcionária particular da Agencia Pomar, dedicada com exclusiva atenção ao seu superior Selas Albuquerque. A sua função de ser alguém como secretária particular lhe deu maior animo, independente de ser apenas noviça e, mais tarde, uma freira. Ela não deixou inimizades com as Freiras da Congregação Religiosa na esperança da Madre Superiora de se ela quisesse voltar, as portas estariam abertas. No dia seguinte a jovem moça chegou ao escritório com um vestido estampado, de organdi ou seda de puro brilho e maciez, totalmente elegante, nem a utilizar jóias, brincos e até mesmo pinturas faciais. Toda a sua beleza era de esmerado luxo. Era um dos tecidos mais caros do mercado a oferecer ao seu usuário um total conforto. Para não se dizer que Lígia não tinha nenhuma jóia, apenas uma loção de singular aroma a moça trazia em seu corpo. Os seus documentos, ela já entregara no Departamento de Pessoal e onde recebeu um crachá e um cartão que lhe dava todo o credito que poder adquirir o que quisesse na loja de modas da Agencia. Igualmente, ela teria a vantagem de freqüentar o restaurante da Agencia como faziam todos os funcionários. Naquela aparente performânce, Ligia Duarte era toda uma profissional de linha. A sua maior dedicação e esmero era o trabalho. Não foi fácil para a moça se adaptar as suas novas atividades. Quando algum funcionário falava baixinho a respeito de Ligia alguém por certo dizia:
--- Cuidado! As paredes têm ouvidos. Ela é a nova secretária do presidente! – dizia alguém de modo disfarçado.
--- Eu queria ser como Ligia. – respondia outra servidora.
--- Por que não vai? – perguntava outro funcionário com arrogância.
--- Quero ver quando a patroa chegar! – relatava outra servidora.
--- Não vai ter nada. É farinha do mesmo saco. – expunha algum servidor.
Certo dia após a chegada da nova secretária houve uma costumeira reunião da diretoria. Dessa vez, estava presente apenas para compor, a senhora Vera Muniz, onde pode observar de perto a secretária do seu marido. Por fora, Vera nada comentava sobre aquela criatura. Porém por dentro, Vera olhava com certa atenção a moça, cuja beleza era especial. E por veras havia de  argumentar com seus botões.
--- Com certeza ela é verdadeiramente vivaz. – teria comentado Vera a si mesma.
A cera hora ouviu-se um alvoroço do interior da Agencia Pomar. Alguém dissera do atentado sofrido pelo prefeito da cidade. O alarde foi tamanho, pois por pouco tempo toda a repartição estava em polvorosa. O prefeito Miguel Antunes, homem dos seus cinquenta anos de idade fora baleado a tiros desferidos por vários elementos. Após a chacina, os assassinos fugiram do local. O prefeito viajava em seu carro e teve morte instantânea. Nos últimos tempos, o homem dispensara os serviços de uma companhia de limpeza pública e fizera outros acertos em sua administração desagradando uns poucos dos envolvidos nas suas prestações administrativas. Tempos atrás também foi chacinado um vereador. Outras chacinas foram praticadas contra seu secretário de Limpeza Urbana. Tudo não passava de um acerto de contas. Por vezes, o prefeito Antunes recebera avisos para ter cuidado, pois ele estava marcado para morrer. O homem reforçou a sua guarda particular, porém nesse dia estava apenas só. Ele estava inspecionando obras da Prefeitura quando sofreu o atentado.
--- Mataram o Prefeito Antunes!. – gritou alarmado um diretor presente a reunião. Ele tinha estado na porta da Agencia na hora da chacina. Subiu às pressas para dar o recado da tragédia.
--- Mataram? – indagou Silas Albuquerque totalmente com pavor.
--- Quem matou? – indagou apavorada com extremo temor a mulher Vera Muniz.
--- Não sei! Três ou quatro! Eles fugiram em um carro! – disse alarmado o diretor.

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