segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

AMANTES - 56

- Liv Tyler -
- 56 -
A polícia foi acionada tão logo se registrou o acontecimento para identificar os suspeitos e prováveis mandantes do crime. Enquanto isso foi decretado sete dias de luto oficial. O corpo do prefeito foi levado para ser velado no salão nobre do Palácio do Governo e milhares de amigos e pessoas compareceram em peso ao velório no dia seguinte, alguns chorando e outros lamentando pela perda inoportuna de Miguel Antunes, homem justo para a população. Tal cerimonial foi noticiado pela imprensa internacional e classificado o crime do ano. Com a morte de Miguel Antunes praticamente não houve expediente nem mesmo no comércio e na indústria, sendo tudo paralisado. Alguns estabelecimentos do comércio ainda se aventuraram em abrir as suas portas. Porém, o pouco movimento o levou a fechar. Foi um dia de luto total para os munícipes. A moça Ligia Duarte, muito católica, assistiu Missa logo pela manhã e, em seguida, foi até ao escritório da Agencia Pomar onde estavam alguns funcionários e o seu presidente, Silas Albuquerque. Ele foi um dos que manifestaram profundo pesar pela perda do prefeito da Capital. Os jornais da capital e do Estado saíram a noticiar o fato no mesmo dia e no dia seguinte com títulos estonteantes. Era um silencio absoluto de morte por parte dos munícipes. Todos temiam a revanche que desencadearia tal homicídio. Alguns falavam em voz baixa saber quem deflagrara tal situação. A Polícia deteve quatro suspeitos na morte de Miguel Antunes e pediu a quebra do sigilo telefônico de tais suspeitos por entender a participação dos elementos.
E a semana seguiu sem maiores atropelos. Um crime ali, outro acolá. Perseguição a bandidos e a homossexuais. O ônibus tocado fogo por marginais. Greve na Saúde. Mais outra greve nos presídios. Cadeias depredadas. Tudo o comum. Pois a vida sempre continuava. A mulher de Silas em certo dia, falando com ele sobre negócios e outros temas, foi mais além ao declarar o acertado homem em adquirir uma secretaria de rara beleza.
--- Na verdade ela é muito inteligente. – comentou Silas a sua mulher.
--- Inteligente demais. – alertou com certo ciúme a mulher.
Vera Muniz ainda estava em gozo de período de repouso por causa do parto cesariano a que foi submetida. E não foi sem comunicar a Vera que a moça Ligia seria contratada para ser uma secretaria particular de Silas Albuquerque.
--- Eu disse a você que estava necessitando de uma secretária. – falou Silas de certo modo trancado.
--- Certo. Certo. Você disse. Racilva não apareceu. Você foi eleito presidente. É verdade que precisava de alguém de confiança. – falou a mulher querendo disfarçar o ciúme.
--- Ligia foi quem socorreu Racilva quando a moça desmaiou. E a mim também. Nós tínhamos sepultado a criança. Racilva ao passar pela catedral foi fazer oração. Então, desmaiou. E eu também. Com medo por que Racilva desmaiara. E apareceu uma noviça que pegou o pulso de Racilva. Disse que não sentia mais nada. Chamou uma ambulância. Daí houve o que houve. Certo dia, passei pela Catedral. Então eu conheci de perto Ligia Duarte. Ela me disse que estava deixando do hábito. Eu a convidei para a nova função. Garota inteligente. Noviça, com certeza. Essa é a história. – respondeu Silas com precaução.
Em um dia qualquer de alguma semana a secretária Ligia Duarte foi até o aeroporto pegar duas passagens para Brasília. O seu chefe Silas Albuquerque, homem de negócios estava para viajar a Capital Federal onde teria encontro com o Presidente da República. As passagens eram para Silas e para Ligia. Ela teria de fazer companhia ao seu patrão para anotar toda a conversa entre os dois senhores. Essa era a primeira vez onde Ligia viajaria a serviço a soldo da empresa Pomar. A moça estava eufórica com a escolha onde ela teria a plena satisfação de conhecer o Presidente de forma tão aberta. Para Silas, aquela era mais uma viagem que costumaria a fazer em sua posição de também presidente de uma instituição. A questão em foco era o Presidente de a República tomar conhecimento de um novo filme o qual seria feito em um local muito  acanhado e estava na lista do chefe de estado inaugurar uma estrada de ferro em tal local. Tratava-se de “Ponta da Cuia”. Esse, por sinal, seria o nome do filme. Tal longa-metragem seria rodado em um município paupérrimo, mostrando em cenas a luta do homem do campo em prol de seus anseios. O Governo Federal tinha todo o propósito de deflagra com êxito o seu programa de obras de assentamento em um Estado brasileiro. E a Agencia Pomar, além de fazer larga propaganda, seria a produtora de um filme onde o elenco se largaria para a região de malas e cuias.
De posse das passagens aéreas Ligia Duarte voltou a Agencia alegre o saltitante por tudo ter dado plenamente certo como se previa. No dia seguinte eles estariam no Hotel das Nações um local aprazível. Embora a temperatura da capital fosse bastante quente naquela época do ano e embora a chuva não caísse sobre Brasília, o Hotel servia tudo a todos os gostos onde o hospede desejava ser oferecido, naquele modo. O automóvel ficou a serviço do casal como se fosse um automóvel próprio. Às dez horas, o Presidente havia chegado ao seu Gabinete do Palácio da Alvorada. Silas Albuquerque e sua secretaria, Ligia Duarte esperaram a sua vez de serem atendidos. Em uma hora, a secretaria do Presidente abriu a porta para Silas convidando-o a entrar juntamente com a secretária particular. Ligia vestia uma seda branca de saia larga e plissada, tal como o vestido de uma estrela de cinema. Era uma linda roupa de puro charme e romantismo. Sua feitura era em paetê com linda faixa em chifon em cor branca amarrada na cintura e caindo sobre o vestido. Para por um maior toque de elegância Ligia pôs uma água de toalete ”Carolina Herrera” e o uso de pulseiras no braço encimado por um relógio Mido e anel de brilhante. Na face leves pinturas atrativas. Para o chefe de estado a secretária era um traço mais atraente, pois ouvira comentário a seu respeito do chique da jovem. A conversa durou cerca de uma hora com Silas Albuquerque mostrando o plano de filmagem e dizendo quanto era importante para o Governo aquele filme. O Presidente se sentiu lisonjeado e combinou até mesmo a agencia fazer devidas coberturas de todas as viagens governamentais daquela data em diante para divulgar em cinemas, televisões. Cartazes, outdoor entre outros temas ficariam a cargo da Agencia Pomar. Com relação ao filme, o Banco oficial do Brasil entraria na conta com outras empresas do Governo, incluindo a Petrobrás. A conversa terminou. No entanto o presidente convidou Silas Albuquerque para um jantar informal na noite daquele dia em sua granja particular.
--- Agradeço a atenção de Vossa Excelência e garanto ir ao jantar de logo mais. – sorriu o jovem homem empresário desejando profícuo serviço ao presidente da Republica.
Ao deixar o Gabinete da Presidência Silas olhou de modo sutil para a sua secretaria e disse de forma radiante ser a jovem mulher o sucesso daquele encontro.
A imprensa registro a visita de Silas Albuquerque ao Presidente da Republica destacando a presença de sua secretaria particular. Colunistas sociais não se perderam em relatar com êxito: uma jovem tinha feito o dia do Presidente. A jovem Ligia sentiu-se envergonhada. 
--- Isso é o clima do sucesso – respondeu Silas a luxuosa jovem Ligia. E sorriu após.
--- Mas a vossa esposa não deverá gostar desses momentos. Ela é quem merecia tudo isso. Afinal nem bonita eu sou. – relatou a jovem Ligia quase querendo chorar.
--- Tolice. Isso é a imprensa. Põe no auge e ao mesmo tempo tira. – fez ver o seu chefe.
No decorrer da tarde, Silas Albuquerque acompanhado de sua afável secretária particular ainda foi recebido pelo Ministro das Comunicações e a Presidência do Banco do Brasil, pois houve tempo para esses dois encontros.  Daí então o homem e a secretária Ligia retornara ao Hotel das Nações onde estavam hospedados. Eles foram apenas tomar banho e trocar de roupa, pois à noite teriam de ir a chácara do Presidente da República onde seriam cortejados pela nova função de ser um agente de propaganda do Governo.
--- Nada mal esse contrato. – frisou Silas a sua secretária.
E então a moça sorriu. O traje da noite de Lígia Duarte era um vestido de cocktail longo com uma abertura acima dos seis encobertos por um véu estrelejado feito em cetim. A cintura um pouco alta tinha uma cinta igual a que estava bem próximo ao decote. As costas eram em partes nuas. Quando a jovem e elegante moça chegou à chácara foi um verdadeiro frenesi por parte da imprensa especializada, especialmente os cronistas sociais onde o caso não deixava passar. Os fotógrafos eram só tirar as imagens da virgem moça para o deleite do Presidente e a vergonha passada por Ligia Duarte. Indagações de praxe eram feitas e a moça respondia com sua mudez definitiva, pois nem saberia o que dizer. O seu executivo tecia de leve as escondias vez ou outra o braço da secretaria pêra ela nada responder. A moça sorriu as compressões dadas por seu dirigente e nada respondia aos repórteres fazendo de conta que nem estava a ouvir.
--- Nada responda. – falou baixinho o presidente da Agência Pomar ao entrar no elegante e esmerado interior da chácara.
A moça sorriu. O seu diretor trajava um blazer por cima de uma camisa de seda. Havia número razoável de convidados os quais Silas verificou serem eles os eternos e infindáveis bajuladores do Presidente da República. Após os cumprimentos e as apresentações a Primeira Dama houve rodada de conversa, principalmente sobre a rodagem do filme “Ponta da Cuia” onde era o município de uma região remota do Estado do nordeste.
--- Remota, mas de singular importância. – respondeu o presidente da Agencia Pomar.
--- Em que se baseia o filme? – indagou o Presidente da República.
--- A principio, em um casal de agricultores. Eles vivem do roçado que tem. E por aí vai à trama até seu ápice final. – respondeu o presidente da Agencia Pomar.

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