quinta-feira, 7 de abril de 2011

DESEJO - 24 -

- Kelly McGillis -
- 24 -
Ao saber da presença de Norma Vidigal no recinto de posse do novo Secretário de Imprensa o Governador do Estado teve uma grande surpresa, pois para aquela autoridade o pai de Norma era o seu maior e melhor amigos de todos os tempos. E não hesitou em indagar por Teodomiro Vidigal e a razão de não estar presente aquela solenidade onde antigos e novos companheiros estavam a solicitar de velhas e boas augustas amizades. Norma respondeu ao Governador ter o seu pai compromissos inadiáveis e por isso fez questão em que a jovem moça viesse em seu lugar, contanto não haver falta de sua personalidade.
--- Ora, pois! Ele bem podia ter vindo. Amigos do meu Secretário, além de ser de boas vindas, são meus amigos também. E Teodomiro mais ainda. Ela há de se lembrar das traquinagens do Colégio Marista. – gargalhou o Governado ao seu modo.
--- Era um casamento marcado para esse horário, Excelência. – sorriu a moça ao dizer tal fato.
--- Ah bom. Ele está desculpado. – sorriu o governador com sua pança enorme.
Após essa breve conversa, o Governador, ao se despedir de Norma Vidigal, solicitou, logo que fosse possível uma audiência reservada com o seu novo Secretario de Imprensa, Armando Viana. Esse, por sinal, falou com Norma Vidigal do atrapalho lhe dado e depois eles teriam uma conversa bem mais ao ponto. E acompanhou a doce moça até a entrada do Palácio onde os dois trocaram suaves beijos tendo logo após a jovem se despedindo por completo do amado novo Secretário. Ao voltar ao Gabinete do Governador, Armando Viana tomou conhecimento da morte do então Secretário de Imprensa demitido no dia anterior. João dos Passos morrera pela madrugada de um ataque cardíaco fulminante. O homem estava a dormir quando sofreu o ataque. Ninguém notou que ele estava morto. Nem mesmo a sua esposa. Os familiares vieram a notar pela manhã quando o homem demorou a se levantar do leito.
--- Puta merda. Isso é o cúmulo! A pensar que tive de dispensá-lo por causa da bebida! – falou revoltado o Governador.
--- Porém, ele já esteve doente por problemas cardíacos, Excelência. E, além do mais João dos Passos sofria de diabete. Com tudo isso ele ainda bebia. – comentou o Secretário Armando.
--- Puta-merda! Mas é puta-merda mesmo!!! – falou exaltado o Governador.
--- Tenha calma Excelência. Vamos cuidar do velório e do sepultamento de João tão logo seja autorizado pelos médicos. – falo a tranqüilizar o Secretário Armando Viana.
--- Essa é a tua primeira missão. – declarou enrijecido o Governador do Estado.
Após esses despachos. Armando Viana, Secretário de Imprensa, desceu ao seu Gabinete no primeiro andar e chegando foi recebido pela secretária ao dizer não ter chegado até aquele horário do titular da Pasta. Armando sorriu e disse a moça.
--- João dos Passos morreu. Eu sou o novo titular da Pasta. Passe-me todos os documentos. – falou triste e ao mesmo tempo sorrindo Armando Viana.
--- Ave Maria! Seu João morreu?! – fez a moça em tom bastante sentido.
--- Sim. Morreu esta manhã. Passe-me o que tem para me entregar. – falou Armando.
--- Ai meu Deus. Acho que vou desmaiar! – revelou a moça agoniada.
--- Nada de desmaio! Ao trabalho! – falou decidido o novo Secretário.
--- Vou desmaiar. – respondeu a moça e caiu na cadeira em desmaio.
O rapaz correu com vexame a procura de alguém e fez fricção de álcool nos pulsos da moça enquanto gritava por socorro.
--- Ajudem-me aqui. Socorro. A moça desmaiou. – dizia o novo Secretario a acudir a moça.
Em poucos instantes o Gabinete do Secretário se encheu de gente do Palácio. Todos entre si  perguntaram o ocorrido. E a moça em desmaio foi levada para o ambulatório do Palácio com bastante pressa por alguns servidores. Outros funcionários acompanhavam os seguranças. Todos queriam fazer algo. A enfermeira de plantão pegou a moça e colocou em uma mesa para tratar do desmaio repentino. No Gabinete Médico, vários servidores perguntavam do desmaio ocorrido em plena manhã de sol.
--- Deve ter sido o café! – relatou alguém a estremecer.
--- Que café que nada! Foi um xilique que a moça teve, ora! – respondeu uma mulher toda abusada com os comentários.
O Secretário Armando Viana indagou da enfermeira qual o quadro clínico da paciente e teve em resposta ele aguardar, pois a moça havia tornado e estava bem de saúde. Apenas ficaria mais um pouco em observação. Depois disso a moça seria mandada para a sua casa, por precaução, pois a jovem sofria de constantes síncopes leves e passageiras quando estava em estado de menstruação, como daquela vez.
--- Ah bom. Assim está certo. Eu chamo outra para o seu lugar. – declarou o novo titular da Pasta da Comunicação.
A tarde veio com chuvas e relâmpagos. O esquife do ex-Secretário João dos Passos foi posto da Igreja do bairro onde ele morava. Os secretários de Estados, pessoas amigas, gente humilde, a turma da cerveja, parentes e o próprio Governador foram dar o adeus definitivo ao bom João dos Passos. O velório durou a noite toda. O sepultamento do corpo de João dos Passos foi realizado no antigo cemitério da cidade, na sepultura dos antigos maçons, pois ele fora Grão Mestre da Augusta Maçonaria Treze de Maio obediente ao Grande Oriente do Brasil. No ato do sepultamento, houve oratórias por diversos Maçons e o entoar do Hino Maçônico pelos Ilustres Homens da Sagrada Maçonaria. Ainda chovia na manhã seguinte como se o tempo sentisse a perda do grande irmã maçom. Foi um sepultamento por demais inesquecível ao do nobre maçom João dos Passos. Entre todos os presentes estavam o Governador, o Prefeito da Capital, deputados, vereadores e gente muita. Eram os destaques os secretários de Estado. A viúva chorosa era conformada por seus parentes mais próximos. Filhos e filhas. Noras e genros também se fizeram presentes. Ao final de tudo houve um toque surto feito pelos maçons, o que, quase ninguém entendeu aquele ato cerimonial.
Quando veio o sábado, Armando Viana e a sua namorada Norma Vidigal acharam de combinar eles irem passar o fim de semana na fazenda do tabelião Teodomiro Vidigal onde havia a fazenda “Mundo Velho”.  Pois no sábado logo cedo da manhã os dois se encontraram no café do Mercado Público da Cidade. Ali, Norma e Armando trocaram conversa e os dois comeram cuscuz, tapioca e bolo de milho com uns goles de café. Ao cabo de um curto espaço de tempo o rapaz se lembrou do calção. Ele pediu a jovem passar em seu kitnet para apanhar a peça e depois eles partiriam na direção da praia onde estava a velha mansão, duas horas de viagem da cidade. Solícita a moça atendeu aos reclamos do rapaz. No meio do caminho Norma lembrou-se de perguntar a Armando quando teria de ir tirar sua carta de motorista. O rapaz fez uma cara de quem não sabia apenas a dizer em breve. Na verdade, Armando não sabia nem sequer dirigir automóvel. Em meses passados ele conversou com o motorista de praça conhecido por Giba e esse se comprometeu em ensiná-lo. Vem tempo e vai tempo, e Armando não tinha mais tocado no assunto. Daquela vez, a moça foi quem falou e lembrou dirigir carro não tinha nada de mais.
--- Eu sei. Eu sei. Mas eu ainda não estou bem habilitado. – reclamou Armando fazendo corpo mole em torno do assunto.
--- E você pode aprender aqui mesmo, na estrada. Aproveita! Aqui não passa viva alma. – sorriu Norma ao tentar provocar o seu amante.
--- Sabe o que é? Eu tenho medo em dirigir carro. Vamos deixar bem para depois. Depois. – declarou Armando a sua namorada com um tremendo medo.
--- Ora. Vamos seu besta. Não tem ninguém na estrada. Só tem muitos buracos. – sorriu a moça ao dizer tal fato.
--- É isso. É isso. Os buracos. – se encolheu depressa o rapaz.
--- Quer ver você perder o medo? – relatou Norma a Armando.
E então a moça estacionou o carro na beira da estrada, saiu de dentro do veículo, rodeou pela frente e abriu a porta em que estava sentado no banco o seu namorado. E Norma foi dizendo depressa como que estava resolvida a ensinar a dirigir o auto o seu namorado.
--- Vai pra lá! Vai pra lá! Chispa! – fez a moça a contragosto de Armando.
--- Espera querida. Eu vou aprender depois! – articulou alarmado o jovem rapaz.
--- Chispa! Chispa! Vai para a direção. Agora sou eu quem não dirige mais. Chispa! – fez a moça com voz forte e ate parecendo mal criada.
E o rapaz obedeceu à ordem dizendo primeiro o que ele deveria fazer. A moça ensinou a passar marcha no carro, cuja alavanca era em cima da direção do auto. Depois de passar marcha, ir devagar com o pé direito soltando a embreagem e seguir em frente. O freio só devia ser usado na hora de parar ou se tivesse um buraco ou um animal atravessasse na frente do veículo. Com relação as pessoas, tomar cuidado para evitar o atropelamento. Coisas simples por demais. Casos mais complicados ela ensinaria com o passar do tempo, como por exemplo, baixar um pneu ou mesmo faltar freio.

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