quinta-feira, 14 de abril de 2011

DESEJO - 30 -

- Debra Winger -
- 30 -
Quando após o café da manhã Canindé fotógrafo rumou para o escritório da redação do Jornal A IMPRENSA, já encontrou saltitante a moça Marta Rocha. E foi Dalí que após arrumar o seu conteúdo de trabalho, filmes, era o caso, o rapaz rumou para a delegacia em companhia de Marta. Os dois saíram alegres a conversar sobre o assunto do momento: o Turco. Marta, sorridente, contemplava o jornal nas duas mãos com a matéria do Turco, pois ali estava a sua primeira matéria publicada em jornal. E Marta dizia para Canindé:
--- Viu a matéria? Mas se não fosse você. ...
O rapaz andando a cambalear com a cabeça para um lado e para o outro nem ao menos se importava. Ao chegarem a delegacia, Canindé de Marta, suados de tanto andar, felicitaram o delegado Dagoberto. E esse notou a moça e deu os parabéns a ela, pois o seu nome aparecia com destaque na matéria. Ela nem soube o que dizer e ficou apoiada em seu balcão. Canindé se largou para o interior da delegacia para ver se tinha fotos a ser feitas. Na frente da delegacia duas mulheres da vida passaram a sorrir por qualquer coisa e Marta Rocha olhou as mundanas e nada comentou. Apenas olhou as meretrizes. Ao cabo de algum tempo ela resolveu falar se no lugar havia tanta meretriz como aquelas duas que passaram. O delegado Dagoberto olhou para a moça e não disse coisa alguma. Mais um tempo se passou quando o telefone tocou no birô de delegado. A moça ouviu o sinal e o homem a atender. De perto estava o escrivão com um rosto deslambido a olhar para a moça como quem dizia algo. Dois auxiliares de polícia estavam sentados nas cadeiras ao lado, em frente ao delegado, discutindo o jogo de futebol. Canindé já voltara a ronda que fizera no interior da delegacia.
--- Nada que preste. Vamos nós se sentar a espera de alguma coisa. – disse ele a Marta.
Nesse momento o delegado Dagoberto se levantou do assento apressado chamando os dois auxiliares de polícia para saírem para uma ronda. Canindé foi a frente e perguntou logo o que houve. O delegado apenas declarou:
--- Acidente! Um trem bateu em um caminhão. – relatou o delegado.
--- Agora? Onde foi? – perguntou Canindé a procura de melhores informações.
--- No entroncamento! – relatou o delegado com muita pressa para sair.
--- Puta-merda. Logo ali? Me dê uma carona até o palácio que lá eu pego o carro da assessoria. – reclamou Canindé também apressado ajeitando a sua câmera e o saco de filmes virgens.
--- Vamos se embora cambada! – falou o delegado para os dois auxiliares.
E Canindé chamou a repórter a não entender de nada. Somente Marta Rocha sabia ter havido um acidente em algum lugar. E por isso perguntou a Canindé:
--- Vamos pra onde? – indagou alarmada e indecisa a moça a se curvar para frente de modo a ouvir melhor Canindé.
--- Acidente! Vamos ao Palácio pegar o carro! – respondeu ele apressado a colocar a moça para dentro do carro de policia e a entrar em seguida.
--- Que Palácio? – indagou a moça atormentada com todo o acontecido.
--- O Palácio. Só tem um Palácio aqui: o do Governo. – arrematou  Canindé limpando o suor da testa.
O carro de polícia correu acelerado e em poucos instantes parou em frente ao Palácio. O fotógrafo Canindé desceu e, em seguida, a repórter Marta. Canindé agradeceu ao delegado e disse a ele:
--- Chego já. Vou só pegar o carro da Assessoria. – relatou Canindé enquanto saia para a entrada da assessoria.
A moça Marta acompanhou o fotógrafo com seus passos miúdos e sem jeito. Canindé entrou em um gabinete e procurou saber do paradeiro de Secretária Armando Viana. A atendente respondeu ter ele saído um pouco. Canindé resmungou qualquer coisa e partiu para o local de estacionamento de carros. Em seguida fez menção ao motorista Juvêncio, então na Assessoria, e pediu urgência, pois não podia esperar jamais. O motorista sorriu e disse:
--- Olha quem manda agora! – declarou Juvêncio motorista.
--- Vamos Zé. Espere! Vou falar com Garcia. – disse o fotógrafo correndo para o pátio de rádio
Foi coisa de dois minutos. Canindé voltou apressado e entrou no carro da Assessoria. A moça estava já sentada no banco de trás. Canindé pediu um instante e desceu novamente para a Assessoria a procura de um outro repórter. E encontrou Cione a conversar com um colega, ela deitada em um birô. E Canindé perguntou se ela não queria ir a um enterro:
--- Enterro? De quem? – perguntou sorrindo a repórter Cione.
--- Não é nada disso. Foi um acidente entre um caminhão e um trem no Entroncamento. – relatou Canindé apressado.
--- Sai dessa. Me isola. Eu heim! – disse a moça para evitar maiores comentários.
--- Vamos. Eu estou somente com a “foca”. Vamos lá! – recomendou Canindé.
--- Eu vou? – perguntou Cione a sorrir para o outro repórter.
--- Vai! – respondeu o jornalista a sorrir.
--- É. Pra quem não está fazendo nada. ... Vamos embora Caninda!  - respondeu a moça.
O automóvel da Assessoria correu como uma lebre. O lugar era o Entroncamento. Todos os motoristas sabiam muito bem; uma passagem de nível. A “foca”, no banco de trás, tremendo, acompanhada de Cione, argumentou:
--- É muito longe? – perguntou Marta a sua colega.
--- É nada. É logo ali! – e sorriu com sua voz gutural.
--- Tenho é medo. Achou que vou desmaiar. – declarou Marta a tremer.
--- Que nada! É só um tiro! – Cione declarou torcendo o cabelo dom os dedos.
--- Pelos menos dez mortos. E tem muitos feridos. O carro está pegando fogo! – disse isso tudo de uma vez Canindé fotógrafo.
--- Ai meu Deus. Que horror! – arrematou sentida a repórter Marta do canto do carro toda encolhida.
--- Bom! Já dá para um churrasco. – achou graça Cione querendo mais tirar a preocupação da repórter foca, Marta Rocha.
--- Garcia foi quem me disse. – falou Canindé se arrumando todo com sua câmera.
--- Nossa! Quanta gente! – reclamou a repórter foca.
--- Que nada. Pior é a queda de um avião. A gente não acha nada na mata. – sorriu Cione.
--- Eu tô com medo! – reclamou a moça inquieta.
--- Tá nada. Deixa de frescura! Quem morre acaba! Já dizia um célebre cineasta! – respondeu a jornalista a tecer o seu cabelo.
--- É bem ali. – respondeu Juvêncio, o motorista.
--- Tem é gente! – articulou o fotógrafo.
--- Não estou vendo o carro de outros jornais. – teceu o motorista.
--- É ali mesmo. Estou vendo o trem e o fumacê. – comentou Cione preparado para descer.
Com pouco menos de dez minutos, o carro estacionou bem por fora da multidão. Os carros de bombeiros já estavam no local tentando apagar o incêndio do caminhão. A Polícia Militar cercava toda a área do acidente com uma fita amarela tentando afastar os curiosos. Duas ambulâncias estavam embarcando os gravemente feridos. O carro do Instituto Médico já colocava em suas macas os corpos retorcidos dos mortos. Médicos legistas faziam exames dos mortos. Alguém contava os mortos e feridos. O carro era toda uma chama difícil de apagar. O trem estava ligado, mormente não sair do caminho. O condutor não estava no local. Cione, com pressa, dizia para Marta ter ela o cuidado de ouvir os passageiros do trem enquanto a moça fazia o apanhado do acidente. O cheiro de carne assada tomava conta do local. Casas pequenas ao lado do trem eram tomadas pela fumaça do caminhão carbonizado. Mulheres, homens e meninos cuidavam de atender os menos graves. Todas as pessoas vinham para a feira do dia seguinte na cidade. A mercadoria transporta era toda comida pelo fogo. Alguns rapazes ofereciam picolé e cachorro quente aos participantes da cena macabra. Havia também os rapazes a oferecer café, bolachas, grude, bolo e pé-de-moleque. Era um inferno verdadeiro aquele a agonizar a vida dos demais passageiros do trem. Por certo momento Marta percorreu os carros do trem procurando ouvir depoimentos dos passageiros. Tudo era por demais constrangedor. De carro em carro, ela foi até ao último onde quatro passageiros entre muitos  outros jogavam baralho;
--- Que horror! – disse a moça alarmada com a paz entre os que estavam a apostar no jogo.

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