domingo, 17 de abril de 2011

DESEJO - 33 -

- Linda Blair -
- 33 -

                                                                                                                                                                                                                                                                                                       
Após dizer que não deveria ir no sábado, Armando Viana se despediu da moça, Marta Rocha, mesmo que ela ainda lhe perguntasse quem estaria em seu lugar. Ele apenas declarou ser outro rapaz. A moça sorriu para os dois namorados e também saiu. No tal instante Armando foi até as oficinas do Jornal A IMPRENSA onde deixou tudo o que havia conseguido trazer e voltou ao auto onde estava Norma Vidigal. Os dois, felizes, rumaram para o apartamento do rapaz e ali Armando trocou de roupa, juntou outras peças para a viagem até a mansão “Mundo Velho” e prosseguiu seu viajar. O céu estava tranquilo e as estrelas saltavam a vista de cada um dos eternos namorados. A moça tocou para frente o carro não com muita pressa, pois do modo como viajava chegaria a “Mundo Velho” em poucas horas. Ela aproveitou para trocar idéia com o rapaz, vendo que ele trabalhava demais. Armando declarou ser todo o servido carente de pura necessidade. E ele não se sentia tão cansado assim. E a conversa continuou noite adentro até o ponto do cruzamento de acesso ao casarão.
Na viagem, ainda, Armando Viana esteve a contemplar a paisagem noturna. Casebres, casinhas de campo, florestas quando ele passava por algumas, crianças a brincar, brincadeira de roda pelas crianças, mocinhas em grupo de três, uma cidade distante se podendo ver a iluminação ao céu, os buracos na estrada os quais se chamavam “panelas”, gatos amedrontados com a zoada do carro, cachorros a latir insistente, galos a cantar fora de horas entre outros eventos. Um homem montando o seu burro deu boas gargalhadas em Armando, pois lembrava uma cantiga matuta. Foi tanta gargalhada que a moça Norma Vidigal estranho com espanto:
--- Que foi? – perguntou Norma a sorrir sem querer.
--- Nada. Só um burro conduzindo um homem. – disse ele ainda a sorrir.
A moça sorriu e lembrou-se do seu tempo de criança quando desatava os pés dos burros para retirar a peia que os prendia.
--- Era gozado naquele tempo. Os almocreves procuravam os burros e esses estavam longe. – sorriu Norma quase a gargalhar.
--- Hum! Almocreve! – sorriu Armando.
--- Não é almocreve? – perguntou a moça de surpresa.
--- É. Mas ninguém diz isso. Tangedor de burro. – sorriu Armando.
E nesse momento quem teceu a gargalhar foi Norma. Mas gargalhava até demais. E assim parou o carro no acostamento da pista para gargalhar cada vez mais. E por fim Armando ficou intrigado com aquela besteira da moça sendo obrigado a perguntar:
---Mas que mosquito de mordeu? – indagou Armando assustado.
Foi ai aí que a moça gargalhou ainda mais sendo obrigada a descer do carro e urinar do lado de fora, entre uma cerca e o carro, onde não se podia vê-la. Ela urinava e achava graça ao mesmo tempo como se houvesse acordado de um sono maravilhoso. Ao voltar à direção do carro ainda a sorrir disse apenas que achou tanta graça que se urinou.
--- Mas por quê? – indagou o rapaz atormentado.
--- Por sua causa. A munheca. – respondeu a moça a achar então tanta graça que se deitou ao colo do rapaz espezinhado com os pés e batendo com as mãos do joelho do moço.
--- Não entendo! Ah. Munheca. É isso. Munheca de Pau. É como nós chamamos a quem está começando. E mesmo até os velhos. Munheca. Quer dizer; ter pulso duro. Munheca de Pau. – relatou Armando Viana a sorrir.
E a moça achou deu risadas por demais até pedir a Armando para parar.
--- Pare. Eu não quero mais sorrir. – respondeu a moça a sorrir.
E nesse ponto e por algum tempo a moça findou parar então a trafegar até a mansão “Mundo Velho”, o ponto derradeiro de sua viagem. Tão logo os dois namorados desembarcaram no portão do casarão, a moça Ângela, amiga de Norma Vidigal e a indicada para ser o guia até o alto da serra onde Armando visitaria o que os Homens das Estrelas haviam deixado, chegou e ajudou a descarregar o carro de suas bagagens. Após uma saudação amiga ela ajudou a levar para dentro da mansão o que havia de levar. Após alguns minutos, todos descansaram. Ou, pelo menos, Armando Viana repousou um pouco da viagem feita. A moça Ângela foi até a cozinha e preparou o jantar para Norma e Armando. E Norma, com pouco tempo também chegou para ajudar a Ângela. Essa sorriu para Norma e perguntou como foi de viagem. Norma respondeu:
--- Muito bem. Armando é que está exausto. Cumpriu hoje uma célere obrigação. Eu nada fiz, a não ser assinar papeis no Cartório. – sorriu Norma Vidigal a ajudar a Ângela.
Após um curto espaço de tempo o jantar estava servido. A moça Ângela trouxera um pouco de camarões e tão rápido fez a comida ainda fervente. Norma convidou Armando para o jantar e esse não se fez de rogado. Ângela apenas observava os dois eternos namorados a degustar o prato de camarão e de certo modo, a moça sorriu ao ouvir do rapaz:
--- Hum! Está bom demais! Já está admitida! – relatou o rapaz a sorrir.
--- Ângela tem pratos deliciosos. Aprendeu com a sua avó. – contestou Norma a sorrir.
A noite caiu ao todo e os três dormiram depois da algumas conversas provocadas por Norma e a ouvir apenas o seu namorado a falar. Eram casos do serviço e mesmo do Governo do Estado onde Armando também trabalhava. Acontecimentos do trivial como sendo:
--- E o Governador? – indagou Norma ao seu namorado.
--- Onde ele está? Você pergunta? – respondeu Armando a escutar a sua namorada.
--- Pode ser. – sorriu a moça se espreguiçando na poltrona.
--- Há esta hora ele está no sítio. – comentou o rapaz.
--- E não tem ninguém no Palácio? – indagou a moça a sorrir.
--- Os guardas. O serviço de rádio. Esses estão no serviço! – declarou Armando já cismado.
--- Só esse? E se houver um incêndio? Uma bomba? – sorriu Norma a cutucar o homem.
--- Para isso tem o Corpo de Bombeiros. – falou sério o homem se protegendo das cutucadas.
--- Eu me lembro de um incêndio que houve em um prédio da Ribeira. E outro no Porto. Esse foi fogo muito. – respondeu de forma séria a moça.
--- É. E tiveram outros. Mas o Governo não se mete com isso! – falou Armando a se espreguiçar
--- E você? – inquiriu a moça a olhar o rapaz de forma risonha.
--- Eu? Eu espero que os bombeiros apaguem o fogo! – sorriu Armando para a moça.
--- Não. Mas eu quero dizer: se te procurarem? – divagou Norma ao rapaz.
--- Ah sim! Você quer que eu vá apagar o fogo! – respondeu irônico o rapaz.
--- Não. Não é isso! É como cobre a matéria? – indagou a  moça meio com sono.
--- Com um cobertor! – declarou sorrindo o Secretário de Imprensa.
--- Ah. Não pergunto mais nada! Estou de mal! E pronto! – disse a moça quase a dormir.
Armando cutucou as costelas de Norma para que ela acordasse de vez e não caísse no sono quase maternal como dormem as crianças.  E assim veio a madrugada. As primeiras da madrugada. Um estrondo alucinante. Um trovão. Raios cortavam o céu. Água muita caía por amplos cantos da região. Os moradores temiam de pavor e susto com a chicotada dos trovões ensurdecedores. Na casa grande a luz se apagou de repente. Quando Norma acordou já estava tudo às escuras. Armando nem sabia onde por os pés procurando as suas chinelas. Ângela era a mais corajosa de todas naquele recinto ensurdecido pelo ribombar dos trovões. A virgem acendeu uma vela e a trouxe até o quarto onde estavam deitados os amantes. E mesmo assim, os raios continuavam a cada segundo. Era chuva de raios acompanhados de trovoes parecendo ter o céu se aberto em profusão alarmante. Nada se ouvia de homens do mar. Apenas as ondas a bater com afinco nas grosas pedras da praia. Nos casebre ao longe se ouvia o chorar de crianças ao som dos trovões a espocar intermitente. A chuva grossa e pesado era o sinal constante de uma invernada fora de época.
--- Tomara que a chuva passe. – relatou Armando a temer de medo.
--- Essa chuva é sinal de que não podemos ir ao serrote amanhã. – reclamou Ângela.
--- É água muita! – declarou Norma Vidigal
--- Imagino de quem está no mar. – comentou Ângela.
--- Ora! Nem fale uma coisa dessas. Os pobres pescadores. – lamentou Norma.
A chuva era bem mais torrencial enchendo as bacias do rio das Três Bocas apesar de seu nascedouro ser muito mais além da região das Três Bocas. De um momento inesperado ouviu-se um grito de mulher a pedir socorro no meio do turbilhão da trovoada e dos coriscos a cair sem trégua. Era o clamor eterno daquela voz de mulher.                                                                                                                                                              
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 


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