domingo, 10 de abril de 2011

DESEJO - 27 -

- Demi Moore -
- 27 -
Quarta feira, manhã, onze horas. Armando Viana estava em seu gabinete. Um repórter esteve com ele até pouco colhendo as informações do Governador. A secretária particular havia saído por um instante. Armando acabara de ler a matéria que ele mandara para o Jornal “A IMPRENSA”, órgão de interesse do Governador. O calor era tremendo e nem o ventilador sufocava um pouco aquele clima. Com um pouco entrou no Gabinete o fotógrafo Canindé trazendo as provas das fotos que ele fizera. Pôs as fotos em cima do birô e logo saiu E ainda disse ao seu chefe:
--- Pronto? – perguntou Canindé sem nem precisar perguntar.
--- Certo. Vou anexar ao texto. – respondeu Armando.
--- Outra coisa: Humberto mandou dizer que você apareça maia. Mas não disse por que. – sorriu Canindé já na saída do gabinete.
--- Vou aparecer hoje. Mas me diga: por quanto compro uma máquina fotográfica? – relatou Armando procurando saber do preço de uma máquina.
--- Sei lá! Tem de todo preço. É só procurar nas lojas! – enfatizou o fotógrafo.
--- Uma pequena mesmo! – fez ver Armando.
--- Tem Nikon. Kodak, Yashica. Um mundo! Você está querendo uma máquina? – indagou Canindé.
--- É. Mas preciso de você para me orientar. Vamos ao comércio? – perguntou Armando Viana.
--- Agora? – indagou Canindé examinando seu relógio para ver as horas.
--- Não. Mais tarde. Depois do almoço. Vamos? – perguntou Armando já vendo a intenção do seu amigo Canindé.
--- É. Vamos. Lá para as duas horas da tarde. – relatou Canindé fazendo um beiço comprido.
E assim foi feito o trato. Os dois amigos foram almoçar em um restaurante do centro e trocaram idéias sobre como se fazia foto. Canindé mostrou a sua máquina fotográfica, fez diversos ângulos para Armando aprender a manejar uma máquina, mesmo sendo velha. Quando a máquina era moderno também Canindé mostrou os seus segredos do ofício. E no fim quis saber para qual fim Armando estava a precisar de uma máquina fotográfica.
--- É apenas para bater umas fotos da moça na praia. – disse Armando tentando encobrir a verdade da história.
--- Ah bom. Até uma Agfa pode ser. Você é quem sabe! – relatou Canindé torcendo a cabeça para gente grã-fina que chegava ao restaurante.
--- Não. Não. Eu quero uma de boa qualidade. E você é quem vai me ensinar. Ouviu? – fez ver Armando.
Quando passou a hora do almoço, os dois amigos ficaram a verificar as lojas de máquinas de fotos mais atraentes e, enfim, resolveram para na mais atraente. Canindé, o fotógrafo pediu para ver uma máquina Canon. Após verificar sua angulação, Canindé passou as mãos de Armando para ver o que ele podia aprender. E Canindé deu lições de respiração, como fixar a máquina por entre as mãos, e coisa e tal, até que o rapaz compreendeu de vez. Armando estava eufórico com a nova maquina fotográfica. E nem precisou Canindé perguntar se estava satisfeito com a câmera. Em seguida, Armando Viana pediu cinco rolos de filmes, pagou a conta e saiu contente e satisfeito com seu embrulho em baixo do braço. Para não revelar o segredo, Armando relatou apenas ter a câmera um sentido especial para ele.  Canindé o olhou com desdém e faz de conta que ouviu tudo o que o amigo lhe dissera.
Logo em seguida, naquela mesma tarde, após se despedir de Canindé fotógrafo, Armando saiu contente com sua câmera fazendo mil posições quando estivesse pronto para fotografar e chegou ao seu escritório de redação, onde não tinha ninguém naquela hora. Ele procurou uns livros e revistas nas estantes. Era comum ele olhar as revistas. Essas publicações sempre traziam casos de Discos Voadores em várias partes da Terra. Por fim, após uma longa procura encontrou o que Armando estava a procurar. Enfim, passou a ler as publicações, tirando pelas revistas. Os livros ele deixou separados. E se envolveu a ler todos os artigos existentes. Com isso nem se deu conta das horas passadas. Por isso, em certa ocasião entrou em seu escritório uma moça bem vestida. Ela procurava um trabalho, pois o proprietário do Jornal A Imprensa teve o cuidado de endereçar a jovem ao escritório de Armando Viana, uma vez ser o melhor indicado. A moça não tinha jeito de repórter, apesar de querer trabalhar como uma repórter. Pelo menos foi o que disse quando conseguia falar com Armando.
--- Teu nome? – indagou Armando a moça.
--- Marta. Marta Rocha. É o meu nome. – relatou a moça.
--- Trabalhou em jornal? – indagou o rapaz.
--- Não. E nem fiz o Curso. Apenas sei datilografia. – relatou Marta Rocha.
--- Quem mandou você aqui? – perguntou o jovem.
--- Eu procuro trabalho. E fui ao Jornal. Então, um homem me indicou procurar nesse edifício. – respondeu a moça olhando o prédio de cima a baixo.
--- Isso não é muito. Todavia, vamos começar. Pegue esses rascunhos e bata com está. – respondeu Armando enquanto voltava a sua leitura. E olhou com pouca fé a moça.
--- Só bater esses rascunhos? – perguntou a moça assustada.
--- Só. Sente-se em uma cadeira de uma maquina e pode bater. Quando terminar, traga-me para eu ver. – falou o homem baixando a vista para as revistas.
E a moça procurou uma máquina qualquer para escrever os rascunhos. Eram uns telegramas recebidos pelo Morse e estavam todos muito sujos. Para Humberto, era um maná. Para a moça foi um Deus nos acuda. De um modo ou de outro ela começou a bater o texto e depois de pouco tempo Marta Rocha voltou com os papeis batidos e entregou a Armando Viana.
--- Bateu tudo? – estranhou Armando ao ver os papeis novos.
--- Bati. Só aqueles três. – falou Marta.
Armando passou os olhos nos papeis e estavam todos prontos para mandar a oficina do jornal se fosse o caso. Ele por fim, falou a moça onde ela trabalhou e em que prestou serviço. A moça respondeu ser aquele o primeiro trabalho de sua vida. E gostaria de ter sido recebida.
--- Moça? Você nunca trabalhou em sua vida? – indagou Armando alarmado com a precisão das matérias datilografadas.
--- Não. É a primeira vez. De resto só estudei datilografia. – respondeu Marta.
--- Quem vê uma moça passar pela rua nem pensa na capacidade que a moça tem. Amanhã, você pode vir trabalhar. E pense: isso não é milagre. É perfeição. Você está admitida. – relatou Armando Viana.
--- Está bem. Pela manhã ou à tarde? – perguntou Marta.
--- E tem isso? Escute bem: o repórter não tem noite nem dia. Feriado ou dia Santo. Ele está propenso há trabalhar qualquer hora. De qualquer jeito, venha na parte da manhã. Se gostar, nós discutimos melhores horários. Mas, lembre-se: repórter não tem hora. Qualquer dia ou qualquer hora. Entendeu? – falou Armando à moça.
--- Está bem. Qualquer dia e qualquer hora. Estou ciente. – respondeu Marta Rocha.
E a moça se despediu ciente de trabalhar a partir daquele dia. E para nunca esquecer: qualquer dia e qualquer hora. Era a sentença por ela recebida. Alegre demais, Marta Rocha saiu como se pinoteasse em uma perna só, contente e muito viva. Do seu lado, Armando Viana ainda olhou a mocinha cheia de graça parecendo um ser acabado de nascer. E então, ele sorriu. A câmera fotográfica adormecia entre os moveis do birô de Armando Viana como uma testemunha desatenta ao que se passava no seu meio ambiente. O rapaz olhou mais uma vez para a câmera e nem sorrio. Apenas olhou. As revistas sobre Discos Voadores estavam espalhadas por cima da mesa de trabalho e o rapaz a pensar no que deveria fazer para o próximo dia quando a nova repórter estaria a trabalhar. Em determinada ocasião, Armando descobriu estar chamando pelo nome da moça sem nada a dizer. Nesse momento, entrou no escritório outra repórter, Cione Damásio. Ela estava com a pressa de teclar as matérias e mesmo assim perguntou ao seu chefe.
--- Alguma coisa, Chefe? – perguntou Cione mais alegre.
--- Não. Nada não. Estou só a pensar. – reclamou Armando cismado.
--- Quer café? – ela perguntou ao se dirigir para a cafeteira onde buscava café.
--- Não. – respondeu Armando com a cabeça alheia pensando no que fizera ao admitir a nova repórter.
--- Vou trabalhar. – sorriu a moça se deslocando para a sua maquina de escrever.

Nenhum comentário:

Postar um comentário