sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

AMANTES - 69 -

- Daniela Carvalho -
- 69 -

Diomedes Nogueira conduzia o carro do seu chefe, Silas Albuquerque, conversando sobre novidades de uma produção recente. Silas estava a conduzir essa nova empreitada de um filme sobre a vida de Carlos Louzada, Governador do Estado, morto em acidente de aviação em tempos recentes. E os dois amigos, Silas de Diomedes apenas conversavam o deslocamento de equipes para o interior, vez que a produção conferia as aventuras de Louzada desde o tempo em que foi aviador de caça da FAB. Era manhã logo cedo. O comercio já estava em polvorosa nessa hora. Diomedes seguia para a Agência Pomar com o seu patrão. Um sinal de trânsito fechou e obrigou a Diomedes brecar o seu auto também. Era um mundo de gente a atravessar a rua de um lado para outro e vice versa. Com a pressa de atravessar o cruzamento, pouco se podia ver ou ouvir o que as pessoas conversavam. Era tudo feito em um minuto apenas. Mulher conduzindo seu filho, homem com uma carga da cabeça, outras figuras com suas bolsas. Enfim era uma enchente de gente. De momento, de forma sem esperar, Diomedes olhou entre os que passavam uma figura por demais conhecida. Por certo tempo, ele ficou apenas a perceber se era a mesma pessoa. O cuidado de Diomedes era ter que falar sobre um caso estranho onde a pessoa estava desaparecida de há muito. Levava-se a precaução de que essa pessoa tivesse até morrido. As sessões espíritas a que Diomedes freqüentou de nada adiantaram. A não ser um sonho que ele tinha tido há algumas semanas mostrando a criatura em um cemitério. Mas um sonho era um sonho. E nada mais. Porém, ali estava á frente com a pessoa. Ele jurava ser a mesma. Estando com o carro parado no sinal e pronto para sair a qualquer instante, o homem não tinha como fazer. Apenas disse ao seu chefe o que acabara de ver atravessando a rua:
--- Racilva! Racilva patrão! Racilva! Olhe lá! É ela! – declarou o homem ao desespero.
Silas estava lendo umas folhas de papel com os roteiros do filme de Carlos Louzada. Quase não teve tempo de olhar para o lado onde a moça se metera. Por um instante, o homem se juntou perplexo e disse a Diomedes amedrontado.
--- Pare o carro! Pare o carro! Pare o carro! – disse Silas para descer e seguir para a rua onde estava a moça.
O motorista encostou o carro em fila dupla e Silas saltou pelo lado onde tinha mais automóveis e seguiu apressado dobrando a esquina de uma loja e procurou vislumbrar a criatura que o motorista disse ser Racilva. Na rua era um pandemônio de gente. Uns que vinhas. Outros que iam. Todos ao mesmo tempo. Silas correu com pressa, olhando para o interior das lojas a procurar se na verdade a moça era Racilva e nada de encontrar. Viajou até a esquina do outro trecho onde tinha menos pessoas, e nada percebeu. Apenas notou a Catedral. E ele pensou afinal.
--- A Catedral! A Catedral! É lá que Racilva deve estar. - e seguiu rumo ao templo religioso, muito apressado, com olhos esbugalhados, batendo em um e atravessando por entre carros.
Ele estava então na Catedral Metropolitana. Foi naquele templo que Silas viu pela ultima vez a jovem Racilva. E, com certeza, ela estava por lá fazendo suas orações. O templo estava com pouca gente àquela hora da manhã, pois já não havia missa. Apenas os devotos ficavam a rezar aos seus santos de maior devoção. E Silas entrou na nave procurando entre as poucas pessoas uma que pudesse ser a moça Racilva. Porém, nenhuma das que estavam dentro do templo parecia ser Racilva. Ele insistiu em procurar por outras dependências da Catedral e nada achou de real. O tempo demorava, os minutos se passavam e apenas as devotas a rezar. Uma noviça saiu de trás do altar mor, como fizera a ex-noviça Ligia e ele então resolveu perguntar se a noviça tinha noticia de uma moça que entrara na Catedral naqueles instantes. A noviça respondeu:
--- Quem é o senhor? – perguntou a noviça estranhando a pessoa.
--- Sou muito amigo da moça. – relutou dizer o nome de Racilva.
--- Não. Não vi ninguém. – respondeu a noviça passando a caminhar.
--- Espere! Espere! É Racilva o seu nome! – relatou Silas a noviça.
--- Não a conheço! – disse a noviça enfim caminhando para a grande porta de entrada.
--- “Bosta! Bosta! Ela só pode estar aqui!” – pensou Silas consigo mesmo.
O relógio da Catedral deu as nove pancadas marcando a hora certa. Porém Silas nem percebeu essa hora. O temia era Racilva ter desaparecido como fumaça ao vento. Enfim, o homem caminhou para a grande porta da Catedral. Ali sentiria o vento a soprar ao seu peito e deixaria largar o seu suspiro de perdedor, pelo menos aquela vez. E assim fez. Esteve Silas a olhar os carros a transitar e o seu pensamento a vagar. Por fim, ele notou a presença do motorista Diomedes a caminhar feliz com uma jovem ao seu lado. Era ela Racilva Pontes. A moça olhou para o homem e esse, desnorteado, ficou ao encontrar tão bela prenda há tempos perdida. A chorar como uma criança, soluçando qual um menino. Silas Albuquerque apenas disse:
--- Racilva! Racilva! Por quê? – e sentiu tonturas e desmaio.
Ao recobrar a consciência, Silas Albuquerque estava deitado no banco da Catedral, com Racilva ao seu lado, abanando com um lenço a sua face e a noviça lhe medindo a pressão. O homem Diomedes estava segurando o corpo de Silas enquanto uma ambulância chegava para levá-lo ao pronto-socorro. Racilva ficou ao seu lado por todo o longo tempo, abraçando o homem ao recobrar a consciência. Silas só olhava o roto da moça e plenamente chorava. Os maqueiros o conduziram até a ambulância onde o home foi posto em companhia de Racilva Pontes. Silas continuava a chorar de alegria ou de saudades ao ver a moça ao seu lado. De fora, Diomedes falou apenas seguir a ambulância e agradecer a noviça pelos cuidados devidos.
--- Seu nome, por favor? – indagou o motorista Diomedes.
--- Leane. Irmã Leane. – respondeu a noviça a sorrir levemente.
--- Ah. Leane. Não vou esquecer. – respondeu Diomedes a sorrir levemente.
--- Agradeço. – respondeu a Irmã Leane.
No pronto-socorro o médico, as enfermeiras e as atendentes postadas no local de urgência para os casos mais graves cuidaram por completo do senhor Silas Albuquerque. Com o seu motorista, ele teve a oportunidade de apresentar a sua carteira de saúdes comprovando não ser indigente. Silas estava alegre disse que aquilo não fora nada demais, pois há algum tempo já passara por aquele setor hospitalar apenas por conta de um desmaio. Mesmo assim, o corpo médico mandou fazer um novo checape para tomar todos os cuidados possíveis. O velho Diomedes teve que ir ao Escritório da Agencia avisar a dona Vera B. Muniz sobre o estado de saúde de seu marido e encontrar com Racilva Pontes. A mulher tomou um susto terrível a Diomedes falar no nome de Racilva.
--- Agora quem desmaiar é eu! – relatou Vera ao se recobrar do choque.
--- Nada. Nada não. Ela está no Hospital esperando a senhora. – sorriu Diomedes ao dizer tal fato à dona Vera B Muniz.
--- Que está esperando? Vamos para o Hospital! – reclamou Vera com pressa.
Então, Vera Muniz seguiu com Diomedes e, no Hospital se deparou com a sua amiga Racilva. Foi aquele abraço bem apertado. Vera chorava. Racilva procurava acalmá-la. Diomedes sorria enquanto Silas era submetido a tratamento no laboratório hospitalar. As duas mulheres então conversaram sobre todo o tempo perdido. E Vera Muniz quis saber por que Racilva não tinha mais voltado ao seu trabalho. A moça desconversou e disse que naquele estado de saúde era melhor ela manter resguardo de toda a gente. E Vera quis saber da família. Ela então respondeu que o sustento era dado por recursos tidos por Racilva em um Banco particular e sua mãe nem sabia de onde vinha tal numerário.
--- Mas você não voltou a sua casa! – repreendeu Vera Muniz.
--- É. Eu retornei depois de um mês quando fiz as compras para manter a minha mãe. – relatou Racilva sorrindo.
--- Só depois que eu estive com sua mãe.! – disse Vera Muniz.
--- Por aqueles dias. Eu pedi a todos que não falasse que me virão. – sorriu Racilva.
--- Mas por que tudo isso? – perguntou Vera alarmada.
--- Questão de saúde. Você sabe como é. – disse Racilva sorrindo
--- Mas você está mais forte! – respondeu Vera olhando o corpo de Racilva
--- É. Estou. Tive um bebê. Por isso estou um pouco mais forte. – sorriu Racilva.
--- Ah, Você casou? – indagou alarmada Vera Muniz.
--- Não. Não casei. E o pai caiu no mundo. – gargalhou Racilva a relatar o parto.
--- É danado. Você teve um filho e eu perdi um. – falou tristonha Vera querendo chorar de desgosto.
--- Aquiete-se. Por isso eu não voltei mais para o trabalho. – sorriu Racilva aquietando Vera.

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