sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

DESEJO - 01 -

- HELENA DE TROYA -
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Armando Viana era jornalista e trabalhava no Palácio do Governo. O seu expediente, como o dos demais servidores, começava às sete horas da manhã. No entanto, Armando somente chegava a sua repartição lá pelas nove horas. Isso, quando ele conseguia ir para o oficio, pois no restante da semana sempre Armando estava ocupado com negócios de uma agencia de noticias para qual ele trabalhava.  Ele morava em um kitnet alugado no centro da cidade. Ou mais ou menos no centro. Portanto, de onde ele estava podia ver o Palácio do Governo entre outras repartições do Estado. Na rua onde Armando morava tinha um Cartório, um açougue, uma loja de livros velhos a qual tinha o nome de “Sebo” entre outras lojas e marcadinhos. A rua onde Armando residia era um beco. De um lado tinham algumas oficinas de fazer sapatos. Do outro, nada havia para se contar história. Apenas o homem da hora. Era ele seu Orlando o qual passava o dia a conversar com os ilustres homens aposentados enquanto consertava um relógio minúsculo que dava gosto de se ver. No meio do trabalho não faltavam às risadas por alguém contador de lorotas. E nesse meio tempo, enquanto estava em seu kitnet, com desprazer, Armando Viana olhava para os transeuntes que vinha e iam para os seus locais de trabalho ou residências.
--- Esses são uns bostas! – resmungava Armando e voltava para o interior do kitnet.
A Catedral ficava próxima ao kitnet de Armando. Na hora certa o relógio da matriz marcava as horas com suas badaladas. Não era possível de se ver a velha Matriz de onde Armando estava. Apenas o badalar do sino ele podia ouvir. O kitnet onde o jovem residia era em uma esquina do Beco Novo com a Rua da Palha. E por essas ruas e travessas, dormiam os notórios bêbados contumazes depois de um dia de cachaça em outro beco chamado “Beco da Lama” situado na outra esquina do kitnet de Armando. O café da manhã de Armando Viana, ele tomava em uma barraca onde havia outras, no Mercado da Cidade. No local havia muita gente a tomar café com ovos, cuscuz, mungunzá, tapioca em outras iguarias. O café era de graça. Não se pagava nada. Mas o cuscuz, mungunzá, tapioca, ovos e mesmo pão, o freguês pagava. E assim, Armando bebia o quanto podia enquanto conversava com outros habituais freqüentadores daquela conversa de muitos amigos e conhecidos. Jogo de bicho, carteado, mundanismo eram os assuntos preferidos da rodada dos colegas. Um fotógrafo de jornal sempre estava metido na conversa dos bons amigos. Seu nome era bastante conhecido. Porém todos o chamavam de Canindé.
--- Como é seu nome? – perguntava alguém da roda.
--- Canindé! – respondia o homem preguiçosamente a sorrir.
E por Canindé estava e por Canindé ficava. Na roda de amigo estava Armando Viana. O homem, nas horas vagas, às vezes aos sábados ou domingos, ele estava a namorar Leane, moça distinta, boas prendas e funcionária ao mesmo tempo da repartição do Estado. A jovem moça residia no bairro do Carrasco, lá para o fim da cidade onde a grande preocupação dos seus moradores era a chuva, pois alagava sempre as residências da parte mais baixa do arruado. Às vezes, Armando costumava ir ao cinema no longínquo bairro da Cidade, pois para voltar para casa, ele sempre destinava a alugar um carro de praça.  Ele e a sua namorada acompanhada da irmã mais nova ao lado como se fosse um guarda-costas. O Bonde, quando seguia após a sessão de cinema, sempre estava lotado e, por isso, Armando preferia sempre um carro de praça, pois voltava para a Cidade após deixar a moça em sua casa. Havia poucos motoristas e Armando tinha a sua preferência por um carro de um rapaz chamado Giba. E nem precisava dizer para onde ele rumava, pois o motorista já sabia de cor e salteado. Quando Armando estava a sair do seu kitnet, uma moça esbarrou com ele. A moça vinha olhando em outra direção e não prestou a atenção em Armando. Quando trombou de frente, ela soltou um leve gritinho de quem estava assustada.
--- Ui. Desculpe! – falou a moça com medo e sorrindo.
--- Não foi nada. – respondeu Armando a desculpar a moça.
--- Estava distraída. – sorriu a moça com muita pressa.
--- É normal. Eu tombo com pessoas na calçada. – falou Armando Viana.
E a moça saiu apressada. Mais a frente ajustou o calçado que se despregava e olhou para trás para ver se Armando estava olhando para ela. O rapaz vinha a caminho e logo se juntou a moça sem tecer comentário ao sapato. Apenas chegou mais próximo da moça. E ela falou de repente por causa do sapato.
--- Está apertando na frente. – reclamou a moça.
Armando olhou o sapato e não disse nada. Ela e ele seguiram o mesmo caminho. Em instante Armando indagou se ela trabalhava pela redondeza. E a moça disse que sim.
--- No Cartório. Logo ali. – sorriu a moça para Armando.
--- Bom. – relatou Armando enquanto acompanhava a moça.
--- Seu nome é?  - indagou a moça procurando saber mais alguma coisa de Armando.
--- Armando Viana. E o teu? – perguntou o rapaz.
--- Norma. – respondeu a moça sorrindo.
--- Belo nome. – respondeu Armando
--- (sorrisos da moça Norma) E em seguida indagou a Armando:
--- Mora ali na casa de aluguel? – indagou Norma.
--- É. Em um quartinho. É onde me escondo. – sorriu Armando a olhar as pessoas que iam e vinham do Mercado
A moça sorriu contente. E logo depois respondeu.
--- Eu moro mais abaixo, nessa mesma rua. Rua da Palha. – respondeu Norma já chegando ao Cartório onde a moça trabalhava.
--- Eu moro próximo ao seu Cartório, mas trabalho um pouco mais longe. Tem um escritório da Rua Visconde do Uruguai, no Bairro da Ribeira. É onde eu costumo trabalhar. Está aqui o meu endereço. Se você precisar é só ligar. Eu estando, atendo. – falou Armando Viana a Norma.
Norma se sentiu lisonjeada com a espontaneidade de Armando e muito agradeceu pelo que o rapaz prestou. Delicadamente Norma se despediu de Armando, pois já estava um pouco atrasada para o serviço e esse fez os seus agradecimentos normais. Em seguida, o rapaz tomou o rumo do Mercado para onde teria que ir tomar o seu café, papear com os conhecidos e depois rumar para o escritório da Rua Visconde do Uruguai, uma das principais do Bairro. Ao procurar entrar no Mercado, Armando teve que esperar a saída de um caminhão. Esse veículo tinha levado peixes, pois o seu odor era por demais fortes. Levou um tempo para o carro sair do mercado, uma vez ter fora umas bancas de verduras e frutas. Logo o caminhão saiu, Armando entrou no Mercado tapando o nariz com um lenço para evitar sentir o mal cheiro do peixe. O Mercado estava repleto de gente àquela hora da manhã. Os talhadores de carne verde faziam um alarido infernal oferecendo a carne à freguesia. Porém tal fato não aborreceu a Armando. Ele há poucos passos da entrada do Mercado, já estava na banca de Dona Gloria onde já estava no local o fotografo Canindé. Ambos logo se cumprimentaram e Armando de imediato foi sabendo das novidades da noite.
--- Você já soube da confusão? – indagou Canindé querendo sorrir.
--- Não. Que confusão? – perguntou Armando a Canindé um pouco distraído.
--- O “homem” já deve ter viajado para o interior. – arrematou o fotógrafo.
--- Homem? Quem homem? O Governador? – perguntou surpreso Armando.
--- Teu homem. Você não assim com ele? – sorriu Canindé para Armando
--- Frescura. Porra. Diz logo o que houve. – se enfezou Armando para o fotógrafo.
--- Sei não. Garcia foi quem me disse. – falou Canindé para o repórter.
--- Garcia do rádio? Confusão? – falou bastante alarmado o repórter.
--- É. É confusão de morte. Tem gente ferida. Sei não. Você vai? – perguntou Canindé.
--- Vai pra onde? E eu sei lá onde fica? Onde foi a confusão? – quis saber Armando.
--- Em Sertânia. Vamos?? – sorriu Canindé.
--- Que mentira. Sertão que nada. Se fosse briga todos já sabiam! – reclamou Armando.
--- Pois tá certo. Já não está mais aqui quem disse! – argumentou Canindé ajeitando o malote de filmes que trazia no ombro.
---  Verdade mesmo? – reclamou Armando.
--- Garcia é quem sabe! – disse mais uma vez Canindé.

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