sábado, 26 de fevereiro de 2011

DESEJO - 02 -

- Simone Spaladore -
- 02 -
Tão logo tomou o café da manhã, Armando Viana e José Canindé zarpou direto para o Palácio do Governo a procura de informações recentes. Armando procurou falar com o Secretário de Imprensa e esse não estava no seu Gabinete. Ao perguntar a um repórter que batia noticias, ele teve como resposta:
--- Não sei! Ele não está no escritório dele, não? – respondeu sorrindo o repórter.
--- Vamos saber se o Governador já seguiu viajem! Vou ao Gabinete do Adjunto. – resolveu Armando ao se voltar para o fotografo.
--- Já foi. Logo cedinho da manhã. Não estou dizendo? Agora se você não acredita, então, pois! – respondeu Canindé com a sacola no ombro.
--- Posso perguntar, posso? Ora! – respondeu malcriado Armando Viana e então subiu para o Gabinete do Adjunto.
--- Pode. Pode o que você quiser. Eu não digo mais nada. – respondeu Canindé de cara feio, um tanto aborrecido.
O fotógrafo perambulou pela sala da entrada do Palácio, suando bastante e enxugando a testa com o dedo indicador da mão direita. De vez por outra ajeitava do seu jeito o saco com o material fotográfico e argumentava algo só para ele.  Na rua, o transeunte passava. E os funcionários do Palácio começavam a chegar um a um, como se tudo o que estava em seus birôs pudessem esperar. Um Guarda que estava de sentinela na porta principal continuava ali de formas a não conversar com ninguém. O sol batia de frente em seu rosto e o guarda militar suava por todos os poros. E mesmo assim continuava firme em sua posição solitária. Canindé ia e voltava pelo interior do salão, olhando as salas quase vazias e os poucos funcionários que já estavam em seus lugares. Ele pensou até em buscar sua máquina de filmar em sua casa, pois seria melhor ter um documentário em dezesseis milímetros para um caso qualquer no futuro. Nesse momento Armando retornou do primeiro andar do Palácio dizendo não ter noticia alguma nem mesmo do Secretário Adjunto. No local só encontrou o rapaz da limpeza.
--- Nessa merda ninguém trabalha! – resmungou Armando com muita ira.
--- É verdade. Está se vendo! Pudera! Com esse vencimento! – respondeu Canindé querendo dizer que nem Armando trabalhava.
--- É comigo isso, é? – indagou com raiva Armando ao fotógrafo.
--- Não! Você trabalha! Não está vendo? – preconizou Canindé para Armando e sorriu ainda.
--- Vai pra bosta. Onde está Garcia? – perguntou irado o repórter.
--- Sei não. Deve estar ouvindo o rádio. – respondeu Canindé em desprezo.
--- Eu vou lá. – argumentou Armando seguindo para o pátio de trás do Palácio.
Canindé procurou uma cadeira para se sentar enquanto Armando corria para o setor de rádio.
Enquanto esperava Armando, o fotógrafo teve uma conversa com um rapaz do Palácio. O jovem entrou naquele tempo e foi logo dizendo que o Governador tinha saído às cinco horas da manhã para a região sertaneja na cidade de Sertânia, pois o rapaz teve que chegar bem cedo para por combustível no veículo do Governo. Ele disse ainda:
--- O governador e dois secretários. Tá uma confusão da peste. É gente armada para todo canto. Até falaram em tiroteios. Sei não. Tá russa a situação. – argumentou o rapaz.
--- Garcia me falou dessa confusão. E o Governador foi fazer o que? – perguntou Canindé.
--- Foi pra lá tranqüilizar a turma. Ou se não ele decreta intervenção. – explicou o moço  
--- Como é teu nome? – indagou Canindé.
--- Jurandir. Não me conhece? – reclamou Jurandir.,
--- Conheço. Até demais. Porém a cabeça é que me falha. – sorriu Canindé ao responder.
--- Tão moço e já está assim? – indagou Jurandir a sorrir.
E Canindé também sorriu acabrunhado. Na verdade ele não sabia o nome do moço. E tinha visto algumas vezes a fazer limpeza do carro do Governador. Então, Canindé baixou a cabeça e sacudiu o pé direito para frente e para trás a espera do repórter. Armando estava a demorar no gabinete de rádio onde trabalhava o Sargento Garcia. Somente após um bom pedaço é que Armando chegou. Ali, ele se encontrou com o moço Jurandir e deu apenas um bom dia. De repente Armando chamou Canindé para seguir viagem no carro de Giba, pois seria o meio mais fácil de chegar a Sertânia, na região quase árida do Estado, muito embora se dissesse que era sertão.
--- É longe pra burro. – reclamou Armando.
--- E eu tenho que passar em casa para pegar minha máquina de filmagem. – respondeu Canindé a contra gosto.
--- E você não tem aí na bolsa? – quis saber Armando de um modo de repente.
--- Tenho não.  Só tenho as máquinas e filmes. É  bom levar a máquina de filmagem. – relatou o fotógrafo limpando o suor da testa.
--- Vamos embora. O Governador já está na fazenda. – relatou o repórter.
--- E é fazenda? Virgem! – reclamou Canindé.
--- Mais na frente à gente se informa. – relatou Armando acertando seu relógio de pulso.
Armando Viana era um homem de boa estatura, mãos firmes, punhos fortes, braços grossos, físico atlético, pele clara, olhos verdes, cabelos crespos, mais parecendo um francês ou mesmo alemão. Na verdade, Armando nasceu no interior do Estado e, com o passar do tempo, veio morar na capital. E na cidade se formou em jornalismo, ofício que lhe rendia um bom dinheiro. Por seu tino profissional, Armando trabalhava para o jornal “A Imprensa”, da capital, tinha apoio do Governo do Estado e ainda era correspondente de jornal do sul do país. E na cidade ele vivia só, morando em um kitnet. Para lavar suas roupas, ele contratou os serviços de uma mulher. Tal mulher passava duas vezes por semana em seu kitnet. Ela pegava a roupa suja e deixava logo a roupa limpa. Seu nome era Dona Macrina. Não raro a senhora chegava ao kitnet de Armando acompanhada por uma filha de nome Alice. A mocinha sempre estava a conduzir as trochas de roupas na cabeça. As de Armando e as de outras pessoas. A chave da porta do kitnet, ela apanhava e deixava em baixo do tapete posto na frente da porta de entrada. Armando não temia ladrões por que esse tipo de pessoa era muito raro ficar nas casas de gente que eles chamavam da “alta” sociedade. No entanto, Armando não era nem da alta e nem da baixa sociedade. Era ele tão somente um trabalhador de imprensa.
Naquela hora de pegar o carro de Giba, ele nada falou. Apenas entrou no carro e perguntou ao fotógrafo onde era que Canindé morava. E esse respondeu:
--- Você não sabe! – respondeu em troco um tanto abusado o fotógrafo.
Por tanto, o rapaz pediu a Giba, o motorista, que passasse na casa de José Canindé e depois seguisse pelo canto mais rápido ao município de Sertânia onde deveria estar havendo reunião do Governador do Estado com seus principais líderes da região. O homem obedeceu embora tenha dito na oportunidade:
--- Longe! – relatou Giba calculando o tempo e o colocar de combustível no veículo.
--- É longe mesmo. Mas o escritório é quem paga. Eu tiro dinheiro para tal. – relatou Armando.
--- Eu acho que vou encher o tanque na saída. – fez ver Giba, ele preocupado com o percurso da capital a Sertânia.
E assim, fez. E bem antes da casa de Canindé o motorista procurou mandar encher o tanque de combustível, examinar o óleo, calibrar os pneus, por água no radiador e algo mais que fosse necessário. Nesse momento, Armando desceu do carro e procurou uma bodega para tomar um pouco de água. E não tendo água, guaraná quebrava o galho. O rapaz ainda estava de barriga cheia do café e da tapioca que comera no mercado da Cidade. Ele olhou para o tempo. Com certo receio Armando notou a presença de nuvens para a capital. Mesmo assim, não fez qualquer menção em voltar. Elas eram nuvens talvez de chuva rápida e logo passava. O homem Giba examinava tudo o que o rapaz do posto fazia e Canindé caminhou para a bodega e lá chegando não pediu coisa alguma. Apenas olhou para o céu  e relatou:
--- Vai chover. Meu pescoço está doendo! – confessou Canindé estremecido.
---  Que o pescoço tem com a chuva? – indagou Armando desconfiado.
--- Acho que nada. Mas sempre que chove meu pescoço dói. – respondeu Canindé inquieto com o seu pescoço.
--- Besteira mais besta do mundo. – falou Armando reprovando o que Canindé relatou.
--- É verdade. Então pronto. Acredite se quiser. – retrucou o fotógrafo.

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