terça-feira, 11 de outubro de 2011

ANA LUNA - 12 -

- Liv Tyler -
- 12 -
O casal de amigos, então já namorados certa vez, principiou a conversa de forma sempre cordial e solícita. Sabugo e Guacira foram namorados em terras de Pilar no Estado vizinho onde ambos fizeram por demais peripécias. Ela atirando com revolver ou Winchester, rifle de repetição do qual a moça era um esmero. Sabugo tinha seus truques para o combate sem precisar de armas de fogo. Mesmo assim, quando precisava ele também sabia atirar. Às vezes. Às vezes. Porém sua disposição era por arma branca que não fazia ruído algum. Não acertar no alvo era coisa rara. Sempre ele pegava o inimigo pelas costa ou de modo desprevenido. Chamava-o para um duelo e o opressor notava que ele não possuía arma alguma. Esse era o engano. No momento em que o antagonista não mais esperava, o inimigo estava travado por um punhal ou canivete. Assim era a dupla que fazia nome no interior do sertão de Pilar. Os dois estiveram unidos por certo tempo até que depois se apartaram e seguiram cada um para seu lado. Não havia ninguém que pudesse ver Guacira conduzir um Winchester arma perigosa para o sertão bravio. Tinha-se Winchester quem comprava ou roubava durante combate com tropas bem armadas. Vencido em combate o inimigo, os guerrilheiros recolhiam seus armamentos e os levavam consigo para matar outros inimigos quando esses aparecessem. No caso de Guacira, ela estava pronta para um combate em qualquer tempo, em qualquer hora. O fato era que ninguém dava uma pataca pela adversária ao ponto de menosprezá-la. Era o engano fatal. No ponto em que era desafiada, ela se armava e detonava a arma que tinha consigo. Foi isso que fez que ambos se apaixonassem um pelo outro e vivessem momentos de amor, tensão e felicidade, às vezes em plena floresta.
Guacira era alva, porte médio mais para baixo, figura esguia, cabelos loiros, olhos azuis e tudo mais que impressionava em uma mulher de vinte e dois anos. Seus pais foram mortos por um bando de ladrões que costumavam assaltar fazendas da região. Desse modo, Guacira ficou só aos dezessete anos. Se ela, nesse tempo sabia manejar arma, daí por diante foi de maior coragem acertando em tudo cuja presença aparecesse. Criada por avôs paternos após o incidente devastador, Guacira armou-se até os dentes para vigar os matadores de seus pais camponeses e criadores de gado. Aprendeu mais a lutar com o próprio avô, homem de fibra, seguro do gatilho que fez da neta a sua herdeira principal apesar de ter mais filhos e netos. E assim Guacira se fez mulher. Na luta contra os Jacintos ela foi firme. E desde esse tempo, com dezenove anos, Guacira foi descoberta por um magistrado de que passou a ser sua fiel confidente ao lado de Sebastião Sabugo, homem destemido que mesmo usando armas de fogo preferia fazer uso de armas brancas. Assim foi que os dois se conheceram e por certo tampo tiveram amor.
--- Que faz por aqui? – perguntou Sabugo despreocupado.
--- Vou à casa de uma amiga. – sorriu Guacira.
--- Amiga? – desconfiou de certo modo Sabugo.
--- É. Amiga. Por quê? – sorriu ainda mais Guacira.
--- Estranho. Se fosse amigo, ainda bem. – comentou Sabugo querendo forçar a jovem a falar.
--- Amiga ou amigo são tudo a mesma coisa. – sorriu Guacira tentando se desviar do olhar do jovem.
--- Depende. Depende de que for o amigo ou a amiga. Se por acaso for um amigo, eu até posso dizer que um dos seus “amigos” está de saída da cidade. – explicou o rapaz.
Nesse instante o sacerdote saiu da igreja levando sua carroça em direção a casa do Juiz Mardoqueu Ramos como Sebastião Sabugo havia comentado de modo em sigilo com o monsenhor Bento. Para o rapaz ali havia uma vitória. Afinal o sacerdote entendera o apelo de Sabugo. Agora, esse devia caminhar depressa para a Casa Grande do coronel e explicar o que estava a acontecer. Uma vez tendo a sua frente à figura de Guacira, pediu que a moça fizesse caminho com ele até onde Sabugo teria que chegar.
--- No caminho eu te explico. Pega as tuas rédeas e caminha comigo. - relatou Sabugo.
Em direção à Casa Grande Sabugo comentou que o “amigo” da moça estava a caminho da fazenda. Ele nem ouviu as explicações da moça a respeito do convite que lhe fizera o Juiz Mardoqueu Ramos, pois bem sabia que a bela jovem estava ali para uma missão salvadora: a de proteger o Juiz. Com relação a outras amizades que porventura o Juiz Mardoqueu tivesse como é o caso do Barão de Itabira, isso era um problema menor, isso por que uma vez homiziado na Casa Grande o Magistrado teria que escolher entre uma amizade ou outra. Isso se fosse o caso que o Juiz tinha a proteção do Barão o que era bem difícil de explicar naquele momento.
E foi assim que Sabugo começou a conversa com Guacira, jovem moça do alto sertão. E a jovem também disse que estava ali a convite do Juiz para fazer de conta que era a sua governanta. E se fosse preciso, detonar a arma que ela sempre trazia coberta na cintura e que a salvou de outros assaltos que enfrentara. Era esse o plano do Juiz e era essa a missão que tinha de enfrentar a meiga jovem pura e bela. Sempre jovial Guacira vestia uma saia ranchada, às vezes uma calça comprida apertada, botas no meio da perna e uma capa que lhe cobria todo o corpo. Esse era o traje da sensual bela mulher seguindo a tradição espanhola de quem seguia o gado. E foi assim de modo atraente que Guacira e Sabugo seguiram contentes até chegar ao rancho do coronel Ezequiel Torres, o rancho Maxixe ou Fazenda Maxixe. Quando ambos chegaram bem antes do Padre Bento, Sabugo contou do que houve na casa do seu Juiz Mardoqueu. Apesar de não haver perfeita simpatia por parte do coronel, Sabugo disse que, de qualquer modo recomendou ao Juiz vir para a Fazenda Maxixe, pois de qualquer forma o coronel podia estar de olho em que o Juiz fazia, com certeza. Claro que esse tópico Sabugo não falou como ele mesmo disse.
--- Fez bem. Fez bem. Aqui a gente se ajeita. E que é essa moça tão bela? – perguntou o coronel Torres.
--- É minha noiva, coronel. Ela disse que estava esperando até demais por mim. Então veio me buscar. – relatou Sabugo com olhos abertos.
--- Ela veio te buscar? – perguntou o coronel atônito.
--- Bem. Eu disse a ela que eu estava trabalhando para o senhor e ela duvidou. – respondeu Sabugo querendo apaziguar os ânimos do coronel.
--- Ah bom. Agora ela tem a certeza. Moça bela o que você faz? – perguntou o coronel
--- Cuido de casa, apenas. E faço tratamento em vacas e gente que se acidenta. – falou Guacira mentindo por demais.
--- Isso é bom. Porque a senhora pode cuidar de uma visita que está para chegar a nossa casa, certamente. – respondeu o coronel animado.
--- Posso sim, senhor. Se a visita quiser e tiver passando mal. – sorriu a moça.
--- Isso é bom saber. Ótimo. Aqui só têm vaqueiros. Não servem para coisas mais graves. É bom saber que tem a senhora. E por favor, pergunte ao feitor qual a casa que você pode morar. Aqui têm muitas. Qualquer uma dessas serve. – apontou o coronel Ezequiel para as casas que havia ao longo do rancho.
Com pouco tempo o Monsenhor Bento chegou a sua charrete puxada a dois cavalos trazendo consigo o Juiz de Direito Mardoqueu Ramos, ainda sofrendo dores terríveis por causa dos disparos feitos pelo bandido Joca de Mundica que saiu gravemente ferido no confronto e foi morto por outros bandidos no meio do caminho quando fugia. O vigário desceu da charrete e disse apenas:
--- Ave Maria. Deus me perdoe. Essa vida é árdua. – foi o que disse o vigário.
Tendo sido recebido pelo Coronel Torres ele cambaleou ao subir os degraus da escada que dava acesso ao alpendre da Casa Grande por causa da sua enorme gordura e majestosa altura. Então o vigário se pôs de pé de uma vez por todas. Saudou ele o coronel Torres e aos demais presentes, incluindo Sabugo e a linda moça que ele ainda desconhecia. Ao subir o batente, o vigário pediu água ao coronel e disse que fizesse um jeito de trazer o Juiz Mardoqueu para dentro da casa, pois ele reclamara o tempo todo de dores por causa dos ferimentos recebidos. O coronel Torres se prontificou em arranjar um local onde o Juiz pudesse ficar sossegado enquanto mandava quatro capangas auxiliar o magistrado no descer da carruagem. Com todo o cuidado, os capangas conduziram nos braços o Juiz para dentro da casa.

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