sábado, 22 de outubro de 2011

ANA LUNA - 23 -

- Judy Garland -
- 23 -
Após amplas risadas da moça Luna, ela voltou se comportar como devia estar. O nome Temístocles pode soar estranho para a mocinha, pois na época nomes eram coisas muito raras. Ao terminar de sorrir, ela voltou a perguntar ao gracioso rapaz que já fazia tanta corte como no início. Tendo dito o seu nome, o rapaz tratou de por seu cavalo em marcha, pois estava desiludido com tão jovem e esbelta criatura. Sequer quis saber do seu nome e açoitou a sua montaria. Vendo que o rapaz estava indo embora, Ana Luna se apressou em chamar para pedir desculpas, coisa rara nos seus tempos de mocinha. Temístocles aceitou o pedido feito e reclamou de como foi tratado pela moça. Afinal, Temístocles era um nome como outro qualquer.
--- Mas é porque é um nome tão estranho. Desculpe-me. – voltou a dizer Luna constrangida.
--- Está bem. Não se fala mais nisso. Pode até me chamar de outro nome qualquer. – respondeu o jovem mancebo.
--- Você não fica raiva porque eu sorri de você? – falou Luna ainda forçada.
--- Já te disse que não se fala mais em meu nome. – voltou o rapaz a dizer.
--- Meu nome é Luna. – disse a jovem moça.
--- Luna não é nome. É sobrenome. Qual o seu primeiro nome? – perguntou o rapaz reatando a amizade por um tempo rompida.
--- Na verdade é Ana. De fato. Luna é sobrenome, ou seja, lá o que for. – reclamou a moça.
--- Com certeza você é da família do coronel Ezequiel Luna. – respondeu o rapaz.
--- Sou filha dele. – proferiu a moça.
--- Ah bom. Nesse caso tenho que ir embora. Falar com você é morte certa! – contestou o rapaz.
---Espere. Não faça isso. Não posso nem conversar com você? – perguntou Luna.
--- Pode. Mas eu temo em perder a vida. – contrapôs Temístocles.
--- Chato. Você é chato mesmo. Se não quer falar, pode ir à frente. Não me importo por isso. – reclamou Luna contrariada.
--- Sei de um homem que perdeu a vida por sua causa. – orientou Temístocles.
--- Sabe que você é burro? Você não sabe de nada. Burro! – gritou a moça para o rapaz.
E Ana Luna montou em Branco, o seu cavalo, açoitou o animal, fez finca pé e passou a frente de Temístocles em carreira disparada. O rapaz não ligou para o ato da moça e seguiu vagaroso apenas a pensar.
Com pouco tempo Temístocles chegou à vila que estava toda embandeirada por todos os pontos. A luz era de candeeiro pregado nos postes encurvados para baixo no seu ponto alto. Ainda era cedo da manhã, por isso os empregados da vila não tinham acendido as lâmpadas, coisa que só aconteceria a noite, depois das seis horas. Na vila um cardume de gente festejava a cerimônia que estava para acontecer dentro de mais alguns dias. A chegar a Vila, o rapaz notou apeado o cavalo de Luna na trave de pau da municipalidade. Era o canto reservado para se amarrar cavalos e jegues. Ele passou e foi até a delegacia de polícia para entregar o recado do capitão Zenóbio Manso. Era um papel dobrado e ele tinha instruções de não abrir o envelope. Ao chegar à delegacia topou de cara com o Intendente da Vila e não disse nada a não ser os cumprimentos de quem chega.
--- Bom dia, senhor. O delegado está? – perguntou Temístocles ao Intendente Sabugo.
--- Parece que está. De que se trata? – perguntou o Intendente Sabugo desconfiado.
--- Um recado para ele. E só ele pode ler. – respondeu Temístocles de forma abusada.
--- Então espere. Ele já vem. – definiu o Intendente Sabugo de modo curioso.
Então o rapaz puxou uma cadeira e nela sentou a espera do tal delegado que se chamava Euclides Castanheira, homem que o rapaz desconhecia por completo. O Intendente Sebastião Sabugo se ausentou, entrando para a Delegacia como se fosse chamar alguém. Nesse ínterim apareceu a porta da rua a jovem Luna com um ar como se fosse de desespero. E logo perguntou a Temístocles.
--- O delegado está? – perguntou Luna não reconhecendo Temístocles.
--- Estou esperando por ele. – respondeu Temístocles tranquilamente.
--- Você é aquele que esbarrei no caminho? – perguntou Luna arrebitada.
--- Sou é mesmo, dona Luna. – disse Temístocles sem reclamar.
--- Ah sei. Aqui já prestou. Tem toda sorte de gente. – reclamou Luna de modo atrevido.
--- É uma pura verdade. Estou com a senhora. – respondeu Temístocles de forma alegre.
--- Pois volto mais tarde. – disse Luna, dando as costas como quem sairia.
--- Espere um pouco. Ele não demora. Sinhá chata! – respondeu o rapaz em cima do ato.
--- É comigo, é? É comigo, é? Rum. – a moça saiu desesperada com o insulto.
Então, Temístocles caiu na risada no instante em que o delegado Euclides chegava à sala de audiência acompanhado do Intendente Sebastião Sabugo. Logo o homem perguntou o que ele o rapaz queria.
--- Trago mensagem para o senhor de parte do capitão Zenóbio Manso. – declarou Temístocles entregando-lhe o envelope um pouco amassado.
O Delegado abriu o envelope e leu a mensagem chamando para um lado o Intendente Sabugo para que ele pudesse ler também.
--- Está entregue. Diga ao capitão Zenóbio que eu estou ciente. Pode ir. – disse o Delegado.
O rapaz, nesse ponto saiu da Delegacia e os homens que ficaram passaram a conversar em surdina sobre o que deveria ser feito. O documento era seguro nas informações. E nesse momento, entrou depressa no Distrito a filha do coronel Ezequiel a procura do Interventor Doutor Sabugo. Esse, logo se fez presente. Ela falou com o Intendente que seu pai precisava lhe falar.
--- Ótimo. Porque nós estamos indo para a fazenda nesse momento. E se quiser a senhorita pode nos acompanhar. – relatou Sabugo sorridente.
Então os três companheiros seguiram viagem para a Casa Grande sem demora. Em lá chegando o Delegado Euclides Castanheira foi logo dizendo que tinha uma mensagem para que ele tomasse conhecimento.
--- Não quer saber de mensagem alguma! – disse o coronel meio brabo.
--- É importante, coronel. Talvez mais importante do que o senhor quer saber. – relatou o delegado.
O Coronel Ezequiel olhou bem para a cara do delegado. Passou um silencio de alguns segundos e afinal o coronel foi dizendo.
--- Que mensagem é essa. Me diga. Vamos! – resmungou o coronel inquieto.
--- Esta aqui nesse envelope. – e o delegado estirou o envelope para o coronel.
O coronel Ezequiel leu a mensagem, meditou e sacudiu o papel levemente amassado em cima do birô. Perguntou a seguir.
--- Que diabo é isso? Por que você não me disse logo? Me acha com cara de adivinho? – gritou o coronel perdendo as estribeiras.
--- Se eu disse o senhor não teria creditado. Por isso mostrei a carta. – falou o delegado acanhado.
--- Que está esperando? Pegue os homens. Cinqüenta cem ou mais! – gritou o coronel.
--- Se senhor. Mande Zenon, que é quem pode conhecer o pessoal. – disse o delegado.
--- Isso é uma merda. Zenooooon! – gritou o coronel saindo do seu assento e indo para a porta do escritório.
Em instante o feitor chegou ao escritório perguntando que estava havendo para tanto grito.
--- Não está havendo nada. Mas vai haver. Reúna 150 homens. Imediato! - gritou o coronel.
--- Sim senhor. Mas pra que? – respondeu o feitor.-

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