quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O FIM DO MUNDO - 05 -

- Satomi Ishihara -
- 05 -
VENTANIA
O vento soprava com o furacão sacudindo para longe as coberturas dos edifícios e arrastando árvores como galhos secos. Postes e fiação eram arrancados pelo pé e atirados à distância com gravetos. Raios, relâmpagos e trovões se faziam sentir a cada segundo. O povo em baixo se segurava para não cair nas águas tenebrosas do dilúvio e os magazines eram destroçados para dar guarida aos flagelados da sorte. Tais magazines ficavam no andar térreo dos amplos edifícios. Após invadir esses pontos a turba incontinente subia para outros pavimentos a ficar distante das invasões das águas. O vento açoitava tudo na sua fúria demoníaca e devastadora. Gritos e lamentos se ouviam de tantas mais pessoas, todas apavoradas com a destruição tragada pelo fenômeno da inquietante tormenta. Crianças, moças e rapazes eram todos a se proteger da tragédia infausta. Nas ruas, era o caos. Um estrondo provocou surpresa entre os observadores da sena no alto do restaurante:
Vanesca:
--- Ave Maria! Que foi isso?! – gritou alarmada a moça.
Já por trás de Vanesca e Alda estava o noivo de Vanesca, o amigo de Alda e os ocupantes da suíte todos alarmados com a tempestade inusitada a cobrir toda a cidade com um turbilhão  de ruína total. Diante do alarme da jovem Otto procurou ver o estrondo alarmante e mostrou um barco sacudido no cais do porto sobe as pedras mais acima:
Otto:
--- O barco virou canga-pé! – falou o homem com maior desespero.
Casas de palafita erguidas à margem do rio ruíam como se um enorme redemoinho tivesse arrastado para o fundo das águas as precárias moradias de pescador. Crianças eram as mais aflitas por entre os escombros arrastadas pelas águas do rio. A maioria era tragada para o fundo do rio. As mães aflitas gritavam pelos filhos. Os pais caíam na água a procura de salvar as crianças. Ouviu-se uma sirene. Era o corpo de bombeiros a chegar atento em outro local do restaurante. Um ponto mais além. Um barco se notou a caminhar por entre os escombros de veículos amontoado uns sobre os outros em plena avenida. O barco era um dos mais do corpo de bombeiros. Os soldados recolhiam náufragos em plena cidade. Um cão também era visto no barco. Havia crianças entre os mais adultos abrigados de momento. Outro barco veio logo após em pleno socorro das vitimas. O mar agitado não dava trégua de nenhum momento à tragédia feita. Um pequeno rádio de pilha exposto na suíte do casal onde estava Otto e os demais anunciava um forte tremor de terra de grandes proporções no fundo do oceano ao largo da costa de onde estavam navios e barcos. Era a tragédia anunciada em cima da hora. Não se entendia mais ninguém no prédio do restaurante, pois todos estavam alarmados com o drama abatido sobre a capital. No ruge-ruge do entre e passa de gente ouvia-se de tudo, como as moças a gritar assombradas  pelos estrondos, o mar e a ventania. As paredes internas rachavam de alto à baixo do edifício onde a multidão se abrigava.
Alguém:
--- Ai mais meu Deus! Vai cair tudo! – gritava uma mulher a procurar qualquer ponto de abrigo.
O seu companheiro, verificando a péssima conservação do prédio, esboçou o mesmo sentido e pu8xou a mulher pelo braço para, em correria, livrando-se de uns e outros que estavam a passar, procurou pular de um andar para o prédio vizinho onde estava a maior segurança. A  cobertura de uma garagem voou pelos ares como folha de papel acoitada pela ventania intermitente e constante. O monte de carros se formou em torno da garagem e alguns se observaram acolhidos em árvores como se fossem brinquedos de crianças. Um guindaste virou peça de museu pela destruição sofrida pelo aguaceiro total. No mesmo momento, onda gigante se aproximava da praia com fúria mortal e todos os que puderam saíram às pressas a nado ou de outra forma para se proteger da avalanche crucial da intempérie oceânica. Navios transatlânticos subiam e desciam no mar insurrecionado tal quais gravetos a solta. Era tudo a qualquer momento. A imensa onda de água salgada chegou devastadora arruinando casas e palácios encontrados a sua frente como se fossem brincadeiras. Dezenas de pessoas foram tragadas pela onda gigante. Carros foram arrastados para o interior do oceano. Em terra, um enorme depósito de trigo ruiu completamente gerando um grande e magistral rugido. Foram mais de oito núcleos devastados pela onda gigante. Ninguém podia antever o futuro, pois a cada instante a situação era mais devastadora e intranquila. Todos queriam fugir da ameaça do tufão e cataclismo das ondas ensandecidas do mar. Gigante com sua enorme força o oceano bramia feito um louco a procura de algo para deveras consumir. E os nossos heróis, atormentados, já procuravam um novo abrigo a sair pelo alto da escada de trás enveredando para outro edifício propenso a ser mais seguro. Aos gritos de toda a gente eles formaram fila e conseguiram entrar no edifício mais atrás e seguir para frente à procura de maior segurança e proteção.  Não se ouvia palavras de conforto, pois tudo era delírio total. O rugido do temporal bramia mais forte ainda. Otto procurava distinguir algo em torno a buscar a marca da onda e pode verificar ter se abrigado em local mais tranquilo, apesar da multidão inquieta e chorosa a procurar de seus parentes e amigos. A mancha de água tempestiva passou ao largo do edifício protegendo a Otto, Vanesca, Alda Pires e Enoque. Mesmo assim, era um clima de aflição e adversidade porquanto ninguém sabia ao certo o acontecido de momento. Como fazia a onda gigante, avançando cruelmente, era igual aos quatro amigos em alvoroço procurar um local mais acolhedor e seguro. As horas passaram e não se sabia ao certo o tempo registrado no relógio ou celular. O ronco estranho fez a onda temerosa ao passar ao largo do edifício. Porém disse nada ninguém viu, talvez pela inquietação do consequente momento. Apenas se ouvia o choro lânguido das pessoas. O temor atroz deixou essas vítimas em desatino. Otto continuava a puxar pelo braço a sua noiva e essa aos demais a procura de novos locais, talvez em novos edifícios. E gritava como um louco para a sua noiva:
Otto:
--- Chega! Adiante! Passe a frente! Depressa! – gritava o homem de forma ensandecida.
E a turba frenética obedecia ao reclamo do homem aflito. Entre muita gente, Otto passou à frente pondo-se adiante e encontrando local mais confortável e seguro pondo-se então a assentar a sua desdita hora. Em baixo, a onda gigante parecia temer e retornar ao seu lugar. Ele ainda percebeu os estragos deixados pela ventania. Janelas partidas, vidraças quebradas, portas aos estragos e ainda muita gente a chorar de dor e de tragédia. Prados, vidros, panelas, talheres e até mesmo candelabros se acumulavam pelo meio do corredor do novo prédio transformado em abrigo das solitárias pessoas. Era quase meia noite e a situação não parecia se normalizar. Aturdido, ele pensou de ter chegado ao fim de enorme pesadelo. Mesmo assim, o drama apenas começava, pois seria preciso contar os dados do enorme prejuízo. Contudo, isso era assunto nem a pensar de momento. Foi tudo um sentido rápido em sua mente. A aflição desordenou todo o conteúdo da historia de Otto.
Otto:
--- Temos que andar! É bom procurar outros recintos! Esse aqui está cheio demais! – foi o que fomentou o rapaz.
E assim a turma fez a vontade de Otto. E conseguiram atravessar entre gente aflita e atingir pontos em outros prédios. Dali, então, encontrou a rua seguinte, bem mais protegidas do enorme vendaval. Mesmo assim, apenas se ouvia os lamentos das pessoas a chorar a perda de amigos, parentes e bens matérias.  Otto não deu por conta. E seguiu com Vanesca e seus acompanhantes a buscar de qualquer forma uma condução. Porém, não havia em qualquer ponto da cidade um automóvel desocupado e em transito. Todos estavam parados pelo apagão sofrido com o furacão, o vendaval e a onda gigante. Havia apenas o povo a chorar de forma incontida com lamentos d’alma.  Ao caminhar sombrio Otto chegou até a Catedral da Cidade onde havia mais gente vestido chambre ou roupas a qualquer modo. Vanesca olhou para a multidão e nada falou. Ela tremia de frio. A ventania persistia por todo canto da cidade naquela totalmente desabrigada. As portas do Templo religioso estavam abertas. Os padres, alguns franciscanos, recebiam os fies para dar-lhes guarida e amparo com expressões de bondade e paciência:
Padres:
--- Tenha calma! Tudo é passageiro! A Providência Divina acolhe aos seus filhos amados. – diziam os padres aos feridos, desnutridos e abandonados da sorte.
Otto seguiu o sacerdote em meio a toda gente e solicitou ajuda para poder chegar a sua casa um pouco distante de onde ele estava. O sacerdote apenas disse lamentar, pois não tinha meios para atender tão prestimoso pedido. Otto se ajoelhou em um canto qualquer do Templo e rezou piedoso. Os demais companheiros de jornadas e infortúnio também fizeram o mesmo a lamentar o sucedido com a morte de significado número de pessoas. Eles rezavam sem ao menos saber se havia mortes. Mesmo assim, eles rezavam premidos pelas circunstancias do  imprevisto desastre. Dezenas de peregrinos se acotovelavam no Templo a procura de maior amparo e proteção. Uns se lamentavam. Outros apenas rezavam o ato de Contrição. Velhos e crianças, mães e filhas, homens e moços. Todos estavam contritos diante do altar o Santo Homem morto há milhares de anos em proteção dos tentos mortais perambulantes. O tempo amainou com o passar das horas. O sino da Catedral marcava às cinco horas da manhã do novo sábado. Fora, estavam dezenas de pessoas perdidas ao desalento. O céu era ainda carrancudo e mordaz. Mesmo assim, sem o sol, não havia presença de temporal. Diante de tanta angustia, Otto resolveu partir, mesmo a pé, até chegar a sua moradia, um apartamento ambiente bastante conservado e aconchegante para todos os seus novos amigos. Eram mais de dez horas do dia quando os quatro amigos puseram os pés na soleira da porta.

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