- Debora Falabella -
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SILÊNCIO
Antes de sair da suíte
hospitalar o médico fez um gesto. Logo a noiva entendeu. Ele preparava uma
injeção para aplicar na veia de Otto. E fez. Era um tranquilizante. A
enfermeira lhe passou a tabuleta com o modo em que estava o paciente. A
enfermeira não falou. Mas Vanesca compreendeu ser um calmante ou coisa do igual
valor. Logo após a aplicação o medico Fonseca se dirigiu a Vanesca e disse
ter feito a Otto um medicamento para
tranquilizar.
Médico:
--- Talvez ele durma por
algumas horas. Depois eu volto. Obrigado. – falou Fonseca a Vanesca e logo saiu advertindo a enfermeira
ter ela a ficar na suíte até chegar nova
enfermeira.
E foi com isso com certeza
que ele saiu da sala. Os maqueiros olharam para o medico e nada perguntaram.
Eles saíram também. A enfermeira verificou de novo o paciente e saiu para se
sentar. Vanesca indagou se a enfermeira estava ali por acaso ou se na verdade
era funcionária do Hospital.
Vanesca:
--- A senhora está aqui por
acaso ou é enfermeira do hospital? – indagou a moça.
Enfermeira.
--- Sou da Cruz Vermelha. –
falou a enfermeira colocando seus petrechos na bolsa.
Vanesca:
--- Ah. Muito obrigado. Eu
também estou prestando assistência a Cruz Vermelha. Ele também. Foi um desmaio
que Otto teve. Então eu pedi ajuda. O rapaz trouxe Otto. Muita gente aqui.
Nunca pensei. – falou a moça a toda pressa.
Enfermeira:
--- Isso é normal. Tem casos
mais graves entre os enfermos. Cólera, principalmente. – falou a enfermeira.
Vanesca:
--- Ave Maria. Cólera? –
indagou surpresa a moça.
Enfermeira:
--- Desnutrição. Isso é o
que tem. – voltou a falar a enfermeira.
O assunto parou por um
instante. Nesse espaço o médico entrou na companhia de uma freira. E deu
liberdade a outra Enfermeira. Ao se voltar para a Freira logo lhe disse:
Médico:
--- Esse caso é meu. Não
entra mais ninguém aqui. A senhora fica por um período. Depois nós acertaremos.
– relatou o medico a Freira.
A enfermeira fez um sinal de
ter entendido, como se falasse. – Sim senhor! – e calou. O médico voltou a
verificar Otto e logo saiu. Após o médico sair a Freira foi até o canto onde
estava a dormir o rapaz. O olhou bem e disse:
Freira:
--- Dorme. – e em silêncio
voltou para a sua poltrona a passar a ler uma revista católica.
Vanesca ficou calada por
breves instantes. E depois voltou a falar. A Freira fez um aviso para Vanesca
não fazer barulho. A moça entendeu. Mas mesmo assim, perguntou:
Vanesca:
--- A senhora e Freira? –
indagou a moça com cautela.
Freira:
--- Noviça. Mas tenho curso
de enfermagem. – sorriu apenas com os lábios a Noviça.
Vanesca:
--- Ah bom. Estou mais
tranquila. Ele é meu noivo. – falou em murmúrio a moça.
A Noviça sorriu e calou.
Vanesca parou alguns minutos e voltou a falar em sussurro para a Irmã Noviça
quase de supetão.
Vanesca:
--- Qual é teu nome, por
favor? – indagou a moça.
Noviça:
--- Cecília. É o meu nome. –
respondeu a Noviça sem pestanejar.
Vanesca:
--- Ah bom. Cecília. A
Padroeira da Música. Latim. – sorriu a moça.
A Noviça apenas sorriu e não
tirou a vista da leitura da sua revista. Nesse instante, Vanesca se levantou da
poltrona onde estava e saiu, devagar, para o outro canto da sala onde fez uma
ligação com o seu celular para a casa de Otto. Quem atendeu foi Eleanor, a
solteira das três irmãs. Vanesca contou tudo o que houve, mas dizendo ter
naquele ponto o médico verificado a condição de Otto e ele estava positivamente
bem. Ao perguntar se podiam receber visitas, Eleanor teve a resposta não muito
feliz.
Vanesca:
--- Eu vou perguntar ao
medico. Quando ele voltar para a visita. Então eu digo a vocês. – disse a moça
com bastante cuidado.
Quando Vanesca ligava o
celular para a sua cunhada, e a mãe de Otto se aproximava, então entrou no
quarto do rapaz o medico Dr. Fonseca todo atribulado. Em sua companhia veio
outro médico, Dr. Melo. Eles – os dois – confabularam e logo a seguir entraram
dois auxiliares portando uma maca. Os assistentes ficaram parados. A Irmã
Cecilia se aproximou do medico e ficou a escutar a conversa. Nesse ponto,
Vanesca pediu licença a sua cunhada e se voltou com pressa para os médicos. Dos
dois a moça não ouviu uma palavra. Os maqueiros seguiram para a cama de Otto e
desataram a bolsa de soro. Logo a seguir puseram Otto na maca e então os dois
atendentes ficaram a esperar. Os médicos ainda confabularam. Em seguida o Dr.
Fonseca relatou a Vanesca ter de ir com o paciente para fazer uma tomografia
computadorizada.
Vanesca:
--- Que? Tumor? – falou a
moça espantada e quase empalidecida.
Médico.
--- Exames. – e voltou a
relatar o médico. E deu ordem para os maqueiros seguirem.
Os maqueiros obedeceram e a
enfermeira Cecília seguiu com os dois rapazes. Quanto aos médicos esses
voltaram pelo mesmo corredor. Vanesca ficou perplexa. Ela queria seguir também
com os ajudantes hospitalares. Mas a conversa do médico não consentia tal
motivo. De imediato um torpor tomou conta de Vanesca e a moça, quase ao desmaio
procurou se sentar na poltrona onde estaria a esperar o fim daquele drama. Ela
procurou telefonar para Eleanor. Na certa contaria tudo o que houve. Mas
relutou um pouco e deixou cair seu celular. Ao passar alguns minutos fez
ligação para a Fazenda. Ela queria falar com alguém. O celular não deu linha.
Vanesca se perturbou. E gritou a baixa voz:
Vanesca:
--- Merda! Merda! Merda! – e
ficou alheia ao tempo.
Na entrada do hospital, as
barracas estavam armadas. Um vai-e-vem de pessoas para serem atendidas. Era
muita gente, ao se olhar do alto do edifício do Hospital. Um enxame. Mas
pareciam vespas a penetrar em uma colmeia. Num dado instante, houve um
incidente. Uma mulher a gritar desvairada e apontar para um maqueiro. Nesse
ponto Vanesca estava na janela da suíte. A multidão procurava agarrar a mulher.
Porém sem êxito. Em determinado instante a mulher agarrou de uma garrafa e
sacudiu contra o maqueiro. Esse já estava distante. A garrafa não o atingiu. A
mulher gritava aos brados. A polícia chegou ao local. A mulher apontava para a
tenda. A polícia segurava a mulher. Um verdadeiro inferno se formou entre o
aglomerado de gente. Muita gente mesmo. A mulher tentou escapar e um policial
deu um canga-pé. A mulher caiu ao solo e houve uma celeuma. As pessoas gritavam
a todo custo para a polícia. E mostravam ao que parece uma vítima. Vanesca
ficou impressionada com a real situação. De momento, a mulher foi presa em um
camburão. Na barraca, s homens procuravam acudir um doente ou morto. Vanesca se
apoiou na janela. E evitou em chamar a segurança do hospital.
Vanesca:
--- Nessa Senhora! Que coisa
horrível! – falou a moça diante do desespero das pessoas.
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