domingo, 4 de dezembro de 2011

CREPÚSCULO - 33 -

- Thayza Queiroz -
- 33 -
SECRETÁRIOS
Na quinta feira daquela mesma semana, Marina Martins de Barros caminhou em seu próprio veículo para a capital do Estado, onde fora convidada a participar de uma reunião de Secretários de Educação dos Municípios em o Novo Hotel, onde havia auditório preparado para esses estilos de convenções. O local era nobre e, para uma porção de gente, aquele Hotel se mostrava suntuoso e bem ornado. Alguns Secretários ficaram de boca aberta de ver tanta riqueza e luxo. Para a jovem Marina aquele orgulho para os pobres não era tão ostentoso assim. Apenas era um hotel a beira mar com um ar cálido durante o dia, porem constante a vida toda. Ela olhou para o mar calmo àquela hora do dia e veio-lhe a lembrança de passeios feitos em transatlânticos quando mais jovem, junto ao pai. Na primeira viagem de excursão, a mais lembrada, ele sentiu a estranha vontade de vomitar quando o navio já estava em alto mar. E nem chegou a sair da sua cabine, pois foi mesmo naquele recanto que a moça fez a vez de vomitar. Ela sentia o navio a balançar para um lado e para outro. A jovem de menor idade com a cabeça mareada olhava tudo esquisito naquela  cabine parecendo um estranho mundo. No inicio antes da viagem, tudo era as mil maravilhas: o check-in era coisa do seu pai a fazer; documentos de viagem:
--- Você esta com a identidade? – perguntava o pai a sua filha.
--- Lá dento! – dizia a filha sorrindo com a cara sem vergonha.
--- Vá buscar. Depressa! – dizia o pai Orlando.
A mocinha fez uma cara de mau criada e foi buscar sua identidade. Foi e quase não voltou, desarrumado a bagagem por completo como se não encontrasse o documento.
--- Não joguei aqui? – dizia Marina a procurar a identidade.
Logo que encontro pegou o documento e colocou ao peito com a mão trancada e voltou correndo.
Ao entregar documento ao seu pai, Marina fez um sorriso travesso. E logo o sorriso se foi.
Ao estar na varanda do hotel àquela hora, a moça se lembrou disso tudo. E a viagem? O seu pai recebeu um cartão Cruise Card com o seu nome e numero da cabine. Esse cartão seria utilizado para todo o consumo a bordo. Quando os dois – pai e filha – já estavam embarcados tinha de posse a mala de mão com os trajes de banho. A menina travessa era toda contente. Quando Marina foi para a sua cabine já trajava roupas leves. E foi nesse caso que a moça desandou. Com o navio já ao mar, ela sentiu uma fraqueza nas pernas, a cabine a desandar e a vontade louca de vomitar. E foi o que fez. Todo o vestido estava sujo de vomito. A mocinha a chorar. O seu pai a acalentar. A corrida ao medico de bordo a levar Marina em os próprios braços; a indicação do medicamento; choros e lágrimas da moça. Após uma hora Marina já estava em forma a saltitar e contente.
Com esses pensamentos atrozes, Marina, da ponta da varanda, via um navio, talvez transatlântico, bem ao longe a navegar solitário. E o acaso se fez presente em toda sua dimensão. E Marina ficou a admirar o transatlântico ao singrar o mar bravio e doce encanto como as aves ao pousar distantes na parte alta da embarcação. Por certos momentos Marina viu seu destino naquela embarcação. Rapazes lindos. Ela os olhava sem jeito. Se algum deles se aproximava, era por bem Marina entrar na cabine, pois não saberia o que falar com alguém estranho. E o seu pai era o seu guardião em todos os dissabores da vida.
A reunião começara com o palco lotado de pessoas. O homem ao que parecia distinto se fazia  ouvir a conferência da manhã O palestrante era um homem de certo modo barrigudo; óculos a cair no nariz; traje em azul marinho; o jeito de fazer um gesto na cabeça e a torcer o pescoço. Ela sorriu com aquele homem exercendo um aspecto mais de jegue do que de gente. Uma secretária do interior também presente ao ouvir o falatório, findou por sorrir.
--- Que homem feio! – relatou a mulher ao falar em surdina ao ouvido de Marina.
Um homem magro, penso de um lado, com os pés trôpegos, sem paletó, a cabeça quase careca, saiu do auditório e fora fumar cigarro do lado no exterior do recinto quase fechado.
--- Esse se esqueceu de trazer a bunda! – disse Marina a sua colega de auditório.
Isso foi o suficiente para a outra possível secretária gargalhar intensamente por inteiro. Era que o homem não tinha glúteo.  O gargalhar da secretária chamou a atenção de que sentava por perto e olhou com ar sombrio para ver o que fizera a mulher sorrir ruidosamente. Nesse ponto, Marina se recolhe para não por demais atenção a quem mais olhasse. O homem do palco parou por um momento de falar e olhou para frente onde estava a plateia, observando de relance, mesmo por cima dos óculos de lentes próprias para enxergar ao longe. E não percebeu quem estava à gargalhada por mais que tentasse observar. O homem do palco, gordo até, pigarreou incessante e voltou a ler o seu aparente discurso. Dessa vez ele estava mais a observar a plateia. Alguém do palco o chamou por precaução e de forma aparente disse-lhe algo o que fez o homem ficar mais tranquilo. Mesmo assim, o orador do momento não deixava de olhar por cima dos óculos a plateia mais tranquila. No decorrer da palestra alguém no espaço de fileiras de cadeiras. Foi algo sutil, porém perverso. O mau cheiro dominou todo o ambiente. Alguém que estava mais próximo do mau cheiro se levantou e saiu às pressas. Outras pessoas colocaram o lenço no nariz tapando de vez. E nesse momento alguém gritou a plenos pulmões.
--- Está podre! – gritava alguém da bancada mais próxima ao fétido odor.
O riso saiu por completo de toda a plateia em pleno anarquismo. E todos de arranjaram em sair às pressas para fora do recinto. Uns empurrando os outros. E ninguém pensou ter sido o mau cheiro provocado por algum fiapo. Somente de evacuarem o salão é que um dos zeladores procurando o que determinava o forte odor é que encontrou o fiapo de cordão a queimar e, já com todo o povo fora, ele mostrou ao homem sisudo do palco o que fora o resultado daquela desordem.  E dessa vez não adiantou bater a campainha pôs ninguém se aventurou em voltar para o salão e ouvir a conferência do homem gordo e de óculo com armação em forma de casco de tartaruga. Era um sorriso total das pessoas. O homem sem nádegas também estava presente à confusão que reinou no auditório. Ele não sentiu efeito algum do mau cheiro inalante. E com certeza, Marina, quis por mais lenha na fogueira.
--- Temo pelo homem sem bunda! – relatou a moça a provável secretária de município do interior.
Foi dito e feito. A provável secretária caiu da gargalhada extasiando a todos os circunstantes ali presentes. Com isso Marina saiu de fininho e ninguém mais notou pelo Teatro a sua presença. O Teatro em seu salão de espera estava repleto de gente. Pessoal, em sua maioria, vindo do interior. Algumas pessoas já estavam acostumadas com a capital. Outras, porém estavam pela primeira vez. Para tais pessoas, era tudo novidade no meio do Novo Hotel. Essas pessoas não paravam de olhar os quadros de pintura expostos no salão ou mesmo às plantas exóticas a brotar de um jarro bem acabado. Homens do Hotel bem vestidos a passar de pressa, para um lado e para outro. As mulheres cochichavam de mansinho e apontavam os mesmo homens parecendo algo a mais não existindo nesse mundo. Alguém sorria baixo. Outro procurava saber de que. O Hotel, com sua arcada, era algo de sublime e estonteante.  De bem longe, o vento morno soprava a quase um Sol do meio dia.
No horário do almoço, quase treze horas, ouvia-se de tudo e de todos. Um dos mais alegres a falar era Manoel Pestana, homem esguio, ligeiramente inclinado para frente, aparentando os seus sessenta anos. Ele era por demais uma graça. Secretario de Educação de um município próximo a capital, ele contava histórias incríveis acontecidas no interior do Estado.
--- A mulher teve uma filha extremamente feia. Ninguém quis olhar para a recém-nascida. Era feia que fazia dó. Os pais da menina saíram de casa, e jogaram a filha no mato, sem cortar nem ao menos o seu umbigo. E o tempo passou. Quando a menina que era tão feia ao nascer completou vinte anos, se transformou em uma moça mais linda da cidade. Tão linda que agora é a prefeita do lugar. – disse Pestana sem sorrir.
Um homem atento a todo o desenrolar da historia, comentou com desprazer:
--- Ela não seria a futura governadora do Estado? – perguntou o homem bastante sério.
Não se sabe o porquê, mas afinal foi à pergunta que surtiu o maior efeito. O pessoal gargalhou de uma só vez. Talvez porque soubesse que a tal prefeita era a mais feia da historia do Estado. E Manoel Pestana não se conteve e também se pôs a sorrir.
Às catorze horas o encontro de Secretários de Educação teve a sua continuidade. E ao abrir à segunda parte do conclave a diretora de Educação do Estado fez um breve pronunciamento alertando ao pessoal não ser admissível alguém por um fiapo de cordão e acender o foguinho só para desmanchar o encontro, pois o fedor não passava de um cordão preparado para deixar um odor execrável em recinto fechado. Por isso mesmo, o fiapo era conhecido como Perfume de Gardênia.
Como sempre nesses encontros de Secretários todos os educadores se encontrar presentes, inclusive a estreante Marina sentada dessa vez em um local próximo da porta de saída. Quem a indagasse por ter se postado em um local distante das demais secretárias, ouviria com certeza essa contra proposta:
--- Quem é coxo parte cedo! – advertiria a moça apontando a porta ao lado.
Após todos esses momentos de desenfado, chegou ao fim o Encontro e para divertir o não preparado para tal fim, houve em sequencia uma demonstração com o grupo de balé municipal o que talvez tivesse sido o melhor da festa. As meninas de tenra idade dançaram ao som de uma melodia instrumental de tempos remotos acolheram os augustos aplausos da plateia. Todos ficaram ensimesmados com a maravilhosa dança das púberes mocinhas.  O máximo da festa do balé foi à apresentação de a Marcha Turca, de Mozart. Foi divinal e eloquente a passagem dessa melodia nem parecendo tão antiga. O pessoal atento ao assistir a apresentação das púberes começou a assobiar para ter mais consigo a verdadeira melodia de Wolfgang Mozart. Foi tamanha ovação que as mocinhas tiveram que voltar mais uma vez e dançar para todos os presentes a maravilhosa Marcha. Assobios, gritinhos, entre eternos pedidos para mais uma vez se apresentar o corpo de balé era tudo o que se ouvia da plateia. As púberes apenas agradeciam com tom virginal de crianças ternas. E assim, a festa terminou com o grupo de secretárias e secretários a saudar com entusiasmo ardente aquele espetáculo de fim de tarde.

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