quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

CREPÚSCULO - 37 -

- Maria Callas -
- 37 -
INICIAÇÃO
Segunda-feira, onze horas da manhã, dia quinze de dezembro. Orlando Martins estava pronto para sair da repartição onde era diretor de um determinado organismo. Nesse instante, a sua secretária Particular, Augusta Vieira, entrou no seu escritório trazendo novas correspondências. E aproveitou o ensejo para confidenciar a Orlando.
--- Alguém nos viu naquele dia no almoço da praia. – falou Augusta de forma baixa.
--- Quem foi? – perguntou o homem ao abrir uma correspondência.
--- Mulher. Ela estava acompanhada. – respondeu Augusta ainda de modo baixo.
--- Ora! Você se incomoda com isso? Deixa pra lá! – respondeu Orlando ao lera correspondência.
--- É. Também acho que sim. Apesar de a mulher ter uma língua ferina. Mas, nós dois estávamos apenas almoçando. Isso não atrapalha o teu casamento? – indagou Augusta com olhar atento.
--- Coisa nenhuma. Nós estávamos a serviço e almoçando. E a minha mulher. ....Deixa pra lá. – respondeu o homem com severidade.
Nesse momento entrou no Gabinete de Orlando Martins outra figura. Ere homem por sinal. Ele estava para responder um recado que havia recebido de outro homem. Na verdade, o rapaz, Djalma, não entendia nada do que fazia. Apenas era um curioso. Tinha a mania de mexer em tudo que estava quieto. Às vezes perguntava pela fazenda. Outras ocasiões ele estava com a cara troncha. Isso era o efeito de drogas injetáveis que Djalma aplicava em si. Quando bem não se notava, ele estava espojado em cima do birô do doutor Orlando Martins. Assim era a vida de Djalma. E quando chegou dessa vez era apenas para dar o recado. E disse, com a perna suspensa em cima do birô do chefe.
--- Tem um homem que quer falar com o senhor. – disse Djalma a folhear as cartas em cima da mesa.
--- Quem é? – indagou Orlando abrindo outro envelope de uma correspondência.
Nesse momento Augusta saiu do escritório do seu chefe. Ela abriu a porta e trancou outra vez. E Djalma olhou para onde estava Augusta e torceu o rosto sem nada dizer.
--- Mande entrar! – respondeu Orlando sem se reocupar com coisa alguma.
--- Vai comprar alpiste? – quis saber Djalma com os envelopes em suas mãos.
--- Não. Talvez. Mande entrar o homem. – disse Orlando com o rosto azedo.
--- Se quiser eu estou lá fora. – respondeu Djalma colocando as correspondências na mesa. E logo então saiu do gabinete.
Minutos após o homem ingressou no escritório de Orlando Martins tecendo breves cumprimentos. Orlando olhou em torno e logo reconheceu o afável companheiro. Era um dos quais ele já havia conhecido e, desde então fizeram ótimas amizades. No almoço do dia passado – domingo – o homem estava presente. Ele foi um dos quais inspecionaram Orlando. No momento ele estava alí em frente de Orlando a sorrir. E disse-lhe de vez.
--- Está pronto “bodinho”? – perguntou o homem, magro por sinal e a cabeça com um penteado a qualquer forma.
--- Olá colega. Estou. Hoje, eu vou mais cedo para casa. Duas horas? – indagou prazeroso o doutor Orlando.
--- Sim. Duas horas antes do ingresso. Você chegue cedo por que tem outros “bodinhos”. – comentou o homem a sorrir.
--- “Bodinho”! O que me pega é isso! Tem bode mesmo? – indagou perplexo doutor Orlando.
O homem sorriu e depois declarou.
--- Vá cedo. Quanto ao bode, você há de vê! – sorriu o homem.
Logo após os dois cavalheiros ficaram a conversar asneiras, pois nenhum sentido havia. Apenas coisas simples de qualquer servidor público. O homem, Arnaldo, era servidor da Empresa de Correios. Pouco dizia do que sabia. E Orlando era diretor de um cargo no Ministério da Agricultura. Na verdade, Orlando bem pouco perguntava também do que não sabia. Ele era agrônomo. E no seu entender tudo era de agrônomo e nada mais. Por vezes, ele havia sido convidado a participar da Loja Maçônica. Mesmo assim nunca havia aceitado. Temia muito por causa de uma história que  outro rapaz lhe contara.
--- O homem morreu em pleno salão onde havia a sessão. – dissera o seu amigo.
--- E o que fizeram? – indagou Orlando todo inquieto
--- Eles levaram o homem para o Hospital. A família nunca soube do que ele morreu na verdade. – dissera-lhe o amigo com todo o receio.
--- Ave Maria! Nossa Senhora! Foi assim? – indagou perplexo o doutor Orlando.
--- E teve outro caso! Um homem estava para entrar na Maçonaria. Já todo pronto. Então deu uma dor de barriga nele. O resultado foi tirar ele do local. E não se sabe em que deu. – disse o rapaz como de suma importância o caso do homem da dor de barriga.
Entre e outros casos fez de Orlando um temeroso em poder entrar na Loja por temor de ter também uma dor de barriga, coisa rara de lhe ocorrer. E nessa segunda-feira, ele tomou a disposição e resolveu ir. Com ou sem dor de barriga. Seja lá o que Deus quiser.
O certo foi que às seis horas da tarde o doutor Orlando Martins de Barros já estava na Loja de Perfeição Guardião do Templo. Na Loja foi recebido por um maçom e levado com outros quatro neófitos para um local reservado onde ele jamais sabia dizer, pois estava com os olhos vendados por uma tira de cor preta. Ema mesmo seis horas da tarde. Ele não se importou com a hora por ser tão cedo. Tudo indicava que havia um maçom a tomar conta dos cinco homens. Ele não sabia quais nomes teriam os seus companheiros. Tudo era escuro para Orlando por conta do lacre em sua visão. Todo trajando negro e uma camisa branca com uma gravata borboleta, Orlando apenas podia tomar um copo de água, coisa que fez duas vezes, Suava a píncaros com o seu terno todo abotoado. De qualquer modo ele sabia ser um terno atraente. Porem, quando subia os degraus dos batentes, viu logo serem todos os que estavam presentes vestidos de igual modo. Apenas tinha um de pouca altura que fazia um torce da gravata a todo instante. Isso ele viu bem antes de subir um segundo degrau quando então já estava amarrado pelos os punhos a seguir para outro local. Esse ele não sabia ao certo onde ficava. O mundo escureceu para Orlando. E tempo também.
--- Que horas? – perguntou um rapaz que estava na sala ou salão. Talvez fosse uma salinha.
--- Não tenho horas. Retiraram-me tudo! – Orlando falou sempre com os olhos vendados.
--- Demora heim? – perguntou o homem que estava a sacolejar a gola da camisa.
--- São cerca de sete horas. – disse um terceiro com os olhos cobertos.
E o tempo passou. Teve uma determinada hora que um maçom veio até eles e encaminho para outra sala. Ai então eles tiraram as ataduras dos olhos. Mas veio a recomendação de que pusessem a atadura tão logo eles terminassem o castigo.
--- Castigo? Ora porras! Estou lascado! – falou o homem de pouca estatura.
O certo é que depois de algum tempo uma porta se abriu e entro outro maçom. O homem verificou como estavam as ataduras dos olhos dos rapazes e encaminho a sair do buraco onde os cinco havia se metido. E torna a sentar. Um som surdo.
--- É o bode? – perguntou um dos cinco.
--- Parece. E ele é brabo! – disse outro querendo sorrir.
--- Esse negócio de bode. É uma merda danada! – comentou em pouca voz o doutor Orlando.
--- Deixa-o vir que o ponho a ferros. – respondeu o homem de pouca estatura.
E o tempo seguiu vagaroso. Uma turma passou por longe. Alguém chegou de mansinho até o grupo dos cinco  e perguntou a outro maçom ao que parecia.
--- Escolheram o cadáver? Esse é baixo! – disse o homem que entro se referindo a um dos profanos.
Não se ouviu resposta. Parecia serem três os que entraram. Depois os mesmo saíram da sala. Era estreito segundo pesquisou Orlando, pois da cadeira onde estava a sentar tinham poucos espaços para o outro lado. Talvez um metro ou dois. Era tudo o que podia saber. Talvez o maçom soubesse. Mas Orlando não se aventurou a perguntar.
Era um tempo e tanto já passado. Nesse momento alguém bateu com força na porta. E disse aos cinco.
--- Vamos levantar a perna da calça e tirar o paletó. – relatou o homem que chegou.
--- Puta merda. E eu fiz tudo a rigor. Agora manda desmanchar? – pensou aturdido o doutor Orlando.
Daí em diante foi tudo marcha de olhos vendados a caminhar por lugares tortuosos que eles mesmos nem podiam saber por onde andavam. Apenas os homens sérios a acompanhar os cinco profanos podiam ter conhecimento da verdade.

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