domingo, 18 de dezembro de 2011

CREPÚSCULO - 47 -

- Priscilla Lane -
- 47 -
A SERPENTE
Domingo, pela manhã. Anunnaki, como sempre estava no seu labor diário, no cimo da Serra do Monte Sagrado onde guardava a sua abençoada faina de ser o Guardião das Tumbas. Com sempre, nos últimos meses, aquela era uma manhã de sol, onde nem mesmo os pássaros canoros gorjeavam para a alegria dos próprios mortais. A calma era decorrente da falta de brisa a sacudir as esbeltas árvores. Nada havia de especial e que pudesse tirar o sossego dos influentes homens letais. Anunnaki observou dois tenentes da Força Aérea a conversar negócios de caserna. Por alguns momentos os oficiais se abanavam com tampas de caixa de sapatos. Anunnaki estranhou até de onde eles trouxeram aquelas tampas, porém em nada quis saber. Ele, apenas se deslocava para uma das tumbas onde ficaria por toda a manhã. À tarde, Anunnaki voltaria pelas três horas para ficar no trabalho até a noite chegar, por volta das seis horas. Os mosquitos a zoar era o que mais o incomodava. Em baixo da Serra ficavam as guaritas onde as duas sentinelas, cada um de cada lado. Na verdade, eram três sentinelas em cada guarda e um cabo para atender uma possível visita. Mas esse pessoal ficava em baixo, na pista de acesso ao Serrado onde ficaram terminantemente proibidas as visitas a qualquer tempo de pessoas estranhas ao serviço, principalmente civis. Apenas, o garoto Paulo aparecia nas guaritas sempre a levar refrescos e bolos para os soldados da Guarda, inclusive aos cabos. Paulo morava na casa grande era neto do velho Juca – João Tenório de Alencastro – e foi o único a ver os seres extraterrestres quando os homens estiveram na Serra para resgatar um humanoide e levar três homens da terra, sendo dois vaqueiros e um ajudante de veterinário.
Em determinado instante da vida, um dos dois tenentes, chamado de Reguete – seu verdadeiro nome era Aristolino Reguete - chamou para perto de si o Guardião das Tumbas, o civil Anunnaki. Esse voltou das Tumbas e se acercou de Reguete para ouvir, com certeza, algum pedido. E dito e feito. O tenente Reguete queria tao somente visitar uma das tumbas alí existentes. Anunnaki refletiu um pouco, pois era um caso muito especial um militar vir a pedir para visitar uma tumba dos extraterrestres ali sepultados. Aliás, nem mesmo o Comandante da Base Aérea teria a impetuosidade de exigir tal rogativa. Após alguns momentos Anunnaki respondeu.
--- Eu não tenho ordens para tal. – relatou Anunnaki querendo dizer que só os homens das estrelas poderiam aceder a tal rogo.
--- Ora não tem ordens!!! Eu estou ordenando. E tem mais! Eu quero ver aquela tumba mais ao largo! – e apontou o mausoléu mais distante que os demais.
Ora! Anunnaki sabia das tumbas e das que ofereciam maior risco, mesmo depois da primeira. E por certo, Anunnaki não teria o dever de visitar as tumbas mais ameaçadoras. Ele calou por verdadeiros instantes e, afinal perguntou ao tenente.
--- O que leva o senhor em conhecer a tal tumba? – indagou com voz branda o chefe Anunnaki.
---Ora essa! Eu não tenho nada a dizer ao senhor, seu verme! Pois abra a tumba! – falou alto o tenente Reguete com voz ativa de um tenente a dar ordens a um contingente.
Anunnaki calou. Mas ao mesmo tempo pensou não ter a missão de mostrar qualquer tumba a qualquer militar sem ordem expressa do comando. Isso se daria apenas em casos muito graves. De base nessa ordem do comando, Anunnaki falou:
--- Não tenho ordens do Comando! – disse apenas isso Anunnaki.
--- Ora não tem ordens!!! O Comando agora, aqui, sou eu! Apresse-se! – falou o tenente Reguete.
No tal caso, o tenente não tinha ordem alguma para suplantar a ordem do Comando. Porém, Anunnaki quis testar o atrevimento do tenente e fez a sua vontade.
--- Está bem. Seja como for, eu não tenho as Ordens. Porém como o senhor quer, vamos abrir a tumba. – relatou com certo temor o Guardião das Tumbas.
E Anunnaki foi seguindo com as ordens expressas do tenente até chegar à frente da tumba exigida. Ainda alí, Anunnaki teve um meio de defesa. Quando ele teria que soltaras trancas da imensa porta, de dez metros de altura por seis, lhe veio a ideia de que podia permanecer diante do portal do selo. E foi assim que Anunnaki pediu ao tenente. Ao lado, bem distante, estava o outro tenente. Esse acompanhava todo o alarido do seu amigo. Seu nome verdadeiro era Antônio Fracasso, conhecido na caserna por tenente Fracasso. O seu nome até servia para a gozação dos demais tenentes ou de alguém de patente inferior. O homem sofria com a desdita, porém não levava a serio pelo seu sobrenome.
O Guardião das Tumbas subiu a escada posta ao lado de fora com um segredo apenas por ele conhecido e partiu para o “Olho do Sol”, um símbolo existente no meio da porta. Quando ele estava a postos no triangulo do Sol, advertiu ao tenente que se afastasse da porta, pois a ninguém era dado o privilégio de ver o sol a ser aberto. Isso levou mais ao desejo de ficar em seu local o tenente Reguete e determinou:
--- Abra essa porta seu insolente! – berrou ao todo custo o tenente Reguete.
Apesar de temer o que aconteceria, Anunnaki não teve alternativa a não ser abrir o grosso pesado portão de bronze. Ao se abrir o portal, algo aconteceu. Uma pesada lufada de ar pegou o tenente Reguete e o levou para dentro da tumba. E o portal se fechou de imediato. O tenente Fracasso olhou perplexo aquele instante e nem teve tempo de dizer algo. Do alto de onde estava, acima do portal, em pé, braço cruzado sobre os peitos, alí estava Anunnaki, soberbo e altaneiro. Nenhuma palavra era ouvida de sua boca. Ele era um verdadeiro Guardião das Tumbas. Seu traje era rígido e completo. Vestia o Guardião um mando escuro cobrindo da ponta da gola aos pés. No seu parecido altar ele apenas incólume.
Do interior da tumba chegaram os gritos estarrecedores do tenente Reguete. Gritos enormes de alguém a sofrer terríveis dores. É que, ao ser puxado para dentro da Tumba, víboras de todas as espécies atacaram o homem a picotar todo o seu corpo, desde os pés até a cabeça. Eram um amontoado de víboras como se está a defender algo superior. E o tenente Reguete gritava por socorro a todo instante. Com o passar dos minutos, talvez uns cinco, o portal do Templo se abriu de imediato e uma lutada de ar empurrou para fora o corpo do tenente já sem vida. Nesse momento, um homem serpente, todo serpente, da cabeça aos pés, cauda enorme, cabeça igual a uma sucuri, pés e mãos escamadas. Era um verdadeiro monstro, desde a sua com mais de dois metros a fortaleza dos seus músculos. E com a cabeça vergada para frente, o monstro horripilante soprou uma camada de ar de forma vigorosa sobre o corpo do inerte tenente. E o deixou plantado sobre o chão maculado de folhas secas de final de verão o tenente Reguete. Logo ao longe estava o seu amigo tenente Fracasso. Em dado instante, o homem serpente se voltou contra o outro militar o soprou um jato aparentemente morno e cobriu o homem por completo o deixado cego, surdo e mudo. Por uns tempos o jato também deixou o tenente Fracasso totalmente alucinado. O homem cobra se voltou e olhou para cima vendo o Guardião das Tumbas. E nada teve a dizer. Apenas entrou na tumba e a porta foi fechada de forma instantânea. Anunnaki o Guardião da Tumba do alto do seu altar olho bem para o corpo do tenente Reguete e o viu inerte, sem vida. Nesse momento, Anunnaki sentiu orgulho de si.
Em instantes, o radio receptor tocou e Anunnaki falou vagaroso com Gafanhoto sobre o que tinha ocorrido nas Tumbas. O subtenente pediu que o aguardasse e chamaria o comando da Base Aérea para ir até o local e buscar a vitima fatal e dar a atenção ao tenente Fracasso. Foi um verdadeiro tumulto no Comande da Base com a notícia da morte de um tenente. O que dizer enfim sobre a sua morte! O coronel embarcou no jeep e se largou para o local da morte do tenente na chapada da Serra do Monte Sagrado. Ao seu lado também seguiram dois oficiais graduados e todos a discutir do que seria feito com o tenente.
--- Eu estou pensando o que é que nós vamos fazer depois dessa! – reclamou um major.  
--- Mas o tenente for morto por uma serpente? – perguntou outro oficial sem querer acreditar na história.
--- Eu previno que os senhores não digam coisa alguma! – declarou o Coronel comandante.
--- E a morte do tenente Reguete? – perguntou o major.
--- A morte foi consequência de um infarto ou coisa assim. – declarou o comandante.
Nesse momento o radiofone tocou para o comandante. Gafanhoto estava no local do acidente. E disse mais pormenores com relação a vitima fatal, o tenente Reguete. E também, a situação do que estava com vida, o tenente Fracasso. Disse Gafanhoto ter o tenente ficado doente da “bola”, ou seja, lunático. Ele, Fracasso, ficou completamente surdo, mudo, cego e demente. O Comandante disse estar seguindo a ambulância e ele além de mais dois oficiais já estavam a caminho. A ordem de prontidão foi redobrada na guarita. Soldados do Exercito e Aeronáuticas ficaram a postos. Não entrava mais ninguém, a não ser os oficiais dos dois Comandos Militares e mesmo os que estavam envolvidos  com a Guarda das Tumbas.
Apenas os miliares envolvidos com a operação tinham ordem de subir até a Serra. A ambulância embarcou o tenente Fracasso e carro fúnebre (rabecão) colocou o tenente Arselino Reguete. Os seus temerosos ocupantes tinham ordem expressa de não falar mais coisa alguma. As sirenes foram ligadas e os veículos partiram em dispara. A ambulância seguiu em direção ao Hospital da Base e o rabecão seguiu para outro departamento hospitalar onde seria feita a autopsia do corpo de Arselino Reguete para a comprovação da morte, com certeza, por acidente. O Comandante se reuniu com Gafanhoto e Anunnaki ele de outros oficiais para saber com detalhes da morte do tenente Reguete. Foi o restante da manha e a tarde completa com as declarações de Anunnaki tomada a limpo. Horas depois, já à noite, o Comando alertou para não mais permitir visitas as Tumbas.  As guardas foram redobradas e o subtenente Gafanhoto teve que voltar para o Monte Sagrado as partir do dia seguinte. Ao falar com Anunnaki, o subtenente  declarou:
--- Você fez o certo. Porém se precipitou ao obedecer à ordem do tenente Reguete. Você estava dentro do seu plano de ordem. Ele foi o desaforado. Pena ele ter morrido. Mas o homem serpente tem poderes como ninguém! – lembrou outra vez o subtenente Gafanhoto.
A noite chegou cheia de estrelas. O céu estava limpo. As corujas executavam o seu canto de morte. Enfim, todos dormiam na cidade de Panelas.

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