sábado, 10 de dezembro de 2011

CREPÚSCULO - 39 -

- Helena Bonham -
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A FESTA
Após a Iniciação dos Profanos na Loja de Perfeição Guarda do Templo houve a festa patrocinada pela agremiação maçônica. Quando Orlando Martins voltou ao salão da comemoração já encontrou além de todos os familiares dos novos e antigos maçons, a sua família composta por dona Laura, que todos os maçons a chamavam de “cunhada” e as suas duas filhas Amanda, a pequena, e Marina, a Secretária de Educação do Município de Panelas. Esse, os maçons as chamavam de “sobrinhas”. Orlando Martins de Barros não entendeu bem a razão daquele trato. Um maçom lhe confidenciou era porque daquela data em diante ele era um Irmão. Portanto sua esposa era a “cunhada” e as filhas seriam chamadas de “sobrinhas”. Foi então que Orlando entendeu a razão. Mas nesse momento tudo era festa. Uma algazarra e tanto era formada no interior da Loja Maçônica. Um garçom servia de tudo aos convivas enquanto as meninas menores brincavam a valer sem se importar com os comes e bebes. O dia já era dezesseis, pela madrugada quando os novos maçons já começavam a sair porque aquele seria um dia de trabalho. Antes porem ouviu-se a palavra do Venerável Mestre a cumprimentar os neófitos, cujo grau seria Iniciantes. E outros maçons também falaram enquanto os Iniciantes comiam e bebiam juntos com a suas consortes e filhas. Daquela noite em diante Orlando Martins de Barros era um verdadeiro Maçom. Após todos os falatórios e emoções a Loja fechou o Templo.
No dia seguinte, bem cedo ainda, Orlando Martins seguiu com pressa para a capital onde estaria a trabalhar no Ministério da Agricultura. Até parecia ser ele um novo homem. Algo fazia assim supor. Ele queria saber se todos os homens também se sentiam de igual forma. Por isso era de se lembrar de o que ensinara o livro que ele recebera depois da sessão. Um livro fino, porém com tudo para se aprender sobre os primeiros momentos de maçom. E Orlando não se esquecera do avental de modo algum. Tudo aquilo ele guardou numa gaveta do seu birô na casa grande do interior. No dia dezenove daquele mês haveria o encerramento de todas as atividades da Maçonaria para somente depois, no mês de janeiro começar a primeira etapa dos estudos da Ordem.
Em determinado instante Djalma chegou ao escritório do doutor Orlando Martins trazendo um recado:
--- O chefe está chamando o senhor. – disse Djalma e fez careta como quem sente dor de cabeça.
--- A mim? Vou já! – respondeu Orlando juntando o pacote de correspondências.
--- O senhor vai mandar comprar alpiste? – indagou Djalma sem querer nem saber.
--- Não. Ainda tenho! – respondeu Orlando se levantado da mesa.
Ao passar por fora ele disse a Augusta Muniz.
--- O chefe me chama. Vou ver o que ele quer. – disse Orlando a Augusta Muniz e fazendo um sorriso.
A moça nada respondeu.
Orlando chegou a sala do chefe e logo foi recebido. O chefe deu os parabéns por ter sido ele aceito na Ordem e pediu que ele sentasse. Demorou qualquer tempo para o chefe falar.
---Todo bem? – indagou o chefe sorrindo frio.
Orlando respondeu que sim.
--- Só estou enfadado. – disse Orlando com um bocejar.
--- É normal. – respondeu o chefe. – Eu queria que você ficasse aqui no meu lugar. Amanhã eu vou me internar. Fazer cirurgia. Creio que três meses. É próstata. – relatou o chefe amargurado.
--- Próstata? – indagou alarmado o doutor Orlando suando frio.
--- É. Mas o medico diz não ser nada de mais. São três meses de repouso. – relatou o chefe.
--- Ora porras! E você quer que eu assuma o lugar? – indagou perplexo Orlando.
--- Sim. Só por três meses. Pode ser? – perguntou o chefe ao seu companheiro.
--- Eu...puta merda! Eu posso.... Mas logo próstata? – fez ver Orlando se aguentado de dor.
--- É. Próstata. Mas não bicho de sete cabeças. Eu volto! – sorriu o chefe em seguida.
--- Eu sei que você volta. Mas... Puta merda... Próstata! -  fez cara feia o doutor Orlando como se soubesse ser grave enfermidade.
--- Então, pronto. Eu não avisei antes porque apenas ontem o médico me comunicou. - falou sorrindo o chefe.  
Na quarta-feira, Orlando Martins de Barros já estava no seu novo posto de trabalho, apesar de ser de certa forma temporária. Com ele estava a senhorita Augusta Vieira Muniz – como se chamava de verdade em toda a nomenclatura. Muniz significava – COLINA -. É de muita ligação com a própria família. Um nome de confiança e lealdade. Augusta Muniz, como o seu nome lhe sugeria era de muita eficiência e leal. E nesse momento Augusta Muniz estava ao lado do doutor Orlando a cuidar dos seus novos afazeres. As demais que estavam a disposição de Orlando, essas ficariam no mesmo local. Apenas Augusta era a companheira inseparável do novo diretor. Trabalho era o que não faltava. Mesmo a moça sabendo o que fazer, era de esperar a ordem emanada do seu chefe. De vez por outra entrava no escritório do novo diretor a figura impoluta de Djalma. Ele estava ali para entregar correspondências chegadas para o antigo local de trabalho. Com seu gesto simples, Djalma fazia careta sem nada reclamar. Às vezes sugeria uma indagação.
--- Aqui tem mais trabalho! – dizia Djalma fazendo gestos no rosto.
O homem não dava importância. O telefone tocava. Era a antiga secretaria particular da chefia. E Orlando mandava Augusta atender e perguntar que estava a falar. Com certeza era para Orlando mesmo. E após alguns segundos ele atenderia. Então conversava e após breve instante, desligava o aparelho receptor. O seu novo trabalho não atrapalhava o anterior, por enquanto. Orlando podia fazer as duas tarefas ao mesmo tempo. O seu chefe estaria a ser submetido à cirurgia na parte da tarde. E o homem procurava não pensar. De vez por outra ele apalpava sua barriga. Era o reflexo condicionado da operação do seu chefe. Djalma havia saído um momento e ficava Augusta Muniz. Ele então procurava tecer comentário:
--- Vamos hoje almoçar! – refletia o homem a sua secretaria.
A moça ficava calada por uns tempos. E depois perguntava.
--- Só almoçar? – indagava Augusta Muniz ao seu chefe.
--- Quer mais alguma coisa? – perguntou Orlando Martins.
A moça ficava calada. Depois de alguns segundos, ela dizia após refletir um pouco.
--- Hoje não vai ser possível! – declarava a moça de forma em defensiva.
--- Por que não? – voltava a indagar Orlando.
--- Eu estou. ... Você sabe. ...Incomodada! – refletiu a moça querendo sorrir.
--- É só almoço mesmo! – disse Orlando verificando os documentos de trabalho.
Em telefone novamente tocou. Augusta Muniz atendeu. E de imediato passou a ligação, dizendo.
--- Tua filha. – relatou Augusta Muniz de modo baixo.
--- O que ela quer? – e atendeu ao telefone. –
A filha lhe transmitiu o que estava a falar.
--- Estou aqui esperando que me atenda! – falou meio rustica a moça.
--- O que é que você quer? – indagou o homem atarantado de serviços.
---Eu quero falar com o senhor. – relatou a moça Marina e disse outra vez. – Vou entrar! – completou a chamada. E desligou o interfone.
Quase no mesmo instante a moça Marina entrou no Gabinete do seu pai de um modo bem arrebitado. E foi logo a perguntar onde encontraria certos livros que estava a precisar.
--- Só isso? Nas livrarias! – respondeu o seu pai de modo desgostoso.
--- Já procurei! Não tem! – disse a moça espojada em uma cadeira disposta no gabinete.
--- Qual os livros. Mostre-me. – e a moça Marina entregou a lista que estava com ela tendo voltado a sentar espojada na cadeira.
E o homem verificou a lista e se pôs a pensar no que a moça estava a procurar nas livrarias da cidade. E depois de algum tempo, reflexão e atitudes, ele falou.
--- Para que são esses livros? – quis saber Orlando olhando bem a lista.
--- Estudos! – reclamou de uma única vez Marina.
--- Ahn! É difícil se encontrar aqui. Só pelo reembolso. Ou em algum sebo da cidade. – falou o homem um tanto sem esperanças de se conseguir de momento.
--- O senhor podia procurar! – relatou Marina do seu local, espojada.
--- Eu? Como é que eu vou encontrar esses livros? – indagou com surpresa Orlando a sua filha.
--- Sei lá. Conseguindo! – relatou Marina ainda espojada na cadeira.

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