quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

ACASO - 02 -

- Rachel Weisz -
- 02 -
Com um pouco de tempo depois apareceu à senhora dona Mumbé, mulher alta e forte. Carrancuda como que. Os ósculos eram de aros de tartaruga. Por isso mesmo a velha matrona olhava por cima da armação. A boca era seca e não usava batom. Alias a dona Mumbé não usava nada no rosto. O cabelo era feito em uma touca.               Via-se um totó por trás, acima da nuca. O seu trajar era um vestido comprido até abaixo das canelas quase igualando com os pés. E nos pés a mulher usava meias de filó com alguns furos. E para completar, um par de sapatos muito bem acochados, até certo modo, enormes para ser usado. Quando dona Mumbé chegou à frente dos garotos, estes de logo ficaram de pé. A mulher bateu com uma régua e os mandou sentar. De imediato os menos se sentaram. A mulher olhou para um lado e para outro observado quem estava no confessionário e os que ainda estavam a rezar. Ela abriu um livro e logo se pôs a ensinar sobre o nascimento de Jesus. Levou horas nesses ensinos. Em um dado instante se acercou da mulher o rapaz moreno de nome João Batista, o que chamou um garoto de Sinagoga e disse algo em seu ouvido. Os garotos não souberam o que Sinagoga falou. Apenas eles ficaram amofinados a espera que Sinagoga fosse embora para a sacristia. Por conta do malfeitor da tarde, foi que os meninos ficaram chamando João Batista de João Sinagoga ou simplesmente Sinagoga.
Ao cabo de uma hora, dona Mumbé terminou a aula de catecismo e os garotos foram embora para as suas casas. E ao passar diante do confessionário, Joel Calassa observou uma garota. Ela estava a se confessar. O garoto importância não deu para aquela atrasada no tempo. O nome da garota era Isabel, pois o menino já ouvira alguém chamar a seu modo há certo tempo. E porque ela estudava no grupo onde ele e Elizabete também estudavam. Apenas que em outro horário e em outra sala, certamente. Como não era de suma importância sua existência, Joel Calassa não teve a se preocupar. E desse modo, o garoto bem franzino foi embora para a sua casa acompanhando a colega Elizabete. Ao passar pela bodega de seu José Ferrer, o garoto perguntou à Elizabete que ela queria comer uma cocada. A bodega ficava em uma esquina em frente a escola onde os dois estudava nos dias da semana.
--- Tem cocada! Você quer? – indagou por vez o garoto a sua colega.
--- Eu não. Não tenho dinheiro! – respondeu a menina ao garoto.
--- Eu tenho. Compro para você também. É de coco. Branquinha que só. – falou Joel a sorrir.
A garota também sorriu de contente. E respondeu ao garoto.
--- Cocada branca. Compre que depois eu pago. – respondeu a moça ao garoto.
--- Besteira. Não precisa. Nós somos colegas de classe. Amigos. – sorriu o garoto.
E a garota foi com o seu amigo até o balcão onde seu Ferrer estava imbuído a despachar a outros fregueses da tarde. E os meninos tiveram que esperar algum tempo. Lá para tantas o garoto magricela coçou uma perna com seu outro pé e a menina reprovou.
--- Coisa feia! – ela reprovou o seu amigo olhando para a perna e para a cara do amigo.
--- Está coçando. Ora. – respondeu Joel olhando rápido para Elizabete.
--- Eu vou embora! – respondeu Elizabete.
--- Vá. Eu espero por seu Ferrer. Quando ele despachar eu levo a sua cocada. – respondeu Joel sem sossego na perna.
E Elizabete deixou o canto do balcão onde estava e saiu da venda ficando a esperar do garoto se encostando à banda fechada da porta. Nessa ocasião, entrou pelo lado de dentro da bodega o rapaz conhecido por Rato Branco. E perguntou a Joel o que ele queria.
--- Duas cocadas! – respondeu Joel a Rato Branco, filho do velho Ferrer.
--- Você é irmão de Aloisio? – perguntou Rato Branco ao garoto Joel.
Esse respondeu negativo e nem sequer conhecia esse homem. Rato Branco olhou bem para o garoto e depois recebeu o dinheiro do pagamento das cocadas de leite, açúcar e coco. Feito isso o garoto correu para encontrar do lado de fora da bodega a sua amiga de escola. Ele doou uma cocada e ficou com a outra. A garota reclamou então.
--- Nem embrulhou! – disse Elizabete com receio em pegar a cocada com as suas mãos sujas de poeira.
A garota esfregou no vestido as suas mãos e pegou a cocada de leite de coco. Foi então a comer aquela guloseima com o seu amigo Joel. Ao passar por uma casa de taipa, ele viu uma costureira cozendo um tecido. E tinha um garoto da mesma idade que Joel a pegar umas folhas de papel almaço para escrever algo de não menos importância. Ele olhou admirado o rapaz e a certo tempo ele o ouviu dizer com certo desaforo:
--- Que é? – falou com raiva o garoto da casa da costureira.
Joel olhou para Elizabete e os dois sorriram do outro garoto. E em seguida, Joel estirou a língua sob a ameaça de levar uma pedrada que o garoto da costureira ameaça a sacudir em sua cabeça.. Elizabete correu do local e Joel também. Era mais de cinco horas da tarde quando os dois amigos se despediram. Elizabete ficou em sua casa e Joel passou direto. Ao entrar em casa, a mocinha foi logo inquirida por sua mãe.
--- Que é isso na cara? – perguntou a mãe de Elizabete nem um pouco satisfeita.
--- Cocada. – disse a mocinha limpando a boca com a mão.
--- Onde comprou? Eu não dei dinheiro! – falou braba a sua mãe.
--- Foi o menino que me deu. – relatou com medo Elizabete. Ela sabia que a mãe tinha poucos bofes. E uma vez ou outra era um tapa-olho na cara a mocinha.
--- Quem é esse menino? – perguntou sua mãe com as mãos nos quartos.
--- Joel. Aquele que vem todo dia aqui em casa. – respondeu a garota com receio de levar tapa-olho de sua mãe.
No domingo pela manhã, logo cedo, a mãe de Joel Calassa preparou o garoto de forma mais ou menos simples e se ajeitou para poderem os dois ir para a missa daquele dia. Joel, bem arrumado, foi sentar no batente do muro existente na frente da casa. O muro era baixo e tinha apenas um portão de entrada. E nele estava Joel cutucando o chão com um pedaço de raiz de coqueiro a espera de sua mãe, dona Isaura  Alves Calassa quando outro garoto bem mais forte que ele se acercou e se pôs a conversar.
--- Que ser meu amigo? – perguntou o estranho com voz altiva.
Joel olhou para cima vendo o rosto do forasteiro. O sol batia em sua face e Joel olhava apenas com um dos olhos deixando o outro quase que fechado. Mesmo assim ele respondeu.
--- Estou esperando a minha mãe. – disse o garoto a escavacar o chão com um pedaço de raiz de coqueiro.
O forasteiro em nada reprovou a atitude de Joel. Apenas ele falou como se fosse um gigante.
--- Eu sei que os moleques de chamam por apelido. Agora eu venho para proteger você. Eu sou Batman. Conhece? – perguntou o forasteiro a Joel.
O garoto, muito tímido, olhou o rapaz com um dos olhes fechado e depois de alguém tempo respondeu.
--- Eu tenho a revista de Batman. – disse Joel e continuou a escavacar o chão.
O forasteiro se empertigou e por fim declarou.
--- Eu sou Batman e você é Robin. Assim ninguém mais chama você por apelido. – relatou o moço cheio de petulância.
Joel ficou calado e após alguns instantes disse ao forasteiro.
--- Vou entrar, pois minha mãe não quer que eu converse com estranhos. – respondeu Joel ao Batman.
O garoto grandalhão ficou com raiva da mãe de Joel e se despediu do menor apenas dizendo ser ele mais forte que os arruaceiros da redondeza. E saiu devagar para longe da casa de Joel. De longe fiou a observar a casa e viu quando Joel saiu com sua mãe para a missa. Em seguida viu um velho se acercar do portão e trancar por dentro a pequena porta de madeira. Por fim, Batman saiu jogando bolas de gude com as próprias mãos e enveredou para outra rua do bairro ainda calmo para os dias de domingo.
A mãe de Joel perguntou ao filho de forma renitente.
--- Quem estava conversando com você? – indagou a mulher com seu missal, véu e terço nas mãos.
--- Batman. – respondeu o garoto sem tecer maiores comentários.
--- Eu não quero você conversando com ninguém. - lembrou dona Isaura.

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