quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

ACASO - 08 -

ISABEL

A professora Maria Eugenia tinha avisado a turma do seu turno de aulas de que na sexta-feira seria feito um pic-nic para a Lagoa das Garças e quem quisesse ir seria bom dar o seu nome por antecipação. Era um passeio com custas do Grupo Escolar. No entanto cada um podia levar um lanche ou frutas, pois água o Grupo forneceria.
--- E o passeio será gratuito. Não se paga nada! Ouviu gente! É de graça! – comentou com voz alta Maria Eugenia para que a casse pudesse ouvir.
Isso gerou certa expectativa entre os alunados. Pois, enfim, seriam contemplados todos os estudantes da manhã e da tarde, sem distinção. E isso se deu numa euforia geral uma vez ter a criançada a oportunidade de ver de perto a Lagoa das Garças, parque pouco visto da capital, muito embora fosse limpo e bem guardado pela municipalidade.
Com isso ficou a espera e, no dia seguinte do aviso de Maria Eugenia, a garota Elizabete chamou por apelido o seu colega Joel Calassa para ter conversa com ele.
--- Macarrão venha aqui! – disse a garota ao seu colega.
--- Esse nome você sabe quem é! – respondeu Joel não querendo atiçar fogo e dizer: “é sua mãe”.
--- Besteira! Vem cá! – chamou a menina em pleno sorriso.
E o garoto todo disfarçado se aproximou da janela da casa de morada onde estava a garota Elizabete, muito embora com a sua cara trombuda. E lá chegando perguntou o que estava a haver.
--- Nada não. Eu só queria saber se você vai ao pic-nic de sexta feira! – sorriu a garota ao perguntar a Joel Calassa.
O menino rodou seu pé no chão com a cabeça abaixada e por fim comentou.
--- Não sei. Se minha mãe deixar. ...- relatou um tanto frio o garoto.
A  garota sorrindo como que alertou ao seu colega de saber ter as mães o direito de ir com seus filhos.
--- A diretora disse à tarde que as mães, tias ou pais também podem ir. O vereador Eusébio garantiu ter carros para todos. Ele é o dono desses ônibus. – falou alegre a mocinha.
O garoto levantou a cabeça e com um sorriso amarelo no rosto por fim falou:
--- Foi? Desse jeito a coisa melhora. Eu não gosto de ir com minha mãe. Mas. .... – refletiu o garoto um tanto desgostoso de poder ir apenas com sua mãe.
--- Vai ser bom! Você vai ver! Tem paneladas! Doces! Pipocas! Refresco! Coca-Cola! Ave Jesus! Eu já estou imaginando! – relatou a mocinha plena de contentamento.
O menino sorriu meio acabrunhado. E mesmo assim falou ser um bom negócio por ter árvores de monta onde ele podia tirar mangas, cajus, pitombas e até coco verde. Mas a infante preveniu de não se tirar as frutas.
--- Por quê? – indagou relutante o moço.
--- Não sei! Parece que os guardas não deixam se tirar frutas. – declarou a menina olhando em volta a procura de ninguém.
No dia da festa, sexta-feira, a moçada estava em pé de guerra. Ao descer dos ônibus – eram dois os veículos – a turma toda, num verdadeiro alvoroço correu caminho adentro a procura de frutas caídas dos pés, vez não poder subir para tirar as de cima. Um pouco atrás estavam Joel e Elizabete. A mocinha dizia:
--- Ave meu Deus! Parece um bando de loucos! – argumentou a jovem com medo terrível.
--- Eu vou entrar para procurar um banheiro! – fez ver o garoto.
--- Já? – indagou espantada a mocinha.
--- O calção. – retrucou o garoto.
--- Ah bom. Eu trouxe minha roupa de banho. Vou tirar também. Mais tarde! – refletiu a mocinha com relação a roupa de banho.
Em um instante o garoto Joel se espantou com a cena.
--- Tem gente nua ali! – falou Joel a Elizabete com profundo temor.
--- Aonde? Ave! Não vou nem olhar! – falou Elizabete dando as costas para a lagoa.
O garoto olhou outra vez e viu a diretora chamar a atenção da guarda para os moleques sem vergonha que estavam pulando nus na lagoa.
--- Isso é um atrevimento! Esses pervertidos não são da minha Escola! Faço questão que eles sejam expulsos daqui! Tem mulheres casadas e crianças para ver uma sem-vergonhice dessas. Verdadeiros canalhas! – relatava com ênfase a diretora do Grupo a um dos Guardas.
Nesse mesmo instante o Guarda do Parque rumou em direção aos perturbadores da ordem pública e, quando já chegavam ao seu destino, a molecada escapou pegando suas calças e desaparecendo na mata. Estava posta a ordem no ambiente. As meninas sorriam como que por ver os moleques inteiramente despidos.
Joel rumou para o banheiro masculino deixando para trás a sua amiga Elizabete que, por certo teria que ir ao banheiro feminino. E no caminhar, Joel ouviu um silvo de alguém ou de alguma coisa. Ele olhou em outra direção e viu sob um pé de cajarana a figura de uma moça do seu tamanho que ele não tardou em reconhecer. A moça era Isabel. Morta ao caso de um mês ou mais. Joel Calassa estremeceu de susto e em seguida a suar perguntou:
--- É você mesma? – indagou sobressaltado o garoto falando com o espírito de Isabel.
A mocinha sorriu de contente e lhe disse apenas:
--- Sou eu mesma. – falou Isabel a sorrir de felicidade.
O garoto então teve mais um susto com a confissão de Isabel dizendo que sim. Então ele lhe indagou:
--- Mas você não morreu? – indagou Joel a Isabel a tremer as pernas.
A mocinha demorou alguns segundos e respondeu:
--- Nós não morremos. Eu já te disse isso. Eu estou aqui da forma como você está. Eu não morri assim. Apenas me mudei. Eu era do teu lado e vim para o outro lado da vida. É complicado, mas é simples. Você esta em um lado e depois passa para o outro. – disse a mocinha a sorrir.
--- Nossa! Eu não entendo! E você tem fome ou sede? – indagou o garoto a Isabel.
--- Não. Não tenho fome nem sede. Acontece que alguém que bebe muito e um dia se passa para o outro lado da vida, ele não se desliga por completo da bebida. Ele faz de conta que está bebendo. Mas, com o tempo, isso passa. – refletiu Isabel sempre a sorrir.
--- Mas como você não aparece a todo mundo? – perguntou estranhando tal comportamento.
A menina moça refletiu um pouco e logo informou.
--- É o seguinte. Nós aparecemos a todos. Acontece que nem todas as pessoas estão em sintonia com os nossos espíritos. É como se fosse um rádio. Você ouve uma estação e eu ouço outra. Desse modo nunca estamos em acordo. Às vezes, tem outro ouvinte na sintonia de igual estação. Aquele ouvinte sintoniza a mesma emissora - vamos dizer -  que você. E se for ao mesmo horário fica sabendo o que você está sabendo. Mas tem estações mais distantes. Essa você não ouve. São distantes de seu receptor. É uma coisa mais ou menos assim. – sorriu Isabel ao relatar tal fato.
O garoto ficou a imaginar o porquê se sonha com uma figura que não se conhece na vida real, mas no sonho ela aparece como um amigo.  E perguntou a Isabel sobre o caso.
--- Simples. Você teve uma visão de alguém que conheceu em outra existência. Então você vê a pessoa. – sorriu a ninfa ao ponto em que falava.
O jovem ficou a pensar em algo que não quis falar. E logo em seguida Isabel falou.
--- Pode sim. É bastante querer. – sorriu Isabel a caminhar por entre o bosque de fruteiras.
--- Como você adivinhou o que eu pensei? – perguntou nervoso o garoto.
--- A questão é que você não pensou. Falou comigo. Simples. – sorriu bastante à moça Isabel.
O garoto estremeceu de susto. Ele não sabia mais se pensasse ou se falasse. Isabel tinha o poder de saber o que ele estava a pensar.


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