domingo, 1 de janeiro de 2012

CREPÚSCULO - 52 -

- Barbara Stanwyck -
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A CAMPANHA
No mesmo sábado ainda, em outra parte do Universo sideral, estava o ancião Juca Alencastro a meditar sobre os acontecimentos das ultimas horas e olhando a esmo a terra solta muito longe de sua fazenda onde Gafanhoto gostava de pegar tatu. Ele apenas pensava, sentado em uma cadeira de balanço com um dos pés suspenso escorando na parte do assento, como era o seu costume quando estava a sonhar com a vida e a sua plena mocidade já vivida. Com o tempo a passar eis que surgem os filhos do velho Juca vindos da própria mercearia e tocaram a conversa do que lhes interessava. O ancião com uma coceira entre os dedos do pé suspenso foi logo a indagar como estava a campanha para Prefeito da Cidade. Chiquito e Tonheca se entreolharam e calaram por momento. Mesmo assim, em seguida, Tonheca foi o que falou vez ser ele mais cotado para o cargo, uma vez Orlando Martins desistir da campanha.
--- De vento em popa meu pai. - sorriu Tonheca ao falar sem qualquer coragem.
--- Você já ouviu os donos das outras fazendas? – indagou o velho desconfiado com a resposta.
--- Já. Já. Todos eles. Menos (pigarreou) os da outra banda. – aduziu Tonheca um tanto cabisbaixo.
--- Sei. Sei. Pelo visto estão todos de acordo! – salientou o velho Juca olhando o filho com o rabo do olho.
--- Estão. Estão. Tem uns até que vão sair a vereador. – respondeu Tonheca olhando de esgueira o velho pai
--- Isso é bom. Mas parece que tais conversas são antigas! – relatou o velho ao filho Tonheca.
--- Não, meu pai. Ainda hoje falei com eles. – disse Tonheca envergonhado.
--- Deixa de mentira seu bosta. Falou nada. Se eu perguntasse dez você não respondia um. Ora. Eu quero tudo em pratos limpos. Exemplo: quantos vereadores? – indagou o velho cheio de ira.
--- Mas pai. .... Quantos? – indagou Tonheca a seu irmão.
--- Parece que são sete. – respondeu Chiquito cabisbaixo.
--- Tá vendo como os dois estão de comum acordo. São onze bandos de bostas. ONZE! Eu quero ver o nome de todos aqui comigo. Bostas!!!. Agora eu vou é pegar uma madorna que já estou cheio de conversa de quem não serve pra nada. BOSTAS!!!. - - fez ver o velho a se levantar da cadeira e seguir para o seu quarto. Com as calças rotas, o velho parecia um ninguém no meio da sala.
Os dois filhos, Tonheca e Chiquito, ficaram cá fora a discutir os dois de quem era a culpa.
--- A culpa é sua! – dizia Tonheca ao irmão.
--- Sua uma porra! Quem vai ser candidato? Eu? Eu? Eu? – respondeu Chiquito cheio de desaforo.
Com certo instante, estacionou a frente do casarão um jeep trazendo três ou quatro oficiais do Exército. E logo após mais dois caminhões lotados de soldados. Ao estacionarem os caminhos parecia que já era ordem, pois um grupo de dez soldados fortemente armados desembarcou em seguida. Do jeep veio a frente um capitão e dois outros oficiais. O capitão do Exercito perguntou pelo dono da casa e obteve a resposta do filho Tonheca ter esse ido dormir.
--- Assine aqui a baixo. É um aviso. – relatou o capitão a Tonheca ao saber ser ele filho do dono da terra.
--- Assinar pra que? – indagou Tonheca ao capitão.
--- Assina logo seu bosta. – advertiu o irmão Chiquito falando baixo.
E o homem assinou a petição sem perguntar mais coisa alguma. E notou os soldados que montavam guarda no topo da Serra do Monte Sagrado a sair correndo para um lugar qualquer. E Tonheca viu também os novos soldados equipados a montar guarda em frente da casa. Ele observou a ação do Exercito e nada perguntou ao capitão.  E esse disse:
--- Daqui em diante não entra ou sai ninguém da sua casa, a não ser com ordem expressa de o comando militar.  – e disse isso se largando para o jeep.
O rapaz foi ler o que estava escrito e viu apenas “Ação Militar” e nada mais. E nem porque havia tantos soldados em frente à casa grande do velho Juca.
Alguns aviões caça passaram bem por cima da casa fazendo uma zoada infernal. Os irmãos viram as aeronaves a se perder de vista. E mesmo assim discutiram em levar o documento ao seu pai. O irmão Chiquito foi contra:
--- Deixa prá lá. É só uma ação militar. O velho foi dormir ainda agorinha. – respondeu Chiquito olhando para o céu em busca de outros aviões. Mesmo assim não vinha mais nenhum. E ele partiu para dentro de casa. O menino Paulo se acercou de Tonheca e foi dizendo.
--- Os soldados abandonaram o porto de guarda. – relatou o garoto.
--- Eu quero lá saber de soldados! – respondeu abusando o seu tio Tonheca.
E o menino correu para ver os militares postados em frente à fazenda e viu as barracas armadas pelo lado de fora. Dentro havia refeição além de farto material de armamentos. Paulo olhou e nada perguntou. Eram três barracas armadas ao longo do cercado. Nas tendas cabiam dez soldados e oficiais de tropas quando equipamento e manobras. A curiosidade do menino que viu outra vez os homens das estrelas se deu por satisfeita. Em seguida o garoto voltou correndo para junto do seu tio Tonheca e relatou tudo o que observou de momento. Em outra ação, o capitão já estava na fazenda de Orlando Martins. O dono da casa não estava. Então a sua mulher foi quem recebeu a informação.  Mesmo assim a mulher, Laura, ainda perguntou se podia assinar com o próprio nome ou postava o nome do marido.
--- O seu mesmo. É só para entregar a missiva. Os soldados ficam aqui dentro do cercado. Daqui em diante não entre e sai mais ninguém. – relatou o capitão e rumou no jeep para outra fazenda.
Laura, acobertando a filha Amanda chegou a dizer:
--- Virgem! E o meu marido quando chegar? – fez vez a mulher ensimesmada.
Nesse exato momento um grupo de caças sobrevoou a Serra do Monte Sagrado e despejou uma carga de bombas seguidas de jatos de napalm, conjunto de líquidos inflamáveis a base de gasolina e de um pegajoso gel.  Ao ouvir o estrondo na serra a mulher se espantou. Ela já estava dentro do casarão e se voltou tao rápido com a menina no colo que o seu coração quase sai pela boca. Os soldados nada fizeram para proteger a mulher e a sua filha Amanda. Na cidade, o sino da Igreja repicava insistente avisando ao povo não sair de casa. Um grupo de protestante correu amedrontado da Igreja para a rua e depois voltou com o terror aplacado pelo bombardeio sistemático e infernal com estrondos ouvidos por todas as partes.
--- É o Armagedom. Armagedom. Armagedom – gritavam os evangélicos em pânico procurando se esconder por baixo dos bancos da Igreja.
Armagedom era a tradução errática de “Har Meggido” (a Colina de Meggido) onde os exércitos se reuniam antes da batalha final entre Deus e a sociedade humana iniqua. O “Monte Megido” fica próximo ao rio Eufrates. Essa batalha aparece citada duas vezes no último livro da Bíblia. Hoje há notícias corretas de que arqueólogos encontraram na atual prisão de Megido resquícios arquitetônicos muitos antigos de uma antiga igreja  cristã do século III.
As esquadrilhas de calça bombardeiros continuavam a despejar toneladas de bombas e jatos de napalm cobrindo a mata e a serra em todos os seus recantos. O velho Juca Alencastro que estava tirando a madorna se levantou atordoado e com temor, a procura das sandálias em baixo da rede e logo gritou ofegante.
--- Que diabo é isso? – indagava o velho Juca a quem pudesse responder.
A mulher do velho estava a rezar o oficio e continuou a rezar. As empregadas da casa, mulheres e meninos corriam para qualquer lado todo mundo atordoado com o espocar das bombas. O sol quente do dia findou espalhando por todos os sentidos o cheiro ocre da fumaça desprendida pelo bombardeio. E o grupo de aviões caças continuava sem trégua a despachar as bombas e a queimar a mata virgem da Serra do Monte Sagrado. Na rua, a correria sem trégua dos mais sem noticias do que estava a haver. Mercado cerrou as portas. Uns locatários ficaram dentro do prédio enquanto saíam a correr estonteada a procura de seus parentes como mães, pais, mulheres e filhos.  As crianças choravam nos braços de suas mães. Outras se escondiam em baixo da cama. Tudo enfim era desordem em meio ao intenso bombardeio se parar um segundo sequer.  O padre chamava a atenção do povo:
--- É uma operação militar. É uma operação militar! – gritava a todos os pulmões o sacerdote.
Na calçada da Igreja, o louco chamado “Trapo” dizia aos brados:
--- Eu ouvi a voz de Deus! Ele que proteger São Jorge! – gritava o lunático.
O cheiro da fumaça das bombas chegava a toda à cidade deixando fuligem em roupas e louças. A mulher Laura correu para se esconder no quarto de dormir levando consigo a filha Amanda a chorar e sem entende de nada enquanto o soar do bombardeio continuava. O hotel Cassino recebeu ordens de não abrir suas portas e nem deixar sair nenhum hospede que porventura estivesse alocado. Em meio ao bombardeio, um jeep do Exercito transmitia uma mensagem da qual não se entendia coisa alguma dada das bombas. O carro percorreu a cidade informando ao povo a ficar em suas casas. O velho Juca chegou ao batente dos degraus da sua casa e perguntou ao filho Tonheca:
--- Mas que diabo está acontecendo? - - relatou como podia falar o velho Juca Alencastro.
--- Não sei meu pai. Eles dizer ser ação militar. – respondeu Tonheca com a mão na cabeça como a proteger de uma bomba.
E o bombardeio continuou por toda a tarde e noite daquele dia.  
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