- Jennifer Aniston -
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LAMPIÃO
O homem, seu
Amaro, a montar o seu cavalo, pois estava com o animal desde a saída da
fazenda, continuou a percorrer o vasto sertão do “Boqueirão” acompanhado de
vaqueiro José Tomaz, homem astuto por natureza. O vaqueiro também montava um
animal igual ao do seu Amaro Borba. Eram dos poucos animais a não morrer de
sede fome, uma vez serem tratados com bastante cuidado pelo chapadeiro. Seu
Amaro percorria o sertão um pouco calado e sisudo sendo que às vezes falava
devagar principalmente quando um mosquito lhe ferroava o pescoço. Notadamente o
homem falava das andanças do cangaceiro Lampião, homem feroz e morto em uma
emboscada no dia 28 de julho de 1938
pelo bando comandado do Tenente João Bezerra, na fazenda Angicos do sertão de
Sergipe.
Amaro;
--- Lampião
era capitão. E ao seu lado levava dois tenentes: Antônio Ferreira e Sabino
Barbosa de Melo. – cuspiu o homem de lado.
Tomaz;
--- Meu pai
conheceu o bando. Nesse tempo o velho estava em Jati, no Ceará. Ele viu os
cangaceiros fugirem de uma emboscada da Polícia. – comentou o vaqueiro.
E os homens
prosseguiram viagem percorrendo a vasta terra do “Boqueirão” atravessando mato
seco e encontrando carcaças de animais. Já a meia hora de viagem quando o
cavalo do seu Amaro refugou. O homem se sustentou na sela quando viu a serpente
de tocaia a fazer um bote para atacar quem passava. De imediato, o homem puxou a arma e fez
disparo quando a serpente já tentava agarrar a pata do cavalo de seu Amaro. Foi
disparo bem certeiro a cruzar a serpente de imediato pela boca. A cascavel se
estrebuchou na sorte da morte a deixar os seus ovos a descoberta em um baixio
de pedras. Seu Amaro cuspiu de lado o ordenou a José Tomaz com oque havia
começado.
Tomaz:
--- É apenas
ovos seu Amaro! – relatou alarmado o vaqueiro.
Amaro;
--- Queres
levar para comer? Pois leve! – relatou apoquentado o homem.
Nesse ponto o
vaqueiro Tomaz passou por cima dos ovos da cascavel destroçado tudo. A serpente
ainda se movia no solo quente quando um segundo tiro a matou de vez. O cavalou
relinchou e o homem vez a montaria se aquietar como devia fazer o homem. Tomaz
arregalou os olhos vendo seu patrão com sua forma ameaçadora de um homem
destemido para matar ou morrer. Com
alguns instantes, a mulher de seu Amaro se acercou cansada em sua montaria a
indagar o sucedido. E foi alertada de uma serpente a estar morta pela sorte de
tiros. Após a mulher Clotilde surgiram mais dois cavaleiros temendo tantas
balas deflagradas. Vendo tudo consumido a mulher Clotilde informou ao esposo
ter gente de fora a sua espera.
Amaro:
--- Quem são
eles? – indagou o homem meio atarantado.
Clotilde:
--- Nepomuceno
e outros mais. – disse a mulher meio esfogueada.
Amaro:
---
Nepomuceno! Que diabos ele quer? – indagou cismado.
Clotilde:
--- Sabe lá o
que! Apenas conversar. – relatou sem graça a mulher.
De volta à
casa-grande, seu Amaro Borba foi de imediato cumprimentado pelo cidadão João
Nepomuceno, criador abastado. Em companhia da visita estavam dois outros
criadores de gado, todos montados a cavalo e reclamando do intenso calor a
fazer naquele instante. À convite de Amaro Borba os três visitantes o
acompanharam para sentar nas cadeiras e então começou a conversa um tanto sem
graça até o momento de se falar no assunto principal: o gado morto. Cada qual
dissesse ter o sol causticante causado a morte de centenas de cabeça de gado de
suas propriedades. E era chegado o momento de se tomar posição;
Nepomuceno:
--- Eu não vou
mais criar vaca para o sol matar. – relatou o homem um tanto confuso.
Amaro;
--- Isso eu já
disse. A morte levou mais de duzentas rezes da minha propriedade só este ano. –
falou exaltado o homem
Nepomuceno:
--- E o que se
poda fazer? O senhor tem ainda um monte
de gado. Eu também. Mas os outros pecuaristas estão na beira da falência! –
respondeu exaltado o visitante.
E Amaro Borba
falou por sua vez:
Amaro:
--- Eu digo o
seguinte: ou se mata tudo ou se manda para a Paraíba ou Pernambuco. E é isso
que eu vou fazer. Semana que vem não tem mais nenhuma cabeça aqui na minha
propriedade. Nenhuma mesmo. E tenho dito. – falou Amaro com voz altiva.
Nepomuceno
ficou inquieto talvez por que na Paraíba a situação era tão somente calamitosa.
E em Pernambuco nem se fala. Havia falta de comida para o gado em todo o sertão
nordestino e o homem do campo amargava a carestia dos alimentos a alcançar mais
de cem por cento:
Nepomuceno
falou ser desta vez uma seca braba e os carros-de-boi que transportava alguma
quantidade de água, não podiam mais transitar, pois em nenhum lugar se
encontrava o liquido para dar ao gado.
Amaro:
--- Nem ao
povo. A gente só vê casa abandonada pelo meio do campo. Se não for possível
buscar comida e água em Pernambuco, o melhor é se matar todo o rebanho. – falou
ao desespero o pecuarista.
Nepomuceno de
cabeça abaixada coçava o crâneo como se não soubesse como gerir uma solução
definitiva para o sertanejo revoltado e sem assistência, sem renda e sem
futuro. Ele também era um dos tais. Terra seca e sem sustento. E após instante
Nepomuceno então falou
Nepomuceno;
--- O que
falta no sertão do Nordeste é apenas água. Não queremos Governo. Nós buscamos
água para matar nossa sede. Nossa e das reses. – falou com brio o agricultor.
Amaro:
--- O que o
senhor falou é o que eu digo a todo instante para os meus vaqueiros. Ou se tem
água nessa terra ou não se tem nada. Os políticos não fazem nada. Só abanam o
rabo nas cadeiras estofadas. Eu, de minha parte, devo pra mais de um milhão e
meio de cruzeiros nos Bancos. Se os Bancos quiserem, a fazenda está aí. Não vou
pedir arrego. Quero ver qual é o filho da puta que vai sustentar uma fazenda
sem um pingo de água. E o que eu vejo são sítios abandonados. Obras começadas e
não terminadas. Mas a água eu não vejo em lugar algum. Essa terra é
amaldiçoada. Quando o Coronel, meu pai velho quis vir para o Brasil, o Rei
mandou trazer para o Nordeste, o celeiro de bom pasto. Está ai o bom pasto! Nem
um tico de água. Os riachos servem apenas quando chove. O Governo costuma a dizer que o sertão, um
dia, vai virar mar. Venha virar, venha, seu bando de porcos! – falou o homem
exaltado.
O silencio se
aplacou por alguns instantes entre os criadores, pois nenhum apontava solução
capaz de resolver a grave e eterna situação. O sol estava a pino no Céu azul
onde não se via uma nuvem sequer. O boi “Manso” continuava em seu lugar,
ofegante. O vaqueiro se dirigia até o ponto da Amargoza levando um pouco de
comer traçado com o Sodoro para ver se o boi comia alguma porção.
Criador:
--- Deus é
quem pode explicar essa seca. Eu rezo a meu padrinho padre Cicero que mande
água para o sertão. Eu rezo todo dia. – falou descontente um criador.
Amaro:
--- Rezar a
Deus?! Pois assim seja! Ele não vai mandar nunca! Se Ele mandasse, não deixaria
morrer a míngua as suas vacas! – falou revoltado o homem do campo.
Saturnino;
--- Sei não.
Um Santo disse que o sertão um dia vai virar mar. E o mar virá sertão. Eu acho
que ele quis dizer foi outra coisa. O progresso vai chegar....Um dia....Isso
vai! – comentou desolado um dos três
cavaleiros.
Amaro;
--- Eu vejo a
coisa por outro lado. O progresso vem por vias do desenvolvimento. Quer no
sertão, quer na capital. Mas isso vai levar muita teima. O Exército é a única
solução dessa causa. Pois com o Exército nós temos o progresso. Quem já foi do
Exercito que o diga! – falou o homem em desatino
Saturnino:
--- O senhor
acha que os militares vão trazer progresso, meu senhor? – falou o homem de
cabeça abaixada.
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