sábado, 16 de março de 2013

"NARA" - 20 -

- Jennifer Aniston -
- 20 -
LAMPIÃO
O homem, seu Amaro, a montar o seu cavalo, pois estava com o animal desde a saída da fazenda, continuou a percorrer o vasto sertão do “Boqueirão” acompanhado de vaqueiro José Tomaz, homem astuto por natureza. O vaqueiro também montava um animal igual ao do seu Amaro Borba. Eram dos poucos animais a não morrer de sede fome, uma vez serem tratados com bastante cuidado pelo chapadeiro. Seu Amaro percorria o sertão um pouco calado e sisudo sendo que às vezes falava devagar principalmente quando um mosquito lhe ferroava o pescoço. Notadamente o homem falava das andanças do cangaceiro Lampião, homem feroz e morto em uma emboscada  no dia 28 de julho de 1938 pelo bando comandado do Tenente João Bezerra, na fazenda Angicos do sertão de Sergipe.
Amaro;
--- Lampião era capitão. E ao seu lado levava dois tenentes: Antônio Ferreira e Sabino Barbosa de Melo. – cuspiu o homem de lado.
Tomaz;
--- Meu pai conheceu o bando. Nesse tempo o velho estava em Jati, no Ceará. Ele viu os cangaceiros fugirem de uma emboscada da Polícia. – comentou o vaqueiro.
E os homens prosseguiram viagem percorrendo a vasta terra do “Boqueirão” atravessando mato seco e encontrando carcaças de animais. Já a meia hora de viagem quando o cavalo do seu Amaro refugou. O homem se sustentou na sela quando viu a serpente de tocaia a fazer um bote para atacar quem passava.  De imediato, o homem puxou a arma e fez disparo quando a serpente já tentava agarrar a pata do cavalo de seu Amaro. Foi disparo bem certeiro a cruzar a serpente de imediato pela boca. A cascavel se estrebuchou na sorte da morte a deixar os seus ovos a descoberta em um baixio de pedras. Seu Amaro cuspiu de lado o ordenou a José Tomaz com oque havia começado.
Tomaz:
--- É apenas ovos seu Amaro! – relatou alarmado o vaqueiro.
Amaro;
--- Queres levar para comer? Pois leve! – relatou apoquentado o homem.
Nesse ponto o vaqueiro Tomaz passou por cima dos ovos da cascavel destroçado tudo. A serpente ainda se movia no solo quente quando um segundo tiro a matou de vez. O cavalou relinchou e o homem vez a montaria se aquietar como devia fazer o homem. Tomaz arregalou os olhos vendo seu patrão com sua forma ameaçadora de um homem destemido para matar  ou morrer. Com alguns instantes, a mulher de seu Amaro se acercou cansada em sua montaria a indagar o sucedido. E foi alertada de uma serpente a estar morta pela sorte de tiros. Após a mulher Clotilde surgiram mais dois cavaleiros temendo tantas balas deflagradas. Vendo tudo consumido a mulher Clotilde informou ao esposo ter gente de fora a sua espera.
Amaro:
--- Quem são eles? – indagou o homem meio atarantado.
Clotilde:
--- Nepomuceno e outros mais. – disse a mulher meio esfogueada.
Amaro:
--- Nepomuceno! Que diabos ele quer? – indagou cismado.
Clotilde:
--- Sabe lá o que! Apenas conversar. – relatou sem graça a mulher.
De volta à casa-grande, seu Amaro Borba foi de imediato cumprimentado pelo cidadão João Nepomuceno, criador abastado. Em companhia da visita estavam dois outros criadores de gado, todos montados a cavalo e reclamando do intenso calor a fazer naquele instante. À convite de Amaro Borba os três visitantes o acompanharam para sentar nas cadeiras e então começou a conversa um tanto sem graça até o momento de se falar no assunto principal: o gado morto. Cada qual dissesse ter o sol causticante causado a morte de centenas de cabeça de gado de suas propriedades. E era chegado o momento de se tomar posição;
Nepomuceno:
--- Eu não vou mais criar vaca para o sol matar. – relatou o homem um tanto confuso.
Amaro;
--- Isso eu já disse. A morte levou mais de duzentas rezes da minha propriedade só este ano. – falou exaltado o homem
Nepomuceno:
--- E o que se poda fazer?  O senhor tem ainda um monte de gado. Eu também. Mas os outros pecuaristas estão na beira da falência! – respondeu exaltado o visitante.
E Amaro Borba falou por sua vez:
Amaro:
--- Eu digo o seguinte: ou se mata tudo ou se manda para a Paraíba ou Pernambuco. E é isso que eu vou fazer. Semana que vem não tem mais nenhuma cabeça aqui na minha propriedade. Nenhuma mesmo. E tenho dito. – falou Amaro com voz altiva.
Nepomuceno ficou inquieto talvez por que na Paraíba a situação era tão somente calamitosa. E em Pernambuco nem se fala. Havia falta de comida para o gado em todo o sertão nordestino e o homem do campo amargava a carestia dos alimentos a alcançar mais de cem por cento:
Nepomuceno falou ser desta vez uma seca braba e os carros-de-boi que transportava alguma quantidade de água, não podiam mais transitar, pois em nenhum lugar se encontrava o liquido para dar ao gado.
Amaro:
--- Nem ao povo. A gente só vê casa abandonada pelo meio do campo. Se não for possível buscar comida e água em Pernambuco, o melhor é se matar todo o rebanho. – falou ao desespero o pecuarista.
Nepomuceno de cabeça abaixada coçava o crâneo como se não soubesse como gerir uma solução definitiva para o sertanejo revoltado e sem assistência, sem renda e sem futuro. Ele também era um dos tais. Terra seca e sem sustento. E após instante Nepomuceno então falou
Nepomuceno;
--- O que falta no sertão do Nordeste é apenas água. Não queremos Governo. Nós buscamos água para matar nossa sede. Nossa e das reses. – falou com brio o agricultor.
Amaro:
--- O que o senhor falou é o que eu digo a todo instante para os meus vaqueiros. Ou se tem água nessa terra ou não se tem nada. Os políticos não fazem nada. Só abanam o rabo nas cadeiras estofadas. Eu, de minha parte, devo pra mais de um milhão e meio de cruzeiros nos Bancos. Se os Bancos quiserem, a fazenda está aí. Não vou pedir arrego. Quero ver qual é o filho da puta que vai sustentar uma fazenda sem um pingo de água. E o que eu vejo são sítios abandonados. Obras começadas e não terminadas. Mas a água eu não vejo em lugar algum. Essa terra é amaldiçoada. Quando o Coronel, meu pai velho quis vir para o Brasil, o Rei mandou trazer para o Nordeste, o celeiro de bom pasto. Está ai o bom pasto! Nem um tico de água. Os riachos servem apenas quando chove.  O Governo costuma a dizer que o sertão, um dia, vai virar mar. Venha virar, venha, seu bando de porcos! – falou o homem exaltado.
O silencio se aplacou por alguns instantes entre os criadores, pois nenhum apontava solução capaz de resolver a grave e eterna situação. O sol estava a pino no Céu azul onde não se via uma nuvem sequer. O boi “Manso” continuava em seu lugar, ofegante. O vaqueiro se dirigia até o ponto da Amargoza levando um pouco de comer traçado com o Sodoro para ver se o boi comia alguma porção.
Criador:
--- Deus é quem pode explicar essa seca. Eu rezo a meu padrinho padre Cicero que mande água para o sertão. Eu rezo todo dia. – falou descontente um criador.
Amaro:
--- Rezar a Deus?! Pois assim seja! Ele não vai mandar nunca! Se Ele mandasse, não deixaria morrer a míngua as suas vacas! – falou revoltado o homem do campo.
Saturnino;
--- Sei não. Um Santo disse que o sertão um dia vai virar mar. E o mar virá sertão. Eu acho que ele quis dizer foi outra coisa. O progresso vai chegar....Um dia....Isso vai! – comentou  desolado um dos três cavaleiros.
Amaro;
--- Eu vejo a coisa por outro lado. O progresso vem por vias do desenvolvimento. Quer no sertão, quer na capital. Mas isso vai levar muita teima. O Exército é a única solução dessa causa. Pois com o Exército nós temos o progresso. Quem já foi do Exercito que o diga! – falou o homem em desatino
Saturnino:
--- O senhor acha que os militares vão trazer progresso, meu senhor? – falou o homem de cabeça abaixada.

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