sábado, 23 de março de 2013

"NARA" - 25 -

- Emma Watson -
- 25 -
COMOÇÃO
Às nove horas do sábado chegou à residência de Nara o médico Eurípedes junto com o professor França numa brutal coincidência. O rapaz ainda estava “tonto” de sono, pois não dormira hora alguma na noite/madrugada da sexta e sábado. Eurípedes cumprimentou o professor dizendo ainda estar “morrendo” de sono. E falou sobre o acidente com a população de Areia Preta e Praia do Meio e não falando sobre os casos havidos de Redinha e Ponta Negra pois eram fatos do mesmo gênero e ele nem sabia de tudo.
Eurípedes;
--- Foi uma comoção terrível o sucedido. Ainda hoje estão chegando vítimas do desastre. – comento o médico sobre o desastre de Areia Preta.
França:
--- Na verdade foi coisa muito triste. Eu não quis nem ir ao local. Aqui mesmo no rio tem fatos semelhantes. – ressaltou o professor.
O homem médico ficou surpreso com o informe e quis saber de qual rio o professor falava e apontou com seu dedo polegar a franzir a testa.
Eurípedes:
--- Rio? – indagou o médico franzindo a testa.
França:
--- Sim. Nesse rio Potengi. As Palafitas foram tragadas pela maré e até mesmo os batelões foram atirados do rio sobre os trilhos do trem. Por isso não há passagem alguma de trem. E tem mais: houve maré alta na Redinha, Aldeia Velha e se fala também de onda gigante em Ponta Negra. Eu não sei. ....Mas isso é o fim....- falou o professor de modo angustiado.
Eurípedes:
--- Na verdade, é uma angustiante comoção. Eu fiquei a noite toda no Hospital e não tive a oportunidade de saber quem era qual. Eu só fazia era atender. Apenas gente moradora da rua de baixo é que eu soube. – falou com leve amargura o médico ao se referir a Rua do Motor.
Ao chegar a porta da residência de Nara, o médico já a encontrou com o leve sorriso na face e a tensão de estar muito preocupada com o acontecido  na noite passada. Após cumprimentar o professor França e dar um beijo no rosto do rapaz Eurípedes, a moça foi logo a afirmar ter um dia triste para quem teria de saber algo tão peculiar como era a música. Afinal, todos estavam comovidos com a triste situação conflitante a afetar a cidade naquela manhã de sol tão forte. Ao ser a moça indagada pela presença do homem da casa, o senhor Sisenando, o professor ficou sabendo ter o mesmo saído, com certeza para ver de perto o havido na Praia de Areia Preta, o ponto de maior alcance do maremoto.
Nara:
--- Eu acho que meu pai foi ver de perto o que houve em Areia Preta. – relatou a moça um pouco recolhida em suas emoções.
Nesse momento, o médico procurou ver o restante da casa como quem desejava saber da presença de dona Ceci e a moça percebeu. Em seguida relatou a seu amigo ter dona Ceci saído para a Igreja para assistir  a Santa Missa. . E o rapaz agradeceu a dizer ter a necessidade de ir ao banheiro. A moça ofereceu o local e indagou se o jovem queria trocar de roupa. Eurípedes sorriu e disse já ter passado em sua casa e fez o apropriado. De passagem o médico apenas olhou para o berço e lá estava a brincar com ele mesmo o menino Neto a fazer gestos no rosto já demonstrando traquinagem de infância. Euripedes retribuiu a afeição fazendo o mesmo em troca.
De volta do banheiro, onde Eurípedes foi passar água no rosto para ver se retirava um pouco do sono da noite. Ele encontrou o professor França já a verificar Nara com o seu violão. Ela argumentava já saber tocar de muito tempo e, com certeza, lia os acordes com maestria, pois nas revistas de música estavam as notas em cifras. E Nara podia entender muito bem. Com relação ao piano, Nara reportou por fim ter sido ensinada de há muito pelo seu avô, o também professor Melquíades, o qual mantinha um piano em sua casa de residência.  Então de vez o professor França falou ter sido aluno do professor Melquíades já há muito tempo. E sorrio.
França:
--- A senhora é neta do professor Melquíades? Pois o professor foi meu Mestre. – sorriu França
Nara:
--- Ele lecionou há muita gente. Eu não sei a quem porque eu era ainda pequenina. – sorriu com certo temor.
Eurípedes:
--- Nara havia me falado do seu avô. Ela é quem merece estudar o piano, pois saber, ela já sabe e não custa nada em saber mais. – destacou o médico
França:
--- É preciso saber o seu estilo de música também. – falou o professor se dirigindo ao médico
Eurípedes:
--- Eu não venho ao caso. Nove anos. Eu já teria quase quarenta anos para me diplomar. Agora, ela merece aprender. Mesmo que não seja em uma escola. – sorriu o rapaz a enxugar a face com um lenço. E espirrou em seguida.
França:
--- Sim. Mas como vocês (dois) pretendem tocarem juntos eu preciso saber o seu grau de aprendizado. – sorriu o professor.
Eurípedes:
--- Eu toco de “ouvido”. Qualquer música. Em tenho agora. .... Há algum tempo. ... Algo composto por  George Gershwin: Rapsódia em Blue. ...São dezesseis minutos. Gostaria de ouvi-la? – indagou o médico.
França:
--- Seria bom. Comece. – sorriu o professor.
Na verdade, a composição musical datava de 1924, escrita para piano por George Gershwin com adaptação para jazz. Era uma combinação de música clássica com influencia do jazz. E com precisão o músico de “ouvido” começou a tocar ao piano a Rapsódia em Blue, música divinal para todos os seus expectadores no tempo não muito raro onde o piano era verdadeira magia de esmero. E começou Eurípedes a desempenhar a melodia em um tom virtuoso sem meios para por orquestras e outros mecanismos de influencia. O jazz era um momento de retoque quando tudo silenciava então. Mas o exímio mestre não precisava de algo mais, nem mesmo uma habilidosa orquestra sinfônica. O mundo passava lento pela mente do eminente poeta do teclado a cada passo a se incidir. Tudo soava como pássaros canoros gorjeando com virtuosa majestade. Não raro o toque ao piano se assemelhava a dileta combinação de um maravilhoso senhor de uma filarmônica. Em seu local de ouvinte, o professor França nada fazia deixando o rapaz a executar com precisão a melodia imortal até soar o seu final. E quanto o executor concluiu a sua excelente e virtuosa melodia Nara chorou de todo o contentamento. França apenas disse:
França:
--- Ótimo meu senhor. Ótimo. – profetizou o professor
Nara:
--- Dê-me um abraço forte –(de enfeitiçar minh’alma) – relatou a moça com os braços abertos.
Esse termo ela pensou, mas não falou de veras. O rapaz ficou acabrunhado com tal pedido e o admirar do ilustre professor. Eurípedes sabia com esmero tocar piano. No entanto nunca ele teceu comentário a esse respeito. Apenas, ele se recolhia em seu piano quando podia e tinha tempo e experimentava os acordes delirantes de melodias antigas ou não, clássicas talvez. Quase sempre a família o ouvia tocar com momento de maestria. Euripedes se escondia desse mundo a ouvir certa canção e sempre mantinha com salutar ensejo o melhor do seu empenho. Rapsódia em Blue o médico escutou a tal melodia  e decorou seus sublimes acordes. Em seguida começou Eurípedes a ensaiar esses momentos de muita ternura. A Rapsódia era fusão da música afro-americana com música clássica. Disso o médico bem sabia até demais. Mesmo assim, para Eurípedes não se importava nos estudos da música nem ao menos se envolvia em saber ler a grafia sonora da caligrafia musical.  Nesse momento, ainda aturdido por ter feito uma bela melodia ele nem mesmo observou o pedido da sua amiga e foi até ela e se abraçou como se nada acontecesse. Apenas a música soava em seus ouvidos. O homem abraçou a moça como fazia a qualquer um e nem mesmo sentiu a esperança de algo mais. Por sua vez, o professor França veio também a se abraçar com o médico afirmando ter o mesmo o ensino musical dentro do seu espirito. Aquilo que lhe faltava era um simples diploma e nada mais. Foi o que disse o mestre França.
França:
--- Meu amigo você é um exímio instrumentista ao piano. Na verdade um diploma é um simples documento do que alguém faz ou aprende. Seria importante você ter em mente as notas musicais, pois assim seria mais fácil de recitar as peças. Eu lembro demais de tantos alunos que eu tive e ensinei. Mesmo assim, hoje eu vejo largados pela rua a declamar poesia sem saber o que fazem. Meus parabéns meu amigo. Parabéns e um forte abraço. - confessou o mestre Carlos França.
Nara ainda estava agarrada à mão do rapaz a olhar o professor e a sorrir sobremaneira para Eurípedes sem saber ao certo a razão de seus sorrisos. Nara apenas sorria cheia de comoção.
 

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