segunda-feira, 25 de março de 2013

"NARA" - 27 -

- Eva Mendes -
- 27 -
DOMINGO
No domingo pela manhã, bem cedo do dia, quando ainda pouca gente havia no Mercado Público da cidade, alguns curiosos estavam a falar sobre o acidente da noite de sexta-feira na Praia de Areia Preta e de outras praias de Natal. Alguns chegaram a falar da praia de Ponta Negra onde moravam pescadores e vendedores de frutas, como mangada, caju, araçá além de peixe da pesca os habitantes da vila ou coisa a menos. Um homem chegou a dizer ter uma casa ao largo da praia onde ele pretendia passar o fim de semana. Esse homem, Antônio Justino, era um senhor rico, porém só andava de camisa e calças a calçar, às vezes, uma sandália em um pé e o sapato no outro (pé).  Mesmo assim, era um senhor de largas posses. Homem criador de gado em uma cidade interiorana, longe mesmo da cidade. Falava truncado como se estivesse começando a discorrer naquele momento. De porte alto, cabelos grisalhos, cor da pele branca, mesmo assim de tanto sol esse homem tinha a cor escurecida. Ele não só falava como também gesticulava com os braços para em seguida cruzá-los e ficar em silencio a mastigar a língua.  E quando começava a discorrer era de uma forma singular. Com os braços a jogar para cima, a gaguejar e logo após se recolher. Era assim a falar seu Justino. Tinha dias ele passava na capital. Em outros, na fazenda. E nesse dia falava apenas de Ponta Negra praia segundo dizia o mesmo:
Justino:
--- Ali está o futuro da capital. Pode apostar no que digo. Quando os americanos estiveram por essas bandas, eles gozavam as delicias do mar de Ponta Negra. – falava o velho e silenciava após.
Os mais céticos nada falavam e apenas ouviam o “velho” a falar. E o homem prosseguia após um momento de silencio com o negocio da residência da praia. Uma casa mais parecida com um casarão toda alpendrada onde se podia olhar o mar e suas preguiçosas jangadas. Ele falou de um desembarque havido em séculos passados por um histórico alemão Jacob Rabi e duzentos holandeses mais os índios Janduís.
Justino:
--- Foi mortandade de colonos no martírio de Cunhaú. Setenta fieis e o Padre André de Soveral. Foram todos trucidados na capela. Coisa triste. – cuspiu o homem para um lado.
O homem recolheu seus braços sobre os peitos. E começou a roçar o chão bruto. Se alguém duvidasse da chacina ele coçava a cabeça para depois falar alto da tragédia.
Justino
--- Meus avós contaram! É.... É...- (falava o bravo homem para em seguida calar). – Agora se ninguém acredita nisso eu nem me importo. – batia com suas mãos uma na outra.  
Uma pessoa perguntava ao “velho” que era esse tal Jacob Rabi. E ele apenas respondia sem nenhum remorso.
Justino:
--- Hein? Um ‘cabra’ safado! Pronto! – respondia o velho a cutucar o chão pondo os braços encruzados nos seus peitos.
Nesse meio tempo chegou ao Mercado o senhor Sisenando a procura de carne verde quando levaria um cerca porção. A passar pelo Café do Mercado se topou com o velho Justino. E foi aquele abraço forte demais, uma vez ser Justino um antigo maçom apesar de estar ausente das sessões. As conversas giraram em torno da Loja e pouco depois Sisenando indagou como estava a casa grande de Ponta Negra. O velho abaixou a cabeça para em seguida levantar com o sorriso afável a declarar:
Justino;
--- Irmão! Vai tudo bem! Ainda ontem, com as notícias preocupantes eu andei por lá. Eu vi o desastre sofrido por aquela gente pobre. Mas a nossa casa estava na régua. – falou contente.
Sisenando.
--- E no compasso? – indagou a gargalhar o homem.
Justino.
--- Pois sim. Na régua e no compasso. A nossa casinha fica mais para longe da maré. Eu fico a pensar: será que o mar vai subir mais? – perguntou o homem com certa preocupação.
Sisenando:
--- Eu não sei. Francamente não sei! Os engenheiros estão empenhados desde agora com essa súbita tempestade onde várias pessoas perderam a inevitável vida. Quando não foi assim, os que sobreviveram, perderam tudo ou o resto da sobra. – falou o homem quase a chorar.
Justino:
--- Quem perdeu se não perdeu a vida, ele perdeu tudo. Um pescador da vila perdeu a mulher e três filhos. Teve outro que foi a mesma sina. E muitos outros mais. Os jangadeiros escaparam por estarem no mar. Foi uma coisa horrenda. – relatou enervado o velho.
Sisenando:
--- Interessante! O mar secou e subiu de repente? Como se deu essa devastadora tormenta? – indagou preocupado o homem.
Eurípedes chegou à residência de Nara por volta das 08,30 horas da manhã do domingo. A moça estava a dedilhar o violão com o seu precioso filho a dormir no berço amado. A mãe de Nara estava na cozinha a preparar o almoço. Ao chegar à porta Eurípedes temeu bater palmas para não quebrar o tranquilo sono da criança. Ele apenas deu um alô vagaroso e entrou na sala de visitas. A moça fez sinal de que o infante estava a dormir. E sorriu até. Eurípedes compreendeu perfeitamente o sinal por Nara feito. A moça abaixou o violão e perguntou ao rapaz se já tomara café. Ele fez que sim, como era de hábito. No mesmo instante dona Ceci veio de dentro da cozinha a enxugar as mãos em um pano e falou baixinho para o rapaz a indagar se ele trabalhou na noite passada. O médico fez que sim. E logo após, muito bem a sorrir, a mulher disse ter de entrar pois a galinha estava sendo preparada. E sorriu. O rapaz não fez questão. Ao se sentar na almofada de veludo do piano, o rapaz nem ao menos tocou em uma tecla e quis apenas jogar conversa fora com Nara. A manhã era clara de sol a queimar horas depois, uma vez não haver presença de nuvens. O verdureiro passou à porta da casa e de um modo tranquilo ele apresentou as tradicionais verduras, frutas entre coisas simples de se oferecer. Dona Ceci veio depressa e foi marcando o necessário. Esse tempo demorou um pouco. O garoto da gazeta veio depressa e entregou o jorna matinal. Uma vizinha também veio às compras ela aproveitando a estada do verdureiro a despachar em plena calçada. De dentro da sala Nara estava a conversar com Eurípedes sobre coisas triviais. E esse, a um tempo teve de declarar ser importante aquilo a declarar. E foi em frente.
Eurípedes:
--- É que eu tenho um caso muito serio para ajustar. - falou o rapaz sem ao menos sorrir.
Nara não entendeu e esperou Eurípedes continuar. O rapaz olhava para a moça batendo os dedos uns nos outros e continuou sem conversa. A moça ficou inquieta e perguntou de pronto o tanto a afligir o rapaz. Ele deu um leve sorriso e foi a pergunta:
Eurípedes:
--- Você quer casar comigo? – perguntou de imediato o mancebo.
A moça fez uma cara de não ter entendido muito bem a pergunta feita de modo suave e indagou por sua vez:
--- Que? – perguntou a donzela com uma cara de estúpida.
Eurípedes:
--- Case comigo! – relatou o rapaz de forma bem tranquila.
Nessas alturas a donzela não sabia se sorria ou se chorava. E pôs um lenço na boca, abriu os olhos e se derreteu na gargalhada chorosa. Deu um passo pra trás e ao mesmo tempo sorria e chorava. Aconteceu de ter levado um tombo em uma cadeira onde a moça abaixou a sua cabeça no braço do assento a sorrir e a chorar. E era um choro distante e longo por ter o rapaz indagado ter sido o pedido feito de modo informal ou não. A moça delirou até o ponto de indagar ao rapaz;
Nara:
--- Você é louco? Isso é coisa que se faça? – indagou a moça num ímpeto de coragem.
Eurípedes:
--- Eu perguntei. Você diz sim ou não! – proclamou o rapaz pensando um “não”.
A moça se levantou e pegou o seu pimpolho e se largou para o seu quarto rogando a Deus que passasse esse pesadelo, pois não queria dizer ao rapaz um “sim” tão tempestuoso. E foi chorando a todo custo até a sua mãe chegar de fora e indagar a Eurípedes se o menino estava sujo. O rapaz não sabia o que dizer. A moça foi embora e não lhe respondeu a proposta.
Eurípedes:
--- Eu perguntei se ela queria ser a minha esposa! – disse o homem com gesto de aflito.
Ceci:
--- Ora já se viu! E ela não quer? Ela está a namorar outro? Espera! Espera! – disse a mulher com sua carga de temperos e frutas adiantando casa adentro.
Dona Ceci chegou ao quarto de Nara onde encontrou a filha a chorar de forma desregrada e foi logo à pergunta.
Cecí.
--- Como é? O que disse ao rapaz. – indagou a mulher de forma brava.
Nara olhou para a sua mãe e tornou a chorar com a cabeça no travesseiro para ninguém a ver como em um conto de fadas.

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