domingo, 24 de março de 2013

"NARA" - 26 -

- Victoria Justice -
- 26 -
CONVERSA
Com o passar dos minutos com Nara sempre presa a seu braço, Eurípedes ouviu do professor certas recomendações e chegou o mestre a indagar de quantos outros amigos continha Euripedes que soubesse de musica. E Nara puxou em seu braço para ele ouvir baixinho.
Nara:
--- Tua irmã! – falou a moça com brandura.
O rapaz não entendeu muito bem, mas logo a seguir ele complementou o assunto em sua memoria e foi dizer ao mestre ter uma irmã.
Euripedes:
--- Na verdade eu tenho uma irmã que está concluindo os estudos na Escola onde o senhor ensina. – falou o rapaz.
O homem ficou preocupado em saber o caso e mesmo assim procurou o nome da moça.
França:
--- Aluna? Como se chama? – indagou o mestre.
Eurípedes:
--- Rócia. Ela está no último grau de ensino no manejo do piano. Mas Rócia toca também violino. É uma eximia estudante. – reportou o rapaz.
O professor sorriu e se alarmou de repente.
França:
--- O senhor é irmão de Rócia? Não precisa dizer mais nada. Tem uma família de eruditos. – falou ele com entusiasmo.
Nara sorriu de contente e abraçou bem forte o rapaz por toda a sua cintura. O professor Carlos França teve um instante de preocupação. Ele sabia de um festival da Juventude e por isso mesmo o rapaz estava interessado em alguém para ministrar aulas para os seus componentes, com certeza sobre música. Todavia o professor não se introduziu de imediato no assunto. Ele queria ir mais distante aproveitando o colóquio com respeito ao código musical. A bem saber, para o mestre do ensino a linguagem musical em verdade era seu meio de expressão  de um mundo interior, não o exterior que rege seu mundo de ideias e imagens. Então com muito vagar o mestre salientou:
França:
--- Meu rapaz. Eu tive uma ideia que pode ser muito bem aproveitada. Para o final do ano vai haver em Natal um concerto onde várias orquestras vivenciarão aqui suas metamorfoses musicais a representarem seus Estados de origem. Seria oportuna a presença de vocês. E eu aceito dizer:  Nara, ao violão, Rócia ao violino e, naturalmente o nobre cavalheiro. E digo mais: com certeza a poesia a encantar terá o primo de suas mãos a verter em som com orquestra a bela melodia de Rapsódia em Blue. – falou o mestre ao ouvir tal suspense.
Após alguns minutos de absoluto silencio, o médico voltou a falar com maestria e alegou ter ele algumas composições de George Gershwin, como “Canção de Ninar” – Lullaby – feita apenas para piano, O médico Eurípedes disse ter tocado essa melodia por varias vezes e a sua irmã Rócia sempre o elogiava uma vez ser uma canção bastante triste e acalentadora para se por à dormir as criancinhas em seus berços dispostos em almofadas. E logo após sorriu.  
Eurípedes;
--- Tem várias melodias desse autor falecido há poucos anos. Uma delas é a “Canção de Ninar” conhecida por Lullaby feita apenas para piano, O senhor deve conhecê-la. A minha irmã fica exultante quando a ouve. - sorrio o médico pra não ficar acabrunhado.
França:
--- Sim. Eu a conheço. É uma bela melodia, porém tristonha. – refletiu meio confuso o mestre.
Nara:
--- Toca um pouco essa melodia. Eu mesma não a conheço. – pediu a moça com sentimento.
Eurípedes esteve em dúvidas. Porém, com uns instantes resolveu assumir o comando da festa a dizer ser aquela canção para ninar o pequeno garoto a dormir sono profundo. Nara sorriu demais e o professor se pôs de pé de forma solene, um cachimbo na boca como se estivesse a fumar, a mão direita a pegar o cachimbo, a cabeça ligeiramente abaixada e fez-se quieto rindo apenas. E a continuação o jovem médico entoou sua majestosa canção com acordes delicados e cadenciosos a envolver o ambiente de pura e embriagadora  sisudez nostálgica. A chuva fina e passageira caiu sobre parte da cidade colhendo mágoas eternas e ilusórias dos entes vivos a se mostrar a correr depressa para se ambientar em um acolhedor ponto de comércio por alí existente. Dois militares a andar depressa e a conversar algum motivo. Mocinhas abriam as abas das janelas de suas casas e, sorrindo sempre olhavam o movimento da rua onde as donzelas moravam. Um cão gritou como se tivesse sido atropelado. Galos a cantar em tons altaneiros advertindo como a bradar a chegada da chuva. Gente na Rua Ocidental de cima a erguer as paredes de suas casas passadas em recente destruição. Um touro mugia. Era o sinal da forca a qual era submetido. A máquina do trem fazia movimento reverso para voltar à tração. Um homem trabalhava em um capinzal na parte baixa do lugar a limpar o lixo posto em seu terreno pela maré alta da sexta feira. Um bêbado dormia o seu sono sepulcral em estado de embriaguez posto na Feira do Paço. Enfim, tudo era nostálgico e sombrio. Ao solo de um piano vertical o jovem médico fazia-se presente a entoar em um compasso sutil os acordes da melodia sentimental. Tudo era finito e calmo para o homem a delirar os seus anseios de quando criança fora. Anseios mil afogavam a mente da jovem moça como também estivesse a dedilhar aquele tema de lembrança esquecida pela voracidade do tempo. Após tudo se voltou ao momento exato da lembrança.
Nara:
--- Belo. Belo. Muito belo mesmo. – falou com suavidade a moça.
França:
--- Sim. Uma melodia terna entoada por um requintado mestre. – disse por sua vez o ilustre professor.
Eurípedes sorriu a seu modo e pôs as mãos nas suas pernas a olhar indiferente para o piano por não ter nada a dizer. Passado um tempo ele então falou com voz terna e meiga.
Eurípedes:
---  Lullaby! – e sorriu sem maestria.
Dona Ceci voltou de dentro da sala de jantar a trazer xicaras de um quente café. A mulher coou o café logo após chegar da Missa na Catedral. O pessoal se sentiu agradecido com a tal ação da senhora Cecília. Nesse ponto, um garoto do jornal do dia chegou apressado e deixou um exemplar quase à porta. E logo saiu com bastante pressa. Nara apanhou o matutino e viu a notícia do acidente da Praia de Areia Preta. Tão breve leu a nota com imensa rapidez, a moça discorreu a todos os presentes.
Nara:
--- Vejam! Coisa triste! – se tomou por um arrepio ao relatar tal fato.
O som de uma porta a se fechar voltava tudo ao habitual silêncio. Um cão ladrou. Dona Ceci viu a trágica noticia e lamentou sentida. O professor França também olhou com pressa o dizer do acontecido. A foto foi tirada já mesmo do sábado pela manhã para por mais veracidade à história. Nem tudo a matéria relatava. Talvez por falta de tempo para o repórter descrever o ocorrido na noite/madrugada daquele mesmo sábado. O médico também olhou a matéria e com pouco tempo se esforçou em relaxar os músculos. Com certeza ele ainda se sentia dorido pela tensão de ter passado a noite toda a cuidar dos pacientes da maré gigante.    
À hora do almoço o professor Carlos França já havia saído da casa de Nara e nem ao menos esperou o retorno do seu amigo e “Irmão”, o senhor Sisenando. Apenas o professor França se explicou ter outros assuntos a tratar e marcou o próximo encontro de Nara e Eurípedes para a próxima semana. Com minutos de atraso, seu Sisenando voltou à sua moradia e chegou cheio de assuntos para contar. A notícia da praia foi o tema principal. Ele se lembrou de ter a gente enferma sido encaminhada ao Hospital onde Eurípedes trabalhava. E indagou ao médico:
Sisenando:
--- O senhor estava no Hospital? – indagou meio vexado a Eurípedes.
Eurípedes.
--- Sim. Eu estava. Muita gente machucada. E tinha também de outras artérias. Eu mesmo não me ative ao processo. Não havia tempo para tal. – respondeu o medico enquanto almoçava.
Sisenando.
--- Pois foi isso. Na rua é só no que se fala. Eu estive no local da tragédia! Coisa sem explicação!  - relatou o homem enquanto traçava um pedaço de galinha.
Nara:
--- Ponche? – indagou a moça ao rapaz a oferecer ponche para descer ao estômago a comida.
Eurípedes:
--- Pouco. – salientou o rapaz fazendo gesto com a mão esquerda.
Dona Ceci cuidava de trazer a comida a colocar em pratos fundos e deixando os pratos rasos para se por o restante a sobrar. Era como se fosse o lixo com certeza. A moça Nara, por fim se sentou, com o menino no berço posto ao lado. O rádio ligado dava novas informações sobre o trágico acidente da noite de sexta-feira.

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