- Victoria Justice -
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CONVERSA
Com o passar
dos minutos com Nara sempre presa a seu braço, Eurípedes ouviu do professor
certas recomendações e chegou o mestre a indagar de quantos outros amigos
continha Euripedes que soubesse de musica. E Nara puxou em seu braço para ele
ouvir baixinho.
Nara:
--- Tua irmã!
– falou a moça com brandura.
O rapaz não
entendeu muito bem, mas logo a seguir ele complementou o assunto em sua memoria
e foi dizer ao mestre ter uma irmã.
Euripedes:
--- Na verdade
eu tenho uma irmã que está concluindo os estudos na Escola onde o senhor
ensina. – falou o rapaz.
O homem ficou
preocupado em saber o caso e mesmo assim procurou o nome da moça.
França:
--- Aluna?
Como se chama? – indagou o mestre.
Eurípedes:
--- Rócia. Ela
está no último grau de ensino no manejo do piano. Mas Rócia toca também
violino. É uma eximia estudante. – reportou o rapaz.
O professor
sorriu e se alarmou de repente.
França:
--- O senhor é
irmão de Rócia? Não precisa dizer mais nada. Tem uma família de eruditos. –
falou ele com entusiasmo.
Nara sorriu de
contente e abraçou bem forte o rapaz por toda a sua cintura. O professor Carlos
França teve um instante de preocupação. Ele sabia de um festival da Juventude e
por isso mesmo o rapaz estava interessado em alguém para ministrar aulas para
os seus componentes, com certeza sobre música. Todavia o professor não se
introduziu de imediato no assunto. Ele queria ir mais distante aproveitando o
colóquio com respeito ao código musical. A bem saber, para o mestre do ensino a
linguagem musical em verdade era seu meio de expressão de um mundo interior, não o exterior que rege
seu mundo de ideias e imagens. Então com muito vagar o mestre salientou:
França:
--- Meu rapaz.
Eu tive uma ideia que pode ser muito bem aproveitada. Para o final do ano vai
haver em Natal um concerto onde várias orquestras vivenciarão aqui suas
metamorfoses musicais a representarem seus Estados de origem. Seria oportuna a
presença de vocês. E eu aceito dizer:
Nara, ao violão, Rócia ao violino e, naturalmente o nobre cavalheiro. E
digo mais: com certeza a poesia a encantar terá o primo de suas mãos a verter
em som com orquestra a bela melodia de Rapsódia
em Blue. – falou o mestre ao ouvir tal suspense.
Após alguns
minutos de absoluto silencio, o médico voltou a falar com maestria e alegou ter
ele algumas composições de George Gershwin, como “Canção de Ninar” – Lullaby
– feita apenas para piano, O médico Eurípedes disse ter tocado essa melodia por
varias vezes e a sua irmã Rócia sempre o elogiava uma vez ser uma canção
bastante triste e acalentadora para se por à dormir as criancinhas em seus
berços dispostos em almofadas. E logo após sorriu.
Eurípedes;
--- Tem várias
melodias desse autor falecido há poucos anos. Uma delas é a “Canção de Ninar”
conhecida por Lullaby feita apenas para piano, O senhor deve conhecê-la. A
minha irmã fica exultante quando a ouve. - sorrio o médico pra não ficar
acabrunhado.
França:
--- Sim. Eu a
conheço. É uma bela melodia, porém tristonha. – refletiu meio confuso o mestre.
Nara:
--- Toca um
pouco essa melodia. Eu mesma não a conheço. – pediu a moça com sentimento.
Eurípedes
esteve em dúvidas. Porém, com uns instantes resolveu assumir o comando da festa
a dizer ser aquela canção para ninar o pequeno garoto a dormir sono profundo.
Nara sorriu demais e o professor se pôs de pé de forma solene, um cachimbo na
boca como se estivesse a fumar, a mão direita a pegar o cachimbo, a cabeça
ligeiramente abaixada e fez-se quieto rindo apenas. E a continuação o jovem
médico entoou sua majestosa canção com acordes delicados e cadenciosos a
envolver o ambiente de pura e embriagadora
sisudez nostálgica. A chuva fina e passageira caiu sobre parte da cidade
colhendo mágoas eternas e ilusórias dos entes vivos a se mostrar a correr
depressa para se ambientar em um acolhedor ponto de comércio por alí existente.
Dois militares a andar depressa e a conversar algum motivo. Mocinhas abriam as
abas das janelas de suas casas e, sorrindo sempre olhavam o movimento da rua
onde as donzelas moravam. Um cão gritou como se tivesse sido atropelado. Galos
a cantar em tons altaneiros advertindo como a bradar a chegada da chuva. Gente na
Rua Ocidental de cima a erguer as paredes de suas casas passadas em recente
destruição. Um touro mugia. Era o sinal da forca a qual era submetido. A
máquina do trem fazia movimento reverso para voltar à tração. Um homem
trabalhava em um capinzal na parte baixa do lugar a limpar o lixo posto em seu
terreno pela maré alta da sexta feira. Um bêbado dormia o seu sono sepulcral em
estado de embriaguez posto na Feira do Paço. Enfim, tudo era nostálgico e
sombrio. Ao solo de um piano vertical o jovem médico fazia-se presente a entoar
em um compasso sutil os acordes da melodia sentimental. Tudo era finito e calmo
para o homem a delirar os seus anseios de quando criança fora. Anseios mil
afogavam a mente da jovem moça como também estivesse a dedilhar aquele tema de
lembrança esquecida pela voracidade do tempo. Após tudo se voltou ao momento
exato da lembrança.
Nara:
--- Belo.
Belo. Muito belo mesmo. – falou com suavidade a moça.
França:
--- Sim. Uma
melodia terna entoada por um requintado mestre. – disse por sua vez o ilustre
professor.
Eurípedes sorriu
a seu modo e pôs as mãos nas suas pernas a olhar indiferente para o piano por
não ter nada a dizer. Passado um tempo ele então falou com voz terna e meiga.
Eurípedes:
--- Lullaby! – e sorriu sem maestria.
Dona Ceci
voltou de dentro da sala de jantar a trazer xicaras de um quente café. A mulher
coou o café logo após chegar da Missa na Catedral. O pessoal se sentiu
agradecido com a tal ação da senhora Cecília. Nesse ponto, um garoto do jornal
do dia chegou apressado e deixou um exemplar quase à porta. E logo saiu com
bastante pressa. Nara apanhou o matutino e viu a notícia do acidente da Praia
de Areia Preta. Tão breve leu a nota com imensa rapidez, a moça discorreu a
todos os presentes.
Nara:
--- Vejam! Coisa
triste! – se tomou por um arrepio ao relatar tal fato.
O som de uma
porta a se fechar voltava tudo ao habitual silêncio. Um cão ladrou. Dona Ceci
viu a trágica noticia e lamentou sentida. O professor França também olhou com
pressa o dizer do acontecido. A foto foi tirada já mesmo do sábado pela manhã
para por mais veracidade à história. Nem tudo a matéria relatava. Talvez por
falta de tempo para o repórter descrever o ocorrido na noite/madrugada daquele
mesmo sábado. O médico também olhou a matéria e com pouco tempo se esforçou em
relaxar os músculos. Com certeza ele ainda se sentia dorido pela tensão de ter
passado a noite toda a cuidar dos pacientes da maré gigante.
À hora do
almoço o professor Carlos França já havia saído da casa de Nara e nem ao menos
esperou o retorno do seu amigo e “Irmão”, o senhor Sisenando. Apenas o
professor França se explicou ter outros assuntos a tratar e marcou o próximo
encontro de Nara e Eurípedes para a próxima semana. Com minutos de atraso, seu
Sisenando voltou à sua moradia e chegou cheio de assuntos para contar. A
notícia da praia foi o tema principal. Ele se lembrou de ter a gente enferma
sido encaminhada ao Hospital onde Eurípedes trabalhava. E indagou ao médico:
Sisenando:
--- O senhor
estava no Hospital? – indagou meio vexado a Eurípedes.
Eurípedes.
--- Sim. Eu
estava. Muita gente machucada. E tinha também de outras artérias. Eu mesmo não
me ative ao processo. Não havia tempo para tal. – respondeu o medico enquanto
almoçava.
Sisenando.
--- Pois foi
isso. Na rua é só no que se fala. Eu estive no local da tragédia! Coisa sem
explicação! - relatou o homem enquanto
traçava um pedaço de galinha.
Nara:
--- Ponche? –
indagou a moça ao rapaz a oferecer ponche para descer ao estômago a comida.
Eurípedes:
--- Pouco. –
salientou o rapaz fazendo gesto com a mão esquerda.
Dona Ceci
cuidava de trazer a comida a colocar em pratos fundos e deixando os pratos rasos
para se por o restante a sobrar. Era como se fosse o lixo com certeza. A moça
Nara, por fim se sentou, com o menino no berço posto ao lado. O rádio ligado
dava novas informações sobre o trágico acidente da noite de sexta-feira.
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