domingo, 31 de março de 2013

"NARA" - 30 -

- Nastassja Kinski -
- 30 -
ÁGUA
Na manhã de segunda-feira, ainda cedo, os vaqueiros tangiam o pouco restante da boiada para deixar passar o caminhão da água e despejar o seu salvador conteúdo no tanque de armazenamento feito já de há muito pelos parentes já mortos do criador Amaro Borba Castro. O motorista, cujo nome era Salvador, já bastante suado, sem camisa e tão somente com os mosquitos lhe atormentar, buzinava sem parar para espantar o resto da manada. Salvador viajara a madrugada toda para garantir a água como sustento das reses ainda resistentes à seca braba que assolava o interior do Estado. Salvador era um jovem homem baixo, porém atravancado e forte. Não falava muito. Mas dizia o que pensava. Talvez por isso, o motorista se deu bem com o criador, homem justo e de há muito a viver e conviver naquele insólito recanto interiorano. Naquele momento então Salvador, já tendo recebido o pagamento pelo caminhão com água não vira o seu Amaro Borba e tendeu a indagar ao vaqueiro:
Salvador:
--- O chefe? – indagou o motorista para saber se o dono da fazenda estava..
O vaqueiro, de imediato, falou se virando então para o motorista enquanto tangia o gado.
Tomaz:
--- Cidade! – respondeu o vaqueiro levantando o braço para dizer ter seu patrão saído.
Salvador não entendeu direito e quis saber se o patrão teria ido para Santa Cruz e o vaqueiro responde que não.
Salvador:
--- Lá? - apontando a cidade de Santa Cruz.
Tomaz:
--- Não! Cidade! Capital! – respondeu o vaqueiro com o braço comprido para o alto e a tanger as vacas.
O motorista então coçou o pescoço e não se podia saber se era por questão das moscas ou um problema outro surgido da noite para o dia. O certo foi o motorista bater as pernas no chão para então descansar da labuta ou não. E uma mulher veio de dentro da casa querendo saber se o motorista queria tomar alguma coisa. E foi a perguntar:
Mulher:
--- Moço? Água? – indagou a mulher já com a quarta na mão.
Salvador:
--- Aceito! – respondeu o rapaz a espantar as moscas de cima dele.
E a mulher entornou na caneca uma porção de água não deixando de olhar com a sua cabeça abaixada para o homem. E perguntou:
--- Bom? – quis saber a mulher vendo a caneca quase cheia.
O rapaz, então responde tangendo as avarentas moscas.
Salvador:
--- Checa. Tá bom. – respondeu.
Mulher:
--- Café? – perguntou a mulher.
O motorista ainda estava a beber água e não pode falar respondendo com um balançar de cabeça. E, depois de algum tempo a mulher retornou com o bule de café dando novamente a caneca e pondo o café dentro da mesma. No momento a mulher indagou se ele queria comer algo. O rapaz disse sim. A mulher de meio porte deu a ele uns biscoitos. Tendo feito tudo isso, ela voltou ao interior da casa grande. Após tomar o café o homem ficou a passear pela roça enquanto o caminhão despejava seu conteúdo no interior de um tanque enorme. Esse tanque quando cheio dava muito bem para quatro meses ou mais, se houvesse irreversível seca. Andando pelo meio de cercado Salvador chegou a dizer ao vaqueiro Tomaz.
Salvador;
--- Um mundão de terra,. – falou de olhos fixos o motorista.
Tomaz.
---Sim. Bem ao longe tem a serra. – falou o vaqueiro a observar o gado.
Salvador:
--- Serra! – falou o rapaz pensado na imensidão de terras.
De vez uma jovem moça surgiu à porta da casa grande e olhou depressa para rapaz mesmo estando distante para qualquer conversa. Salvador sem querer, escorado em uma cerca com os dois cotovelos. Ele olhava o caminhão e, de repente notou a figura da mocinha. A moça sorriu leve e entrou correndo mais para dentro da casa grande. O rapaz não se preocupou com o caso e se voltou para o vaqueiro e falou das noticias da capital.
Salvador.
--- O senhor conhece a cidade? – indagou o motorista ao vaqueiro.
Tomaz:
--- Já estive lá. Terra muito vasta. Não tem açude. Eu não ambiento num lugar como aquele. – reportou o vaqueiro.
O motorista passou a mão no pescoço e levou um tempo sem falar. Outro vaqueiro chegou a cavalo quase depressa e pulou fora deixando a montaria a sair sem nada mais. Salvador ficou apenas a observá-lo enquanto Tomaz, o outro vaqueiro ficou calado esperando as novidades. O novo vaqueiro, por nome Anselmo virou a cabeça para o lado da serra e, por fim, disse o que tinha a dizer. Ele estirou seu braço e declarou apenas:
Anselmo:
--- Três. Um é garrote. Perto da entrada da serra. - e se amoitou com a cabeça abaixada.
Tomaz ficou a pensar e se virou para o lado do penhasco e se apoiando na cerca com seu braço esquerdo, ficando a matutar. Após um pedaço de tempo Tomaz resolveu falar e indagou de Anselmo se ele conferiu os ferros. E o rapaz se levantou do seu acocorado respondendo após.
Anselmo:
--- Eu conheço o gado do doutor. – isso foi o que disse com voz abusada.
Tomaz calou. Ele sabia de gado perdido por aqueles lados do penhasco. E ficou um bom tempo a matutar. Não seria conveniente chamar seu Amaro Borba. Bem melhor ir à Capital. Mesmo assim Tomaz procurou conversa para afirmar como as vacas morreram. E se o outro vaqueiro teria outra conversa.  Tomaz cuspiu de lado deixando a mescla de fumo presa na banda da cara por entre os dentes carcomidos de tabaco. E Tomaz se acocorou por seu lado com um cavaco de pau na mão direita a fuçar o chão. Em alguns segundos ele olhou para os fins da terra onde a madrugada despertava.  Um tempo e ele olhou para Salvador, o motorista. Ele olhou e pensou a seguir não dizer coisa alguma. Nesse momento o vaqueiro Tomaz pegou as rédeas do seu cavalo, montou e saiu em disparada a buscar o gado morto nos confins da terra árida e endurecida. O segundo vaqueiro ficou a olhar e logo em seguida tomou as rédeas de sua montaria e largou atrás em busca do companheiro de lutas. Salvador, o motorista, ficou para trás escorado na cerca a olhar os dois vaqueiros. Em instantes a moça nova se acercou com um bule de refresco na mão e disse ser para ele aquela garapa feita de umbu. O homem por pouco não rejeitou,  pois estava satisfeitos com o café e os biscoitos oferta da mulher da casa grande. Mesmo assim fez de conta que nada tinha de ser satisfeito e aceito uma caneca. Ele olhou para a pequena donzela e sorriu falado após:
Salvador:
--- Obrigado. Nem era preciso. A sua mãe me trouxe café. – sorriu o motorista.
A mocinha também sorriu e declarou logo após:
Moça:
--- A mulher não é minha mãe. Ela é viúva. Eu sou das bandas de baixo. – e fez com a mão um pouco estendida de onde ela era.
Salvador sorriu e tomou uma caneca de umbu. A moça ficou parada a sua frente e sorria por tudo e por nada. O homem foi quem perguntou a seguir.
Salvador:
--- Mas a senhorita mora na casa? – indagou sem esperteza o motorista.
Moça:
--- Eu me chamo Margarida. E moro na casa grande. - sorriu a pena com os braços cruzados para trás.
Salvador:
--- Faz tempo? – indagou o motorista.
Margarida:
--- Desde pequena. Eu sou filha do homem. Seu Amaro. Mas ele mantém segredo. – relatou a moça.

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