quinta-feira, 4 de abril de 2013

"NARA" - 32 -

- Charlize Theron -
- 32 -
TERREMOTO
Na segunda feira, por volta das 9 horas, chegou à residência de Nara o seu noivo, Eurípedes com o intuito de receber aulas de piano dadas pelo professor França, conforme o combinado. O professor ficou com acerto de prestar aulas dia sim, dia não. Além de sorrir a contento por ter aulas de piano Euripedes também estava com outra lembrança no bolso do seu paletó: um par de alianças de ouro. Ele nada falou. Apenas, com o abraçar e beijar de Nara, o rapaz logo após lhe deu a encantadora joia e solicitou ter a moça o direito de colocar em seu dedo anular da mão direita. Beijos e carícias foi o prolongamento das eras. Mais um pouco chegou à casa o professor França aparentando cansaço e calor. A manhã de segunda-feira era mesmo de muito calor, pois àquela hora matinal já era quente o dia, apesar de ser ainda muito cedo. O homem do carvão passou em sua marcha a levar seus dois jericos  apinhados de sacos. Para mostrar a sua tendência o homem oferecia a cada instante:
Carvoeiro:
--- Carvão! Olha o carvão! Carvão! – falava alto e bom som.
Logo atrás vinha o rapaz do sorvete a oferecer a delícia da manhã para quem quisesse. Uma mulher saiu da sua residência preocupada com a hora. E olhou para a residência de dona Cecí, para calcular se a mulher estava em casa ou não. Qualquer coisa a mulher teria a falar com dona Cecí. Embora preocupada, a mulher saiu quase correndo para não perder a hora na repartição e resolver algo de todos os meses. O barulho do avião se misturou com o de um automóvel a passar em outra rua. O homem gordo do balaio trazia as compras de alguém e desceu a ladeira da rua com seu andar alquebrado. Dentro da residência de Nara, estava o professor enxugando o suor a brotar de sua testa aos poucos momentos do dia. E pediu água a Nara. Algo surpreendeu os cães da rua. O latir de todos punha as pessoas ao nervosismo Um ruído fez as telhas de a residência tremer. Ao mesmo tempo um barulho intenso fez vibrar o chão. Parecia com um trem de carga ou de vários caminhões a passar em outra rua. O professor sentiu ao mesmo tempo algo de anormal em seu pescoço. De repente algo lhe fez pensar:
França:
--- Estrondo? Onde? – inquietou o homem a indagar.
Oito segundos. Um abalo sísmico estremeceu toda a casa e outras casas mais adiante. O berço do menino correu o chão. A casa toda sentiu o forte tremor. Dona Cecí estava em sua máquina de costura e viu os carreteis de linha correr para o lado. A própria mulher se desequilibrou. Nara tombou  à mesa. Seus copos caíram desordenados. Tudo estava se transtornando em sua volta. O mundo todo ruiu. Eurípedes gritou de vez:
Eurípedes:
--- Terremoto? Meu Deus do Céu! – e tombou para o sofá.
Do piano ouvia-se uma música misteriosa. Naquele instante a tragédia era o caos. Dentro de casa dona Cecí olhava atenta para todos os lados. Por fim misteriosamente falou de vez:
Cecí:
--- Deus meu! – disse a mulher procurando ver o céu de qualquer maneira.
Tudo era pânico na moradia de Nara. A moça cambaleou para um lado e para o outro com se estivesse tendo uma impressionante vertigem. Com o berço a transitar pela sala da moradia e o pequeno menino a chorar, não se sabia por qual motivo, Nara procurou segurar o berço como pode, mesmo a estar distanciado de suas mãos para dar amparo ao seu filho amado. Dona Ceci, completamente atordoada com a tormenta buscava se apoiar com segurança para não ir ao solo. Na sala, o professor França tombou por cima de Eurípedes totalmente sem ter noção do ocorrido. O terremoto causou estragos em toda a moradia bem como nas outras casas ao largo da rua e em outras ruas de Natal. Um estrondo repentino se ouviu em pleno morro do Tirol, o já chamado por antigos moradores como sendo o Morro do Estrondo. Mais para o lado norte da capital o tremor de terra ou maremoto abalou com maior força o mar, o qual se soergueu de forma brutal como uma fera uivante e faminta. Os barcos de pescas ancorados no rio Potengi eram largados como folhas jogadas ao vento.  O mar terrível se avolumou de instante em assustado rigor penetrando terra adentro. Nesse ponto, quem estava por sua casa nada sabia do havido por longos trechos de Natal. No momento do terremoto o caso se atinha a residência de Nara. Contudo, o terror vertiginoso se espalhou depressa por toda a rua com mulheres meninos e moças a correr desesperados em busca de alguma proteção em qualquer ponto sendo o Convento de Santo Antônio o principal refugio. Era um alarido atroz de choros entre adultos e infantes. Em plena rua, na frente da moradia de Nara algo bateu com força. Era o automóvel do jovem Euripedes. O veículo veio aos trancos e barrancos posto para o interior da moradia. Com o baque o carro forçou entrar. E nesse tal momento o jovem procurava se desvencilhar do corpo do professor França. Esse por sua vez, fazia o mesmo ainda sem noção do ocorrido. Gatos e cães saíram em desespero a penetrar por qualquer canto. Os cães vira-latas foram os primeiros a notar o rigoroso barulho do ameaçador terremoto como a correr rua a fora desenfreados a latir por algo desconhecido. No quintal de Nara apenas o galo fez um barulho curioso com o seu gorgolejar. Na rua, um burro, arrastando sua carroça passou desenfreado a relinchar. Tudo isso ocorreu no mesmo tempo. E mais alguma coisa como o descarrilhar do trem próximo a Tração, ponto de se trocar a posição das locomotivas. Tudo isso veio a se saber após. No instante apenas a tragédia na casa de Nara. Aos primeiros minutos quando tudo se acalmou os moradores da casa se levantaram de seus lugares apoiando-se no local mais perto possível para então refazer as suas ideias. E não foi apenas isso. Quando todos já estavam a se levantar dos escombros da moradia veio o pânico generalizado. Como outros moradores da rua, o pessoal de Nara – filho, avó, noivo e professor – tiveram então o terror por companhia. E então, todos correram também para o meio da rua passando sobre o automóvel de Eurípedes caído de encontro à parede da casa além de outras trágicas noticias declaradas. Cada um que disse o que mais lhe vinha a cabeça.
Moradores:
--- É o mundo! É o mundo! Vai todo mundo morrer! – diziam os desesperados em fugaz alarme
No seu caminhar apressado, com o menino nos braços dizia a qualquer custo.
Nara:
--- Depressa! Depressa! A casa pode cair! – declarou alarmada a moça.
O seu noivo vinha logo atrás e em seguida o professor França. Dona Ceci teve de buscar o galo, pois queria salva-lo da hecatombe anunciada. Na rua cheia de gente, já estavam moradores, todos desatinados e cada um querendo dizer ter sido um fantasma em plena manhã estival. Mais para frente o Convento já recebia os fieis ou não para acudir e dar amparo. Nada se sabia ao certo de haver um terremoto em plena manhã de sol. Cada um queria ser o primeiro a se confessar dos pecados, pois é hora de se entrar no Céu como prometera o Senhor. E podia se notar dezenas de pessoas, velhos, moços e crianças a procurar o protegido abrigo do Convento dos Frades Capuchinhos. E era um alvoroço só para os Frades Capuchinhos aguentar tanta celeuma. Crianças a chorar demais. Velhos a pedir qualquer proteção. Moças a se lembrar do namorado. Mulheres a querer despejar seus agoniantes pecados. No meio de tanta gente, vinha Nara com seu filho nos braços a correr seguida do seu noivo e de sua mãe. O professor, nem se sabia com quem estava, pois se perdera na multidão. Os estrondos continuavam a ser ouvidos a todo instantes para os lados do Tirol. Um mundo de gente vinha de trás do Convento onde dezenas de pessoas residiam. Todos da região do Paço da Pátria e ruas próximas para o lado direito de quem desce naquela direção. A feira do Paço já não existia mais. Mesmo assim, tinha os seus moradores. As casas de palafitas já não representavam mais, pois a forte maré de alguns dias passados já as destruiu de uma só vez. Mesmo assim, havia moradores da parte de cima do muro de pedra em direção à Cidade Alta. Gente sofrida e temerosa, essas pessoas já vindas de remotas eras. Nessa parte alta da cidade morava gente rica misturando-se assim a mísera pobreza indigente. No entanto, todos estavam à deriva dividindo espaço, apesar dos mais fortes querer as promessas feitas em primeiro lugar pelos óbolos dados. A imensidão era cada vez maior entre pobres e ricos. Na Igreja de Santo Antônio, onde era o Convento, anciãos e mendigas disputavam espaço pelo lado de fora do Templo ao tempo em que pediam socorros aos que estavam apressados a chegar. Eles estiravam apenas a mão a pedir uma esmola pelo amor de Deus. Era tanta confusão formada por conta do arroto dado pelo de terremoto e bastantes pessoas a chegar às tontas onde não mais havia espaço para se abrigar tamanha gente. Meninas a levar suas bonecas de pano. Gente maior a tremer de pavor sem saber ao certo o que fazer. Mulheres ao desmaio, ruas tomadas por população desatinada. Não se sabia de quanto era a magnitude do sismo e pouco importavam em saber. Gente ferida era o mais frequente. No instante, Eurípedes tomava conta desses socorros aos indigentes sem saber ao certo quem era a pessoa a cuidar. O sismo provocava réplicas a cada instante. Nas casas próximas muros desabavam a deixar as suas vítimas. Eurípedes não procurava saber se esse era o maior sismo ocorrido em Natal, pois não dava tempo para o médico pensar em suposições de tal natureza. Os danos e vítimas eram a maior preocupação do médico. E não se ouvia falar em primeiros socorros, uma vez toda a cidade estar em pânico. Carros encalhados, batidos, uns sobre outros. Uma confusão tamanha. E o sismo a continuar pelos lados do Morro do Tirol, o chamado Morro de Estrondo. Vagas enormes lavaram a costa de Natal, a penetrar pelo Forte dos Reis Magos e praia da Redinha a seguir pelo Rio Potengí. No bairro da Ribeira, o rio entrou pelas ruas de acesso bem como também pelo Canto do Mangue e afetando as Rocas sobremaneira. Tudo isso acontecia há um tempo só. E o povo pobre e ricaço ao desespero reclamava por misericórdia em todos os locais por onde passava. Todos e de uma só vez. Na verdade, era um pandemônio o existente. Apenas a parte alta da cidade era a de melhor aceite para essa tumultuada população. Ouvia-se dizer ter o Governo autorizado se ocupar o terreno ao lado do Palácio onde havia casebres de gente paupérrima. Mesmo assim, não se tinha noção da retumbante calamidade. Ouviam-se apenas os dolorosos gritos a enormidade de gente a clamar por socorro.
Gente:
--- Por favor. Acudam-nos. - diziam os que chegavam aos improvisados pontos de atendimento
Outros:
--- Minha filha onde está? – clamava alguém a procura a sua filha.
Alguém:
--- Vou morrer! – gritava uma mulher ao desespero.
 

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