- Sally Field -
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ÓCTUPLOS
Na noite
daquele dia, o médico Eurípedes chegou logo cedo à residência de Nara parecendo
ter visto um fantasma. Sem sossego um minuto, ele foi logo dizendo está
possesso, pois foi um dia de fato de ter feito um parto de oito irmãos. Sendo
quatro meninos e quatro meninas, essas crianças vieram ao mundo graças a uma
mulher de pouca ou nenhuma posse. Os médicos ficaram alarmados com esse caso
único na história de Natal. Um, dois, três até que poderia ser normal. Porém
oito meninos, isso já era demais. Foi à expressão alucinada do médico
ginecologista obstetra.
Eurípedes:
--- Eu fiz
parto de mulher pobre mesmo. Essa mulher deu à luz a três meninos. Uma era
fêmea. Tudo bem. Sempre faço parto. Dois meninos. É o comum. Mas veja bem:
Oito? Isso é demais! E não foi esse caso o único. A mulher já tem seis
moleques. Todos eles paupérrimos. Nunca foi a um médico! Teve a Deus querer! –
falou quase enlouquecido.
Sisenando:
--- Oito
meninos? Mas é possível uma coisa dessas? – indagou extasiado.
Nara:
--- Você está
brincando! Mas oito? – foi à vez da moça bem alarmada com a mão na boca.
Ceci:
--- Mas oito?
Isso não pode ser? – falou a mulher apavorada.
E a conversa
girou nesse tema com o rapaz enlouquecido com tamanha forma de uma mulher ter
oito filhos e ser de mais uma camada de gêmeos.
Então se formaria quatorze filhos de duas vezes. Eurípedes falou mais
ser a mulher de certa forma bem magra, como as mulheres do campo, em sua
maioria. No estado de coisas a parturiente veio de um cercado para além do
município de São José onde um médico atente na sede do órgão a tantas e quantas
pessoas, velhos e meninos, mulheres, moças, rapazes, todas de qualquer forma.
Mas, com relação a mulher de oito rebentos, essa não foi nem uma vez ao doutor
da cidade. E teve as crianças como se tem brinquedos. Os meninos, sendo quatro
do sexo masculino e quatro do feminino, estavam passando bem, de certa forma
posta em uma incubadora para tomar peso.
A mulher ficaria no hospital por cerca de duas semanas, período em que
se poderiam verificar as suas condições de continuar a ser mãe. Havia certo temor
da parte médica em ter de fazer uma histerectomia subtotal ou total mesmo, caso
esse a estar em discussão durante os próximos dias. A noite parecia curta para
tanta conversa e alguns exemplos foram dados de mulheres a ter seis filhos de
uma tacada. Esse caso foi estranho para a classe médica. E bem não passa a era, vem à mulher com oito
rebentos. E nessa parte ficou o comentário. Eurípedes pouco se lembrou do
piano, pois naquele instante era só cansaço, fadiga, lamentos.
Sisenando;
--- Nós tínhamos
uma conhecida da minha mãe chamada de Brandolina. Ora mais que nome! Mas a mulher chegou a falar
de uma criada de sua mãe. Essa mulher era “escrava” da família Brandolina. Pra
mim era a avó da mulher. Ou coisa assim. Bem! Essa mulher, a avó ou bisavó de
Brandolina tinha uma negra. Escrava, portanto. E certa vez essa criada deu à
luz a sete meninos, todos eles homens. Foi um verdadeiro clamor para as pessoas
da casa. As moças, essas nem se fala. – cotou o homem a gargalhar.
Ceci:
--- Vocês
estão com a vida feita e eu vou dormir. Já é tarde. Com pouco amanhece. – falou
a mulher se deslocando para o seu quarto.
Eurípedes:
--- E eu vou
já, já, pois ainda tem o toque de recolher. – explicou o rapaz olhando a hora.
Nara:
--- Espere!
Está faltando alguma coisa: - reclamou a moça.
Eurípedes:
--- Ah. O
beijo. Este não falta nunca. – falou o rapaz a beijar a moça.
Sisenando:
--- Homem!
Você está com a vida feita e eu vou ver se a minha velha ainda quer um beijo. –
gargalhou o velho ao se levantar da poltrona.
No dia seguinte
os jornais da Capital estampavam em largas manchetes o fato da mulher. Um dos
jornais, por curiosidade do seu fotógrafo, publicou a foto das crianças em
incubadora. E na continuação fez um amplo relato da mulher, moradora no
interior do Estado. As crianças tinham vida. Na reportagem, matéria colheu informes com a direção do
Hospital sobre as condições da parturiente. Tudo foi feito de uma forma natural
e a direção da Casa não se negou em prestar ajuda a mulher, caso viesse a
necessitar. Em outra reportagem, o jornal retratou ter de buscar maiores
informações onde a parturiente residia, caso para depois. O certo foi esta
matéria de ampla circulação ter despertado a curiosidade da população e, de
imediato, apareceu ajuda de gente propensa a cuidar das crianças, porque já
existiam mais filhos da mesma mãe. Por tal motivo começou a vir ajuda de boa
parte da comunidade, principalmente leite em pó. Um comerciante abriu uma conta
em uma instituição para se depositar qualquer quantia para ser doada a mãe das
oito crianças. A mulher era de 25 anos
de idade tinha o nome de Zuleide da Silva. Era casada com um homem da lavoura e
se sustentava com tudo a Deus dará. Uma mulher franzina e aparentava mais
idade. Os seis meninos já crescidos eram de quatro anos de idade. E naquele
momento a família crescia com mais oito crianças. Políticos fizeram discursos
demostrando preocupação com a saúde da mulher e teve alguém a dizer ter sido
culpa do Governo.
Político:
--- Este
Governo que está aí é o culpado disso tudo! Não olha nem para as mães de
família do nosso interior! Isso não pode acontecer no meio do século vinte! –
esbravejava o político da oposição Tribuna da Assembleia Legislativa,
Outro:
--- Lá vem
bosta! Agora aguente! – falou de modo baixo outro político batendo com um lápis
no birô.
Terceiro:
--- E a avó
dele que teve vinte e dois filhos? – sorriu outro político.
E nas
residências das pessoas soberbas o assunto girava em torno das oito crianças.
Eram quatro meninos do sexo masculino e outras quatro do sexo feminino. As
donas de casas, sentadas a trocar
conversas até declaravam ser aquilo o fim do mundo.
Senhora:
--- É no que
dá! Essas mulheres têm pencas de moleques! Veja se não é descendente de
escravas! Veja?! – relatava uma orgulhosa.
Outra:
--- Eu, pra
mim, nem me importa. Minha avó teve penca de meninos! – relatava outra a fazer
croché
Terceira;
--- Hoje é que
a mulher não tem mais de dois filhos! – respondia uma terceira.
Quarta:
--- Minha mãe
teve cinco! – retorquiu a quarta mulher gorda.
E o gazeteiro
passou oferecendo o jornal da hora com maiores informes sobre a mulher de
quatorze filhos, sendo oito naquele momento. E oferecia aos berros; “Olha a
história da mulher das catorze crianças”. E misturava com outro palpitante
assunto: “Olha a mulher que comia chumbo derretido”; “Olha a história da mulher
que bebia gás”, e assim por diante. As matronas apenas escutavam e comentava em
murmúrio:
Primeira:
--- Louco! Só
pode ser um louco mesmo! – reportava a matrona.
Segunda:
--- Deixa! Ele
está oferecendo o que pensa! –sorriu a segunda mulher.
Filha:
--- Ô mãe?
Onde foi que a mulher colocou as minhas roupas de baixo? – indagou aborrecida a
filha da primeira mulher a se sustentar na porta do casarão.
E tudo se
acalmou por um instante. A primeira matrona foi buscar as roupinhas de baixo da
filha aborrecida e deixou seu pacote de croché disposto em sua cadeira de vime.
O carro do lixo passava em frente à casa colocando inhaca por tudo que era
lado. As demais matronas enveredaram casa adentro cuspindo para tudo que era
lado. E declaravam:
Segunda:
--- Hoje está
podre! – falava com pressa em entrar a outra matrona.
Terceira:
--- Chega!
Chega! Chega! – pedia com pressa a outra ao entrar no casarão.
Assim correu o
restante da tarde onde todos os habitantes da Capital comentavam o sucedido da
mulher de oito filhos. E nada mais.
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