terça-feira, 9 de abril de 2013

"NARA" - 36 -

- Sally Field -
- 36 -
ÓCTUPLOS
Na noite daquele dia, o médico Eurípedes chegou logo cedo à residência de Nara parecendo ter visto um fantasma. Sem sossego um minuto, ele foi logo dizendo está possesso, pois foi um dia de fato de ter feito um parto de oito irmãos. Sendo quatro meninos e quatro meninas, essas crianças vieram ao mundo graças a uma mulher de pouca ou nenhuma posse. Os médicos ficaram alarmados com esse caso único na história de Natal. Um, dois, três até que poderia ser normal. Porém oito meninos, isso já era demais. Foi à expressão alucinada do médico ginecologista obstetra.
Eurípedes:
--- Eu fiz parto de mulher pobre mesmo. Essa mulher deu à luz a três meninos. Uma era fêmea. Tudo bem. Sempre faço parto. Dois meninos. É o comum. Mas veja bem: Oito? Isso é demais! E não foi esse caso o único. A mulher já tem seis moleques. Todos eles paupérrimos. Nunca foi a um médico! Teve a Deus querer! – falou quase enlouquecido.
Sisenando:
--- Oito meninos? Mas é possível uma coisa dessas? – indagou extasiado.
Nara:
--- Você está brincando! Mas oito? – foi à vez da moça bem alarmada com a mão na boca.
Ceci:
--- Mas oito? Isso não pode ser? – falou a mulher apavorada.
E a conversa girou nesse tema com o rapaz enlouquecido com tamanha forma de uma mulher ter oito filhos e ser de mais uma camada de gêmeos.  Então se formaria quatorze filhos de duas vezes. Eurípedes falou mais ser a mulher de certa forma bem magra, como as mulheres do campo, em sua maioria. No estado de coisas a parturiente veio de um cercado para além do município de São José onde um médico atente na sede do órgão a tantas e quantas pessoas, velhos e meninos, mulheres, moças, rapazes, todas de qualquer forma. Mas, com relação a mulher de oito rebentos, essa não foi nem uma vez ao doutor da cidade. E teve as crianças como se tem brinquedos. Os meninos, sendo quatro do sexo masculino e quatro do feminino, estavam passando bem, de certa forma posta em uma incubadora para tomar peso.  A mulher ficaria no hospital por cerca de duas semanas, período em que se poderiam verificar as suas condições de continuar a ser mãe. Havia certo temor da parte médica em ter de fazer uma histerectomia subtotal ou total mesmo, caso esse a estar em discussão durante os próximos dias. A noite parecia curta para tanta conversa e alguns exemplos foram dados de mulheres a ter seis filhos de uma tacada. Esse caso foi estranho para a classe médica.  E bem não passa a era, vem à mulher com oito rebentos. E nessa parte ficou o comentário. Eurípedes pouco se lembrou do piano, pois naquele instante era só cansaço, fadiga, lamentos.
Sisenando;
--- Nós tínhamos uma conhecida da minha mãe chamada de Brandolina.  Ora mais que nome! Mas a mulher chegou a falar de uma criada de sua mãe. Essa mulher era “escrava” da família Brandolina. Pra mim era a avó da mulher. Ou coisa assim. Bem! Essa mulher, a avó ou bisavó de Brandolina tinha uma negra. Escrava, portanto. E certa vez essa criada deu à luz a sete meninos, todos eles homens. Foi um verdadeiro clamor para as pessoas da casa. As moças, essas nem se fala. – cotou o homem a gargalhar.
Ceci:
--- Vocês estão com a vida feita e eu vou dormir. Já é tarde. Com pouco amanhece. – falou a mulher se deslocando para o seu quarto.
Eurípedes:
--- E eu vou já, já, pois ainda tem o toque de recolher. – explicou o rapaz olhando a hora.
Nara:
--- Espere! Está faltando alguma coisa: - reclamou a moça.
Eurípedes:
--- Ah. O beijo. Este não falta nunca. – falou o rapaz a beijar a moça.
Sisenando:
--- Homem! Você está com a vida feita e eu vou ver se a minha velha ainda quer um beijo. – gargalhou o velho ao se levantar da poltrona.
No dia seguinte os jornais da Capital estampavam em largas manchetes o fato da mulher. Um dos jornais, por curiosidade do seu fotógrafo, publicou a foto das crianças em incubadora. E na continuação fez um amplo relato da mulher, moradora no interior do Estado. As crianças tinham vida. Na reportagem,  matéria colheu informes com a direção do Hospital sobre as condições da parturiente. Tudo foi feito de uma forma natural e a direção da Casa não se negou em prestar ajuda a mulher, caso viesse a necessitar. Em outra reportagem, o jornal retratou ter de buscar maiores informações onde a parturiente residia, caso para depois. O certo foi esta matéria de ampla circulação ter despertado a curiosidade da população e, de imediato, apareceu ajuda de gente propensa a cuidar das crianças, porque já existiam mais filhos da mesma mãe. Por tal motivo começou a vir ajuda de boa parte da comunidade, principalmente leite em pó. Um comerciante abriu uma conta em uma instituição para se depositar qualquer quantia para ser doada a mãe das oito crianças.  A mulher era de 25 anos de idade tinha o nome de Zuleide da Silva. Era casada com um homem da lavoura e se sustentava com tudo a Deus dará. Uma mulher franzina e aparentava mais idade. Os seis meninos já crescidos eram de quatro anos de idade. E naquele momento a família crescia com mais oito crianças. Políticos fizeram discursos demostrando preocupação com a saúde da mulher e teve alguém a dizer ter sido culpa do Governo.
Político:
--- Este Governo que está aí é o culpado disso tudo! Não olha nem para as mães de família do nosso interior! Isso não pode acontecer no meio do século vinte! – esbravejava o político da oposição Tribuna da Assembleia Legislativa,
Outro:
--- Lá vem bosta! Agora aguente! – falou de modo baixo outro político batendo com um lápis no birô.
Terceiro:
--- E a avó dele que teve vinte e dois filhos? – sorriu outro político.
E nas residências das pessoas soberbas o assunto girava em torno das oito crianças. Eram quatro meninos do sexo masculino e outras quatro do sexo feminino. As donas de  casas, sentadas a trocar conversas até declaravam ser aquilo o fim do mundo.
Senhora:
--- É no que dá! Essas mulheres têm pencas de moleques! Veja se não é descendente de escravas! Veja?! – relatava uma orgulhosa.
Outra:
--- Eu, pra mim, nem me importa. Minha avó teve penca de meninos! – relatava outra a fazer croché
Terceira;
--- Hoje é que a mulher não tem mais de dois filhos! – respondia uma terceira.
Quarta:
--- Minha mãe teve cinco! – retorquiu a quarta mulher gorda.
E o gazeteiro passou oferecendo o jornal da hora com maiores informes sobre a mulher de quatorze filhos, sendo oito naquele momento. E oferecia aos berros; “Olha a história da mulher das catorze crianças”. E misturava com outro palpitante assunto: “Olha a mulher que comia chumbo derretido”; “Olha a história da mulher que bebia gás”, e assim por diante. As matronas apenas escutavam e comentava em murmúrio:
Primeira:
--- Louco! Só pode ser um louco mesmo! – reportava a matrona.
Segunda:
--- Deixa! Ele está oferecendo o que pensa! –sorriu a segunda mulher.
Filha:
--- Ô mãe? Onde foi que a mulher colocou as minhas roupas de baixo? – indagou aborrecida a filha da primeira mulher a se sustentar na porta do casarão.
E tudo se acalmou por um instante. A primeira matrona foi buscar as roupinhas de baixo da filha aborrecida e deixou seu pacote de croché disposto em sua cadeira de vime. O carro do lixo passava em frente à casa colocando inhaca por tudo que era lado. As demais matronas enveredaram casa adentro cuspindo para tudo que era lado. E declaravam:
Segunda:
--- Hoje está podre! – falava com pressa em entrar a outra matrona.
Terceira:
--- Chega! Chega! Chega! – pedia com pressa a outra ao entrar no casarão.
Assim correu o restante da tarde onde todos os habitantes da Capital comentavam o sucedido da mulher de oito filhos. E nada mais. 

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