- Natalie Portman
- 01 -
A CHEGADA
Era um dia de fim de tarde.
Apesar de tudo o calor àquela hora era intenso. Arapuás volteavam para fazerem
seus em seu sanharol no oco da árvore o seu rancho. Eram abelhas a voar a todo
custo. Pequeninas, mas severas em seu picar. No alto das árvores ouvia-se o
canto sonoro das juritis, patativas, concriz, casaca de couro,
canários-da-terra, Asa Branca, Beija Flor e tantas outras espécies recolhiam-se
para dormir por mais uma noite inteira. O vento soprava brando, coisa rara no
sertão aonde os temores se vêm com a noite. No aceiro da estrada de chão bruto
as árvores gigantes esperavam o adormecer. Ao largo, no chão, em solo fofo e
baixo, uma lagoa. A Lagoa Grande. Imensa por sinal. Apenas se avistava a olhar
a esquerda de quem viesse ao centro da Vila. E por esse motivo a vila tinha o
seu nome igualmente da lagoa. Vila Lagoa Grande ou apenas Vila da Lagoa. Aquele
viajante do sertão dos Inhamuns, não sabendo ao certo, teria de reconhecer
algum dia à região da Vila da Lagoa. Veados, cutias, onças pintadas,
macacos-prego ou lobo-guará já estavam se recolhendo ou armando a sua presa
fácil para a comida diária. Essa era a vida do sertão de quem habitava nos
Inhamuns ou mais distante dali para dentro da Catarina ou mais distante ainda.
Ao voltear o campo notava-se a presença de quatro cavaleiros viajantes. Eram
homens sisudos e calados. Nos seus nobres cavalos pampa conseguido não se sabe
aonde e nem como ou de que forma, os quatro homens troteavam sisudos com a
pressa de chegar tão logo se fizesse noite, ou antes, disso ao sinal das
mariposas multicoloridas. A Vila da Lagoa era uma espécie de entreposto de
comercio onde cada um vendia e comprava o que mais lhe apetecia. O ponto
principal era a bodega de seu Arnaldo, homem sisudo e barrigudo vestindo camisa
sem botões e calças rotas de algodão amarrada na cintura com uma espécie de
cinturão de vaqueiro. Ele comprava e vendia de tudo o bom e o ruim, não
importava a qualidade. A bodega reunia diversos homens a fazer negócio ou a
nada fazer. Esses eram os bêbados, por assim dizer. Seu Arnaldo nada sabia e
nada falava. Ele apenas vendia e comprava o que fosse apresentado.
Quando os quatro cavaleiros
entraram na vila pouco viram ou notaram de anormal. Apenas as casas de taipa ou
de palha sob a luz de querosene já acesos das lamparinas, candeeiros e
lampiões. Algumas casas eram feitas de tijoles. E havia ainda moradias de
comércio de primeiro andar. Caso muito escasso até então. Nas calçadas seguiam
pessoas para as suas residências sempre muito apressadas e cobrindo a testa, se
eram mulheres ou moças. Essas pessoas eram comerciantes ou gente popular. Uma
liteira permanecia parada em frente de uma casa de comercio a esperar seu dono.
O cavalo sacudia sua cabeça para um lado e para o outro para espantar as moscas
a lhe atormentar. Os cavaleiros não ligaram a tal procedimento do cavalo da
liteira. Apenas troteavam a seguir até a bodega do senhor Arnaldo único ponto
de referencia do lugar. Alguns fregueses deixavam a bodega. Alguns, cambaleando
de bêbados. Outros, nem tanto. Apenas conferiam as moedas e socavam tudo no
bolso. E os cavaleiros chegaram até a bodega. Sem mais nem menos eles saltaram
de seus animais deixando-os presos nas estacas tidas na frente da bodega. Cada
qual olhava atento em todas as direções para ver se tudo estava tranquilo. Como
nada houvesse de anormal, eles tomaram a direção da bodega. Era um cheiro
desagradável o qual se projetava por todo o armazém alí existente entre
bebidas, vômitos e cereais. Para os quatro cavaleiros isso não fazia a menor
diferença. Sob a luz de candeeiros vidas em todas as direções, os homens
penetraram por entre sacos de matérias diversos até mesmo chegar ao balcão da
bodega. Homens a jogar carteados e outros apenas a bebericar a sentar nas mesas
do era um bar a sala de entrada da bodega. Duas portas abertas para a rua de
frentes e outras duas em sua lateral. A bodega estava em uma esquina de rua.
Para mais atrás estava o deposito de mercadorias a ser vendidas em dias da
semana. Na calçada um pouco alta da bodega e do local de guardar os cereais,
uns bêbados a dormir como fazem os embriagados. A passar para dentro do salão,
um dos quatros homens ainda olhou meio desconfiado para aqueles homens. E nada
fez para incomodá-los. Os quatro cavaleiros caminhavam bem equipados com armas
de fogos na cintura. Todos, menos um. Esse não possuía arma qualquer. Os seus
nomes não se sabiam ao certo, pois nenhum deles falava coisa alguma. Foi então
ao encostar-se ao balcão um deles falou:
Cavaleiro um:
--- Bebida! – falou isso apenas o
homem cavaleiro.
Os quatro cavaleiros eram gente
de fora daquela região dos Inhamuns. Eles estavam bem conscientes de tal fato.
À direção do grupo bem armado estava Otelo Satanás cujo verdadeiro nome de
batismo era Otelo Gonçalves Dias. O seu lugar-tenente era o bandoleiro Júlio
Vento bem mais conhecido por Júlio Medalha; o outro bandoleiro era chamado por
Antero Foguetão, de batismo Antero Soares, cujo hábito era de não usar arma de
fogo; o quarto bandoleiro era chamado por Renato Chulé; no batismo Renato
Alvarenga, homem do sertão da Catarina, algo não dito por ele a nenhum homem da
mata grande. Todos os três obedeciam à ordem comandada por Otelo Satanás ou
puramente Satanás. Mesmo assim eram todos homens de aço e não se importavam no
acontecido.
De posse a garrafa de cachaça
Satanás foi beber em companhia de Júlio Vento enquanto os demais se
posicionaram em locais diferentes tendo Antero Foguetão ficando em pé, escorado
na parede, sem nenhum trabuco a mostra e a espreita de algo de anormal
acontecer. O quarto homem, Renovato Chulé ficou escorado no canto esquerdo do
balcão por ter visto de repente o homem dono de a bodega esconder o rifle com
munição. Chulé se postava solitário olhando apenas para ação de seu Arnaldo a qualquer instante uma vez estar
o chefe Satanás sentado de costas para o balcão da taberna. E não demorou muito
para aparecer na porta da taberna o celerado feitor de algum dos homens daquela
região. O homem celerado era do tipo alvo, bem armado com dois revolveres no
coldre de couro macio de bezerro. Sua altura era de um homem de boa estatura.
Na cabeça, um chapéu de couro. Na cintura notava-se um cinturão cheio de
munições. O facínora entrou bem lento no salão onde homens jogavam carteado. E
logo em seguida foi direto ande estava o malfeitor Otelo Satanás sendo logo
perguntado.
Celerado:
--- Você é Satanás? – perguntou o
bandido com as suas mãos nas armas nos coldres.
Satanás ouviu a pergunta e,
devagar baixou a mão até pegar no cabo de sua arma e depois e alguns segundos
falou bem manso ainda com seu chapéu de massa na cabeça.
Satanás:
--- Quem pergunta, por favor? –
indagou com sobriedade o homem.
O facínora não tirou os olhos de
cima de seu homem pronto para matar por saber ser ele na verdade Otelo Satanás,
não também conhecido naquela região, porém o fazedor de mortes de criaturas
muito bem armadas por outros campos do sertão de longe dos Inhamuns. O salão da
bodega se esvaziou de gente a procura de proteção ao ver os dois celerados em
conflito para matar ou morrer a qualquer preço. Na bodega somente ficaram os
quatros bandidos e o dono da bodega. O bodegueiro com a camisa aberta ao peito
aproximou-se do balcão. A notar a ação do bodegueiro o outro bandoleiro mandou
o homem se afastar e foi até ao local retirando o rifle descarregado àquela
hora pelo próprio Renovato Chulé a colocar sem munição ao lado de cima da mesa.
O bandido olhou bem a ação do segundo bandoleiro e nada fez. Apenas respondeu a
pergunta dada por Satanás.
Celerado:
--- Sou Benedito Marimbondo. E
não gosto de matar gente sem ter certeza do fulano quem era ou não! – falou
manso com as mãos nos coldres o bandido.
Outro celerado entrava pela porta
e ficou do lado de dentro do salão. Ao notar a entrada do segundo bandoleiro
Antônio Foguetão se afastou ligeiramente um pouco da parede ponde visível ao
bandido para bem advertir não estar armado. O segundo bandoleiro nem deu caso
de Foguetão por ele está desarmado. E ficou o bandoleiro de pé na entrada do
salão. A conversa entre os dois bandoleiros prosseguia em clima amistoso. E há
certo instante Satanás falou para Maribondo tendo já se armado com o seu
revolver quarenta e cinco posto por baixo da mesa pronto para disparar.
Satanás:
--- Cumpra a sua ordem. - falou
manso o bandido de fora da vila.
Marimbondo tentou sacar a sua
arma, mas foi vagaroso, pois Satanás disparou primeiro de baixo da mesa pegando
em cheio o seu rival. Dois tiros. O bandido a se envergar e fazer careta de dor
e morte. Do outro lado da entrada, o segundo celerado puxou a arma. Mas ao
mesmo tempo Foguetão lançou um punhal e se foi cravar do peito do malfeitor. De
repente outro tiro do lado de fora foi atingir o saco de farinha bem ao lado do
bodegueiro Arnaldo. Nesse ponto todos os quatros bandidos se afastaram da porta
notando mais elementos postos a atirar. Foi fogo cerrado e contínuo. Os
forasteiros bandidos também montam barricadas com as mesas doa bodega onde
funciona o salão de apostas. E respondem ao fogo cerrado do outro lado da
estreita rua onde estava o grupo armado. Nesse momento, o bodegueiro tenta
intervir no tiroteio puxando arma de fogo, a qual estava guarda atrás de si,
plenamente disfarçada e tenta atirar pelas costas no bandido Satanás. Mas isto
é sufocado por um companheiro de Satanás, o atirador Renovato Chulé. Ele de
imediato vislumbra a intenção de Arnaldo, atira e mata também o bodegueiro com
um disparo certeiro. O homem cai para trás sem nada poder falar. Apenas
lamentar com um:
Bodegueiro:
--- Ui! – e cai por terra Arnaldo
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