quarta-feira, 28 de março de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 15 -

- Charliza Theron -
- 15 -
O BANHO
De imediato chegaram ao seu destino os três homens e a filha de Godinho a conversar bastante animados a mostrar a destreza com suas armas. E cada qual contasse mais lorotas com a moça Ludmila a sorrir animada sem nada falar. A sua mãe estava possessa com o atraso do marido para o almoço e dizia poucas e boas. No canto da parede da casa grande estava também à moça Emília a bufar de raiva com o atraso do atirador Renovato Alvarenga, o Chulé. A jovem casta queria porque queria ver o homem a ir para o banheiro, pois fazia uma semana ou coisa assim ter Renovato se aborrecido de tomar banho todos os dias ou dia sim, dia não. E a virgem fazia cara feia como quem dizia, com o chinelo a bater na calçada da casa.
Emília:
--- Quero ver qual a desculpa dele! – fomentava ao desespero a jovem Emília.
Dona Cantídia deu uma rabissaca e volto a casa falando horrores.
Cantídia:
--- Quem se viu? Cinco horas da tarde e ninguém almoça? – reclamava apoquentada a mulher.
E os homens sorriam a bem querer. E não era certo se por causa dos arroubos de Cantídia ou por causa dos tiros perdidos do Coronel Godinho. Esse não casava de dizer:
Godinho;
--- Essa aí é eximia atiradora. Mestre no tiro. – falava serio o velho a apontar a filha.
Ao chegarem ao batente da calçada eles três ouviram a voz cruel de Emília a chamar o moço Renovato para ir tomar banho de imediato. O rapaz ficou até espantado com a jovem por não ter o que repostar. Apenas ele afirmou já ter tomado banho:
Emília:
--- Quando? Quando? Quando o senhor tomou banho? Vá já para o banheiro! E me dê à roupa se não eu entro lá e arranco tudo! Via! Bora! É no banheiro da casa! E é para esse lado! – falava a garota em tom atrevido a empurrar Renovato pelas costas até o destino do banheiro.
E Renovato sem entender dizia apenas:
--- Mas eu tomei banho faz uma semana! – relatava lastimoso o cavaleiro.
E a moça então se espoletou:
Emília:
--- Ah é? Uma semana? Pois vai tomar banho duas vezes por dia! E ainda quer namorar um homem como esse! Uma semana! – falou com brutal arenga a donzela Emília.
O homem pistoleiro a segurar pelas paredes apenas dizia:
Renovato:
--- Espera! Não empurra! Eu findo cair! Ora de desmantelo! – falava aperreado o pistoleiro.
E a moça a empurrar o homem como se fazia com uma pipa. De fora, o coronel achava terrível graça da moça a empurrar Renovato. E Otelo acompanhado pela moça Ludmila assanhava ainda mais a Emília, a atirada da turma do banho. Até Renovato entrar no banheiro a turma não conseguia parar de mangar da gozação.
Nesse ponto, Ludmila então falou para Otelo:
Ludmila:
--- Como é? E você? Vai precisar que eu empurre também? – indagou Lu para Otelo.
Otelo:
--- Quem? Eu? – e então Otelo foi à carreira para o banheiro, pois bem sabia da ação da moça em leva-lo para o banho.
Logo após o almoço/jantar Otelo Gonçalves – o Satanás – chamou a turma de bandoleiros para efetuar o pagamento do contrato feito pelo Coronel Godinho. Um quarto para cada um de todo o dinheiro.  E a conversa durou um bom tempo, pois o coronel Godinho tenha feito um novo trato com os pistoleiros. Dessa vez, não tinha arma. Satanás queria ouvir dos compadres os pormenores desse contrato. E não necessitava ter resposta imediata. O enterro do homem devia acontecer na manhã seguinte, conforme ficou, a saber, o coronel, dito pelo prefeito de Alcântara. Era um sepultamento a ser feito no mesmo sitio da fazenda onde se deu a ação desse mesmo dia. Era prudente ninguém – nenhum dos quatro – falar nada sobre o assunto, pois o negocio ainda era recente e todo cuidado era pouco para os quadrilheiros.  Esse assunto era bastante sigiloso. E havia outro. O futuro dos quatros pistoleiros.
Otelo:
--- O negócio é um pouco complicado. Eu não dei resposta. Eu disse ter primeiro de ouvir os meus compadres. O coronel, ele também é deputado. Toa semana tem de ir a Capital. Pois bem: ele me convidou para ser o seu suplente. Tudo bem: mas eu quero a turma junta! O que me dizem vocês? – indagou Otelo meio cismado.
Os três olharam bem para Otelo e depois de alguns instantes Renovato falou:
Renovato:
--- Eu vejo o negocio de varias formas. Para mim, não tem desespero. Com esse dinheiro eu me arrumo para o resto da vida. Aqui, alí, acolá! Seja aonde for. Tem terras muitas para esses lados. Mas: e os moços? Como é que ficam? Um não sabe atirar! O outro é seu lugar-tenente. Além de atirar muito bem, eu no sei mais nada sobre ele. Estou falando de Júlio Medalha. Poucas vezes alguém falou nesse nome. Não sei se ele sabe tratar de gado ou de cabras. Não sei nada sobre Júlio. Quanto ao sem armas o que eu sei é que ele sabe usar o punhal. É só! A palavra fica com os dois. – enfatizou Renovato.
O olhou para o outro e depois de instante Medalha falou:
Medalha:
--- Bem: Já que o compadre não quis usar da palavra, eu vou falar por mim. Eu aprendi atirar quanto estava nas Forças Armadas. O pessoal me chamava de Vento, pois eu atirava como o vento. E como ventou ficou sendo o meu nome. Tempos depois eu dei baixa das fileiras. Ainda podia estar nas Armas. Mas eu não quis. E fiquei no sertão. Alguns dizem ter sido por astúcias de minha parte que eu ganhei o apelido. Talvez tenha sido. Mas, na minha casa, a casa de fazenda onde trabalha meu pai, eu aprendi a cuidar de gado. Disso eu sei. E muito bem. Se eu não estou é por causa de uma desavença que eu tive no interior. Questão de mulher! O homem atirou em mim, porém antes eu atirei nele. Foi troca de tiros. Daí para frente eu sempre tirava teima com um atrevido. E assim foi a minha sina. – comentou Júlio Vento.
O silencio imperou por alguns momentos até o homem do punhal falar como de surpresa:
Antero:
--- Sou eu agora? – falou Antero Foguetão.
Otelo:
--- Estamos a ouvi-lo! – disse o home apelidado de Satanás.
Passaram-se alguns minutos e Foguetão falou:
Antero?
---Eu não uso armas, Até por que a minha profissão impede. Eu sempre fui um homem de lutar com fogos de artifícios. Certa vez, alguém aprontou para mim, e o que eu tinha em mãos era um punhal. Acertei no homem e desde então eu só uso o punhal. Fez um colete para pô-lo fora da vista dos outros. E uso quando preciso. Desde aquela época eu deixei o foguetório e rumei por campo afora sempre com o meu punhal. Se alguém me fareja, eu meto-lhe o punhal. Só isso. – e sorriu o matador de punhal Antero Foguetão.
Com isso, todos soltaram uma larga gargalhada de quase morrer. Teve um de se levantar da mesa do salão dos vaqueiros a sorrir demasiadamente.
Renovato:
--- Um punhal? – indagou a sorrir sem modos de aplacar:
Antero:
--- É. – respondeu o homem sem sorrir.

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