- Charliza Theron -
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O BANHO
De imediato chegaram ao seu
destino os três homens e a filha de Godinho a conversar bastante animados a
mostrar a destreza com suas armas. E cada qual contasse mais lorotas com a moça
Ludmila a sorrir animada sem nada falar. A sua mãe estava possessa com o atraso
do marido para o almoço e dizia poucas e boas. No canto da parede da casa
grande estava também à moça Emília a bufar de raiva com o atraso do atirador
Renovato Alvarenga, o Chulé. A jovem casta queria porque queria ver o homem a
ir para o banheiro, pois fazia uma semana ou coisa assim ter Renovato se
aborrecido de tomar banho todos os dias ou dia sim, dia não. E a virgem fazia
cara feia como quem dizia, com o chinelo a bater na calçada da casa.
Emília:
--- Quero ver qual a desculpa
dele! – fomentava ao desespero a jovem Emília.
Dona Cantídia deu uma rabissaca e
volto a casa falando horrores.
Cantídia:
--- Quem se viu? Cinco horas da
tarde e ninguém almoça? – reclamava apoquentada a mulher.
E os homens sorriam a bem querer.
E não era certo se por causa dos arroubos de Cantídia ou por causa dos tiros
perdidos do Coronel Godinho. Esse não casava de dizer:
Godinho;
--- Essa aí é eximia atiradora.
Mestre no tiro. – falava serio o velho a apontar a filha.
Ao chegarem ao batente da calçada
eles três ouviram a voz cruel de Emília a chamar o moço Renovato para ir tomar
banho de imediato. O rapaz ficou até espantado com a jovem por não ter o que
repostar. Apenas ele afirmou já ter tomado banho:
Emília:
--- Quando? Quando? Quando o
senhor tomou banho? Vá já para o banheiro! E me dê à roupa se não eu entro lá e
arranco tudo! Via! Bora! É no banheiro da casa! E é para esse lado! – falava a
garota em tom atrevido a empurrar Renovato pelas costas até o destino do
banheiro.
E Renovato sem entender dizia
apenas:
--- Mas eu tomei banho faz uma
semana! – relatava lastimoso o cavaleiro.
E a moça então se espoletou:
Emília:
--- Ah é? Uma semana? Pois vai
tomar banho duas vezes por dia! E ainda quer namorar um homem como esse! Uma
semana! – falou com brutal arenga a donzela Emília.
O homem pistoleiro a segurar
pelas paredes apenas dizia:
Renovato:
--- Espera! Não empurra! Eu findo
cair! Ora de desmantelo! – falava aperreado o pistoleiro.
E a moça a empurrar o homem como
se fazia com uma pipa. De fora, o coronel achava terrível graça da moça a
empurrar Renovato. E Otelo acompanhado pela moça Ludmila assanhava ainda mais a
Emília, a atirada da turma do banho. Até Renovato entrar no banheiro a turma não
conseguia parar de mangar da gozação.
Nesse ponto, Ludmila então falou
para Otelo:
Ludmila:
--- Como é? E você? Vai precisar
que eu empurre também? – indagou Lu para Otelo.
Otelo:
--- Quem? Eu? – e então Otelo foi
à carreira para o banheiro, pois bem sabia da ação da moça em leva-lo para o
banho.
Logo após o almoço/jantar Otelo
Gonçalves – o Satanás – chamou a turma de bandoleiros para efetuar o pagamento
do contrato feito pelo Coronel Godinho. Um quarto para cada um de todo o
dinheiro. E a conversa durou um bom
tempo, pois o coronel Godinho tenha feito um novo trato com os pistoleiros.
Dessa vez, não tinha arma. Satanás queria ouvir dos compadres os pormenores
desse contrato. E não necessitava ter resposta imediata. O enterro do homem
devia acontecer na manhã seguinte, conforme ficou, a saber, o coronel, dito
pelo prefeito de Alcântara. Era um sepultamento a ser feito no mesmo sitio da
fazenda onde se deu a ação desse mesmo dia. Era prudente ninguém – nenhum dos
quatro – falar nada sobre o assunto, pois o negocio ainda era recente e todo
cuidado era pouco para os quadrilheiros.
Esse assunto era bastante sigiloso. E havia outro. O futuro dos quatros
pistoleiros.
Otelo:
--- O negócio é um pouco
complicado. Eu não dei resposta. Eu disse ter primeiro de ouvir os meus
compadres. O coronel, ele também é deputado. Toa semana tem de ir a Capital.
Pois bem: ele me convidou para ser o seu suplente. Tudo bem: mas eu quero a
turma junta! O que me dizem vocês? – indagou Otelo meio cismado.
Os três olharam bem para Otelo e
depois de alguns instantes Renovato falou:
Renovato:
--- Eu vejo o negocio de varias
formas. Para mim, não tem desespero. Com esse dinheiro eu me arrumo para o
resto da vida. Aqui, alí, acolá! Seja aonde for. Tem terras muitas para esses
lados. Mas: e os moços? Como é que ficam? Um não sabe atirar! O outro é seu
lugar-tenente. Além de atirar muito bem, eu no sei mais nada sobre ele. Estou
falando de Júlio Medalha. Poucas vezes alguém falou nesse nome. Não sei se ele
sabe tratar de gado ou de cabras. Não sei nada sobre Júlio. Quanto ao sem armas
o que eu sei é que ele sabe usar o punhal. É só! A palavra fica com os dois. –
enfatizou Renovato.
O olhou para o outro e depois de instante
Medalha falou:
Medalha:
--- Bem: Já que o compadre não quis
usar da palavra, eu vou falar por mim. Eu aprendi atirar quanto estava nas
Forças Armadas. O pessoal me chamava de Vento, pois eu atirava como o vento. E
como ventou ficou sendo o meu nome. Tempos depois eu dei baixa das fileiras.
Ainda podia estar nas Armas. Mas eu não quis. E fiquei no sertão. Alguns dizem
ter sido por astúcias de minha parte que eu ganhei o apelido. Talvez tenha
sido. Mas, na minha casa, a casa de fazenda onde trabalha meu pai, eu aprendi a
cuidar de gado. Disso eu sei. E muito bem. Se eu não estou é por causa de uma
desavença que eu tive no interior. Questão de mulher! O homem atirou em mim,
porém antes eu atirei nele. Foi troca de tiros. Daí para frente eu sempre
tirava teima com um atrevido. E assim foi a minha sina. – comentou Júlio Vento.
O silencio imperou por alguns
momentos até o homem do punhal falar como de surpresa:
Antero:
--- Sou eu agora? – falou Antero
Foguetão.
Otelo:
--- Estamos a ouvi-lo! – disse o
home apelidado de Satanás.
Passaram-se alguns minutos e Foguetão
falou:
Antero?
---Eu não uso armas, Até por que
a minha profissão impede. Eu sempre fui um homem de lutar com fogos de artifícios.
Certa vez, alguém aprontou para mim, e o que eu tinha em mãos era um punhal.
Acertei no homem e desde então eu só uso o punhal. Fez um colete para pô-lo
fora da vista dos outros. E uso quando preciso. Desde aquela época eu deixei o
foguetório e rumei por campo afora sempre com o meu punhal. Se alguém me
fareja, eu meto-lhe o punhal. Só isso. – e sorriu o matador de punhal Antero
Foguetão.
Com isso, todos soltaram uma
larga gargalhada de quase morrer. Teve um de se levantar da mesa do salão dos
vaqueiros a sorrir demasiadamente.
Renovato:
--- Um punhal? – indagou a sorrir
sem modos de aplacar:
Antero:
--- É. – respondeu o homem sem
sorrir.
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