sexta-feira, 23 de março de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 10 -

- Nathália Dill -
- 10 -
ATAQUE
O vaqueiro Enério Suçuarana ainda fraquejava e devagar foi se refazendo ao ponto de poder balbuciar algo. Muito abatido pelo susto levado, deitado no tabuado feito de madeira forte, com a cabeça sustentada pelas pernas da mulher do fogão da casa, ele chegou a dizer ter um homem morto no caminho para a fazenda escorado em um pé de aroeira. Enério disse apenas isso com bastante dificuldade para pronunciar as palavras certas. O fazendeiro ao saber do tal fato mandou outro jagunço procurar no cercado para dentro da porteira e saber da verdade. O jagunço pôs pé no caminho até encontrar o outro jagunço morto escorado em um pé de aroeira parecendo ter sido enforcado, por certo. O jagunço se aproximou do morto com bastante cuidado temendo ainda estar vivo e empurrou com o cabo da faca. O defunto não se mexeu e na verdade estava morto de bom modo. Nesse ponto o jagunço por nome de Magro, como se veio logo, a saber, pinoteou de volta em seu cavalo, de olhos arregalados e de terror de mais a gritar insistente:
Magro:
--- Morto! Ele está Morto! Morto! – gritava apavorado o jagunço Magro a chicotear o seu cavalo em direção à entrada da casa.
Nesse ponto alguém chamou o fazendeiro a dizer ter o jagunço voltado com os bofes postos pela boca. E bastante alarmado o jagunço Magro apenas comentava ter o homem morrido de morte matada. O fazendeiro veio depressa e quis saber quem era o morto.
Policarpo:
--- Quem danado é esse morto? – perguntou o homem a esbravejar de todo modo.
Magro:
--- É o homem Zé de Cota! Ele está bem morto! E quem fez a morte dependurou no pé de aroeira. Tá morto, meu senhor! – falou Magro ao fazendeiro com todo medo do mundo.
O fazendeiro Policarpo ainda perguntou quem tal era esse Zé de Cota, pois não adivinhava a quem pagava pela proteção de sua vida.
Mulher cozinheira:
--- É um danado da vida!. Ele é moço ainda!. Quer dizer: era!. Ave Maria! – relatou a mulher cozinheira a respeito de Zé de Cota.
Ao saber da morte o fazendeiro Severino Policarpo apenas declarou:
Policarpo:
--- Enterrem! – declarou o homem sem mais por que.
E dali marchou para dentro da casa grande a resmungar palavras impróprias para um vivo, quanto mais um morto.
Nesse ponto, quando o fazendeiro tentava a chegar à porta da casa grande algo de novo ocorreu. Na mata virgem uma revoada de pássaros. Era bem longe da entrada da fazenda onde havia os pés de árvores muito bem alongadas, próximo a Serra do Timbó. Havia alí quantidade enorme de pássaro e algo fez com eles sumissem de vez por conta de algo. Magro foi quem notou a revoada. E de imediato chamou a atenção de Policarpo para o desacerto ocorrido.
Magro:
--- Meu patrão tem coisa lá no mato! – fez ver o moço a Policarpo.
O fazendeiro então voltou para ver de fato o motivo do chamado de Magro.
Policarpo:
--- Coisa? Que coisa? – indagou Policarpo sem entender de nada.
Magro então voltou a dizer ter os pássaros voados e alguma coisa os tinha assombrado.
--- É coisa de gente viva. Pois os passarinhos voaram. - relatou com temor o jagunço.
Severino Policarpo se voltou e com a mão na testa procurou vislumbrar a passarada e logo mandou chamar mais dois jagunços. Com o Magro eram três. Eles deviam ir até a mata da Serra do Timbó e vasculhar toda a área. Não importava o quanto fosse para encontrar os assustadores das aves, pois de cautela e galdo de galinha ninguém havia morrido certamente. Dito isso, por conseguinte, Policarpo pôs o pé para o interior da sala. E vaqueiro Enério, já restabelecido procurou beber um copo de água e depois foi para o seu aposento a descansar do susto levado. Um cabrito correu solto de mato a fora a berrar e Enério Suçuarana meio incomodado espantou o bicho. Na sequencia veio outro vaqueiro para apanhar o bezerro. Foi nesse momento onde tudo quase era calmo algo assombroso ocorreu. Foi um estrondo do outro mundo. Um ribombar frenético de uma única e só vez. Algo de assustar até os mortos. O paiol de munição explodiu e voou tudo pelos ares. A casa grande estremeceu e todos os moradores caíram pelo chão, quarto, cozinha e por qualquer lugar onde houvesse apoio de qualquer forma. Não houve um só espaço desocupado na casa onde não tivesse abrigo. O fazendeiro Severino Policarpo foi largado longe e veio a cair de qualquer forma por cima de um armário. Ele não teve tempo para fazer coisa alguma e nem noção do acontecido. Era um barulho tremendo aquele havido. Com certeza ninguém percebeu o paiol em baixo da casa a explodir tão de repente. E demorou um pouco para alguém dizer:
Alguém:
--- Ave Maria! O que é isso! – quis saber uma mulher caída por cima de uma tina.
Outros caíram por cima dos estoques de panelas, tachos, armários, camas, fogões, mesas e tudo o mais havido pela casa. Nas casas dos vaqueiros não ficou nada em pé. Até mesmo as crianças correram alarmadas com pavor a procura dos colos de suas mães. Isso, quando elas podiam. Pois no meio da confusão alarmante não havia jeito para alguém compreender o sucedido. Em cima da hora tinha jeito para se compreender de forma alguma aquele estrondo descomunal havido ao que parece em baixo do chão. Os cães latiam, corriam com espanto. As aves galináceas acorriam em busca de proteção em qualquer canto. Gado, bodes, carneiros, cabras e até mesmo o gato ficaram sem saber para onde correr. Os vaqueiros se quedavam apavorados do temor apresentado. A fumaça saiu do chão da parte onde estava o paiol e formou logo as labaredas imensas de fogo por todo o canto das dependências da casa. Então o tormentoso fogo tomou conta de todas as dependências do solar. O pessoal de dentro se levantou às pressas e correu para fora inclusive o fazendeiro Severino Policarpo a cambalear pelo caminho e o seu filho Deodato, rapaz de 20 e poucos anos. Ele estava a dormir aquela hora da manhã e o estrondo sacudiu da cama. O rapaz caiu entre a cama e o armário e só viu alguém gritar.
Alguém:
--- Fogo! Está tudo pegando fogo! Fogo! – dizia alguém alarmado e a correr puxando os outros ainda atordoados com o barulho descomunal.
Em dois minutos estava toda a casa ardendo em chamas. Os vaqueiros tentavam de locomover para fora de suas habitações, pois o estrago não havia atingido as modestas casas dos colonos e os jagunços eram todos alarmados. Esse pessoal estava a correr para longe da desgraça enquanto o tiroteio descomunal sacudia todo o solar como se fosse um bombardear constante deveras sustentado por algo inimaginável. Com a casa em chamas, o paiol a sacudir estrondos, o povo inteiro correu para então suspeitar de uma coisa qualquer a sacudir algo como faísca no quarto de guardar munições, com certeza.
Alguém:
--- É o mundo todo! – gritava alguém a correr desesperado para longe da residência.
O velho Policarpo, completamente atordoado, tentava sair da casa quando algo vindo de dentro sacudiu pelas costas o homem em voraz temor. O homem teve tempo apenas de gritar:
Policarpo:
--- AH! – Policarpo de gritou e caiu bem distante do casarão.
Com todos a correr para bem longe a casa então ruiu de vez ao cabo de poucos minutos. O filho do velho estava completamente zonzo com todo aquele barulho sem saber o que fazer. As cozinheiras ficaram a chorar com tudo o feito e nada podiam fazer. Os pobres vaqueiros arranjaram água para tentar aplacar o incendo destruidor. E por mais água a jogar, mais o fogo consumia as dependências da casa grande. Era um verdadeiro pandemônio sem ninguém saber o mais a fazer. O valho Policarpo, atingido em cheio por algo descomunal. Não teve jeito e morreu no mesmo instante com fratura da espinha dorsal. A fazenda foi abandonada no correr do dia por jagunços e vaqueiros. Alguns arranjaram um gado para levar consigo e outros eram sós abandonos.
Alguém:
--- Coisa triste! Quem diria! – reprovou alguém pelo destruidor incêndio.
O fogo perdurou por vários dias a consumir o restante da casa. O filho Deodato Policarpo era um só inconformado.

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