- Keira Knightley -
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O SOGRO
Por volta das
três horas da tarde Nara estava com o seu noivo em visita ao velho Amaro Borba
então se restabelecendo da cirurgia da próstata a qual fora submetido dias
atrás. O ancião, ainda deitado na cama em sua residência ainda reclamava dos
ardores causados pela cirurgia e maldizia das constantes assaduras nas costas.
Nesse ponto uma doméstica passava-lhe unguento para amenizar as dores. A
reclamação de Amaro Borba era ainda com relação a sua mulher não estar em sua casa,
pois havia seguido ao Rio de Janeiro há mais de um mês não tendo noticias de
sua volta a Natal. A filha do meio de Amaro era Rócia. Essa, por sinal estava a
cuidar dos afazeres de compra e venda de artigos de alimentação para o gado na
loja do bairro do Alecrim onde estava instalada a casa de comércio. Apesar de
estar gerenciando o vaqueiro José Tomaz, a virgem preferiu auxiliar para ajuda
aos empregados do armazém, pois no sábado o movimento era mais intenso. Alenka,
a outra auxiliar nas vendas não dava dando conta do atendimento aos
consumidores, nem mesmo com a ajuda de José Tomaz nesse momento o por assim
dizer o “dono” do armazém, mesmo sem saber de tudo para a armazenagem dos
artigos mais urgentes para atendimento aos consumidores.
Em dado
instante entrou no armazém o alemão Humberto Paulo para comprar um saco de rações.
No balcão estava a virgem Rócia. Foi ela mesma quem o atendeu. O homem falava
um português um pouco estranho, diferente dos costumeiros compradores do
sertão. A moça pouco compreendeu aquilo que o homem falava, pois não era seu
habito falar com gente diferente do sertão. Foi então que chegou ao balcão o
vaqueiro Tomaz, homem pouco letrado, porém de grande saber. Após breve conversa
o vaqueiro foi buscar o pretendido pelo alemão. O homem se deu por satisfeito,
pôs o saco nas costas e saiu do armazém sem mais nada falar. Rócia ficou a
imaginar:
Rócia:
--- Ele apenas
queria ração de gado? – indagou surpresa.
Tomaz;
--- Sim. Mas é
costume pedir diferente. Por isso a senhora não entendeu. – sorriu o vaqueiro.
Rócia:
--- Mas era
apenas dizer ele o que desejava. E não fazer todo aquele embolorado de voz! –
relatou com certa raiva.
Tomaz;
--- A senhora
terá de se acostumar com os pedidos dos criadores de gado. Cada um tem a sua
forma de falar. Eu já sabia o que o alemão queria. E por isso fui buscar sem demora.
– sorriu o vaqueiro.
Rócia:
--- Farelo de
milho? – perguntou indignada.
Tomaz:
--- Ele disse
o que entende por farelo no linguajar dele. Eu tive apenas que atender ao
homem. Como um nativo alemão, ele encontra certas dificuldades em falar o
português do nordeste. – sorriu o vaqueiro
Rócia:
--- E ele é
alemão de verdade? – perguntou estranhando.
Tomaz:
--- Teu pai o
conhece. O velho Amaro diz ter ele bandeiras alemãs em sua casa. Fardamento de
general. Muito ouro e outros símbolos do seu Exército. – falou murmurando o
vaqueiro.
Rócia:
--- Nazista?
Esse homem é nazista? – indagou tensa e com o resto franzido.
Tomaz:
--- Sim. Assim
disse seu pai. Outro criador passou o serviço para o velho. – comentou.
Rócia:
--- Nazista? E
como ele chegou nessa terra? – indagou cheia de raiva.
Tomaz;
--- Não sei.
Assunto de Governo. O homem é um “grandão” da Farda! E tem outros! – relatou.
Na residência
de seu Amaro, o telefone tocou. A doméstica atendeu e disse a quem chamava a
esperar um só instante. A doméstica caminhou até o quarto de seu Amaro e deu o
recado a doutor Eurípedes.
Doméstica:
--- Telefone
para o senhor. – falou com voz amável.
O médico se
surpreendeu e, de qualquer forma foi atender ao chamo. Imaginou Eurípedes
pudesse ser do Hospital em assunto de urgência. Apertou ele uma das mãos e
ainda assim falou com voz branda:
Eurípedes:
--- Droga! –
falou o médico antes de atender ao telefone.
Do outro lado
do fio uma voz de homem. Logo atender Eurípedes identificou que chamava. Doutor
Modesto, cirurgião de fama. Após breve conversa o expoente logo atacou no
assunto. Doutor Modesto queria ter reunião entre Eurípedes e outros
especialistas. A questão era: fundação de um Hospital particular onde podia
atender a todos os inquilinos pacientes, fazer consultas grátis de famílias
carentes e formar uma associação onde quem pudesse teria de contribuir com
certo valor monetário. O contribuinte teria direito a qualquer consulta em
todos os horários do dia e da noite. E até nos dias Santos e feriados. Seria
uma bomba no setor da medicina. O quatro de associados médicos seria formado
durante a reunião aprazada para um dia da semana. Com a convalescência do seu
pai e problemas de saúde do seu irmão, Eurípedes nem sabia qual resposta. De
qualquer forma seguiu à risca e se prontificou em estar presente a tal reunião.
A conversa se alargou certo tempo após o que Eurípedes juntou as peças do
xadrez do juízo para bem poder raciocinar melhor. A doce amargura da vida
estaria prestes a ocorrer, com certeza. Quando o médico desligou o telefone se
aproximou a virgem Nara sem nada a falar. Nem mesmo perguntou quem estava a
conversar. A moça já estava sabendo se comportar perante o noivo e não falar
muito. Apenas se agarrou ao seu braço e perguntou a hora:
Nara:
--- Que horas?
O meu “bobo” parece estar sem cordas. – falou leve a moça procurando acertar
seu relógio
E rapaz
respondeu e apontou para o relógio de parede, um velho Cuko original alemão do
século XVIII relíquia de seus bisavôs. Tal espécie era de um fabricante alemão
feito no ano de 1737 e representava a Floresta Negra alemã. A moça sorriu ao
ver o tal relógio esse admirou por completo da obra artesanal. Vendo tal relógio
de parede Nara se acercou mais próximo a aventou em falar ter seu avô igual ou
semelhante ao de Eurípedes. A moça se voltou para noivo completamente a sorrir.
Nara:
--- É uma
relíquia esse relógio! - falou com segurança.
Eurípedes:
--- Meu avô
costumava a chamar: “meu santuário” – sorriu o médico.
Nara:
--- Santuário!
Quem diria? – pronunciou a moça de forma pensativa.
Já de volta a
sua casa, antes o casal parou em uma sorveteria para tomar cálices de sorvetes
de ameixa com casca, sabor colossal para o pessoal da alta classe ou mesmo, da
classe média. Era uma sorveteria bem frequentada posta quase no inicio da Rua
João Pessoa. Naquele local se podiam enxergar jovens moças da alta classe
sempre em grupos formados de três. Rapazes uniformizados da última moda a tomar
sorvete e sempre olhar as ninfas e cochichar ao outro da peculiaridade das
ninfas. Enquanto os frequentadores degustavam os deliciosos sumos de frutas
congelados passava um bonde a ranger nos trilhos as suas rotas de metais de
ferro após deixar sair os passageiros vindos do bairro da Ribeira. Nesse ponto,
Eurípedes falou a Nara do telefonema recebido:
Eurípedes;
--- O doutor
Modesto está com a ideia de fundar em Natal um Hospital particular. – falou
Nara:
--- E?
–indagou
Eurípedes:
--- Ele me
chamou para participar de uma reunião Parece haver mais médicos no concerto. –
relatou.
Nara:
--- Quando? –
perguntou.
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