sexta-feira, 7 de junho de 2013

"NARA" - 73 -

- Jennifer Hewitt -
- 73 -
ALEMÃO
Em um daqueles dias sombrios, o vaqueiro Tomaz foi até o aeroporto de Natal buscar uma encomenda feita pela firma. No aeroporto era tudo calmo, apesar do contínuo movimento de gente a embarcar para um lado e para outro. Tomaz se dirigiu ao setor de cargas para buscar sua encomenda. Foi, então, com surpresa que ele notou entre outros passageiros e empregados do aeroporto a figura do alemão Humberto Paulo a transitar com pressa em busca de outros passageiros. Esses estavam a desembarcar em um Boeing estacionado na pista de pouso. Era um avião tremendamente gigante. Tomaz não identificou a sua procedência por falta de atenção. Apenas notou o avião e viu muito bem o homem nazista de se encaminhar para o ponto onde estavam três outros prováveis alemães com roupas comuns, porém de esmerada qualidade. Entre os três homens que alí estavam outro ligeiramente franzino fez um sinal de obediência. Esse levantou o braço em sinal nazista batendo os seus calcanhares. O General fez um apelo com a mão para que o homem abaixasse o braço e não disse palavra alguma. E se trocou palavras foi mesmo em alemão, pois Tomaz não podia entender o que falavam entre si. Um automóvel de cor preta estava estacionado no parque de aviação a espera dos seus ocupantes. De imediato, os supostos alemães embarcaram no automóvel, sendo que o General Humberto Paulo seguiu entre os dois ocupantes no banco de trás ficando o rapaz menos forte no banco da frente ao lado do motorista. O vaqueiro acompanhou o trajeto do automóvel. Esse seguiu pala parte posterior do aeroporto e se perdeu no vento. O avião taxiou para um lado do campo onde ficou estacionado. Um oficial do campo de pouso esteve há pronto o tempo todo até a saída do automóvel. O vaqueiro Tomaz ficou impressionado com tal ação do General Humberto – verdadeiro nome: Karl Hélder – e depois de receber a sua encomenda se voltou e foi a seguir para o armazém, no bairro do  Alecrim, em Natal.
Ao retornar à loja, o vaqueiro ainda tremendo de pavor, contou a Rócia todo o ocorrido e de tudo o que se lembrava. A moça sorriu e disse ao vaqueiro ter uma conhecida de origem italiana, mas nascida em Natal ter os alemães frequentados uma residência de um rico comerciante fascista e admirador do nazismo. Essa residência ficava no bairro da Ribeira e a área era preservada com o piso da suástica.
Rócia:
--- O sobrado foi construído para ser residência do imigrante italiano Guglielmo Lettieri. Ele era simpatizante de Hitler. Um trecho da casa tem piso formado por ladrilhos representando a cruz suástica, o símbolo nazista. – relatou a moça.
Vaqueiro:
--- E quem é esse homem? – indagou surpreso com a face franzida.
A moça sorriu para logo informar.
--- Guglielmo Lettieri é de origem italiana. Aqui  fundou a famosa Cantina Lettieri e a única fábrica de gelo de Natal. Em 1938 foi nomeado cônsul da Itália no nosso Estado. O consulado ficava na sua própria casa. Em 1942 foi preso, acusado de espionagem. Depois da Guerra foi anistiado. O senhor Luis da Câmara Cascudo foi agraciado com a Medalha do Rei Vittório, alta condecoração fascista do Governo Benito Mussolini. A suástica ainda está no local. – declarou a moça.
Vaqueiro:
--- E isso tudo está aqui? – perguntou surpreso.
Rócia:
--- Está. Tudo, tudo. Até as paredes. Essas e suas lajes são reforçadas por grandes vigas de trilhos. – disse a moça a sorrir enquanto embrulhava uns pacotes.
Vaqueiro:
--- E a cruz? – indagou com bastante temor.
Rócia:
--- E a suástica. – sorriu a moça atando os pacotes.
Rócia sorriu para poder voltar a falar.
Rócia;
--- Olha vaqueiro! As imagens são notórias. O nazismo cresceu muito no mundo todo, inclusive no Brasil. A publicação de um livro de Adolf Hitler, o líder, chamado de “Minha Luta” foi uma vitória crucial do nazi. É o desolador cenário da chamada democracia. No interior de São Paulo existe ainda uma fazenda onde se inspira as teorias raciais, escravizam-se crianças, negras em sua maioria. A propaganda é “O trabalho liberta”. – comentou a moça.
Vaqueiro:
--- Nossa Mãe! – disse alarmado com a mão tapando a boca.
Rócia:
--- Pois é vaqueiro. Persiste silêncio sobre a presença e atuação dos nazistas no Brasil. Não se sabe nem o número de partidários de Hitler que vieram ao País depois da Segunda Guerra. O Brasil se tornou uma espécie de seara livre para a circulação de nazistas, fascistas e integralistas. – relatou a moça a sorrir.
Após alguns dias Rócia continuava no seu labor de compra e venda de produtos para animais de grande porte. Ela estava tão distraída, pois nem notou a entrada de um rapaz elegante trajando roupas simples a procura de ração para o gado. Quem o atendeu foi Alenka Calheiros, balconista da firma e ao mesmo tempo a moça do pagamento. Entretida com as contas Rócia nem notou a aproximação do vaqueiro Tomaz. Ele falou a murmurar sobre o belo rapaz.
Vaqueiro:
--- Veja quem está ali! – e apontou para o rapaz de pele clara.
A moça, distraída, ainda perguntou:
Rócia:
--- Quem? – olhou depressa.
Vaqueiro:
--- O tal alemão. Esse cumprimentou o seu chefe Humberto com uma saudação. – falou discreto.
Rócia:
--- O alemão? Não me diga? Foi esse? – perguntou a moça de queixo caído.
Vaqueiro:
--- Sim. Ele mesmo. Parece não falar português! – murmurou Tomaz.
Rócia:
--- Deixa-me ir lá. Espera! – falou a moça a se levantar da sua escrivaninha.
E foi Rócia sem querer se intrometer. Mas ao chegar ao balcão Rócia falo ao rapaz em alemão, do modo como sabia.
Rócia:
--- Guten Tag. Wie kann ich lhnen dienen? (Boa tarde. Em que posso servi-lo) – indagou a moça.
Alemão.
--- Ich bin serviert. Vielen Dank (Eu estou sendo atendido. Obrigado) – sorriu temeroso o alemão.
Nesse ponto o alemão ficou desconfiado com a ação da moça. Ele não sabia a razão do porque a pergunta em alemão. Mesmo assim, antes da Guerra havia alemão por todo o recanto do Brasil, com voos regulares da companhia aérea germânica. O rapaz, desconfiada apenas sorria. E Rócia voltou a indagar:
Rócia;
---Bitte. Wie ist dein Name? (Por favor. Qual é o seu nome?)– indagou a moça.
O rapaz intranquilo respondeu:
Alemão
--- Franz. – respondeu o alemão com um sorriso amarelo.
Rócia:
--- Fuhlen Sie sich frei (Fique a vontade) – respondeu a moça em um bom alemão
Nesse ponto a moça Alenka que o atendia mostrou estar tudo em ordem. O alemão Franz agradeceu e se despediu com o tradicional “obrigado”. E saiu com pressa desaparecendo na voragem da vida. Rócia levantou suspeita porque o homem podia ter dito outro nome. Mesmo assim, como a indagação foi de surpresa ele nem teria tempo de conseguir mentir. De qualquer forma a moça ficou com o seu nome guardado.
Rócia:
--- Franz. Nada mal! – sorriu a moça ao voltar para a sua escrivaninha.
Rócia ficou sem saber se havia dito tudo certo. Afinal, ela estudara muito pouco a língua alemã para ter certeza do que falara. Com isso, a moça coçou a cabeça por não se dar por satisfeita.
Rócia:
--- Eu vou estudar alemão. Eu bem poderia ter feito às questões em inglês. Mesmo assim, eu queria ouvir se na verdade ele era um germânico. Ora bolas! – resmungou cheia de dúvidas a moça.

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