quarta-feira, 5 de junho de 2013

"NARA" -71 -

- Amanda Seyfried -
- 71 -
RIO
Em um dia qualquer a enfermeira Fabiana entrou na suíte hospitalar onde estava há mais de um mês em recuperação o seu irmão Jonas. Na hora, Jonas estava quieto e só. A outra enfermeira já havia feito o asseio e dado os medicamentos ao enfermo. Sempre a sorrir, a moça se acercou da cama e se sentou em uma poltrona bem perto e estirou as pernas de modo a repousar por inteiro. A beliscar com os dentes as suas unhas, Fabiana olhou bem para o seu irmão antes de começar a conversa. Ela verificou a sua temperatura e pode acreditar não ter havido mais recaído no seu estado de saúde. Há vários dias, um mês por assim dizer, Jonas parecia normal. Naquela ocasião, o homem estava calado e pensativo como a se lembrar do acidente do qual vitimou a sua esposa. Os dois filhos do casal sempre o visitavam logo após as aulas. A virgem Fabiana então indagou:
Fabiana:
--- Calado? – indagou.
Jonas:
--- Lembranças. – respondeu.
A moça calou por um instante. Lembranças: era uma mágoa da qual não se passava como a lua, o sol, o vento. Fabiana notou uma lágrima escorrer na face de Jonas. Ele, na verdade, estava tristonho do acidente fatal. Claudia Rizzo não teve tanta sorte. Essas mágoas embutidas levavam o homem para um espaço melancólico. A irmã Milena, não aparecera no dia passado. Nisso ele lembrava. E até quis perguntar. Mesmo assim calou. A sua irmã notou e quis saber.
Fabiana:
--- Alguém apareceu? – quis saber.
Jonas:
--- Minha mãe. Ontem. Ninguém mais. Aliás. Você.  – disse o homem.
Fabiana ficou calada pensando em como dizer ao irmão. Naquela hora ele já podia saber. Mas a magoa o atormentava sobremaneira. Magoa da vida, da lida, de tudo enfim. Ele apenas se ressentia da estrada, do caminho, de algo feito. De tudo afinal. Uma lembrança atroz. Um grito aterrador. Um matagal, um galho seco e nada mais. Lembranças, lembranças, lembranças. Tudo apenas lembranças. O caminhar, um carro. Outro grito aterrador. Um choro de criança. Vento frio. A morte. A morte. A morte. Ele não se lembrava de como foi encontrado nem por quem ou como chegou ao hospital. Sua mulher. Sua mulher. De repente, um grito aterrador.
Jonas:
--- Claudia! Onde está você? – ele próprio chamava com verdadeiro alarde.
Tudo isso assustou Fabiana. Um susto incomum, pavoroso, tremendo! O homem quis se soerguer, porém ele estava preso por ataduras à cama. Seus olhos soltavam faísca de lágrimas coloridas de tamanho diverso. Da sua macilenta boca descia uma saliva grossa igual aos loucos enraivecidos de ódio. Sua mão ainda vazia increpava-se como afiadas garras. Parte do seu incontrolável corpo estremecia com fúria homicida de alguém possesso.  Loucura. Turbilhão de insanidades. Um grito preso na garganta. Gente a acudir. Brados e mais brados. Ele não parava de urrar. Apenas dizia o tal nome da sua amada Claudia. Na cama todo atado, ele era o caso com um olhar extraordinário a todos e a tudo. Bramidos do terror o homem soltava a todo e cruel instante. O desumano momento era então diminuto para o seu bárbaro, frio, hediondo, repugnante, aterrador clamor. O apartamento se encheu de pessoas. Alguém verificou os tubos de soro. Fabiana era toda pressa. Gritava com outras pessoas.
Fabiana:
--- Acudam! Acudam! Chame o médico! Ele entrou em crise! – dizia sem demora.
Alguém chegou perto. Uma agulha. Um homem de branco. Jonas a gritar terrível como a estar possesso. A chamar por sua esposa a todo o tempo. Ele queria ver a mulher que tanto amava. Um segundo. O efeito. A dormência. O apartamento a rodar, rodar, rodar. E tudo apagou de vez.
Passaram os dias e Jonas estava totalmente desacordado por efeito do medicamento passado pelo especialista. O movimento era intenso no apartamento naquele momento da história. O homem estava sem sentidos. Proibidas as visitas a qualquer hora. O especialista temia quando Jonas saísse do coma. Apenas Fabiana, enfermeira, tinha acesso ao apartamento. Ela, apesar de ser irmã, era também enfermeira.
Medico:
--- Todo cuidado é pouco. Não se devem deixar quaisquer objetos por perto. Eu não sei o grau de torpor do paciente. Cuidado! – preveniu o especialista à Fabiana.
Fabiana:
--- Pode deixar. Eu cuido do paciente a toda hora. – responde a moça.
Médico:
--- Nenhuma visita. Nem a própria mãe. – alertou o medico.
No instante, adentrou o médico Eurípedes para saber o estado de saúde do seu irmão. Ele viajara em um vou com a maior rapidez possível para saber dos resultados dos exames feitos no angustiante paciente. O medico atendente disse-lhe ter o quatro de saúde de Jonas se agravado em um determinado instante.
Médico:
--- Ele estava muito bem. Aconteceu o que se pode classificar como transtorno bipolar de humor. O senhor sabe muito bem desse transtorno. É o tipo de ocorrência psicótica um tanto desconhecida da Medicina. Espectro Bipolar. Sentimento de irritabilidade. Ou até mesmo de impulsividade. Na prática, pouco ainda se conhece. Parece-me até com a esquizofrenia. Uma forma degenerativa. É o que podemos afirmar nessa ocasião. – falou o médico.
O irmão de Jonas, doutor Eurípedes, abaixou a cabeça para pensar melhor. Uma vez ou outra coçava a sua cabeça, ajeitava o seu penteado, e até mesmo coçava o ouvido.  Um certo espaço de tempo Eurípedes se ajeitou na cadeira e perguntou ao seu colega se estava sendo liberada a visita.
Eurípedes:
--- E visitas? – indagou.
Médico:
--- É recomendável apenas os que fazem limpeza. Assistente, enfermeiras. A irmã do paciente está liberada para acompanhar o enfermo. Apesar de ser irmã, ela também é enfermeira. – destacou o médico.
Euripedes:
--- A mãe do enfermo? – indagou.
Médico:
--- Nós preferimos não. A mãe não é enfermeira. E há o sentimento de posse. – explicou.
Após longa conversa com o médico o doutor Eurípedes foi até o apartamento do seu irmão. A sua irmã Fabiana não estava no momento. Apenas uma auxiliar de enfermagem. Ele indagou pela enfermeira e recebeu por resposta ter a enfermeira de rápido saído por alguns instantes, provavelmente para trocar de vestimenta ou coisa da espécie. Eurípedes voltou a coçar a cabeça e teve de olhar com melhor atenção como estava a passar o seu irmão. Ele pigarreou, pôs a mão no seu queixo e passou a meditar sobre o futuro do seu irmão. Quando coçava seu ouvido ele percebeu a volta de Fabiana. O doutor estava preocupado e perguntou sobre o estado de saúde de Jonas. Teve a resposta imediata:
Fabiana:
--- Ele entrou em convulsão e a equipe de enfermagem lhe fez um sedativo. De lá para cá apenas dorme. - respondeu com sentimento.
Eurípedes:
--- Você? – indagou.
Fabiana:
--- Como e durmo aqui. É o jeito. - respondeu transtornada.
Eurípedes:
--- Nossa mãe está incontrolável – explicou
Fabiana:
--- Ela não pode entrar. – disse.
Eurípedes:
--- É o certo. – completou.
Um tempo depois, o doutor Eurípedes esteve a percorrer o Hospital verificando sala por sala e encontrado pessoas dementes, vestidas com um mando de linho branco aberto às costas e inteiramente despido. Uma mulher um pouco idosa apenas estenda-lhe a mão a pedir uma esmola pelo “amor de Deus”. Uma enfermeira a levou de volta para o seu cômodo com toda pressa possível a segurar-lhe as costas. Um doente a gargalhar como um louco. Em um quarto, um homem a fiar em um tecido inexistente. Um louco a formular discurso com a mão direita para cima. Um homem a empurrar um carro de mão cheio de roupas usadas.
 

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