- Chloe Moretz -
- 25 -
AS HORAS
Como o suíno morria e a sua
cabeça pendia de um lado para outro marcando o compasso da estranha vida e da
morte, assim também marcava o gigantesco e preguiçoso carrilhão do velho
relógio da corrompida sala da bodega as horas vagarosas do eterno dia. A
sensação de temor invadiu por completo a alma atormentada a linda moça Dalva.
Ela não queria ouvir o falar dos matadores de porcos e nem saber o destino das
tripas do animal. A sua cabeça zunia como uma arapuá da floresta esvoaçada no
meio da mata. O carrilhão olhava para a moça como o suíno também. As nuvens no
céu a vaguear em flocos finos como sendo algodão. O berro de um carneiro era
tudo o que faltava na vala do sítio. E o mugido de um touro valente dava o
sinal da morte certa de algum outro animal. Carros a passar para a cidade. Um
caminhão cheio de frutas. O motorista
recebia o adeus do homem quase nu da cintura para cima com o seu facão no
braço. O homem era o danado do matador de suíno. A moça ainda olhou em ligeiro
desatento o gesto do assassino do cevado. Bugies passavam a toda pressa em direção aos
Coqueiros com seus passageiros. As moças no banco de trás vestiam tangas quase
nuas. Um menino dos seus oito anos dava adeus aos passantes. A mulher empilhava
o monte de cocos na beira da estrada. Os crentes rezavam o oficio na frente de
uma das casas existente no local para o povo do mato, com certeza. Um foguetão
espocou no alto para chamar a atenção de toda a gente. Por fim, Bartolo seguiu
viagem em direção à praia.
Bartolo:
--- Estás chorando? – perguntou à
sua companheira de viagem
Dalva:
--- Criminosos! – disse a moça a
soluçar.
Caio:
--- O pior é com um ser. Ele
morre na hora. Uma facada ou um tiro. E pronto! – dialogou
Bartolo:
--- Depois todos comem achando
graça. – manifestou o repórter.
Caio:
--- A matança de porco é um ato
brutal. Como a do gado, carneiro e bode. Enquanto o gado morre o homem vive. É
a sina do destino. – comentou o policial.
Onze horas da manhã e o Hyundai
estacionou em frente a um bar. Não era bem um bar. Mas era o único existente na
praia. Uma tapera, bancos toscos, mesas quase a cair de tão velhas, duas
portas, uma geladeira, garrafas empilhadas, cordas de caranguejos para se pôr
nas panelas de barro, lagostas trazidas do mar, peixes crus ou fritos o que pôs
em inveja o homem Caio bastante satisfeito, e um monte de gente em monta a
conversar asneira. Com seu maiô composto e sua saída de praia a mulher correu
do carro para o mar onde mergulhou à sua vontade.
Bartolo:
--- Ei! Espera! Estás louca? –
chama o homem a gritar.
Caio:
--- Deixa-a! É a forma de
esquecer-se do suíno. – falou o homem a sentar à mesa.
Em instantes, um homem a vestir
roupas de pescador, com as pernas das calças até o meio da canela, a camisa
desabotoada e um chapéu de palha se aproximou dos moços a oferecer uma enfieira
de peixes inteiramente crus. Ele acabara de vir do mar e tinha a oferecer uns
badejos ou coisa assim prontos para se levar para casa. Nesse ponto, Caio se
revirou todo a verificar aqueles salutares peixes só encontrados no Canto do
Mangue, em Natal. E não tinha porque não agarrar tantos peixes novos como
aqueles. Ele nem quis saber de mais nem menos. Agarrou a enfieira e pagou o
preço desejado.
Caio;
--- Desde que há memória que a
pessoa sempre pesca. E o peixe tornou-se um símbolo dos cristãos. E a lua
exerce influência na pesca. Lua cheia é ótima para a pesca. Esse é um alimento
de excepcional valor nutritivo. – declarou com ênfase.
Bartolo:
--- A forma mais simples de pesca
é um indivíduo isolado com uma canoa ou uma rede de pesca. – comentou o
jornalista.
Caio:
--- Exatamente! A forma mais
simples de pescar é com o auxílio da embarcação, começando com a jangada. –
salientou ainda mais.
Nesse momento, alguns minutos
após a deusa chegava do mar para enfeitar ainda mais a amena conversa. E foi de
imediato a indagar sem preconceitos.
Dalva:
--- Bebe-se? – perguntou a deusa
com o seu largo sorriso.
Caio:
--- Ora veja o que faz um belo
banho! – alertou o policial.
Após certo tempo quando passava
já do meio dia e os ponteiros do relógio chegavam mais para uma hora da tarde
algo de novo se abateu. Um carro estacionou próximo ao bar e dele desceu um
casal. O homem foi logo reconhecido. Lauro Alcântara.
Dalva:
--- Ih! Lá vem bronca! – relatou
suave a mulher
Bartolo:
--- Quem? – indagou sem entender:
Dalva:
--- Meu ex! – declarou a mulher.
Bartolo:
--- Deixa pra lá! Ele que se
lixe. Talvez nem tenha visto! – fomentou com incerteza.
Dalva:
--- Quem? É o que você pensa! Ele
encostou o carro de modo a atrapalhar a minha saída com o meu Mustangue. –
disse a moça já enervada e virando a cara para outro lado.
Bartolo:
--- Eu peço para retirar da
saída. – confessou o jornalista.
Caio:
--- Calma! Calma! Eu mesmo tomo
conta de tal assunto, se for preciso! – falou a dissimular.
Naquele instante o homem Lauro Alcântara
baixou os óculos para melhor reconhecer a sua mulher ou ex-mulher e fez um
sinal como ditar uma “boa tarde”. Ele sorriu e acompanhou a sua noiva ou
namorada. Então, devagar, ele conversou ao ouvido a nova namorada. Mas, Dalva
não soube o que ele falou de tal modo. Dalva sentia apenas o esquentar do seu
corpo e apesar de não tecer a vista, a diva não se deixava aquietar.
Bartolo:
--- Calma. Tenha calma! Ele não
fará nada na vista de todos. – falou sussurrando
Dalva:
--- Eu sei que ele não fará nada.
Mas me enerva a sua presença. – falou com ira.
Caio:
--- Quer sair? – indagou o
policial.
Bartolo:
--- É o melhor a se fazer. –
argumentou o namorado de Dalva.
O Policial foi até o homem, Lauro
Alcântara, para ele retirar o seu carro, pois o outro veículo tencionava sair
naquele instante. De momento o homem olhou de cima abaixo o policial como se
não compreendesse ao certo.
Lauro:
--- Quem é o senhor? – indagou
meio alterado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário