domingo, 9 de fevereiro de 2014

DOIS AMORES - VINTE E DOIS -

- Paulette Goddard -
- 22 -
O TEMPO
Eram passados cinco meses do desaparecimento do General Wagner Rahner. A calma voltou ao sossego do lar de Caio Teixeira. Ao mesmo tempo, Bartolo Revoreto estava vivendo não maritalmente com Dalva Tavares, em seu apartamento no mesmo prédio de onde ele ficara resguardado. A ex-mulher de Bartolo, a senhora Dafne Caccine não dera mais nenhum sinal. Com isso, Bartolo se tornava inquieto por certas vezes, querendo saber qual seria a intenção da ex-senhora, pois de nada a mulher falava. Em outro espaço, no apartamento em frente, estava o policial Caio Teixeira sempre com visitas de Fernando Costa, funcionário de um Banco e de tempos em tempos do Cabo Oliveira sem contar com as visitas continuas de Bartolo e da sua companheira, Dalva Tavares. Esse era a vida preguiçosa dos amantes do que não fazer de tudo. Uma vida de indolência permanente. O cabo Oliveira (José do Nascimento Oliveira) estava cursando Filosofia e raramente podia estar com seus velhos amigos. Quando não estava de Serviço, no Quartel da Polícia Militar, era a vez de permanecer nos estudos, negócio complicado, pois os mestres sempre estavam a repreendê-lo pelas questões levantadas. Nesse domingo pela manhã, Oliveira tirou um tempo para fazer uma visita ao seu velho amigo Caio, homem sempre disposto a consumir peixe.
Caio:
--- Peixe? – oferecia ao amigo quando esse estava na sala.
Oliveira:
--- Quero nada. Isso incha a barriga! – sorriu o policial
Caio:
--- É bom. Peixe de qualquer forma. Sirva-se! – empurrou a tigela para o lado de Oliveira.
Oliveira:
--- Não. Não. ... Estou a pensar. – disse Oliveira.
Caio:
--- Pensar? Peixe ajuda bastante. Coma. – ofereceu mais uma vez.
Oliveira
--- Sócrates dizia que a sua sabedoria era limitada à sua própria ignorância. A verdade, em cada um de nós, só é visível aos olhos da razão. – relatou Oliveira empurrando o prato de volta.
Caio:
--- O que tem isso a ver com o peixe? “Só sei que nada sei!” – refletiu o policial.  
Oliveira:
--- Foi Sócrates quem disse essa frase! – argumentou o amigo de Caio.
Caio:
--- Eu sei disso. Ou você pensa que só sei pegar em defunto? A mitologia é um poderoso veículo para aprofundar a experiência. Voce sabe disso. – falou o agente.
Oliveira:
--- Ela evoca elementos cruciais da experiência evolutiva humana. – respondeu o estudante de filosofia.
Caio Teixeira, com seu andar meticuloso, viajou para a cozinha do apartamento, com seu jeito corcunda e uma cara com olho de peixe morto não ligava muito bem aos interesses do seu amigo Oliveira. De volta, Caio dizia:
Caio:
--- Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. – relatou o professor levantando o dedo para o alto..
Oliveira:
--- Mas você é gozado! Tudo isso está no estudo da filosofia. Vernant, por exemplo! – levantou a tese o policial estudante.
Caio:
--- Tolice! Tolice! Pura tolice! – argumentou o delegado.
Oliveira saiu de sua cadeira junto à mesa e, com as mãos para trás, contemplando o tempo. Nesse momento Caio voltou a conversar um assunto sem grande importância: política. E Oliveira respondeu:
Oliveira:
--- Está em fogo de monturo. Tem professores e estudantes fomentando a criação do se bem que sei: nazismo no Brasil. Eles querem a se agregar a movimentos sociais. Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Brasileiros. É um nazismo simplesmente. – falou sem emoção
Caio:
--- Eu já ouvi falar nesse negócio. Deputados federais, senadores. E no meio da raça os dos Estados. Após tantos anos, o grupo ressurge. Alias: Ele nunca se apagou com certeza. – falou o mestre policial.
Oliveira:
--- Só quero ver no que vai dar. Já tem o PT. Alias, tem muitos partidos. E o nazismo está no meio. A força maior é no sul do País. – argumentou o militar.
Caio:
--- Isso já vem de muito tempo. Os alemães natos  são os líderes máximos da célula partidária. – comentou.
Oliveira:
--- Sei bem que o Nacional Socialista atua no campo cultural das comemorações e festividades, confundindo-se muitas vezes com os trabalhos das organizações dos demais partidos políticos. – confirmou o estudante.
Caio:
--- No Rio Grande do Sul, tem uma cidade pequena, por sinal. Na cidade tem dois jornais e uma emissora de rádio. Nesses locais, o Partido Nazista faz a sua propaganda com boa aceitação. O povo desse município é todo ou quase todo alemão. Alí a população adepta entoa seus hinos germânicos. – confirmou o agente de polícia.
Oliveira:
--- Essa eu não sabia! Confesso! Nunca ouvi falar! – destacou alarmado.
Caio:
--- E são encontros públicos. Nada de clandestino. Nada de proibido. Filmes com temática nazista são exibidos. – considerou o agente.
Oliveira:
--- Eu tenho um amigo. Ele é gaúcho. Eu lembro: Certa vez, Gunten falou, quando criança ele frequentava uma escola primária. E nessa escola se falava em germânico. Hinos germânicos. As crianças podiam ser católicas ou luteranas. Elas aprendiam em língua germânica. Seus pais e avós eram germânicos. – salientou o estudante.
Caio:
--- Em 1935 e mais, tinha um alemão em Natal. Ele ensinava o alemão às crianças de classe média. E tinha um gramofone onde o homem colocava hinos alemães, como o Hino do Nacional Socialista para as crianças aprenderem o alemão. O Brasil tinha boas amizades com a Alemanha naqueles anos. Aviões germânicos chegavam todas as semanas trazendo materiais de propaganda nazista, Inclusive livros. – adiantou o agente.
Oliveira:
--- E até tem, hoje, uma residência no bairro da Ribeira. Era de um cidadão que fabricava gelo. E a sua casa tinha ladrilhos com a cruz suástica. Ainda hoje a casa existe no local. – relatou com lembrança.
Caio:
--- Voce sabia disso? – indagou o agente.

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