segunda-feira, 17 de março de 2014

DOIS AMORES - QUARENTA E QUATRO -

- Rita Pereira -
- 44 -
O VISITANTE
Alguns após Caio estava no seu fogão preparando o seu peixe. Era a sua janta. Joana estava no seu quarto onde preparava a sua cama retirando os lençóis e repondo os novos. Ela havia deixado a casa do agente da Polícia Federal, pois o tempo passara e ela já nem mais se importava com a ausência do General Wagner Rahner. Com certeza ele arrumara outro local, uma vez que a vítima passara despercebida dos olhos da Polícia. Nesse momento a sineta tocou por breve instante na porta de entrada. Joana ficou curiosa, porém não se mexeu do seu ponto de trabalho. Quem foi atender, de fato, foi mesmo o dono do apartamento um pouco abusado porque o peixe estava lhe queimando as mãos.  Como de outras oportunidades, ele verificou quem chamava, por puro cuidado. Um homem de estatura mediana, talvez um metro e setenta ou um pouco mais. Do seu modo, Caio abriu a porta deixando a trancada ainda por uma corrente a não dar acesso de um pouco mais de dez centímetros.
O homem se identificou com brevidade, e Caio abriu a porta de entrada ficando entre o homem e o corredor. Do outro lado, a senhora Dalva veio também a passa a vista, pois ficou um costume de se ter de prestar atenção quando alguém tocava a sineta de ou de outro apartamento. Dalva esperou alguns instantes e se trancou fechado a sua porta. E o homem foi logo a conversa com o agente da polícia civil do Estado. Após os cumprimentos veio a taxativa pergunta:
Visitante:
--- Meu nome é Elmer Rainke. Eu sou natural da Alemanha. Mas o tempo me fez mudar para brasileiro, pois já estou aqui há mais de dez anos. Bem. Eu estou procurando uma senhora, cujo nome é Joana. E se não me falha a memoria, de sobrenome “Vassina”, creio que esteja correto. Por idas e vindas eu vim parar aqui. Por favor, o senhor a conhece? – perguntou curioso.
Caio verificou os documentos do visitante e levou algum tempo para responder verificando com bastante atenção os documentos mostrados. Tinha um passaporte, carteira de Identidade, CPF entre demais documentos. Por fim, Caio convidou o homem para entrar e de vez falou.
Caio:
--- Sim. Eu a conheço. E o senhor é algum parente? – ele olhou fundo dos olhos de Elmer Rainke.
O homem se remexeu para um lado e para outro enquanto se sentava no divã. As lágrimas lhes desciam dos olhos e ele falou com emoção.
Rainke:
--- Mas o senhor conhece mesmo? – e estava a lagrimar.
Caio:
--- Se é a mulher que procura, eu a conheço. Por quê? – indagou curioso.
Rainke:
--- É uma história longa. Eu nunca a vi. Mas tudo começou quando eu era criança. Eu tinha coisa de seis ou sete anos. Uma mulher passando lá por casa, perguntou a minha mãe: “Esse menino é o que a senhora cria?” – E a minha mãe me deu um puxavante e me colocou para dentro de casa. Trancou a porta e nada respondeu. Eu era criança. Bem criança. E o tempo passou. Eu não me esqueci da mulher. Quando eu era rapaz fiz perguntas aos meus primos. E nada soube. Quando por fim, eu já homem feito, dos meus 25 anos, a minha mãe me chamou e então me disse que eu era a criança que ela criou. E contou a história de dona Joana. Desde esse tempo eu a busco. Se não fosse um amigo que eu tenho na Força Aérea, sabedor da minha historia por certo eu não estaria aqui. Ele me apresentou as fotos tiradas por ele mesmo de Joana Vassina. Esse amigo é um homem que trabalha na FAB. Ele é o cinegrafista. E fez as fotos que eu trouxe. Foram fotos feitas em Brasília quando Joana esteve lá para a identificação de um corpo de um cidadão. Eis aqui. – e mostrou as fotos a Caio.
Joana estava no quarto de dormir arrumado a sua cama e ouviu a conversa. Para facilitar, ela saiu e passou com pressa para a cozinha onde estava assando o peixe. De tanto assar, o fogo já tinha tostado a carne. Ela a retirou do fogo e colocou tudo para fora.  E então arranjou outro pedaço de peixe e pôs a cozinhar. De fora, a mulher olhava para a cara do rapaz para ter certeza de quem era. E ouviu de Caio a sentença.
Caio:
--- Sua vida é uma novela. Dá até para fazer um filme. Que coisa. E como o senhor encontrou a minha humilde habitação? – indagou.
Rainke:
--- Isso foi o mais fácil. Eu busquei a Secretaria de Segurança e eles me informaram. – relatou
Caio:
--- E o senhor trabalha em que? – perguntou
Rainke.
--- Eu já trabalhava na companhia de aviação Skyscanner. Eu fui aviador de carreira. Então, certa vez eu resolvi fazer as malas e morar no Brasil. Esse é o País do futuro. – disse o homem
Caio:
--- Essa conversa eu já ouvi contar. E desde anterior a Guerra, pela Lufthansa. – sorriu com vagar.
Joana Vassina chegou a sala e indagou:
Joana:
--- Jantar para dois? – perguntou a mulher bastante séria
Caio respondeu após ouvir a resposta de aceite do rapaz. E nesse momento Rainke comentou murmurando a Caio:
Rainke:
--- Quem é a senhora? É a sua mulher? – indagou duvidando
Caio
--- Não. Não. Eu estou pressentindo ser ela a sua mãe. – disse de vez o homem
Então foram choros e lágrimas para os reencontrados. Quando ouviu a sentença dada por Caio o rapaz desabou em choro se levantando do divã e indo abraçar a sua verdadeira mãe. Preces de um amor eternal evocando os deuses germânicos. As lendas e mitos escandinavos de antigos deuses e a criação e destruição do universo constituem a primeira fonte de conhecimento da antiga mitologia germânica. Era para esses o oráculo dos presentes. Abraçados como um só corpo eles se uniram a uma só vontade. Uma polca imaginável. Felizes dançaram como se dança assim na Alemanha de tempos remotos. E nesse momento, Caio saiu para chamar os seus amigos. Ele queria como o amor se complementa em um só instante onde filho e mãe se encontram pela vez primeira em toda sua vida.
Dalva:
--- É um delírio divino! – declarou a dama
Bartolo:
--- Quem diria! – falou o rapaz nem acreditando no que via de concreto.
Caio:
--- Falta uma coisa! Cerveja! É assim que se faz na Alemanha! – gritou em delírio
Cerveja, vinhos, champanhes, pães, linguiças e tudo que se podia arranjar de ultima hora para festejar o encontro de mãe e filho. A música alemã tomou conta do ambiente retirada dos arquivos de Caio Teixeira em discos um tanto mofados. E o homem completava com êxtase.
Caio:
--- Não importa. Essa é a glória de reviver um mágico instante há tempos passado. – enfatizou
Era alta madrugada quando tudo terminou. Ficou a lembrança de se fazer um passeio ao largo do Estado em um domingo pela manhã como a gloriosa festa para dona Joana Vassina e o seu filho Elmer. Entre champanhes e vinhos todos foram dormir. Ficou certo que na manhã seguinte, Elmer e Joana visitariam os recantos famosos da capital onde tudo era encanto. Caio teve de alocar um quarto para dar abrigo a Elmer tendo a idosa mulher se confortado em dormir no apartamento vizinho de Dalva e Bartolo. A magia do resto da madrugada terminou aos cantos das aves quando já amanhecia de verdade. As louças para lavar podiam assim esperar o certo tempo a mais.
Com o anunciar do dia se ouvia na rua o gazeteiro oferecendo jornais e homens a passar apresentando de imediato grude e tapioca ao despertar os sonâmbulos senhores e senhoras da noite nublada e fria. De longe se ouvia um vendedor de mangas, pinhas e graviolas.
Vendedor:
--- Olha a manga. Olha a pinha. Graviola. Quem vai querer! – falava em voz branda.
O homem de meia idade continuava no seu sono como se nada houvesse a fazer. Meio cambaleante, o homem Caio ingressou no banheiro do apartamento para cumprir suas virtuais necessidades. Na sua sala fechada um Morse batia solitário informado algo. Nada mais ele tinha a cumprir.
 

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