quinta-feira, 6 de março de 2014

DOIS AMORES - TRINTA E CINCO -

- Debby Lagranha -
- 35 -
COBERTURA
A cobertura sobre a internação do General Rahner no Hospital do Coração correu rápida como um rastilho de pólvora em uma mina de ouro. De imediato, havia do lado de fora do hospital cerca de 10 carros de cobertura externa de televisão, cada qual procurando se posicionar da melhor forma possível. Os repórteres das estações de televisão, rádio e jornais corriam a qualquer modo para poder passar pelo cordão de isolamento montado pela Polícia Militar da Aeronáutica sem querer deixar passar toda uma turma de jornalistas. E começou a confusão do entra e não entra com a aglomeração de repórteres se acercando de demais autoridades militares. O cerco foi estendido a um largo espaço rodeando todo o Hospital. Havia repórteres fotográficos a se postar em cima de edifícios da vizinhança onde procuravam colher o melhor ângulo da sacada para registar o mais perfeito meio de fazer fotos. Carros a buzinar distante a procura de passagem para os edifícios próximos do hospital. Seus proprietários sem entender o ocorrido se exasperavam a todo custo.
Motorista:
--- Eu moro alí! Eu quero ir para a minha casa! As crianças estão no carro! – falava aos berros quem podia falar.
O cordão de isolamento se estendia de ponta a ponta da rua e a milícia não permitia passar ninguém para os seus apartamentos. O Hospital era um prédio de três andares e mais outros anexos. O prédio ficava no bairro de Lagoa Nova e o cordão de isolamento percorria um quadrado imenso. Os militares procuravam atender os de maior pressa. Principalmente médicos, enfermeiros, auxiliares, pacientes ou demais pessoais a buscar acesso ao Hospital. Nunca se ouviu falar em um aparato tão bem montado próximo a um Hospital em plena rua de tráfego constante. A zoada formada pelos jornalistas era incomum.
Jornalistas:
--- Nós queremos falar com alguém que possa dar informação. – gritava os jornalistas.
Aquele barulho soava como algo feito aos ouvidos dos militares os quais faziam ouvido de mercador. Nesse momento, as gruas começaram a transmitir informações recebidas por seus jornalistas os quais não sabiam de nada.
Passante:
--- O que está havendo aí? – perguntava um transeunte assustado.
Outro:
--- Parece que mataram alguma autoridade. – responde outro
Terceiro:
--- Foi a mãe de pantanha! – dizia alguém a sorrir.
Ambulância, carros de polícia da Aeronáutica, guarda de trânsito dando ordens descabidas para orientar os demais motoristas a tomar outro seguimento de alguma rua. Fim de tarde. Um sepultamento de um morto vindo de uma residência qualquer para os lados de Lagoa Nova, bairro novo de Natal cheio de prédios de moradias em meio a outros de pequeno porte. E tudo isso era um tumulto constante. A Polícia Federal estava em guardar com seus veículos parados e com agentes por perto em plena rua de trânsito daquele Hospital. Havia agente disperso pelo interior do prédio em busca de qualquer suspeito para a fuga do General Rahner em qualquer horário. O jornalista Bartolo estava solitário bem próximo do General alemão e não sabia dizer o que ele já sabia ao seu respeito. Um pouco mais além da enfermaria onde estava Bartolo, se encontrava também o velho General. Junto a Rahner estavam três médicos e alguns militares com formatura de médico, pois esses tinham no peito o emblema de doutor. As autoridades médicas buscavam falar sobre o estado de saúde do enfermo por sua vez de causa inesperada. O ancião enfermo tinha sido posto antes de tudo em um local para se verificar o que de fato havia com seu organismo. Nesse momento o velho estava dormindo por força de medicamentos. E uma maca entrou na UTI  em seguida passando em frente a cama de Bartolo. Dois maqueiros e nada mais. Os dois homens se postaram junto a cama do velho enfermo e de imediato soergueram lhe para depois seguirem para o final do corredor da UTI não passado mais em frente à cama do rapaz. Os médicos da Aeronáutica seguiram o enfermo ao compasso de uma longa espera.
E as horas se passaram. Eram sete horas da noite quando Bartolo chegou ao consultório do médico depois de ter passado longo tempo na UTI. Alí, então foram formuladas as mesmas questões de antes feitas a Dalva e o médico lhe passou a medicação devida alertando ser preciso para ele ir a um médico de coração. As indicações do cateterismo cardíaco previa um diagnóstico mais preciso para detectar doenças nas artérias coronárias. E uma porção de sugestões lhe disse o médico.
Médico:
--- O cateterismo cardíaco identifica doenças obstrutivas das cavidades e válvulas do coração. – declarou o médico.
Bartolo:
--- Quer dizer: eu devo ir para o meu apartamento? Não mais trabalhar? – indagou o enfermo.
Médico:
--- É melhor repousar por esses dias. Segunda feira o senhor pode voltar ao consultório de um especialista. – recomendou o médico.
Dalva:
--- É melhor assim. Cuidado! Foi apenas um surto. – disse a mulher.
Bartolo:
--- Mas. ... E a cobertura do palerma? – indagou sem entender.
Dalva:
--- Caio cuida. É melhor voce obedecer à orientação médica. – argumentou.
Com isso, o rapaz deu meia volta na cadeira de rodas onde estava, agradeceu ao médico, deu boa noite e saiu. Do lado de fora do consultório estava o velho amigo Caio Teixeira com um sorriso largo na face. Tao logo Bartolo notou a sua presença foi dizendo:
Bartolo:
--- Isso é uma merda! Eu não vou mais cobrir a histórico do palerma. Ordens médicas. – falou abusado
Caio:
--- Ora rapaz! Outro cobre. Eu tenho algo para lhe dar.  Conforte-se. – disse o seu velho amigo.
Bartolo ficou zangado e por longos tempos nada quis saber. Em companhia de sua amante, ele foi para  seu apartamento onde nem sequer ligou o televisor. Os medicamentos faziam efeito e Bartolo subiu à cama de agarrou no sono. Sonhos de um caso conturbado lhe vieram à memoria. E ele nem mesmo acordou por sinal. No sonho ele voltava à situação alemã com as atividades de fuzilamento em massa dos civis comandadas pelas ostensivas unidades móveis de extermínio. Os nazistas experimentaram a morte dos presidiários com asfixia por gás nas chamadas “vans de gás”. Eram caminhões hermeticamente fechados com o cano de escape voltado para o compartimento interior. Enorme grupo de mulheres e crianças tinha sua vida ceifada. Bartolo via muito bem os campos de extermínios para alcançar a solução final dos milhares de presidiários. E foram no campo de extermínio de Chelmno, na Polônia onde os prisioneiros foram mortos nas chamadas “vans gás”.
O perigo estava à solta. Dois maqueiros colocaram o General Wagner Rahner na sua fria cama e seguiram viagem para o interior do Hospital. Em metade do caminho foram pegos de surpresa dos dois outros maqueiros. Os invasores agarraram com rapidez o velho coronel e saíram em debandada. Os primeiros maqueiros ficaram desacordados com a pancada segura em suas cabeças com uma espécie de granada não explosiva. No pátio do estacionamento interno, os meliantes colocaram o General para dentro de uma ambulância e com a mesma rapidez deram ordem de saída da motorista todo vestido de branco. Ao seu lado seguia um rapaz com um disfarce de médico.
Vândalos:
--- Depressa! Depressa! Depressa! – era a ordem emanada.
A ambulância seguiu caminho por trás do hospital em correria louca. Na parte externa da casa de saúde, estavam os carros de externa das emissoras. E nem sequer deram conta do ocorrido naquele instante. Os jornalistas estavam digitando suas matérias para a redação em seus notebooks e tablets não se dando conta do ocorrido. Um rapaz, motorista de uma das vans foi quem deu o aviso de um veículo sair em debandada enveredando pela Rua Rui Barbosa em correria louca parecendo um trem bala:
Motorista:
--- Gente! Uma ambulância! Ela corre como um louco! Eu suspeito de algo! – disse com pressa
Jornalista:
--- Quem? Quem? Onde? Onde? – se levantou de sobressalto um repórter
Nesse momento um carro da polícia, e outro, no encalço da foragida ambulância. O van se postou de imediato na terceira posição dos veículos e logo após vieram mais três ou quatro carros todos com sirenas abertas. O van dos jornalistas não tinha como competir que os veículos policiais dados à extrema rapidez como faziam ultrapassagem. E a perseguição prosseguiu rua a fora até ao entroncamento com a Avenida Bernardo Vieira e dali para frente com a máxima velocidade ao qual se seguia. Carros freavam quando vinham em sentido contrário. A ambulância, ao atingir o cruzamento da Avenida Salgado Filho não teve a vez de brecar. Nesse local, ela atravessou com todo o empenho indo colidir com um trucado Bitrem na parte frontal. A ambulância rodopiou três ou quatro vezes no meio da avenida com o trucado a conduzir óleo diesel para um posto de combustível logo à frente e se enroscar com tamanha rapidez sobre o carro de socorro envolvendo em chamas todo o veículo a revirar cambalhotas com o trágico fim de ficar de pneus para cima. O fogaréu intenso se formou. O motorista do trucado conseguiu sair do cavalo, mas os que estavam na ambulância de pronto socorro nada puderam fazer. As cinco vítimas tiveram um fim trágico consumidas de modo espetacular pelas chamas. Carros e ônibus vindos em três direções brecaram. Os passageiros dos veículos viram a extraordinária tragédia surgir por entre as chamas das viaturas em colisão e nada puderam fazer se não gritar alarmados.
Passageiros:
--- Meu Deus do Céu! É fogo muito! – gritavam amedrontadas.

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