domingo, 9 de março de 2014

DOIS AMORES - TRINTA E OITO -

- Paris Hilton -
- 38 -
OS INOCENTES
O agente Caio Teixeira sorriu vagaroso e voltou a falar da fuga da noite passada do General nazista pego por dois aparentes auxiliares de enfermagem. Os raptores colocaram o General em uma ambulância após desmaiar com golpes da cabeça os dois maqueiros quando ainda estavam no interior do hospital. Dai em diante houve tremenda perseguição até o cruzamento das Avenidas Salgado Filho e Bernardo Vieira. A chegar ao cruzamento à ambulância colidiu com um trucado e virou cambalhotas por diversas vezes até que o trocado Bitrem se enroscou  com o outro carro provocando um incêndio catastrófico. O fogo assumiu terríveis proporções invadindo uma loja de comercio da Midway e demais lojas menores a existir no cruzamento das avenidas. A gente procurou fugir das chamas atropelando outros transeuntes e acabando por matar pisoteados esses viandantes ou passageiros. A situação se tornou gravíssima com as autoridades policiais evacuando os moradores de prédios próximos para evitar um flagelo sem precedentes. Houve pânico generalizado por parte desses moradores, inclusive os habitantes de prédios maiores fincados nas ruas adjacentes. Houve mortos e feridos. Especula-se em quase cinquenta mortos.
Caio:
--- Mas espera-se um número maior. Toda a área conflagrada foi fechada ao público, mesmo aos moradores a espera de se debelar as labaredas ainda insistentes no quarteirão. – declarou o agente.
Bartolo:
--- Ah! Mas eu preciso ir até o local. O jornal não pode ser batido com uma notícia dessas. – rebateu um repórter.
Caio:
--- Creio não ser preciso. Há repórteres por todos os locais, inclusive colegas seus. – falou calmo.
Bartolo:
--- Colegas? Colegas? Não tenho colegas! Eu me viro como posso quando se está em uma grave necessidade como a tal! – falou cruel a procura dos seus documentos.
Dalva:
--- Calma! Calma! Esse é um fato que vai gerar muita controvérsia. – declarou a mulher.
Bartolo:
--- Calma que nada! Eu vou seguir agora mesmo! Com ou seu coração! – relatou brutal.
Caio:
--- E voce sabe como pode entrar no cerco? Olha lá! Não é um cercadinho. É um longo cerco protegido pelas Forças Armadas. Não vá se meter em perigo! – aconselhou.
Bartolo:
--- E como é que se entra nesse certo, heim? Heim? Heim? – indagou rápido
Dalva:
--- Calma gente! Vamos deixar a coisa esfriar! – falou com remorso.
Bartolo:
--- Coisa esfriar que nada! Eu vou agora! E por que voce não me chamou quando todo ocorreu durante a noite? Heim? – perguntou indignado
Dalva:
--- Voce estava de sono ferrado. E eu me preocupei mais com sua saúde! Merda! – falou esquentada.
Bartolo:
--- Tá vendo? Tá vendo? E se eu tivesse morrido? – falou intrigado ajeitando calças, camisa, paletó e documentos.
Caio:
--- É melhor confiar no que a sua mulher está a declarar. – falou calmo e prevenido
Bartolo:
--- Que nada! Eu me ajeito! Por onde? Por onde? Por onde? – perguntou insistente.
Caio:
--- Eu aconselho pegar a Avenida Rui Barbosa. É o melhor meio. – confidenciou.
Bartolo:
--- Legal. Deixa que eu me acerque. - - falou ao pegar as chaves do carro.
Nesse ponto a mulher falou alto.
Dalva:
--- Ei! Essa é a minha chave! – falou grosso.
Bartolo:
--- E a minha? – perguntou a olhar por outros locais.
Com alguns minutos de procura até que em fim ele achou a chave e, de vez, saiu na carreira em busca do seu carro. Foi um atropelo indigesto para encontrar um meio de estacionar o veículo em um local próximo à avenida citada. Após entrar e sair com pressa por becos imprevistos, Bartolo chegou ao ponto nefrálgico da situação. Em um ponto até mesmo distante, ele olhou para um lado e outro e encontrou um local de estacionar. E dali seguiu a pé por entre veredas e entulhos até chegar ao ponto indicado da avenida bloqueada. Naquela hora domingueira da manhã havia gente por demais querendo olhar de longe o fogo ainda não sufocado pelo Corpo de Bombeiros a improvisar água do terreno da ETFERN e do Hospital Central. Era o meio de aplacar as chamas ainda renitentes àquela hora do dia. O povo desunindo parecia saído de uma feira, porquanto era um número impressionante. E tinham até os “trombadinhas, maloqueiros, vigaristas ou assaltantes” batendo a bolsa das senhoras desprevenidas com o aguçar do olhar vendo as temerosas labaredas ainda a sair do edifício. 
Ao se acerca da grade de proteção ele observou uma figura peculiar entre os muitos existentes na proteção do cercado. Oliveira era seu nome. De imediato, Bartolo procurou falar com Oliveira e esse demonstrou inquietude.
Oliveira:
--- Por aqui, homem? Sai daqui! Tá tudo cercado! – falou o homem com severidade.
Bartolo:
--- Escuta meu! Dá um jeito. Fala com um superior. Diz que sou teu amigo. Eu não pude vir à noite passada. Eu estava doente. Agora é que estou aqui. Fala com ele! – relatou no sufoco.
Oliveira:
--- Puta Merda! Voce me arranja cada encrenca! Espera! Eu vou contigo! Espera aqui! Estas me ouvindo? – falou com raiva o policial.
Bartolo:
--- Vá! Vá! Vá! Eu espero! – falou sorrindo o repórter.
Eram passados os minutos e Oliveira voltou. Ele havia obtido uma senha para postar no busto de Bartolo e assim poder entrar mais tranquilo.  De longe as chamas ainda invadiam a loja Midway, assim Bartolo pode observar. Casas carcomidas pelo cruzamento das avenidas e os dois veículos no meio da estrada. Os homens da polícia civil procuravam retirar o resto dos corpos carbonizados das cinco vítimas do acidente. E de perto, Bartolo viu o solene estrago acarretado pelo motorista da ambulância. Preso a cama estava o corpo carcomido do General Wagner Rahner antigo líder nazista dos campos de concentração da Polônia. O cadáver da vítima não tinha nenhum sinal de quem vivera tantos anos sem saber ter um dia capaz de apontar as marcas de um holocausto. Um homem que matara tanta gente havia de acabar como um pobre indigente morto e carcomido pelas chamas de um passado sombrio e cruel.
E Bartolo se lembrou dos campos de extermínios. Os pontos de concentração de prisioneiros. No campo havia local de armazenagem de bens e objetos de valor tomados dos prisioneiros. Em contrapartida, ali no chão aquecido pelo grosso fumo do incêndio, estava a carcaça de um ser que um dia estava coberto de ouro e pratas dos mortos. Um dia, os fornos de extermínio consumiam o mascarar de um assassinato de seres humanos. Após dezenas de anos, o General nazista jazia morto no chão como os cadáveres dos inocentes. Meninos e meninas. Homens e mulheres. Idosos e jovens.  Os nazistas perseguiam grupos de “inimigos” por razões raciais ou ideológicas. Dentre as primeiras vítimas da discriminação nazista encontravam-se os oponentes políticos daquela ideologia, principalmente comunistas, socialistas e líderes sindicais. Milhares de prisioneiros políticos foram encerrados nesses campos. Os nazistas perseguiam autores e artistas cujas obras eram consideradas subversivas. Os homens ciganos, considerados “preguiçosos” estavam entre os primeiros a serem mortos em furgões de gás no campo de extermínio de Chelmno na Polônia. Mais de vinte mil ciganos foram deportados  para o campo de Auschwitz onde foi assassinado na câmara de gás. Os poloneses e outros povos eslavos eram considerados inferiores. Esse povo era condenado à aniquilação. Milhares de intelectuais e padres católicos transformaram-se em alvos a serem destruídos. Estima-se que os nazistas assassinaram dois milhões de civis poloneses não-judeus durante a II Guerra Mundial.
Bartolo:
--- Infame! – articulou por sua vez o jornalista.

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